Acuada,
a presidente Dilma Rousseff achou por bem voltar-se contra a maioria da
população brasileira. De seu bunker no Palácio do Planalto, rodeada por
militantes partidários e em tom de franca confrontação, a mandatária deu início
ontem a uma ofensiva em prol da manutenção de seu mandato com invocação por
sinal trocado ao golpe militar de 1964.
Dilma
aludiu à rede da legalidade deflagrada há 52 anos por Leonel Brizola no Rio
Grande do Sul em defesa do governo João Goulart, como se o Brasil hoje
estivesse em situação semelhante: sob o risco da quebra do estado de direito,
prestes a cair numa ditadura. Seria grave se fosse verdade, mas o pior é que é
mentira essa tentativa de qualificar como ilegal uma realidade pautada pelo
respeito à Constituição.
Se há
alguém do lado sombrio da lei são os investigados pelo Ministério Público com
respaldo do Supremo Tribunal Federal, conforme assentou a ministra Rosa Weber
ao negar provimento ao habeas corpus impetrado pelo ex-presidente Luiz Inácio
da Silva, enquanto a presidente se pronunciava no Palácio do Planalto.
Na
palavra, a presidente defende a lei. Nos atos, a Justiça corrobora a
legalidade, de resto abrigada no desejo da maioria da população expresso tanto
nos protestos de 13 de março quanto nas pesquisas de opinião que indicam 68% de
rejeição ao atual governo. Com isso, a presidente põe a maioria na condição de
“golpista”.
O
fracasso da ideia de salvar o governo em geral e o ex-presidente Luiz Inácio da
Silva em particular dando a ele o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, era
uma das favas mais contadas da República. Afora uma euforia desarvorada
reinante no PT, todas as análises apontavam na direção do erro. Evidente que
aquilo não poderia dar certo. Caso de pau que nasce e morre torto.
Atingido
o limite da ignomínia, o governo resolveu prosseguir ao cogitar da troca de
comando na Polícia Federal como solução para seus problemas. Concretizada a
manobra, obviamente dará errado. Será mais um da interminável série de tiros no
peito do Palácio do Planalto. Gasolina em fogo incandescente.
As
entrevistas do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, são provocativas e,
por isso, contraproducentes. Ele se posiciona em defesa da lei ao indicar que
punirá quaisquer ações de vazamentos de informações. Mediante o “cheiro” de
irregularidades, à revelia de comprovações.
Tudo
certo, não fosse o adendo em que dispensa provas para aplicar punições.
Trata-se de uma incongruência em relação ao discurso palaciano de que a
Operação Lava Jato atua sem provas.
Por esse
critério, ou muito menos, boa parte da República já estaria na cadeia. Aí
incluídos os dois maiores beneficiários de todo esquema de corrupção, os
presumidos mandantes por evidente domínio de todos os fatos.
Dora Kramer, 23/3/2016
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