O
cinismo e a hipocrisia dos depoimentos prestados em Curitiba, no âmbito da
Operação Lava Jato, pelo marqueteiro oficial das últimas campanhas
presidenciais do PT e por sua companheira e cúmplice, ao trazerem a público
aquilo que todo mundo sempre soube e doravante a honesta Dilma não poderá
continuar negando, evidenciam a completa deterioração dos padrões de moralidade
naquilo que a política tem de mais vital: o jogo eleitoral. Não se pode dizer,
numa República que teve suas primeiras décadas marcadas pela ampla manipulação
do resultado das urnas, que a fraude eleitoral seja uma novidade. Mas há pouco
mais de 35 anos entrou em cena um partido que, apresentando-se como dono da
verdade e da virtude, logrou tornar-se a mais importante força política graças
à anunciada disposição de lutar “contra tudo isso que está aí”.
Pois é
exatamente esse, o Partido dos Trabalhadores, que aliado ao que há de pior na
vida pública e privada – do coronelismo nordestino ao banditismo sindical e
empresarial – cometeu um escandaloso estelionato eleitoral em 2014. Por força
do exagero da sede com que foi ao pote, o PT acabou prestando à democracia
brasileira o favor de facilitar a tarefa das investigações policiais que
lancetaram o tumor da corrupção e deixaram vazar a secreção pútrida das
práticas mentirosas e ilegais das campanhas eleitorais.
Se
permanecesse fiel a suas promessas de moralizar a política, o PT poderia ter
usado o grande poder político de que por algum tempo dispôs para pelo menos
minimizar as práticas criminosas que comprometem a lisura das urnas. Em vez
disso, as campanhas eleitorais se tornaram cada vez mais caras e contaminadas
por práticas ilegais, como admitiu João Santana em seu depoimento ao juiz Moro:
“Acho que é preciso rasgar o véu da hipocrisia que cobre as relações políticas
eleitorais no Brasil e no mundo”.
Mônica
Moura, que era responsável pela administração financeira da dupla, admitiu ter
recebido, “como caixa 2, mesmo”, US$ 4,5 milhões relativos à campanha
presidencial de 2010. E explicou: “Os partidos não querem declarar o valor real
que recebem das empresas e as empresas não querem declarar o quanto doam.
Ficamos no meio disso. Não era uma opção minha, mas uma prática não só do PT,
mas de todos os partidos”.
O casal
tentou fazer crer que não contou nada no interrogatório que se seguiu à prisão,
no início do ano, porque tinha a intenção de preservar a imagem de Dilma
Rousseff: “Eu achava que isso poderia prejudicar a presidente Dilma”, afirmou o
publicitário. “Eu que ajudei, de certa maneira, a eleição dela, não seria a
pessoa que iria destruir a presidente.” Mônica Moura acrescentou: “Para ser
sincera, eu não quis incriminá-la, porque achava que ia piorar a situação.
Queria apenas me poupar de piorar a situação”. Pelo jeito, nenhum dos dois
entende que haja agora alguma maneira de impedir que a “situação” de Dilma
piore.
Os
marqueteiros de Dilma não deixam dúvidas: a corrupção faz parte do catastrófico
legado dela.
O Estado de São Paulo - Editorial - 23/7/2016
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