Na
biografia que Lira Neto escreveu de Getulio Vargas, é impactante ver como o
ditador acalentou a própria morte por 20 anos. Ao contrário do que sustentam
seus adoradores, o ato irreversível não foi consumado por alguém torturado
pelas pressões dos adversários. A tortura de Vargas era a perda do poder – a
desonra inadmissível – e o suicídio foi determinado pela alma tirânica de quem
não suportava viver sem mandar.
Dilma
Rousseff se diz vítima de um golpe que não ousa denunciar em nenhum órgão
internacional sério; vê-se alvo de “manhas e artimanhas” enquanto usa, para a
defesa impossível, o advogado-geral da União que ataca a União; sente-se
atingida pela conspiração de Michel Temer como se as prerrogativas
institucionais do vice se submetessem às conveniências dela; choraminga a
vingança de Eduardo Cunha como se ele votasse por 513 deputados – enfim, Dilma
é torturada pela expectativa de perder o poder, inadmissível para a mulherzinha
autoritária.
Há alguns
dias, circularam notícias de que a presidente, negando a realidade enquanto
rumina tais confusões, planejava um ato grandiloquente. E, como não se trata de
uma figura com a lucidez trágica de Vargas, mas apenas de uma fraude tosca,
grandiloquência obriga ao ridículo, patético ou apenas idiota: Dilma Rousseff
se acorrentaria à cadeira de presidente. Ora, a súcia acorrentou-se ao poder há
13 anos e, eleita, a czarina da roubalheira tornou-se elo das cadeias que
atariam o PT ao poder por décadas. Quando milhões de indignados arrebentam o
projeto odioso, a quem repele a democracia e estranha a dignidade, nada resta
senão arrastar correntes entre balbucios delirantes de vigarice.
Enquanto
não se parte a corrente de vez, no prolongamento dramático da agonia do país
que tenta socorrer a meninazinha de olhos verdes que Quintana chamou de
esperança, o PT e comparsas seguem fazendo política como a entendem: forçando o
Brasil a perder mais tempo, dinheiro, credibilidade dos investidores e algum
remanescente respeito internacional para que a súcia ganhe umas horas a mais
acorrentada e, assim, o aberrante Waldir Maranhão despontou para o vexame
planetário e a cassação tardia.
Com uma
rápida consulta às normas da Câmara, descobre-se que o anúncio da anulação do
impeachment, na dublagem do grotesco presidente interino, seria o maior
disparate em 190 anos de história daquela Casa. Mas e daí? Se a súcia
reconhecesse leis, competência, decoro ou honestidade, não teria trazido o país
à desolação.
Pleno de
equívocos técnicos e morais, o ato bisonho escancara o gozo perverso desses
cafajestes xexelentos asfixiando o país para não romperem as correntes com o
poder e é a cena sem cortes, o nu frontal, do que tramaram Ricardo Lewandovski
e Marco Aurélio, no STF, se Teori Zavascki não tivesse se antecipado para
suspender o mandato de Eduardo Cunha e afastá-lo da presidência da Câmara. A
exótica dupla togada se preparava para acatar recurso que ensejaria o pedido de
cancelamento das sessões para a admissibilidade do impeachment.
Olhem aqui,
súcia e simpatizantes, tirem a mão desse impeachment, ele não pertence a Cunha,
Temer ou à oposição: ele é meu; é seu; é de milhões de indignados. Essas e
outras ciladas avisam que a meninazinha de olhos verdes – não esqueçamos,
adverte o poeta, o nome dela é esperança – continuará ameaçada e é preciso que
os indignados se reúnam em torno dela na calçada para protegê-la da tirana que
arrasta correntes.
Augusto Nunes, 10/05/2018
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