quarta-feira, 27 de abril de 2016

Bate o desespero


A eleição ontem do presidente e do relator da Comissão do Impeachment no Senado serviu para confirmar que a oposição tem maioria esmagadora – o senador Antonio Anastasia, do PSDB, foi eleito por 15 a 5 – e que os governistas, à falta do que fazer para evitar o afastamento da presidente Dilma dentro de 15 dias, tentam retardar decisões com expedientes simplesmente ridículos.

O senador petista Lindberg Farias está de volta aos tempos de líder estudantil, com manobras regimentais das mais rasteiras, com o objetivo de provocar reações da oposição. O sentido desse comportamento dos senadores da situação não é outro senão ganhar tempo para que o julgamento da aceitação do processo do impeachment demore o mais possível.

Não que isso vá mudar o rumo dos acontecimentos, pois dificilmente essa maioria que já existe será desfeita, mas qualquer dia a mais além dos 15 que lhe restam na presidência da República permite à presidente Dilma a chance de continuar dando vazão à sua obsessão, que é denunciar um suposto golpe de que estaria sendo vítima.

Ela e o PT estão montando uma narrativa que dará suporte, mais adiante, à campanha que a presidente tentará organizar a partir de seu exílio no Palácio Alvorada, onde permanecerá durante seu afastamento do cargo, cuja decisão final pode se dar em até 180 dias após o impeachment ser admitido no Senado.

O projeto petista, por enquanto, é manter viva a chama da revolta contra o impeachment, mas até mesmo antes da decisão do Senado a presidente pode ser questionada no próprio Supremo por suas atitudes. Já existem parlamentares dispostos a pedir que ela seja proibida de acusar a Câmara dos Deputados de golpista, depois que a decisão oficial foi tomada pela ampla maioria de seus membros.
Continuando nessa toada, ela estará infringindo a Constituição e cometendo novos crimes de responsabilidade por tentar impedir a atuação dos poderes Legislativo e Judiciário.

Teremos, então, a tentativa petista de montar um governo paralelo a partir do Alvorada, apoiado pelos movimentos sociais. A presidente Dilma pretende inclusive ter acesso a aviões da FAB para deslocamentos pelo país, e é previsível que tenhamos uma disputa judicial em torno dos direitos e deveres de uma presidente afastada.

Provavelmente o Supremo Tribunal Federal será chamado a decidir, por exemplo, se Dilma poderá se manifestar publicamente sobre o governo do presidente em exercício Michel Temer. E se poderá criticá-lo livremente, usando imóveis do governo e utilizando-se de aviões oficiais para suas viagens políticas.

Outra questão que certamente o STF terá que enfrentar será a regulamentação das facilidades que serão colocadas à disposição da presidente afastada. Não há legislação a esse respeito, e caberá ao Supremo definir os limites de atuação da presidente nesse período de 180 dias, findos os quais ela poderia voltar ao cargo se o julgamento não estiver terminado.

Dificilmente, porém, o PT e seus cada vez menos associados partidários conseguirão retardar o processo a ponto de não estar concluído em seis meses.

Se o parâmetro for o processo de Collor, como tem sido nos ritos do Congresso, assessores próximos do então presidente quando este foi impichado relembram que lhe foi negado um imóvel oficial – pensou-se inicialmente na cessão da Granja do Riacho Fundo – e o apoio de assessores.

Collor permaneceu na Casa da Dinda, e despachava de um escritório improvisado na garagem. O processo durou em torno de quatro meses. Um futuro governo de Michel Temer terá pela frente, portanto, uma oposição minoritária no Congresso, e movimentos sociais tentando conturbar o país.
Resta saber se a disposição desses movimentos se manterá sem as verbas oficiais que os alimentam, e mais ainda se o interesse político do PT será mesmo apoiar uma presidente afastada e em julgamento. Certamente o PT e os movimentos sociais que orbitam em torno dele terão que arcar com as consequências de suas ações, pois o país está ladeira abaixo.

Caberá ao novo governo manter o apoio da maioria do Congresso para não apenas aprovar as medidas necessárias à retomada do crescimento econômico, como também mostrar-se robusto politicamente para resistir às investidas da minoria barulhenta que tentará, por todas as maneiras, colocar-lhe obstáculos.


Para resistir a esses previsíveis passos, o governo terá também que conquistar uma popularidade que hoje o vice Michel Temer não tem. E que as medidas a serem adotadas não facilitarão.

Merval Pereira, O Globo, 27/4/2016

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O BRASIL E SUA MÓRBIDA RELAÇÃO COM A CANALHICE


“Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos!” – Nelson Rodrigues

Se existe algo que me deixa muito entristecido no Brasil é a admiração, às vezes secreta e às vezes expressa, aos maus-caracteres. O brasileiro já está tão doente e tão profundamente ‘encavernado’ no mundo da corrupção e das más-feitorias que acha normal que um político roube o seu dinheiro. O brasileiro parece, neste quesito, rir para não chorar, quando na verdade deveria lutar. A sociedade se encontra em uma espécie de anestesia covarde: vê algo gravíssimo, alarmante, mas, de tão sofrida, dá risada, se exalta e esquece no momento seguinte. Isso não é de hoje; isso já vem de tempos e é uma das principais razões que levam o Brasil a amargurar a condição de país subdesenvolvido.

Nas conversas de bar, no trabalho e nas rodas de amigos, não é raro que se escutem coisas do tipo: “viu lá o carro do Senador? Caramba!”; “olha o deputado fulano de tal, esse é espada!”. Não há nenhum problema em exclamar a sua admiração por um carro ou por uma pessoa, mas dentro desses contextos que citei, existe uma mensagem implícita: o que se admira, na verdade, não é o carro ou a pessoa, é a malandragem, a esperteza e a sem-vergonhice do sujeito. O cara chegou lá! Foi malandro o suficiente! É o cara! É assim que o Brasileiro pensa.

Esses dois exemplos que citei, infelizmente, são reais e foram ouvidos por mim em um dos melhores restaurantes do Rio de Janeiro, quando um Parlamentar acusado de corrupção, que não citarei o nome, ingressou na casa. Umas quatro pessoas de uma mesa falaram do carro. Os ocupantes de outra mesa, bem maior e composta inclusive por empresários conhecidos, para a minha surpresa, teceram o comentário “esse é espada!”, tendo, também, um desses ido lhe dar um caloroso aperto de mão. Tal cena exibe a influência da máquina burocrática nacional e o amplo poder de controle e decisão que os políticos têm sobre a economia do Brasil, o que levou à prostituição do empresariado em troca de favores e benefícios. A Petrobras, o BNDES e as empreiteiras aí estão para provar isto.

Outra reflexão que me veio à mente foi que todos os indivíduos que tiveram tal conduta idólatra para com o parlamentar pertencem à elite financeira do País, isto é, aqueles que deveriam dar o exemplo de virtude, de trabalho, de lucidez e de responsabilidade. Mas não!  No Brasil, sob estes 13 anos de governo revolucionário, parte espessa da elite ficou amedrontada e decidiu bajular o governo. Aqueles que deveriam dar o exemplo mostram como não se deve agir. Os que deveriam mostrar trabalho mostram malandragem e promiscuidade com o governo; os que deveriam mostrar lucidez, não acham nada de mais pegar um pouquinho de verba pública para acelerar seus negócios.

Essa conduta não vem, é claro, somente da elite; vem do País como um todo, de todas as classes sociais. Elas existem no mundo inteiro, é verdade, mas no Brasil ela é suigeneris. Recentemente, um programa de televisão fez um teste de honestidade onde uma câmera escondida filmava um pedestre em uma rua movimentada deixando cair a sua carteira cheia de dinheiro e documentos no chão. Ao final do teste, constatou-se que 70% dos transeuntes pegaram para si a carteira com tudo.

Hoje em dia, a canalhice do Brasil está em maior evidência por conta da sem-vergonhice ilimitada do “governo revolucionário” e sua plêiade de bandidos. A canalhice está politizada em excesso nessa nossa época, mas ela já era retratada com frequência na nossa literatura e enfatizada pelos ilustres que passaram por esta terra. Nelson Rodrigues já dizia que “o brasileiro quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte” e a sua conhecida série de contos “A vida como ela é” faz uma radiografia da realidade do Brasileiro.


Charles Darwin, quando veio a estas terras no ano de 1830, resumiu negativamente e até com certo exagero o que viu no Brasil, mas sua mensagem é de suma importância: “os brasileiros, até onde vai minha capacidade de julgamento, possuem somente uma pequena daquelas qualidades que dá dignidade à humanidade”, disse o cientista em dos trechos mais pesados do diário em que escrevia sua rotina durante a viagem do “Beagle”.

Também sobre o Brasil, outro trecho interessante do seu diário e bastante atual, nestes tempos de agudíssima crise moral, é o seguinte: “Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que em pouco tempo ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados”.  É óbvio que Darwin generaliza, mas já naqueles tempos de Império que, por sinal, houve muito mais virtudes e boas ações de nossos Homens e Mulheres de Estado do que na República, o Brasil já apresentava uma série de vícios legais e culturais que livravam a cara de quem podia pagar mais. O crime compensava e ainda, apesar das reservas morais que existem nas instituições nacionais, compensa.

O Marxismo cultural da elite socialista que nos governa trouxe ao Brasil o tipo mais ousado de todas as canalhices: o esquerdismo. Uma espécie de canalhice com estilo de Robin Hood deturpado na qual, o canalha pensa que está fazendo o bem ao tirar dos ricos para dar aos pobres e, ainda, estufa o peito alardeando aos quatro ventos que tem o monopólio da virtude, que ele é uma pessoa boa e conclama seus seguidores para seguirem o seu exemplo. Afinal, “não existe uma viva alma mais honesta do que eu!” ele pode dizer.

Nelson já observava no brasileiro uma baixa autoestima muito forte, tanto para com a Nação como para si próprio. Ele chamou isso de “complexo de vira-lata”, o que, automaticamente, denota uma revolta, um sentimento de fracasso. Mas o que originou este sentimento? As escolhas erradas, os homens errados e as virtudes erradas que o Brasileiro escolheu no decorrer dos seus 194 anos de história independente. Um país que joga fora um D.Pedro II, um Mário Ferreira dos Santos, um Oswaldo Meira Penna, um Roberto Campos, não corre, como diria este último, o menor risco de dar certo. Eu, particularmente, noto no Brasil uma decepção consigo mesmo, pois o povo percebe que podia ter feito algo para melhorar a situação, mas não fez. Um verso poético de Manuel Bandeira descreve esse sentimento: “a vida inteira que podia ter sido e que não foi.” É daí que se origina o complexo de vira-lata de que Nelson tanto falava.

Porém, todo esse bolo de revolta e decepção fica ainda mais amargo com a cereja vermelhinha e asquerosa que é o socialismo. O socialismo é canalha desde o berço, já que começa solapando os três pilares de uma sociedade livre: a vida, a liberdade e a propriedade. Basta ler os escritos de Marx, Engels, Althusser, Foucault, Gramsci, e outros caricatos mais para perceber isto.

A canalhice moderna do Brasil, a descrença do seu povo no trabalho, o ressentimento contra os ricos, a idolatria aos corruptos e o ressentimento que se nota nas ruas demonstram, perfeitamente bem, um povo que elege os heróis e a ideologia errada. Se chegamos ao ponto de considerar Lula o maior presidente que o Brasil já teve, inelutavelmente, amargaremos a maior de todas as decepções. Se as últimas quatro eleições mostraram uma coisa é que o Brasileiro é masoquista, idolatra aquele que o quer mal; o elege, e depois diz, cabisbaixo, que está tudo mal. Ele tem esse direito, desde que o use corretamente: parando de idolatrar as duas maiores fontes da canalhice moderna no País: os políticos e o Estado.

Alguns dizem que o povo acordou, que descobriu que ele é espoliado pelo Estado e que na mesma medida deposita nele a sua esperança, que o socialismo e a corrupção estão intimamente ligados, que um Estado grande acaba com a honestidade das pessoas. Muito bem. Eis aí o caminho certo para a mudança.

A onda liberal e conservadora que surge no Brasil é algo que me enche de esperança e que conta com todo o meu apoio e com o suporte de todos os brasileiros, que ainda conservam em si decência e justiça. Essa é uma ótima hora para o País começar a planejar a sua mudança de postura rever a sua mórbida relação com a canalhice.


Rafael Hollanda, estudante de direito do Ibmec-RJ, publicado na página do Instituto Liberal

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Blefe chamado Lula


A dimensão da derrota petista revela um blefe chamado Lula

Os números da votação do impeachment revelam, entre outros, uma realidade que esse autor e poucos outros analistas já perceberam há muito tempo, e na qual veem insistindo de maneira quase repetitiva, por ser necessário: a suposta habilidade política de Lula nunca passou de um blefe. Mais do que a falácia a respeito de sua inexistente habilidade política, Lula no seu conjunto nunca passou de um blefe e de um personagem de ficção, cuidadosamente construído ao longo de anos. Uma construção que somente foi possível por conta do silêncio conivente imposto pelo gramscianismo por meio de suas ferramentas de elaboração de narrativas e de inibição de qualquer crítica à agenda ideológica da esquerda, tais como o politicamente correto, que blindaram Lula e o permitiram seguir livre e sem ser contestado com seu projeto criminoso de poder que por pouco não resultou na destruição do país.

A estória real do ex-informante do regime militar que ascendeu na carreira sindical e depois política por meio de traições, inclusive ao próprio irmão (um certo Frei Chico de quem ninguém mais se lembra e que era militante do velho partidão) e por meio de suas excelentes relações com o então ministro Golbery do Couto e Silva ainda precisa e deverá ser contada. O blefe chamado Lula no campo da política nacional começará a ficar claro quando as pessoas perceberem que suas criaturas escolhidas a dedo para levar adiante seu projeto sob seu estrito controle resultaram em um completo fracasso: o primeiro fracasso evidente se chama Dilma. Seu outro fracasso se chama Fernando Haddad, que em breve será defenestrado da prefeitura da capital paulista por vontade livre e soberana da maioria dos paulistanos.

O fracasso e o blefe chamado Lula ficaram simbolicamente expressos na fala de ontem do deputado José Carlos Aleluia do DEM, quando esse lembrou que Lula se gabava de ter sido habilidoso o bastante por ter supostamente banido o Democratas, o único partido ao menos formalmente de direita do país, da vida pública nacional. Não baniu coisíssima alguma! O Democratas vai muito bem e junto com o PSC de Jair Bolsonaro e Marcos Feliciano reúne os poucos políticos respeitáveis, todos eles de direita, que podem andar pela rua de cara limpa e sem medo do povo, ao contrário dos políticos do PT, a começar pelo próprio Lula, que é covarde o bastante para há anos se recusar a encarar as pessoas comuns nas ruas. A direita não foi banida da vida pública como Lula esbravejava tempos atrás. Quem vai ser banido da vida pública nacional é Lula e o PT, por decisão dos eleitores ou da justiça.

Queremos insistir que o blefe político chamado Lula somente chegou aonde chegou por responsabilidade também daqueles que se omitiram e se deixaram intimidar ou não tiveram a capacidade política de dizer quem Lula de fato era e é e o que ele e sua escória partidária representavam e representam. E os poucos que tiveram a coragem de dizer essa verdade ao longo dos anos, como o professor Olavo de Carvalho na esfera do jornalismo e da atividade teórica e intelectual, e Jair Bolsonaro ou Ronaldo Caiado e pouquíssimos outros no campo político institucional, eram motivo de escárnio e de calúnia por parte daquela parcela da elite que foi conivente com o maior fraude política que a história política do país já assistiu.


Felizmente para o país, o blefe e a fraude representados por Lula e pelo petismo estão chegando ao fim, e o mérito pertence aos milhões que foram às ruas exercendo o protagonismo político que possibilitou o início da derrocada do lulopetismo. Mas a justiça deve ser feita aos mencionados acima, que por anos a fio alertavam os brasileiros sobre o risco que o país corria caso resolvessem entregar os destinos da nação à escória de socialistas e comunistas reunidas em torno de Lula. E além da justiça e do reconhecimento a quem merece, deve-se também fazer a cobrança às pessoas de bem que se calaram e se omitiram sabendo o que o lulopetismo representava e representa. Aquele adágio que diz que o mal só consegue vencer quando os de bem se omitem, nunca foi tão verdadeiro como na história recente do país.

Paulo Eneas, 18/4/2016

terça-feira, 5 de abril de 2016

O golpe sem o impeachment


É inevitável a sombria perspectiva de um governo ainda pior que o desgoverno de hoje, na hipótese de que o impeachment de Dilma seja barrado na Câmara dos Deputados, que se tornou necessário considerar porque o Planalto está assumindo “compromissos com o rebotalho do Congresso, abrindo-lhe espaços nobres no Ministério e aviltando de forma inédita o exercício da Presidência”, conforme destacado em editorial publicado no domingo neste espaço. E, pelas notícias que vêm do submundo brasiliense, não são cargos apenas que são mercadejados. Também o dinheiro vivo compra ausências (por R$ 400 mil) ou votos (por R$ 1 milhão) que favoreçam Dilma. São importâncias calculadas, bem a propósito, para caber em cuecas ou peças semelhantes, como disso bem sabem notórios próceres do governo petista. Menos insultaria o político corrupto; mais tornaria o negócio arriscado.

A agravar essa perspectiva negativa, em especial no que diz respeito ao aviltamento do exercício da Presidência da República, está o fato de que uma reviravolta que garanta o mandato de Dilma implicará inevitavelmente o fortalecimento político de Luiz Inácio Lula da Silva e a provável confirmação de sua nomeação para o Ministério, que ele próprio acredita que acontecerá em breve.

Diante dessa possibilidade, a questão que se coloca é a seguinte: quem será efetivamente o chefe do governo? Dilma ou Lula? Não que faça muita diferença para o País, porque, do ponto de vista econômico, a ingovernabilidade tem raízes profundas no voluntarismo estatista do PT e isso não mudará. E, do ponto de vista político, este governo impopular continuará refém do fisiologismo escancarado no qual o baixo clero parlamentar foi acostumado a se esbaldar pela falta de escrúpulos do lulopetismo. Uma coisa é obter 172 votos e/ou ausências suficientes para barrar o impeachment.

Outra coisa é garantir maioria de votos, mesmo que simples, para aprovar as iniciativas do Executivo. Trocando em miúdos, com o PT no poder, a economia não será saneada e a política continuará a esbórnia que tem sido. Ou seja, a moralidade não se restaurará.

Lula é visto pelo PT como a salvação da lavoura. E, se o impeachment não for aprovado, a influência do chefão no aliciamento de votos terá sido decisiva. Com esse crédito, ele será uma espécie de primeiro-ministro, detentor efetivo do poder, até porque é mais fácil acreditar em Papai Noel do que na hipótese de que Dilma, apesar de toda sua soberba e arrogância, tente com sucesso subordinar Lula a seu comando. E o próprio ex-presidente não faz segredo disso. Na visita que fez a Fortaleza no fim de semana, cansou-se de proclamar que vai virar ministro para “tomar as rédeas” do governo. É exatamente isso o que desejam, e não disfarçam, o PT e todas as entidades sindicais e sociais que são extensões do lulopetismo.

A se confirmar esse drible em Dilma – honi soit qui mal y pense – estará consumado o golpe que há meses ela teme e denuncia pois, em última análise, estará sendo deposta de facto, por meio, digamos, de um “arranjo doméstico”. E ninguém no PT e arredores moverá uma palha para protestar contra o golpe da usurpação do poder de quem foi consagrada nas urnas com mais de 54 milhões de votos populares. Lula e o PT, triunfantes mercadores de ilusões, estarão dando uma debochada banana para os dois terços de brasileiros que querem ver pelas costas Dilma Rousseff e tudo o que ela significa.
Com Lula no comando do governo e Dilma se dividindo entre o saudável pedalar matinal nas cercanias do Palácio da Alvorada e uma intensa agenda de inaugurações festivamente desimportantes Brasil afora, o País estará condenado a piorar – mas acreditando que melhora.

Populista irredimível, Lula acredita ter salvado com as próprias mãos o Brasil da crise mundial de 2008, sem se dar conta de que a “nova matriz econômica” em que embarcou crente de que estava abrindo as portas do Paraíso era a súmula do desastre. Anos de voluntarismo intervencionista paralisaram o País e surrupiaram a confiança dos brasileiros, interrompendo a produção de riquezas, única base sustentável para o verdadeiro desenvolvimento econômico e social. A Nação não aguenta mais do mesmo.

O Estado de São Paulo, 5/4/2016
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