quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Lula estimula o conflito social

Lula destilando puro ódio.
No desespero para salvar o PT de um desastre que a incompetência do governo de Dilma Rousseff torna a cada dia mais grave, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaça incendiar as ruas com "o exército do Stédile", a massa de manobra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Lula acenou com essa ameaça em evento "em defesa da Petrobrás" promovido na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, pelo braço sindical do PT, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Basta abrir as páginas dos jornais ou assistir ao noticiário da televisão para perceber que a radicalização política começa a levar a violência às ruas das principais cidades do País. De um lado, militantes de organizações sindicais e movimentos sociais, quase sempre manipulados pelo PT, aliados a radicais de esquerda; do outro lado, sectários antigovernistas engajados na inoportuna campanha de impeachment da presidente da República. Esses grupos antagônicos se agrediram mutuamente diante da ABI, pouco antes do evento protagonizado por Lula.

Diante do sintoma claro de que o agravamento da crise política em que o País está mergulhado pode acender o rastilho da instabilidade social, o que se espera das lideranças políticas é que ajam com responsabilidade para evitar o pior. Mas Lula, assustado com a possibilidade crescente do naufrágio de seu projeto de poder, parece disposto, em último recurso, a correr o risco de virar a mesa. Não há outra interpretação para sua atitude no evento.

Em seu discurso, o coordenador do MST, João Pedro Stédile, como de hábito botou lenha na fogueira: "Ganhamos as eleições nas urnas, mas nos derrotaram no Congresso e na mídia. Só temos uma forma de derrotá-los agora: é nas ruas". É o caso de perguntar o que Stédile quer dizer com "derrotá-los nas ruas". Mas Lula parece saber a resposta. E aproveitou a deixa, ao falar no encerramento do ato: "Quero paz e democracia. Mas eles não querem. E nós sabemos brigar também, sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele na rua". Uma declaração de guerra?

A atitude irresponsavelmente incendiária do ex-presidente é coerente com a estratégia por ele traçada e transmitida à militância petista com o objetivo de reverter a repercussão extremamente negativa para a imagem do PT provocada pelo desgoverno Dilma e, em particular, pelo escândalo da Petrobrás. A ideia é, como sempre, transformar o PT em vítima da "elite", os temíveis "eles" que só querem fazer mal ao povo brasileiro.

Do mesmo modo que para Lula o escândalo do mensalão foi uma "farsa" que resultou na condenação injusta dos "guerreiros do povo brasileiro", o petrolão é coisa de "meia dúzia de pessoas" para a qual Dilma Rousseff "não pode ficar dando trela": "O que estamos vendo é a criminalização da ascensão de uma classe social neste país. As pessoas subiram um degrau e isso incomoda a elite", disse Lula.

Ou seja, o que abala o Brasil não é a ação da quadrilha que, há 12 anos, pilha a Petrobrás e ocupa, para proveito próprio ou do PT, cada escaninho possível da administração pública. Muito menos é a incompetência administrativa demonstrada pelos petralhas que sugam o Tesouro. É - no entender de Lula e companhia bela - a reação dos brasileiros honestos e indignados com a roubalheira e a desfaçatez.

Esse discurso populista pode fazer vibrar a militância partidária manipulada e paga pela nomenklatura petista, mas é inútil para garantir ao PT e ao governo o apoio de que necessitam para tirar o País do buraco em que Dilma Rousseff o meteu ao longo de quatro anos de persistentes equívocos.

O principal aliado do PT, o PMDB do vice-presidente Michel Temer, agora decidiu exigir o papel que lhe cabe como corresponsável pela condução dos destinos do País. Não aceita mais, por exemplo, que o núcleo duro do poder de decisão no Planalto seja integrado exclusivamente por petistas. O PMDB tampouco aceita que os petistas continuem se fazendo passar por bonzinhos na votação das medidas de ajuste fiscal, posicionando-se na defesa dos "interesses dos trabalhadores" e deixando o ônus da aprovação do pacote para os aliados.


Os arreganhos de Lula e do agitador Stédile mostram que a tigrada está cada vez mais isolada - e feroz - na aventura em que se meteu de arruinar o Brasil.

Editorial - O Estado de São Paulo - 26/2/2015

Os “intelectuais” de esquerda e sua falta de vergonha na cara


Marilena Chaui, a “intelectual” que odeia a classe média e adora o PT  corrupto


Duas características, ao menos, precisam estar presentes para se identificar um legítimo intelectual: o pensamento independente e o pensamento crítico. Ou seja, intelectual é aquele que ousa pensar por conta própria, sem seguir necessariamente o zeitgeist, remando muitas vezes contra a maré do momento; e o faz de forma crítica, i.e., contesta o status quo, está sempre buscando brechas ou falhas nas estruturas do pensamento dominante. Um intelectual subserviente ao governo é um oxímoro portanto, algo contraditório, que não faz sentido.
Por isso uso sempre o termo entre aspas para me referir aos “intelectuais” de esquerda, esses que adoram uma simbiose com o governo, em troca de benesses estatais, privilégios, poder. No Brasil, tais “intelectuais” ajudaram, e muito, a criar o mito do metalúrgico honesto que iria salvar a Pátria das garras das elites insensíveis e corruptas. O PT foi formado por “intelectuais”, por gente que não pensa de forma crítica e independente, mas sim mancomunada com a sede pelo poder.
E, uma vez lá, curvaram-se totalmente a ele, tornando-se nada mais do que propagandistas do regime, relações públicas do partido no poder. Abdicaram da verdadeira função intelectual, que é pensar o país, o futuro, e adotar tom crítico ao presente, apontando as falhas do país. Os exemplos são infindáveis e as figuras conhecidas, mas o mais evidente caso talvez seja a recente carta “em defesa da Petrobras”, ou seja, em defesa da quadrilha que assaltou a estatal do povo brasileiro. Foi o assunto do excelente texto de Demétrio Magnoli no GLOBO hoje:
Num lance vulgar de prestidigitação, o texto dos “intelectuais de esquerda”, assinado por figuras como Marilena Chaui, Celso Amorim, Emir Sader, Fabio Comparato, Leonardo Boff, Maria da Conceição Tavares e Samuel Pinheiro Guimarães, apresenta-se como uma defesa da Petrobras — mas, de fato, é outra coisa.
O ofício intelectual não combina bem com manifestos. Dos intelectuais, espera-se o pensamento criativo, a crítica do consenso, a dissonância — não o chavão, a palavra de ordem ou o grito coletivo. Por isso, eles deveriam produzir manifestos apenas em circunstâncias excepcionais. Os “intelectuais de esquerda”, porém, cultivam o estranho hábito de assinar manifestos. Vale tudo: crismar um crítico literário como inimigo da humanidade, condenar a palavra equivocada no editorial de um jornal, tomar o partido de algum ditador antiamericano, denunciar a opinião desviante de um parlamentar. O manifesto sobre a Petrobras é parte da série — mas, num sentido preciso, distingue-se negativamente dos demais.
[...]
A Petrobras não foi derrubada à lona pelo escândalo revelado por meio da Lava-Jato, que apenas acelerou o nocaute. Os golpes decisivos foram assestados ao longo de anos, pela política conduzida nos governos lulopetistas, sob os aplausos extasiados dos “intelectuais de esquerda”. 
[...]
Os “intelectuais de esquerda”, móveis e utensílios do Planalto, escreveram o manifesto para, preventivamente, atribuir a mudança de rumo aos “conspiradores da mídia”. Por meio dessa trapaça, conciliam a fidelidade ao “governo popular” com seus discursos ideológicos anacrônicos. Ficam com o pirulito e a roupa limpa.
[...]
Franklin Martins: o elo entre “intelectuais” e governo
Franklin Martins, o verdadeiro autor do manifesto, cometeu um erro tático ao colocar seu nome entre os signatários. Ao fazê-lo, o ex-ministro descerra o diáfano véu de independência que cobriria a nudez do texto. O manifesto não é a “voz da sociedade”, nem mesmo de uma parte dela, mas a Voz do Brasil. Nasceu no Instituto Lula, como elemento de uma operação de limitação dos efeitos da Lava-Jato. Enquanto os “intelectuais de esquerda” assinavam uma folha de papel, Lula reunia-se com representantes do cartel das empreiteiras e Dilma preparava o “acordo de leniência” destinado a restaurar os laços de solidariedade entre as empresas e os políticos.
A desgraça do Brasil é ser um país dominado por esses “intelectuais”. O fenômeno não é exclusividade nossa, mas aqui eles conseguiram conquistar espaço demasiado. Doutrinam milhões de mentes jovens por ano, ocupam colunas em jornais cujos donos, vistos por eles mesmos como ícones da “elite burguesa golpista”, cedem a corda que poderá enforcá-los, por covardia ou ignorância.
Esse talvez seja o grande paradoxo brasileiro, o sintoma que resume bem nosso quadro de doença mental coletiva que permitiu doze anos de PT no poder, apesar de tantas falcatruas, crimes e incompetência: nossos “intelectuais” são justamente aqueles que se recusam a pensar! Ou, quando o fazem, é deixando de lado a ética e a honestidade, agindo sem um pingo de vergonha na cara…
Rodrigo Constantino

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O desespero de Lula


Ameaça de usar “exército de Stédile” mostra total desespero de Lula

O ex-presidente Lula, que andava um tanto sumido, resolveu fazer ameaças “veladas” e incitar até mesmo o que poderia ser uma guerra civil no país. Em ato supostamente a favor da Petrobras, e na prática a favor da quadrilha instalada na estatal, Lula atacou a imprensa, repetiu que estão tentando “criminalizar” o PT, voltou a mencionar que a elite não suportaria a ascensão social dos mais pobres, e ainda citou o MST como braço armado pronto para enfrentar esses “inimigos”:
Nossa querida Dilma tem que levantar a cabeça e dizer: eu ganhei as eleições. E governar o país. Não pode ficar dando trela senão ficamos paralisados – disse Lula, queixando-se principalmente do que ele chamou de condenação antecipada da imprensa e da oposição. – Nós ganhamos a eleição e parecemos envergonhados. Eles perderam e andam por aí, pomposos.
Minutos depois de ouvir um apelo do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, para que Lula volte às ruas para liderar manifestações em defesa da Petrobras, o ex-presidente cobrou dos militantes do PT e dos sindicatos uma reação.
– Em vez de ficarmos chorando, vamos defender o que é nosso. Defender a Petrobras é defender a democracia e defender a democracia é defender a continuidade do desenvolvimento social nesse país – afirmou, aplaudido. – Quero paz e democracia, mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas.
Que exército é esse de Stédile? A que ponto chegamos? Um ex-presidente da República chama de exército um grupo de invasores criminosos liderados por um sujeito que, em qualquer país sério do mundo, estaria cumprindo pena atrás das grades por todos os seus crimes. O escárnio com as leis do país, vindo de um ex-presidente, é uma afronta ao estado de direito. Então quer dizer que Lula assume o que todos já sabiam, que o MST é uma espécie de exército paralelo? E fica por isso mesmo? Eis o vídeo:

Há anos que os críticos do MST apontam a localização estratégica dos “assentamentos” e a convocação de um “exército” de bandidos prontos a atuar em prol da “revolução marxista” dos piratas disfarçados de “movimento social”. Agora, aquilo que era sabido, mas falado por poucos, vem à tona dito de forma direta e escancarada pelo próprio líder do motim. Lula enxerga no MST um exército pronto para lutar por seus interesses, ou seja, pela perpetuação no poder ainda que de forma ilegítima e ilegal.
É o discurso de um trombadinha, de um delinquente, de um marginal. Mas de alguém bastante desesperado também. E essa tem sido a marca dos petistas. Estão com medo, com muito medo de perderem suas tetas estatais e de pararem na cadeia. Os “soldados” da CUT, outro exército informal do PT, também parecem prontos para lutar, não em defesa da Petrobras, pois isso exigiria cobrar mais investigações e tirar os bandidos da estatal, tudo o que querem evitar, mas sim pela manutenção da camarilha no poder.
Os “militantes” se transformam cada vez mais em milicianos, como na admirada Venezuela, que agora mata até adolescentes nos protestos contra o governo. Os encrenqueiros do PT e da CUT resolveram partir para a grosseria e a violência contra aqueles que gritavam “Fora Dilma” e pediam o impeachment da presidente. É a linguagem do PT, não de hoje, mas de sempre. O uso ou a ameaça do uso de violência para substituir a falta de argumentos.
“Militantes” do PT partem para a agressão física. Fonte: GLOBO
“A tentativa de intimidação é uma confissão de impotência intelectual”, disse Ayn Rand. O PT é impotente do ponto de vista intelectual. Restava-lhe o populismo e a demagogia, e agora que o custo de tanta incompetência, trapalhada e roubalheira está aparecendo, a reação do partido é o pânico que leva a tais ameaças.
Enquanto os petistas e os sindicalistas violentos faziam ato “em defesa da Petrobras”, a estatal sofria o rebaixamento da nota de investimento pela agência de risco Moody’s. Que irônico! A presidente Dilma, sem ter o que dizer, preferiu culpar o mensageiro e alegar que há desconhecimento por parte da agência. Sem dúvida. Se houvesse mais conhecimento, a empresa já teria sido rebaixada faz tempo! A Operação Lava-Jato tem trazido parte da sujeira à luz, mas ainda é pouco perto do que os petistas fizeram com a estatal, e ainda existem várias outras estatais por aí…
Os governistas estão perdendo as estribeiras. Estão acuados, e ratos acuados se tornam perigosos, violentos. Temem o império das leis, as investigações dos órgãos estatais, a insatisfação crescente da população, cansada do pior índice de inflação dos últimos 12 anos, da recessão, da bagunça nas contas públicas, do caos no transporte, na saúde, na educação. Os caminhoneiros resolveram parar várias cidades, reclamando do aumento do combustível e da queda no frete. O clima é de desencanto, que pode rapidamente levar ao desespero.
Cientes disso, os petistas sabem que não será possível contar com os truques do marqueteiro João Santana para sempre. O estelionato eleitoral está claro para todos. O discurso da presidente Dilma, de tentar culpar FHC pelo que se passa na Petrobras, pegou muito mal, e nem os “intelectuais” endossaram tamanha baboseira. O PT já ensaia até uma nova tentativa de reaproximação do PMDB, como medida preventiva.
Por qualquer ângulo que observemos, o que podemos notar é o desespero dos petistas. E não é por menos! Eles destruíram o Brasil nos últimos anos, e a conta apenas começou a chegar. A fala de Lula sobre o “exército de Stédile” talvez seja o mais claro sintoma desse medo. É um apelo baixo, uma jogada de quem se vê cada vez mais contra a parede. Mas o Brasil não vai temer esse “exército” de criminosos. O Brasil não é a Venezuela de Maduro, e isso aqui não é a casa da mãe Joana. Se o MST tomar as ruas, o legítimo Exército Nacional estará lá para impor a ordem e a lei. Disso não tenho dúvidas…
Rodrigo Constantino

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Psicopetismo


 Quero me ater aos vícios mentais que assolam essa gente, para além da roubalheira

Finalmente vimos a cara verdadeira da Dilma, carregada de ódio, acusando o governo anterior do FH, porque lá teria havido também corrupção. Claro que sempre houve; corrupção existe desde a fundação da cidade de Salvador, desde 1550, quando Tomé de Souza, primeiro governador do Brasil criou o “bahião”, roubando tanto que quase quebrou Portugal. Dilma tenta responsabilizar outros governos, esquecendo-se de que estão no poder há 13 anos e só fizeram m... ah, “malfeitos”.

Os mais espantosos escândalos do planeta foram provocados por uma corrupção diferente das tradicionais: com o PT no governo, a corrupção foi usada como ferramenta de trabalho, quando o nefasto Lula chamou a turminha dos ladrões aliados e disse: “Podem roubar o que quiserem, desde que me apoiem e votem comigo”. Mas, neste artigo não quero mais bater no governo, pois tudo já está dito, tudo provado, tudo batido.

Quero me ater aos vícios mentais que assolam essa gente, para além da roubalheira.

Como se forma a cabeça de um sujeito como Dirceu, Vaccari, a cabeça do petismo, esse filho bastardo do velho socialismo dos anos 1950?

Havia antigamente uma forte motivação romântica nos jovens que conheci. Era ingênuo, talvez, mas era bonito.

A desgraça dos pobres nos doía como um problema existencial nosso, embora a miséria fosse deles. Era difícil fazer uma revolução? Deixávamos esses “detalhes mixurucas” para os militantes tarefeiros, que considerávamos inferiores “peões” de Lênin ou (mais absurdo ainda) delegávamos o dever da revolução ao presidente da Republica, na melhor tradição de dependência ao Estado, como hoje.

Quando o PT subiu ao poder, eu achava que havia um substrato generoso de amor, uma crença na “revolução”, que era a mão na roda para justificar tudo, qualquer desejo político. Nada disso. Só vimos uma “tomada do poder”, como se os sindicalistas estivessem invadindo o palácio de inverno em São Petersburgo.

Seus vícios mentais eram muito mais óbvios e rasteiros do que esperávamos. Foi minha grande decepção; em vez da “justiça social”, o que houve parecia uma porcada magra invadindo o batatal.

E aí, me bateu: como é a cabeça do petista típico?

Em primeiro lugar, eles são inocentes, mesmo antes de pecar. Estão perdoados de tudo, pois qualquer fim justifica seus meios, vagamente considerados “nobres” no futuro.

Para eles não existe presente — tudo será “um dia”. Não sabem bem o quê, mas algo virá no futuro.

Eles têm a ideia assombrosa de que o partido pode se servir do Estado como se fosse sua propriedade; assim, podem assaltar a Petrobras, fundos de pensão, outras estatais com a consciência limpa, porque se a Petrobras é do povo, é deles. Não é roubo, em sua limitada linguagem de slogans — é “desapropriação”.

Aliás, e o silêncio dos intelectuais simpatizantes diante dos crimes óbvios? Está tudo caladinho...

Outra coisa: o petista legítimo, “escocês” (como o Blue Label 30 anos, único que o Lula toma), acha que “complexidade” é frescura e que a verdade é simplista, um reducionismo dualista. Para eles, o mundo se explica por opressores e oprimidos, tudo, claro, culpa do “capitalismo”, tratado como uma pessoa, com crises de humor: “Ih, o capitalismo está muito agressivo ultimamente”.

Para eles, na melhor tradição stalinista, deve-se ocultar da população questões internas do governo, pois não confiam na sociedade, esse aglomerado de indivíduos alienados e sem rumo.

Podem mentir em paz, sem dar satisfações a ninguém. Eles têm ausência de culpa ou arrependimento, têm o cinismo perfeito de quem se sente uma vítima inocente no instante mesmo em que se esmeram na mentira.

Na prática têm as mesmas motivações do velho stalinismo ou do fascismo: controle de um sobre todos e o manejo da Historia como uma carroça em direção ao “socialismo” imaginário em que creem ou fingem crer.

Ser esquerdo-petista é uma boa desculpa para a própria ignorância (como o são!) — “não preciso pensar muito ou estudar, pois já sou um militante do futuro!” Entrar no partido é sentir-se vitorioso, escondendo o fracasso de suas vidas pessoais, por despreparo ou incompetência.

Nunca vi gente tão incompetente quanto a velha esquerda. São as mesmas besteiras de pessoas que ainda pensam como nos anos 1940. Não precisam estudar nada profundamente, por serem “a favor” do bem e da justiça — a “boa consciência”, último refugio dos boçais.

Aliás, vão além: criticam a competência como porta aberta para a direita; competência é coisa de neoliberal, ideia que subjaz por exemplo na indicação de Joaquim Levy — “neoliberal sabe fazer contas”, pensam. Se não der certo, por causa de suas sabotagens, a culpa é dos social-democratas. Como não têm projeto algum, acham que os meios são seus fins.

A mente dos petistas é uma barafunda de certezas e resume as emoções e ações humanas a meia dúzia de sintomas, de defeitos: “sectários, obreiristas, alienados, vacilantes, massa atrasada e massa adiantada, elite branca” e ignoram outros recortes de personalidade como narcisistas, invejosos, vingativos e como sempre os indefectíveis filhos da puta. Como hoje, os idiotas continuam com as mesmas palavras, se bem que aprenderam a roubar e mentir como “burgueses”.

Obstinam-se com teimosia nos erros, pois consideram suas cagadas “contradições negativas” que se resolverão por novos acertos que não chegam nunca. Há anos vi na TV um debate entre o grande intelectual José Guilherme Merquior e dois marxistas que lamentavam erros passados: derrota em 1935, 56 na Hungria, 68 na Tchecoslováquia, 68 no Brasil, erros sem fim que iriam “superar.” Mas nada dava certo. Merquior não se conteve e replicou com ironia: “Por que vocês não desistem”?


Não pode haver dúvida da loucura contida nisso tudo. Só uma agenda irracional defenderia uma destruição sistemática dos fundamentos que garantem a liberdade organizada. Apenas um homem irracional iria desejar o Estado decidindo sua vida por ele. Muitos são psicopatas, mas a maioria é de burros mesmo.

Arnaldo Jabor, O Globo - 24/2/2015

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O tíbio e o cara de pau


O tíbio e a cara de pau
O que o PT tem de cara de pau o PSDB tem de tíbio. Daí a desastrosa equação histórica a que o país está submetido

A rejeição crescente ao governo petista – e que gerou 51 milhões de votos para Aécio Neves nas eleições presidenciais - não se traduz necessariamente na escolha do PSDB como seu antípoda.

Aécio, que não é neófito em política, sabe que foi beneficiário de uma circunstância. O PSDB, idem. Saber aproveitá-la pode somar à carreira de ambos, mas, até que isso aconteça, o descrédito do sistema partidário coloca a todos no mesmo balaio.

Recente pesquisa do Datafolha mostrou que mais de 80% da população não se sentem representados por nenhuma sigla - e desconfiam de todas. Romper esse estigma depende de algo mais do que contar com a incompetência e o desgaste do adversário.

Depende de determinação e audácia, que têm faltado aos tucanos. Desde as eleições de outubro, o personagem que com mais firmeza enfrentou o PT é da própria base governista: Eduardo Cunha, do PMDB, que tem sido bem mais audaz que Aécio.

O PSDB, ao contrário, tem se mostrado negligente. No imediato pós-eleição, pôs em dúvida o sistema de apuração (chegou a ingressar no TSE com um pedido de auditagem das urnas) e denunciou o uso indevido (criminoso, diga-se) dos Correios em Minas Gerais, comprovado por diversos vídeos e pela confissão do deputado Durval Ângelo (PT-MG), na presença do presidente daquela estatal, Wagner Pinheiro, numa reunião do partido.

Nenhuma dessas denúncias, gravíssimas, prosperou. Não mais delas se falou, o que leva muitos a crer que, mesmo fundamentadas, talvez não o estivessem o suficiente. Ou, então, pior, teriam sido objeto de negociação com os infratores.

Há dias, Aécio disse: "Olha, eu não sou golpista, sou filho da democracia. (...) Não acho que exista nenhum fato específico que leve ao impeachment”. E condenou as manifestações de rua, que bradavam por aquela causa, deixando implícito que eram golpistas.

Os depoimentos até aqui conhecidos da Operação Lava-Jato mostram que a Petrobras não apenas foi saqueada numa escala sem precedentes, como seus recursos teriam financiado a campanha da presidente reeleita nas duas eleições (2010 e 2014).

Mesmo assim, o PSDB mede as palavras para se posicionar diante do escândalo. Com isso, os petistas ficam mais ousados – e, reconheça-se, jamais pecaram por tibieza. São peritos, ao contrário dos tucanos, em tomar iniciativas e em exercer o descaro.

Um exemplo: o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco – o tal que se dispôs a devolver 100 milhões de dólares que recebeu como propina ao longo dos governos Lula e Dilma -, informou que o PT, pelas mãos de seu tesoureiro, João Vaccari Neto, levara 200 milhões de dólares de comissão em algumas obras.

Barusco era assessor de Renato Duque, diretor de Serviços da Petrobras, nomeado por indicação de José Dirceu. Os três – Vaccari, Duque e Dirceu - estão soltos.

O PT negou, ameaçou processá-lo e desqualificou-o moralmente como informante. Mas bastou que Barusco dissesse que também recebeu propina da empresa holandesa SBM Offshore ao tempo em que o PSDB era governo – mesmo ressalvando que se tratava de transação direta entre ele e a empresa corruptora - para que, subitamente, o PT e a presidente da República passassem a lhe dar crédito.

Dilma, depois de um longo sumiço, valeu-se da declaração de Barusco para afirmar, com uma cara de pau espantosa, que a culpa do que hoje ocorre na Petrobrás – com seus 88,6 bilhões de rombo decorrentes da corrupção, em 12 anos de petismo (Graça Foster diz que é mais) – é responsabilidade, vejam só, dos tucanos.

Se o PSDB, disse ela, tivesse investigado em 1997 aquela gorjeta de que falou Barusco, nada disso teria ocorrido. Ora, e o que, quanto a isso, fez o PT, em seu 12º ano no governo?

Não apenas não investigou, como montou uma estrutura criminosa, sistêmica e explícita, que sugou a empresa numa escala inédita na história humana, segundo o The New York Times.

O que o PT tem de cara de pau o PSDB tem de tíbio. Daí a desastrosa equação histórica a que o país está submetido.

As ruas já o perceberam. Já constataram que, se o país depender da virilidade tucana, nada acontecerá. Vencerá mais uma vez a cara de pau, como aconteceu ao tempo do Mensalão.

A ideia de que impeachment é golpe decorre de um de dois fatores: ou inapetência política em arrostá-lo ou ignorância jurídica - ou ambas. Não pode ser golpe algo que está previsto na Constituição e circunstanciado na legislação ordinária, já tendo sido acionado pelo próprio PT e PSDB contra o governo Collor, sem que o país tenha abdicado da democracia.

Aécio parece mais preocupado em zelar pela imagem de bom moço, rejeitando apoio conservador – embora desse segmento tenha recebido grande parte de seus votos -, que em correr os riscos que o momento histórico impõe. Não só ele, mas seu partido.


A História é implacável com os que não a percebem. Oferece oportunidades, mas é cruel com os que não as aproveitam.

Ruy Fabiano, O Globo, 21/2/2015

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Antessala de Cardozo virou casa da Mãe Joana


Não é preciso muito esforço para perceber que a “obrigação” que o ministro José Eduardo Cardoso tem de receber advogados transformou a antessala do seu gabinete numa espécie de sucursal da casa da Mãe Joana.

Graças às artimanhas da veneranda senhora, o doutor Sérgio Renault, advogado do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC e coordenador do bilionário cartel de propinas da Petrobras, materializou-se na sala de espera do titular da pasta da Justiça.

O doutor não tinha nada a tratar com o ministro. Em verdade, estava a caminho de um restaurante. Dividiria a mesa com outro advogado, o ex-deputado federal petista Sigmaringa Seixas. Que esteva no gabinete de Cardozo. Ele, sim, tinha assuntos a resolver com o ministro. Coisa “pessoal”, explicou Cardozo. Nada a ver com a Lava Jato.

Sigmaringa poderia ter sugerido a Renault que o aguardasse na mesa da casa de repastos onde dividiriam o feijão com arroz. Mas, por alguma insondável razão, sugeriu que o encontrasse na antessala de Cardozo. O ministro levou Sigmaringa até a porta. E trocou um dedo de prosa com Renault. Coisa de três minutos, disse Cardozo. Nada a ver com Ricardo Pessoa, o cliente de Renault. Que dorme no colchonete da PF desde novembro de 2014.

Diretor-executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, avalia que o episódio pede a realização de um teste: “Sugiro a qualquer pessoa que combine encontrar-se com algum amigo no mesmo lugar [a antessala do ministro]. E, para isso, se apresente à portaria do Ministério da Justiça e informe sua intenção aos recepcionistas.”

Cético compulsivo, Abramo oferece “uma lavagem de carro grátis no posto de gasolina do Yousseff a quem conseguir entrar no elevador.” Na dúvida, dá um conselho a Cardozo: “Se encontros podem ser marcados ali, sugiro que o ministro da Justiça anuncie publicamente no Diário Oficial que coloca sua antessala à disposição do público para encontros de qualquer natureza, não se olvidando dos fortuitos — como um motel, uma sauna, uma balada.”

Sob pressão de familiares, Ricardo Pessoa negociava um acordo de delação premiada com os procuradores que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato. Autoproclamado amigo de Lula, o empreiteiro queixava-se de abandono. Generoso provedor das arcas eleitorais do PT, ameaçava chutar o balde. De repente, deu meia-volta. O ministro Cardozo, naturalmente, não tem nada a ver com isso.

Cardozo reconheceu ter recebido defensores da Odebrecht, outra empreiteira investigada na Lava Jato. Deu-se no dia 5 de fevereiro. “Está na agenda”, disse o ministro. Meia-verdade.

Estiveram no ministério três advogados: Dora Cavalcanti, Pedro Estevam Serrano e Maurício Roberto Ferro —este último é vice-presidente jurídico da Odebrecht. Foram tratar de assuntos relacionados à Lava Jato.

Na versão oficial, queixaram-se de “vazamentos” de dados sigilosos sob a guarda da PF. E reclamaram da ação do DRCI, órgão da pasta da Justiça responsável pela recuperação de dinheiro sujo enviado ao exterior. Ou à Suíça, no caso sob investigação da força-tarefa da Lava Jato.

A agenda do ministro, de fato, anotava os nomes dos visitantes. Mas não dizia que eram advogados. Tampouco mencionava que representavam a Odebrecht. Anotava: “Audiência  com os senhores Pedro Estevam Serrano, Maurício Roberto Ferro, Dora Cavalcanti e com a participação do Secretário Executivo do Ministério da Justiça, Marivaldo Pereira.”

No campo destinado ao detalhamento da “pauta” do encontro, não havia vestígio de Lava Jato. Ali, escreveu-se: “Visita institucional”. Por quê? Cardozo alega que, ao formalizar o pedido de audiência, um dos advogados da Odebrecht, Pedro Serrano, sugeriu que o encontro fosse tratado como coisa “institucional”.

Sabia-se que a agenda de Cardozo por vezes permanecera em segredo. “Falhas técnicas”, o ministro já havia explicado. Descobre-se agora que, nas ocasiões em que veio à luz, a peça ostentava a transparência de um cristal Cica. Expansiva a mais não poder, Mãe Joana já não se contenta em dar expediente apenas na antessala do ministro.

Josias de Souza - 20/02/2015 - Blog do Josias

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Dilma, a surpreendida

Dilminha "Mentirosa Compulsiva" Rousseff
A presidente Dilma Rousseff parece ter cada vez menos controle sobre o governo, a julgar pela frequência com que se mostra surpreendida pelos acontecimentos relativos à sua administração. A extensa lista de episódios, que vão do anedótico ao grave, serve apenas para confirmar a crescente sensação de desgoverno no Planalto. Mesmo com todo o poder e o aparato de inteligência de que dispõe, Dilma, cujo isolamento já se tornou proverbial, parece saber cada vez menos sobre o que passa à sua volta, com evidente prejuízo para a tomada de decisões.

O caso mais recente foi sua reação diante do resultado da última pesquisa do Datafolha sobre sua popularidade. O governo já esperava uma aprovação menor, num momento em que medidas de ajuste fiscal se combinam com um noticiário negativo sobre a corrupção na Petrobrás. Mas, no mundo da fantasia em que vive, a presidente imaginava que seria uma queda administrável, como a verificada durante as manifestações de junho de 2013. No entanto, a realidade se impôs, e ela ficou sabendo - para seu espanto, segundo comentaram seus assessores - que a maioria dos brasileiros finalmente se convenceu de sua inépcia e, pior, parece suspeitar cada vez mais de sua honestidade.

Outra surpresa manifestada recentemente nos corredores da Presidência foi com o tamanho da derrota na eleição para a presidência da Câmara. Os mais de 260 votos contrários à orientação do governo foram um choque para Dilma, pois ela, baseada em sabe-se lá qual avaliação, imaginava poder dobrar ou pelo menos enfraquecer o PMDB no Congresso - um erro de proporções ainda desconhecidas. Ficou claro, se ainda restava alguma dúvida, que Dilma não tem nenhuma habilidade política e que, ao cercar-se de sabujos que só dizem o que ela quer ouvir, potencializou a ocorrência de erros como esse.

Mas Dilma não foi surpreendida só no Congresso. Mesmo em ambientes nos quais tem condições de exercer controle quase absoluto, como na Petrobrás, a presidente fica à mercê dos ventos. A prova disso foi a maneira como ela conduziu a substituição da diretoria da estatal, tão desastrada que resultou na antecipação da renúncia coletiva dos executivos. Mais uma vez, assessores de Dilma disseram que a presidente se surpreendeu com o desfecho - que, no entanto, era perfeitamente previsível diante da lambança em que se transformou a administração da crise por parte do Planalto.

Até mesmo em seu próprio Ministério as "surpresas" se multiplicam. Já houve ministro que pediu demissão sem avisar - como Marta Suplicy, que deixou o Ministério da Cultura questionando a credibilidade de Dilma - e outro que anunciou uma medida e teve de voltar atrás um dia depois, após levar um pito da irascível presidente - caso de Nelson Barbosa (Planejamento), que falou em nova regra para o reajuste do salário mínimo.

Que ninguém se surpreenda, portanto, com a dificuldade de Dilma de se antecipar aos fatos. Desde o início de seu primeiro mandato, a presidente vem exibindo preocupantes sinais de desconhecimento e de desinformação. Houve momentos em que essa ignorância teve resultado apenas cômico - como quando, em entrevista a uma TV portuguesa, em março de 2011, Dilma ficou atônita ao receber do entrevistador a notícia de que o primeiro-ministro com quem ela deveria se encontrar, em visita de Estado a Portugal, havia renunciado.

Na maior parte das vezes, no entanto, seu descontrole administrativo, cujos resultados sempre a "surpreendem", trouxe prejuízos imensos ao País. No primeiro mandato, um dos momentos mais significativos dessa inépcia se deu durante as manifestações de junho de 2013. Por falha de seus assessores de inteligência, Dilma desconhecia a extensão da insatisfação popular que resultou naqueles protestos e, como tem sido habitual, agiu a reboque dos acontecimentos.


Para cargos com tamanha responsabilidade, como o da Presidência da República, há um limite para os erros. Dilma não pode mais se proteger deles com o manto da ignorância.

Editorial - O Estado de São Paulo

O gigante cai no samba


Um país sério jamais deixaria passar impune esse escandaloso estelionato eleitoral em curso

Caro leitor, sei que hoje é terça de carnaval, e a última coisa que quero é azedar o seu clima de folião. Tampouco acho que a situação caótica de nossa economia deveria impedir sua diversão. O ser humano tem direito às fugas da dura realidade de vez em quando, e talvez elas fiquem mais prementes à medida que a situação piore. Mas gostaria de trocar dois dedos de prosa com você.

Só o fato de estar lendo esse texto num dia desses demonstra que faz parte da turma preocupada com os rumos de nosso país, buscando mais informação ou reflexão sobre política e economia. Infelizmente, sinto lhe informar que faz parte de uma minoria. Ao menos é o que percebo olhando em volta. A maioria parece estar tranquila, preocupada mais com a sua escola de samba do que com o futuro do Brasil.

Acha que exagero? Nem tanto, nem tanto. Senão, vejamos: nossa economia está prestes a entrar em recessão, a inflação passou de 7% ao ano e não deve cair tão cedo, corremos o risco de apagão mesmo com a conta de luz subindo sem parar, falta água, as empresas pararam de investir e começam a demitir, a gasolina sobe justo quando o petróleo desaba lá fora, os brasileiros estão muito endividados e a taxa de juros só sobe, o dólar se valorizou bastante e não há a menor perspectiva de melhora à frente. E isso foi apenas a parte econômica.

Peço sua vênia para passarmos para a política agora. O “petrolão” já fez o “mensalão” entrar para o rol de crimes de pequenas causas, com suas cifras bilionárias. Nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção, e os militantes petistas ainda tentam nos convencer de que isso se deve ao governo que agora investiga mais, como se quem investigasse não fossem as instituições de estado, com o governo criando obstáculos (tentando impedir a CPI, por exemplo).

Uma quadrilha montou o maior esquema de desvio de recursos públicos de nossa história bem diante de nossos olhos, e o que a Operação Lava-Jato trouxe à tona até agora já seria o suficiente para derrubar o governo em qualquer país sério. Mas o PT diz que falar em impeachment é “golpismo”.

Aliás, parêntese: um país sério jamais deixaria passar impune esse escandaloso estelionato eleitoral em curso. Os americanos foram acusados de hipócritas quando quase derrubaram Clinton por conta de uma mentirinha sobre sexo oral, mas o que nossos “intelectuais” antiamericanos não entendem é que aquele povo não tolera a mentira escancarada dessa forma. Fecho o parêntese.

Volto ao “petrolão”: o PT, partido da presidente, está envolvido até o pescoço, e tudo que Dilma faz, quando não está sumida, é repetir que não vai transigir com os “malfeitores”. Enquanto isso, seu partido trata como herói seu tesoureiro, que teria desviado centenas de milhões para irrigar o caixa da campanha dos petistas.

Já o deprimi o bastante? Calma, estimado leitor. Tome um Prozac. Eu espero. Tomou? Então vamos lá: não são “apenas” a economia e a política que vão muito mal; a saúde, a educação, o transporte público e a segurança também. Ou seja, as funções precípuas do Estado, aquelas que supostamente estariam bem atendidas pelos 40% de impostos que pagamos. Que tal a prestação de serviço do governo?

A carga tributária não para de aumentar. O leitor percebeu alguma melhora nessas áreas? Nem eu. Aliás, as estatísticas mostram que pioraram mesmo. O Brasil caiu no ranking do Pisa por exemplo, que mede a qualidade do ensino. O governo importou como se fossem escravos milhares de “médicos” cubanos, mandando bilhões para o ditador Castro. Por acaso o leitor notou um salto de qualidade no SUS? De segurança é melhor nem falar. Começamos o ano com balas “perdidas” encontrando um alvo inocente por dia!

Agora que dei um panorama bem resumido do que vem acontecendo com nosso país nos últimos anos, pergunto: o povo está ou não está tranquilo, ignorando tudo isso? Afinal, milhares tomaram as ruas em junho de 2013, e o pretexto era o aumento de vinte centavos na passagem de ônibus. Hoje vemos a Petrobras dizer que uma firma independente encontrou mais de R$ 60 bilhões de excesso de valor lançado nos ativos da empresa, e fica por isso mesmo. Ou seja, o PT está destruindo a maior estatal do Brasil, e ninguém parece ligar muito. O petróleo é nosso?


Naquela época, antes de os vândalos mascarados dos “black blocs” destruírem as manifestações espontâneas da população, muitos acreditaram que o gigante havia acordado. Não fui tão otimista. E detesto dizer que estava certo em meu ceticismo. O gigante, meu caro, pode até ter acordado, mas resolveu é cair no samba!

Rodrigo Constantino, O Globo, 17/2/2015

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Caindo do mapa-múndi


Só se fala sobre o efeito interno das crises (política, econômica, Petrobrás...), mas o impacto é devastador também na imagem externa do Brasil. Na mídia internacional, nos governos, nas empresas, nas sociedades, aquele Brasil pintado de dourado deixou de brilhar.

Some-se a isso o desconhecimento da presidente Dilma Rousseff sobre política externa, o desprezo pela diplomacia, a queda de um chanceler atrás do outro, a pindaíba do Itamaraty e... temos um cenário constrangedor.

Goste-se ou não da política externa de Lula, goste-se ou não do seu chanceler, Celso Amorim, o fato é que o Brasil vinha embalado dos dois governos de Fernando Henrique, pegou o vento de popa mundial e o combustível da economia interna e disparou na era Lula.

Amorim costumava dizer que o chefe era o instrumento de política externa que qualquer diplomata pedia a Deus: um presidente carismático, com uma biografia pujante e uma verve inebriante. O céu era o limite. Não era para mudar com a primeira presidente mulher, mas mudou.

De queridinho dos países ricos, médios, pobres e miseráveis, o Brasil passou a enjeitado por uns e desimportante para outros a partir da posse de Dilma, descendo degrau por degrau até chegar onde está, num piso incompatível com suas dimensões geográficas e econômicas e com suas potencialidades políticas.

Dilma é incapaz de compreender a importância da política externa, não tem gosto pelas reuniões multilaterais e setoriais, não tem paciência com a linguagem excessivamente cautelosa da diplomacia e acha tudo isso uma chatice. E uma chatice cara. Nem manteve a firme aproximação de Lula com países emergentes, nem tratou de recuperar a aliança esgarçada com os ricos. Ficou no limbo.

Se fez bem em cancelar a visita a Barack Obama em 2013 e em reagir veementemente na ONU (ou seja, em solo norte-americano) à espionagem da NSA na vida de empresas, cidadãos e até governantes brasileiros, Dilma estica demais a corda. Protestar, sim. Eternizar a animosidade com a maior potência do planeta, não.

Primeiro, Lula ficava incomodado. Depois, perplexo. Agora, chegou à fase da irritação. Acha que seu legado na política externa foi para o ralo, que ninguém mais quer saber do Brasil e que até mesmo seus programas do peito na África estão sendo deixados de lado.

"O que está acontecendo?", perguntou ao então chanceler Luiz Figueiredo, antes de ele mesmo responder: "É a Dilma, não é?" E ainda tentou ensinar: "Com a Dilminha é assim: você fala a primeira vez, fala a segunda, fala a terceira, até ela ouvir". Mas Figueiredo não teve tempo de por a lição em prática. Logo em seguida, caiu.

Depois de jogar Antonio Patriota e Figueiredo ao mar, Dilma testa Mauro Vieira, um dos melhores quadros da ativa no Itamaraty, ex-embaixador em Buenos Ayres e Washington - os postos mais disputados em Brasília. Seu desafio é mostrar para Dilma que, com ou sem exageros, a rede de representações diplomáticas não pode parar por falta de verbas até para luz, água, papel higiênico. O efeito na imagem do País é devastador, num momento em que a crise da Petrobrás já não ajuda muito.

Vieira se reuniu com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e visitou a Câmara e o Senado, pedindo apoio e se preparando para argumentar com a urgência da situação quando despachar com Dilma. Não será uma conversa fácil, porque a presidente considera a diplomacia "supérflua" e reclama (até com razão) de gastos nababescos com residências de embaixadores em cidades ricas, como Nova York.

Pagam os justos pelos pecadores. Um exemplo é o Japão, e um experiente diplomata indaga: "A presidente Dilma vive dizendo que o Itamaraty serve para vender o Brasil, trazer investimentos, dinamizar o comércio. Como defender o país para investidores japoneses, se a embaixada não paga nem a conta de luz?". Taí, é uma boa pergunta.

Eliane Cantanhêde – O Estado de São Paulo - 15 Fevereiro 2015

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Mais perdida que o Lula numa biblioteca, Dilma apela para o marqueteiro

O pecador que se acha um messias, a sucessora que pensa ser filha do mestre
 e o marqueteiro que tem certeza de que é o espírito santo

Dilma, Lula e Santana se encontram para a troca de ideias que não têm. Deveriam estar a procura dos álibis que não há

A economia está fazendo água — e, desde o tempo das cavernas, é quando ela bate na linha da cintura que o homem começa a nadar. O Pibinho vai descendo a níveis siberianos, a inflação “oficial” rompe a fronteira dos 7% e os soluços do dragão rondam os dois dígitos. O rombo nas contas públicas é de assustar esquerdista grego, os juros sobrevoam a estratosfera e a alta do dólar escancara a desconfiança mundial no Brasil.
O que Dilma faz para escapar do afogamento nessas cataratas de más notícias? Conversa com Joaquim Levy, para afinar-se com o ministro da Fazenda emparedado pela idiotia do PT, pela gula da base alugada, por “movimentos sociais” estacionados no século 19, pela  sede dos ministros que bebem verbas? Nada disso. Em vez de socorrer o economista castigado por seus acertos, pede conselhos a Lula e encomenda ideias a João Santana.
O edifício político federal está sitiado por rachaduras internas e fraturas expostas nos alicerces. A bancada fiel a Dilma na Câmara é insuficiente para eleger um vereador de grotão. No Senado, os contratos com o grupo de Renan Calheiros são tão confiáveis quanto os prazos do PAC. O “núcleo íntimo do Planalto” é mais uma reedição piorada dos Três Patetas.
Sem porta-vozes nem interlocutores, o que faz a presidente? Arquiva o besteirol que não para de crescer e busca propostas que façam sentido? Livra-se do cerco dos áulicos que a bajulam desde que se tornou a sucessora escolhida pelo chefe? Nada disso. Encomenda ideias ao padrinho e pede conselhos ao marqueteiro do reino. A pesquisa divulgada neste fevereiro pelo Datafolha reafirmou a trágica contemporaneidade da lição ministrada por Mário de Andrade, há quase 90 anos, pela boca do personagem Macunaíma: “Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são”.
Para os entrevistados, o mais terrível problema brasileiro é o sistema de atendimento à saúde que Lula, cliente preferencial do Sírio Libanês, qualificou de “perto da perfeição”. Perto da perfeição estavam chegando as saúvas do Petrolão, todas cevadas pelo governante que transformou o país num viveiro atulhado de quadrilhas de estimação. Todas roubaram muito. Nenhuma roubou tanto quanto a desbaratada pela Operação Lava Jato e exemplarmente enquadrada pelo juíz Sérgio Moro. As investigações estão chegando aos protagonistas. José Dirceu (codinome Bob) e Antônio Palocci, acabam de entrar em cena. É iminente a subida ao palco do astro principal.
Do total de brasileiros, Dilma é considerada falsa por 47%, desonesta por 54% e indecisa por 50%. Para 52%, a presidente sabia da corrupção na Petrobras e deixou que ela ocorresse. Confrontada com tantos algarismos pressagos, o que faz a chefe de governo? Tenta desvincular-se dos corruptos sem cura? Procura costurar a fantasia esfarrapada? Não. Chama para encontros a sós equilibristas alquebrados e contadores de lorotas que já se tornaram exasperantes.
Por que Dilma não cria juízo e toma vergonha? Simples: por que ela é só mais uma no bando. É só um poste instalado no Planalto para fazer o que o mestre manda. Em parceria, Lula e Dilma criaram o país autosuficiente em petróleo que importa um oceano de barris, o colosso do pré-sal que continua nos abismos do Atlântico, a pátria sem miseráveis que asteia andrajos em todas as esquinas, fora o resto.
O que o padrinho, a afilhada e o marqueteiro deveriam fazer é uma atenta releitura da pesquisa. O Datafolha apenas acentuou as cores do dramático quadro esboçado pelas urnas de outubro. Dilma reelegeu-se amparada nas falácias do Brasil Maravilha, nos truques dos mágicos de picadeiro, nas espertezas dos canastrões com topete implantado e nas diversas ramificações que compõem o Grande Clube dos Cafagestes no Poder.
Ainda assim, mais de 51 milhões de brasileiros votaram contra o PT. Cruzou-se um ponto de não retorno. Dilma está há mais de um mês sem dizer qualquer coisa que mereça ser transcrita. Lula é o único “campeão de votos” que jamais venceu no primeiro turno, o único “líder de massas” que está há anos se apresentando exclusivamente para plateias amestradas que fingem ignorar o Caso Rose e o buquê de escândalos.
Dilma, Lula e Santana não deveriam perder tempo trocando ideias que não tem. A trindade nada santa faria um favor a si própria se saísse à caça dos álibis que até agora não há.
Augusto Nunes, 13/2/2015

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Na poeira da ruína

Plataforma P-36, da Petrobras, afundando.

Corrupção e má gerência deixaram em agonia o projeto mais ambicioso dos governos Lula e Dilma. Na Sete Brasil há algo insólito: conseguiram desmoralizar o ‘conteúdo nacional’


Um legado de corrupção e má gerência deixou em agonia o projeto industrial mais ambicioso dos governos Lula e Dilma Rousseff: um empreendimento de US$ 89 bilhões (R$ 240,3 bilhões) para construção e operação de 23 navios-sonda e seis plataformas vitais à Petrobras na exploração da camada pré-sal.

Lula mobilizou empresários com o privilégio da reserva de mercado. Uniu a mão invisível do Estado à calculadora do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.

O presidente recebeu a confirmação do nascimento da Sete Brasil na quarta-feira 22 de dezembro de 2010, uma semana antes de passar a faixa presidencial a Dilma Rousseff.

A reunião inaugural aconteceu no número 228 da Praia de Botafogo, no Rio, sob o comando de João Carlos de Medeiros Ferraz e Pedro José Barusco Filho, saídos da estatal de petróleo. Era um conglomerado com mais de três dezenas de subsidiárias e um só ativo (29 contratos) — tudo com um único cliente, a Petrobras.

Oficialmente, o grupo é privado, controlado pelo fundo FIP-Sondas (95%) e Petrobras (5%).

Na vida real não é bem assim. O governo determinou a fundos de pensão (Previ, Petros, Funcef e Valia) que comprassem metade do FIP-Sondas. Junto com a Petrobras têm 59% das cotas.

O BTG de Esteves lidera o bloco privado (com 20%), seguido pelo Bradesco e Santander (12%, somados). O restante (9%) está fracionado entre EIG Global , Lakeshore e Luce Venture Capital.

Antes de fechar seu primeiro balanço, em 2011, a Sete Brasil já acumulava US$ 75 bilhões (R$ 202,5 bilhões) em contratos com a Petrobras. Para cada um criou uma sociedade com grupos nacionais (Camargo Correa, Engevix, Queiroz Galvão, Odebrecht, UTC e OAS) e asiáticos (Keppel Fels, Jurong, Kawasaki e Cosco).

A Petrobras topou pagar US$ 720 milhões (R$ 1,4 bilhão) por cada sonda. E mais US$ 500 mil (R$ 1,3 milhão) por diária de operação.

Tudo acertado, no final de 2011 os principais executivos, João Carlos Ferraz (presidente) e Barusco Filho (diretor financeiro), desembarcaram em Milão para jantar com gerentes do Banco Cramer, de Lugano (Suíça). Com eles estava Renato Duque, diretor de Serviços da Petrobras.

Quem os ajudou foi Julio Camargo, que já intermediava-lhes propinas da OAS, Setal e Toyo Engeneering (Japão). Depois, uniu-se ao grupo Eduardo Musa, também diretor da Sete Brasil.

No seu último balanço, de 2013, a Sete Brasil revelou dívidas não pagas de US$ 3,1 bilhões (R$ 8,5 bilhões). Indicou promessas de US$ 4,1 bilhões (R$ 11,2 bilhões) do BNDES, que exigia vários documentos. Auditores anotaram: “A situação indica uma incerteza material que pode suscitar dúvidas significativas sobre a continuidade operacional da companhia.”

Na semana passada, 19 meses depois, a empresa ainda negociava a documentação com o banco estatal, quando se tornou pública parte da confissão de Barusco sobre US$ 97 milhões (R$ 261,9 milhões) em subornos que ele e outros receberam.

A lenta agonia da Sete Brasil deixa transparecer algo insólito: conseguiram desmoralizar até o “conteúdo nacional".

O que era construção dissipa-se na poeira da ruína. E uma nova conta vai sobrar para os cofres públicos, via Petrobras e fundos de pensão estatais.

José Casado - O Globo, 10/02/2015

Com ferro foi ferida


A notícia de que a perplexidade tomou conta do Palácio do Planalto com a derrocada dos índices de popularidade e confiabilidade da presidente da República é prima-irmã daquela irritabilidade que recai sobre a pessoa de Dilma Rousseff quando algum fato tem repercussão negativa na opinião pública.
Ambas são versões oficiais destinadas a criar um espaço de prudente (embora falsa) distância entre ela e a má nova. Ou velha, tanto faz. Algum ato de governo pegou mal? "Dilma ficou muito irritada", avisa a assessoria.
O brasileiro não gostou de constatar que Dilma mentiu na campanha eleitoral a respeito de rigorosamente todos os principais temas em debate com os oponentes? Mais que depressa o departamento de propaganda do governo informa que foi um choque para ela saber disso.
Ora por quem sois. A pesquisa do Instituto Datafolha explicitou em números uma realidade que os fatos estavam contando por si todos os dias. Ou alguém no Palácio do Planalto poderia esperar algo de diferente quando uma presidente da República recentemente reeleita simplesmente some de cena enquanto são anunciadas medidas que, segundo a candidata a conquistar votos, não seriam tomadas em hipótese alguma?
Ou, por outra, seriam impostas cruelmente ao País caso o eleitorado optasse por escolher um de seus adversários. Qualquer um dos dois, Marina Silva ou Aécio Neves, seriam os culpados por graves agruras. Ela, Dilma Rousseff, seria o caminho das soluções. Note-se o silêncio pós-posse que contrariou até o discurso da noite da vitória em que ela conclamava a Nação à união e ao "diálogo".
Daí em diante não explicou mais nada. Quando falou, limitou-se a monólogos fantasiosos seguindo a mesma toada da agenda ilusória montada para a campanha eleitoral. A roubalheira na Petrobrás era culpa de um ou outro funcionário; a crise econômica, decorrência da situação internacional;, a inflação, inexistente e o que mais não vá bem, produto de pessimismo.
Deixou o ponto crucial que era o ajuste na economia ao encargo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como quem tenta se preservar e - aqui de novo, se distanciar - da má notícia. Deu a seguinte impressão: se sair errado, a culpa é dele.
A se acreditar que a presidente da República e seu grupo fechado de conselheiros foram realmente pegos de surpresa com o efeito dessa conjunção de desastres - nem todos citados, pois de conhecimento geral -, é de se concluir pela gravidade da situação de isolamento total do núcleo governante.
Não há no tão competente departamento de comunicação governamental um acompanhamento permanente de pesquisas? E aquela consulta que o PT anunciou que contrataria para detectar as razões do claudicante desempenho eleitoral? Dela nunca mais se ouviu falar.
A julgar pela reação improvisada e repetitiva do anúncio da montagem de uma "agenda positiva" como se a agenda negativa não fosse fruto do choque de ações do governo com a agenda ilusória da campanha, há um apagão de sensatez no Palácio do Planalto. Ou um surto de ingênua credulidade no poder eterno do ilusionismo.
E ausência de noção de limite. João Santana, o marqueteiro, extrapolou, exagerou e ganhou a eleição. Entregou a mercadoria. O dia seguinte é serviço de quem ganhou. Há um dado terrível para a presidente na pesquisa do Datafolha: 47%, 54% e 50% dos consultados consideram que ela é desonesta, falsa ou indecisa.
Produto de quê? Da exacerbada contradição entre o discurso de campanha e as ações logo depois. Portanto, talvez não seja um exagero concluir que, se não tivessem sido tantas e tão flagrantes as mentiras, se a campanha de Dilma não tivesse procurado colocar na boca dos opositores palavras que nunca disseram, possivelmente a crise não atingiria tão gravemente a imagem da presidente.
Dora Kramer - O Estado de São Paulo - 10/02/2015

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Na dúvida, fique com a lei


Que fim melancólico terá o PT! Acaba de completar 35 anos no auge de sua decadência moral, envolto em infindáveis escândalos de corrupção, que fazem todos os casos anteriores parecerem crimes de pequenas causas, e ainda assume a postura de defesa oficial dos corruptos, acusando de “golpismo” aqueles que exigem apenas a aplicação das leis.
A presidente Dilma, em vez de aparecer em público para explicar o evidente estelionato eleitoral, preferiu discursar no evento do aniversário do PT. Nenhuma palavra sobre a destruição da Petrobras, que não será interrompida com a indicação de um novo presidente claramente subserviente ao Planalto. Em vez disso, atacou os “golpistas”:
Nós temos força para resistir ao oportunismo e ao golpismo, inclusive quando se manifesta de forma dissimulada. Estamos juntos para vencer aqueles que tentam forjar catástrofe e flertam com a aventura. [...] Nós não podemos vacilar, não podemos temer. Se tiver erro, aqueles que erraram que paguem pelos erros, mas temos de preservar a história de nosso partido e do meu governo e do presidente Lula.
A presidente não disse uma só palavra sobre as acusações de Pedro Barusco, sob delação premiada (precisa provar as denúncias), de que o seu partido desviou mais de meio bilhão de reais só de uma diretoria da Petrobras. “Se tiver erro”? Como assim? A presidente ainda confia no tesoureiro do partido, João Vaccari Neto? Então é cúmplice!
E de cumplicidade o ex-presidente Lula entende. Sua frase em defesa de Vaccari ficou famosa: “Na dúvida, fique com o companheiro”. Lula tenta apelar para a máxima jurídica que diz in dubio pro reo, ou seja, com ausência de provas, o réu deve ser considerado inocente. Lula já coloca o tesoureiro do partido como réu no processo. O mesmo era dito sobre Delúbio Soares e o mensalão, que, aliás, Lula e boa parte do PT insistem em negar ter existido. O alvo, para não variar, foi a imprensa:
O critério da imprensa não é critério da informação. Achamos que tudo o que acontece no país tem que ser noticiado. O critério adotado pela imprensa é a criminalização do PT desde que chegamos aqui. Eles trabalham com uma convicção que é preciso criminalizar nosso partido. Não importa que seja verdade ou não verdade.
A vitimização é a marca registrada do PT. E dos bandidos! Todos os presos costumam repetir que são inocentes, vítimas. Quem criminalizou o PT não foi a imprensa, e sim os petistas. A cúpula do partido, sob a conivência ou negligência dos partidários, que desejam preservar suas boquinhas estatais.
O que diferencia pessoas decentes de mafiosos é que os primeiros valorizam os princípios, os últimos, os seus companheiros. A lealdade dos primeiros é com os valores universais, com as leis isonômicas, e a dos últimos é com seus comparsas de crime.
Há, sem dúvida, uma ala do PT “indignada”, um grupo que se diz contra seus métodos e a corrupção que tomou conta da sigla. Mas não se enganem: quem sabe de tudo que o PT fez até aqui, da defesa oficial que o partido faz de seus corruptos, e nele permanece, é cúmplice!
O jornalista Merval Pereira foi direto ao ponto em sua coluna de hoje, e descreveu com perfeição a podridão que o PT representa atualmente:
Não há mais volta nesse pântano em que o PT se encalacrou, e o que vier daí será apenas para aumentar o ridículo da situação, dar o tom escandaloso dessa tragicomédia em que nos meteram.
Quando a presidente Dilma Rousseff, a grande muda nesses dias de crises, sai de seus cuidados para dar posse no ministério das ações estratégicas a Mangabeira Unger, e fala da importância do pré-sal para nossa educação, aí vemos que ela está fora de órbita.
[...]
Quando o ex-presidente Lula, como um Jim Jones aloprado, leva ao suicídio político seus seguidores repetindo na festa dos 35 anos do PT o mesmo discurso da festa dos 25 anos, em que o mensalão estava em evidência, vemos que o partido não saiu do lugar onde sempre esteve. Dez anos depois, o petrolão rebobina o filme para contar novamente a mesma história. 
O PT manteve os mesmos instrumentos de fazer política que sempre usou, transformando o cenário brasileiro em uma baixa disputa sindicalista, em que valem todos os métodos para vencer, e em que o adversário torna-se inimigo e precisa ser destruído, não apenas derrotado.
O editorial da Veja desta semana também mencionou a decadência ética do PT e a traição que isso representa aos seus ideais fundadores:
Editorial Veja
Um leitor fez uma comparação entre partido político e organização criminosa, usando as definições do dicionário, para concluir que o PT não pode mais ser considerado um partido:
O PT não é um partido; é uma organização criminosa!
Veja: entende-se por partido político uma “organização social espontânea que se fundamenta numa concepção política ou em interesses políticos comuns, e que se propõe alcançar o poder”, ou seja, uma “associação de pessoas em torno dos mesmos ideais, interesses, objetivos etc.” (Houaiss3), sendo livre a criação e fusão de partidos, e com autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento, conforme preceitua o art. 17, caput, e § 1º da CF/88.
A organização criminosa, por sua vez, está definida no art. 1º, § 1º da Lei n. 12.850/13, que assim dispõe:
” Art. 1º. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1º. Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.”
Logo, resta cabalmente caracterizada a organização criminosa disfarçada na forma de partido político, o Partido dos Trabalhadores.
Difícil contestar sua lógica. Principalmente quando vemos a defesa oficial que o PT faz, na figura se seu presidente Rui Falcão, de seus corruptos. Ou o ex-presidente Lula atacando a imprensa e fingindo que o mensalão não existiu. Ou a presidente Dilma seguindo o mesmo caminho.
O PT não tem mais partidários; tem cúmplices!
Rodrigo Constantino
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