terça-feira, 2 de março de 2010

A Privataria Petista é Diferente, e Pior

Elio Gaspari

A privataria petista é diferente, e pior

O tucanato vendeu patrimônio da Viúva e o comissariado produz riqueza vendendo intenções do Planalto.

QUEM ACOMPANHA o noticiário do mundo da informática tem um pé na felicidade. Na semana passada, por exemplo, apareceram três boas notícias.

  1. A editora MacMillan trabalha num projeto para lançar livros didáticos on-line que poderão ser adaptados pelos professores, de acordo com a conveniência dos alunos.
  2. Aproxima-se o dia em que os celulares terão um pequeno projetor de vídeo. Apareceram três modelos, caros e ruins, mas é assim que as novidades chegam ao mercado.
  3. A Apple poderá baixar para US$ 0,99 o preço dos episódios de seriados de TV.

Isso pelo mundo afora.

Em Pindorama, só notícias ruins.

  1. O comissário José Dirceu recebeu R$ 620 mil por serviços de consultoria prestados ao empresário que comprou por R$ 1 parte da empresa falida Eletronet, que foi dona de uma rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas.
  2. Diante das notícias de que o governo reanimaria a Telebrás para implantar um projeto federal de universalização da banda larga utilizando a rede da Eletronet, um lote de mil ações da estatal, que valia R$ 0,04, chegou a R$ 2,61. A primeira alta escandalosa de ações da Telebrás ocorreu no final de 2007 (200% num só dia), portanto o governo sempre soube que havia gente ganhando dinheiro com os ventos do Planalto.
  3. A União Internacional de Telecomunicações informa que o brasileiro gasta 4,1% de sua renda em comunicações, dez vezes mais que o europeu e o canadense.

A internet de banda larga custa, na média, US$ 34 mensais (em paridade do poder de compra, a PPC), contra US$ 20 nos Estados Unidos.

O índice de acesso dos brasileiros à banda larga fixa é de seis por cem habitantes, para uma média mundial de 7,1.

Aquilo que num pedaço do mundo é progresso, no Brasil tornou-se uma avenida de inépcia e da ação de atravessadores. Boa parte das roubalheiras do governo de José Roberto Arruda passava pela contratação de serviços de informática.

A Infraero anunciou que ofereceria internet gratuita aos usuários de seus aeroportos, voltou atrás e meteu a faca. No Ministério da Saúde, torraram perto de R$ 400 milhões com serviços terceirizados para a montagem da rede do cartão SUS. Felizmente, servidores que foram mantidos longe das transações desenvolveram e aperfeiçoaram os programas que mantêm de pé uma parte do projeto.

Um pedaço da malandragem que se nutria vendendo serviços de segurança, manutenção e logística migrou para a informática. Nela ainda é fácil maquiar preços, aditivos e contratos de assistência. Se um magano contrata a reforma de um prédio, bem ou mal, pode-se ter uma ideia da qualidade e do custo do serviço. Na informática, já houve caso de preço dez vezes superior, manutenção saindo mais cara que o equipamento, isso para não falar em venda de material obsoleto.

Em 1998, Larry Page e Sergey Brin fundaram o Google numa garagem alugada de San Francisco e seis anos depois abriram o capital da empresa. Suas ações foram oferecidas a US$ 85 e hoje estão a US$ 526. Quem botou US$ 100 mil no Google em 2004 tem agora US$ 620 mil.

O Google revolucionou o acesso ao conhecimento, emprega 20 mil pessoas, atende a 1 bilhão de pedidos por dia e é considerado a marca mais poderosa do mundo. É um perfeito exemplo da força renovadora do capitalismo.

A Telebrás, ressuscitada pelo comissariado do Planalto, é o anti-Google, exemplo da voracidade destruidora da privataria petista. Quem comprou US$ 100 mil de ações da Telebrás no dia em que Page e Bryn ofereceram seus papéis, tem hoje US$ 6,5 milhões. Isso sem produzir um só emprego ou serviço.

Tomando-se os R$ 20 mil da remuneração mensal do comissário José Dirceu na empresa do homem da Eletronet como uma unidade de medida da privataria petista resulta o seguinte: quem usou um José Dirceu em 1994 para comprar ações do Google, tem hoje R$ 124 mil. Se tivesse comprado papéis da Telebrás, teria R$ 1,3 milhão.

A privataria tucana produziu escândalos, bens e serviços. A petista ficou nas operações escandalosas.

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