Habituado a
servir-se das instituições republicanas em benefício de seus interesses e
conveniências políticas, o lulopetismo sofreu mais um fragoroso revés na sessão
plenária do Senado Federal que transformou Dilma Rousseff em ré do processo de
impeachment, colocando-a, finalmente, a um passo de ser definitivamente
afastada da Presidência da República. Na condição de presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), investido, por disposição constitucional, na condução
dos trabalhos, o ministro Ricardo Lewandowski frustrou todas as tentativas da
tropa dilmista de obstruir a sessão. O ministro se comportou com
imparcialidade, serenidade e firmeza e, logo na abertura dos trabalhos,
recomendou aos senadores, que ali estavam na condição de juízes, “atuar com
independência, pautando-se exclusivamente pelos ditames das consciências e
pelas normas legais”. Não foi exatamente o que aconteceu, como vieram a
demonstrar as bisonhas tentativas procrastinatórias de quem talvez imaginasse
que poderia contar com a cumplicidade de um ministro-companheiro. Mas o
desempenho de Lewandowski demonstrou seu compromisso com a solidez
institucional que é indispensável à estabilidade do regime democrático.
O fato de
ter sido nomeado para a Suprema Corte pelo então presidente Lula da Silva e sua
atuação como revisor do processo do mensalão, que frequentemente o colocou em
conflito com o ministro-relator Joaquim Barbosa, levantaram dúvidas sobre se
Lewandowski favoreceria o PT. Já a partir de sua eleição para a presidência da
Suprema Corte, porém, e especialmente depois de aberto o processo de impeachment
contra a presidente Dilma Rousseff, Lewandowski demonstrou claramente que, se
cultivava preferências partidárias, era capaz de mantê-las apartadas de suas
responsabilidades como magistrado.
Já os
militantes petistas, dentro e fora do Congresso, aferrados à convicção de que
são os únicos representantes legítimos “do povo” e por isso podem contar com a
indulgência geral e divina para lançar mão de qualquer meio para atingir seus
objetivos, não se embaraçam com detalhes éticos e morais. Uma demonstração
prática desse modo de pensar e agir tem sido dada pela tropa de choque dilmista
ao longo de toda a tramitação, no Congresso Nacional, do processo de
impeachment. Desde a classificação de “golpe” imposta a um processo que tem o
apoio do Congresso Nacional e segue um rito determinado pelo STF, passando pela
pecha de “usurpador” que procura colar à imagem de um vice-presidente da
República constitucionalmente investido no exercício da Presidência, o
lulopetismo não tem o menor escrúpulo de “partir para cima” de tudo e todos que
a ele se opõem.
E foi
seguindo essa linha suicida de comportamento que os defensores de Dilma – na
verdade, defensores, acima de tudo, de sua própria sobrevivência política –
tiveram o descaramento de, provavelmente iludidos com a possibilidade de contar
com a indulgência de um ministro-companheiro, levantar naquela sessão do Senado
questões de ordem despropositadas como as destinadas a, simplesmente, suspender
o processo contra Dilma ou, pelo menos, adiar a votação programada para permitir
a realização de “novas e importantes diligências”. Essas tentativas
despudoradas e bisonhas de tumultuar os trabalhos – e garantir exposição diante
das câmeras de televisão – foram firme e serenamente rechaçadas pelo ministro
Ricardo Lewandowski. Só falta agora a tigrada acusá-lo de “traição”.
Este
lamentável episódio do impeachment completa três meses desde o afastamento
provisório da Presidência da “mulher honesta” que começa a ganhar visibilidade
na Operação Lava Jato. É uma nódoa que só será extinta com o tempo e a união
dos brasileiros em torno do enorme desafio de tirar o País da crise em que foi
jogado por Dilma e seu mestre e criador arrependido. Menos mal que o Brasil
ainda pode contar com instituições sólidas, como ficou demonstrado na histórica
sessão do Senado de terça-feira.
O Estado de São Paulo, 11/8/2016
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