sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O cerco se fecha

As engrenagens da corrupção
A Polícia Federal chegou a um ponto sem volta na investigação e na divulgação sobre o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e a expectativa na corporação, assim como no Planalto e no PT, é de que o processo caminhe cada vez mais rapidamente, com novidades explosivas ainda neste semestre.

As operações Lava Jato, Zelotes e Acrônimo são como conjuntos da matemática, com vários pontos de intersecção de nomes, práticas e desvios. O mesmo suspeito aparece numa, depois na outra e enfim entra de fininho na terceira. Mas o fator que gera maior tensão na área governista e maior expectativa na opinião pública é quanto a Lula.

Quando se fala em Lula, porém, não se fala só no seu envolvimento na Zelotes (venda de medidas provisórias para favorecer o setor automotivo), no petrolão (no qual os partidos e personagens eram centrais em seu governo), nem nas relações perigosas com empreiteiras (viagens, negócios, agora o tríplex no Guarujá).

Fala-se, também, do seu filho caçula, Luis Cláudio, da chefe da Casa Civil do seu governo, Erenice Guerra, de mais um tesoureiro do PT, João Vaccari Neto... E tudo se desenrola como um imenso novelo sombrio de ataque à Petrobrás e aos limites entre o público e o privado.

Assim como o Fiat Elba e a cascata na Casa da Dinda foram pequenas coisas com grandes significados, o tríplex de Lula e Marisa Letícia no Guarujá é apenas uma parte concreta dos escândalos, mas tem efeitos devastadores para Lula e o projeto de eternização do PT no poder.
São muitas as diferenças entre Collor e Lula, a começar da biografia pessoal, da carreira política e dos partidos de ambos, mas a que interessa do ponto de vista prático neste momento é que Collor era presidente e foi derrubado pelo impeachment, mas Lula é ex-presidente, não pode ser cassado. Logo, o efeito sobre Collor foi imediato e focado, mas sobre Lula é em seu legado, seu partido e sua sucessora. O tríplex do Guarujá desaba sobre o futuro de Lula e do PT.

Não é nada trivial ver um ex-presidente depondo horas e horas à PF, e com uma curiosidade. Mesmo os mais experientes delegados ficam perplexos com a inteligência e a capacidade retórica de Lula ao depor. Um policial brinca: “Até eu acabo ficando na dúvida...”.

O mesmo eles não dizem do depoimento do filho de Lula na Zelotes, que, mesmo amparado por quatro advogados, não disse coisa com coisa e mais se comprometeu do que se ajudou. Numa rodinha de policiais, um deles espantou-se: “Isso não é um depoimento, é uma delação premiada!”.

Enquanto a situação de Lula vai se tornando crítica, Dilma Rousseff dá passos firmes para se descolar da desgraça do mentor. O mais forte deles foi ontem, com a reunião dos peso-pesados das finanças, da indústria, do comércio, da chamada sociedade civil no antes desprezado “Conselhão”.

O mais importante foi a foto, que tem o forte significado político de mostrar que Dilma está viva e tem capacidade de reação. A esperança de que a injeção de R$ 83 bilhões salve o País, no entanto, não é lá essas coisas. Até porque algumas das mais importantes medidas anunciadas dependem do... Congresso. Aí, o buraco é mais embaixo.

Aliás, no mesmo dia em que Dilma ressuscitou o Conselhão, com os principais setores do País, a realidade mostrou que, com toda a crise, recessão de 3,5%, indústria ladeira abaixo e 1,5 milhão de empregos formais ceifados, o Bradesco lucrou R$ 17,2 bilhões em 2015, 13,9% a mais que em 2014. O segundo recorde da história.


Dilma defende a igualdade, mas na economia nada muda: há uns mais iguais do que outros. O que muda é que juízes, procuradores e a Polícia Federal começam, sim, a dar sinais de que a justiça tem de ser igual para todos, até para ex-presidentes da República. “Doa a quem doer”, como já disse o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, ao Estado.

Eliane Cantanhêde, O Estado de São Paulo, 29 Janeiro 2016

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Diálogo para boi dormir


A presidente Dilma Rousseff passou o primeiro mandato inteiro menosprezando qualquer opinião que não fosse a sua, impondo ao País, sem dar ouvidos a ninguém, uma política econômica desastrosa, cujos efeitos daninhos dificilmente serão revertidos sem um imenso esforço nacional a ser empreendido quando sua ruinosa gestão acabar. Afinal, dia após dia, ela demonstrou não ser capaz de fazer o que a hora exige. Nesses anos todos, ademais, a presidente demonizou sistematicamente a oposição, atribuindo-lhe intenções perversas contra os trabalhadores e contra as trombeteadas conquistas sociais proporcionadas pelo lulopetismo. Agora, no momento em que o projeto delirante de Dilma e do PT está sendo atropelado pela dura realidade dos fatos, num fracasso tão esmagador que nem mesmo a competente máquina de propaganda petista é capaz de negar, a presidente mandou espalhar que gostaria de “conversar” com a oposição.

Que “conversa”, senão a que faz o boi dormir, pode querer uma presidente que, a todo momento, chama os opositores de “golpistas”? Que pode querer Dilma com esse “diálogo” senão um sócio para dividir a responsabilidade pelas medidas impopulares que ela inevitavelmente terá de adotar para amenizar os danos de sua trágica administração? Seu apelo à oposição tem o mesmo valor que suas promessas de campanha – serve somente para enganar os incautos.

Não é de hoje que Dilma tenta posar de estadista. No primeiro discurso após a reeleição, conquistada numa campanha eivada de mentiras contra seus adversários, a petista se disse “disposta ao diálogo”, algo que, segundo ela, faz parte de uma “democracia madura”. Para perceber o embuste daquele pronunciamento, nem é preciso notar que Dilma cometeu a indelicadeza de não mencionar, em nenhum momento, o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB-MG), que havia obtido expressivos 51 milhões de votos e que lhe teria telefonado para felicitá-la pela vitória. Basta lembrar que, até aquele momento, as maiores críticas sobre a indisposição de Dilma ao diálogo partiam de sua própria base de apoio no Congresso.

Mais recentemente, os assessores de Dilma divulgaram que a presidente perguntou a seu vice, Michel Temer, o que ele achava da ideia de convidar a oposição para discutir soluções para os problemas do País. Também espalharam que o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, havia sido incumbido pela petista de convencer a bancada oposicionista no Congresso a aprovar as medidas que ela considera necessárias para debelar a crise.

Foi com esse ímpeto conciliador, tão autêntico quanto uma nota de três reais, que Dilma, numa entrevista à Folha de S.Paulo (23/1), voltou a dizer que espera conversar com a oposição e enfatizou que “é impossível ter uma democracia madura se não pudermos discutir alguns assuntos em comum”.

De fato, democracias são “maduras”, para usar a expressão de Dilma, quando, do embate de ideias, surgem consensos que são transformados em políticas de Estado. Esse cotejo só se realiza e dá bons frutos se houver genuíno desejo de colaboração, ainda que dentro da luta pelo poder. Não é o caso de Dilma e muito menos é o de seu partido, o PT.

Há décadas o PT é o exemplo mais bem acabado de partido que boicota qualquer tentativa de diálogo. Sua trajetória demonstra profunda indisposição para colaborar com projetos que não sejam de sua lavra. É uma legenda conduzida por uma ideologia prepotente, que de saída despreza o contraditório, pois julga ter o monopólio da verdade.

Quando seus interesses ou planos são contrariados, o PT não se vexa nem mesmo de boicotar o governo cuja presidente é sua filiada. Na mais recente resolução de sua Executiva Nacional, a cúpula petista avisou a Dilma que “o Partido dos Trabalhadores somente apoiará soluções que sejam negociadas e pactuadas com o sindicalismo, as organizações populares e os movimentos sociais”.


Portanto, mesmo que realmente quisesse dialogar, Dilma teria problemas não com a oposição, que tenta articular seu impeachment e dificultar-lhe a vida no Congresso, mas sim com seu próprio partido – que chantageia a presidente e, de olho nas urnas, está a um passo de tratá-la como adversária.

O Estado de São Paulo, 28/1/2016

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Pastel de vento


O nome é pomposo: Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. A proposta, tão grandiosa (e vazia) quanto: “Assessorar o presidente da República na formulação de políticas e diretrizes específicas, e apreciar sugestões de políticas públicas, de reformas estruturais e desenvolvimento econômico-social que lhe sejam submetidas pelo presidente com vista à articulação das relações do governo com representantes da sociedade”.

A produção, um zero à esquerda. Criado em maio de 2003, o chamado “Conselhão” nunca pôs para funcionar um táxi no Brasil, muitíssimo menos determinou a definição dos grandes rumos do País ou “alargou de forma inédita a interlocução entre o governo e a sociedade”, conforme informa o balanço de atividades na página do CDES na internet.

Útil como peça publicitária no início da gestão Luiz Inácio da Silva, o conselho revelou-se inútil na prática. O que os conselheiros falavam nas reuniões entrava por um ouvido do governo e saía pelo outro. As poucas sugestões acatadas – como a concessão de crédito consignado – jamais foram atribuídas ao colegiado, mas apresentadas como iniciativas do então presidente.

Pois agora Dilma Rousseff anuncia a retomada desse foro de debates que se reúne amanhã, repaginado. Saem, por exemplo, executivos de empreiteiras e entram representantes de entidades de classe de empregados e empregadores. Para a função de cereja do bolo foi convidado o ator Wagner Moura.

A agenda, de novo, é ambiciosa: a definição de “estratégias para retomar o crescimento sem afetar o ajuste fiscal”. A ideia sugerida é a de debater propostas para a composição das medidas de recuperação da economia a serem anunciadas em fevereiro. Ora, ora, sabemos todos e sabem muito mais ministros, governadores, parlamentares governistas e políticos oposicionistas, quais são as bases do diálogo continuamente prometido e jamais praticado pela presidente da República, a quem cairia bem o codinome senhora de si.

Nessa condição, não ouve ninguém. É conhecido seu hábito de convocar reuniões com propósito exclusivo de se fazer ouvir. Não será, portanto, aos 90 conselheiros do CDES que abrirá os ouvidos.


Dora Kramer, O Estado de São Paulo, 27/1/2016 

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A guerra acabou


Um soldado japonês, chamado Hiroo Onoda, lutou por 30 anos, depois que a II Guerra acabou. Ele foi mandado para as Filipinas com a missão de resistir e ficou por lá, sem saber do término do conflito. É quase impossível reproduzir, hoje, a saga de Hiroo Onoda. Mas se olhamos para o Brasil, num período de derrocada da Petrobras e dos próprios preços do petróleo, veremos que o país tem um pouco da persistência do soldado japonês.

Fomos educados a pensar que o petróleo é nossa grande riqueza, constantemente ameaçada pelos estrangeiros. Saímos às ruas, os mais velhos, para defender esse tese e gritávamos orgulhosamente: o petróleo é nosso. Com a descoberta do pré-sal, no governo do PT, reacendeu-se a chama: o petróleo é nossa redenção e dele brotam as fontes dos nossos recursos. No primeiro mandato de Lula, ele flertou com o álcool, planejou usinas de álcool em todo lugar, inclusive em parceria com os americanos. Mas o petróleo era muito forte. O pré-sal fez com que Lula jogasse todos os projetos de álcool para o espaço, lambuzasse as mãos com óleo negro e acariciasse as costas de Dilma, numa célebre foto em que parecia dizer: você é a herdeira e vai nos levar ao paraíso.

Alguns sabiam que não era bem assim. Conheciam a história da doença holandesa, como os países dependentes da produção do petróleo correm o risco de se atrasar. E viam também que recursos não bastam. Os royalties saíam pelo ralo em grandes festas municipais, obras caras e quase inúteis. Os patrióticos soldados do petróleo atacaram na regulação do pré-sal. É preciso não só defender o papel da Petrobras, como afirmar nossa vocação nacionalista: a empresa era obrigada a participar de todos os projetos na área do pré-sal.

A alternativa era dar à Petrobras a preferência. Onde quisesse, participaria; onde não quisesse, descartaria. A preferência era inclusive evitar as canoas furadas. Mas não soava tão nacionalista, tão apaixonada. O populismo de esquerda queria se apresentar como o grande defensor da Petrobras. Seus adversários do PSDB não tinham como contestá-lo, na verdade entraram na onda, com medo de perder votos. Enquanto o petróleo seguia seu destino de commodity, subindo e descendo no mercado, acossado pelos perigos do aquecimento global, nossos soldados continuavam a luta para protegê-lo da ambição estrangeira, imperialista, alienígena, enfim, o adjetivo dependia do estilo pessoal do orador.

O soldado japonês ficou 30 anos lutando numa guerra por disciplina e amor ao seu país. Quem o mandou para as Filipinas disse: fique lá até que determinemos sua volta. Os soldados brasileiros do petróleo amam o Brasil de uma forma diferente do japonês. Eles se identificam tanto com o país que, ao afirmarem que o petróleo é nosso, querem dizer que o petróleo é deles. Essa confusão entre soldado e pátria, partido e país, acabou inspirando a maior roubalheira da história do Brasil: o petrolão. O governo japonês garantiu um salário digno para o soldado Hiroo Onoda até o fim de sua vida. O brasileiro terá de garantir uma longa prisão para seus retardatários guerreiros. A última grande batalha aconteceu nas ruas do Rio, quando já se sabia do escândalo da Petrobras. Comandado por Lula, um pequeno pelotão desfilou pelas ruas defendendo a grande empresa dos seus inimigos internos e externos.

Assim como Lula, usavam macacões da cor laranja. Se fosse nos Estados Unidos, pareceriam candidatos à prisão, pois já estavam vestidos com a cor certa. O laranja é a cor do uniforme dos presidiários lá e inspirou o título de uma série sobre a cadeia: “Orange is the new black”. Mas se prendêssemos todos ali, poderíamos cometer injustiças. Nem todos saquearam a Petrobras. Alguns, talvez a minoria, simplesmente, não sabem que a guerra acabou e continuam acreditando que os americanos querem nosso petróleo e que o mundo inteiro se tensiona para nos explorar. Não sabem como os americanos avançaram na exploração do xisto, ignoram os investimentos alemães e chineses na energia solar, não dimensionam um conflito muito mais importante para o petróleo: o da Arábia Saudita e Irã, sunitas versus xiitas.

Assim como o japonês que não sabia do fim da guerra, nossos soldados talvez tenham ignorado um outro marco da história contemporânea: a queda do Muro de Berlim. Seguem de cabeça erguida rumo ao socialismo do século XXI, simplesmente como se o século anterior não tivesse existido. Em vez de fazer uma luta armada para implantar seu modelo, optaram por uma sinistra marcha pelas instituições, dominando-as progressivamente, até que sejam apenas um brinquedo na mão do partido e seu líder. Essa novidade também foi para o museu, com a crise na Venezuela, a derrota na Argentina. O Brasil não é um país muito rápido para apreender as mudanças, a ponto de prender os líderes saqueadores e mandar os iludidos soldados cuidarem de sua vida.


Pelo menos já compreendeu o ridículo de expor as mãos tintas pelo petróleo, de acreditar que nosso futuro depende apenas dele, de se divertir gastando royalties em incontáveis shows musicais nas cidades do interior. A guerra acabou. Hoje a ação da Petrobras vale menos que um coco na praia. E as reservas do pré-sal que nos trariam fortunas mirabolantes tornam-se econômicamente inviáveis com o petróleo a US$ 30 o barril. O exército laranja e seu general com mãos sujas de óleo deveriam sair das trincheiras. Perderam. O pior é que fizeram o Brasil perder muito mais, com suas ilusões, erros e crimes.

Fernando Gabeira, O Globo, 25/1/2016.

Veja mais sobre Hiroo Onoda aqui.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O asceta de Garanhuns


“Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido.” Lula continua achando que o brasileiro é idiota. Reuniu ontem blogueiros amigos para um café da manhã em seu instituto e, a pretexto de anunciar que vai participar “ativamente” do próximo pleito municipal, aderiu pessoalmente – já o havia feito por intermédio de seu pau-mandado Rui Falcão – à campanha promovida por prósperos advogados e seus clientes, apavorados empresários e figurões da política, para desmoralizar a Operação Lava Jato, que procura acabar com a impunidade de poderosos corruptos.

Lula conseguiu escapar penalmente ileso do escândalo do mensalão e, por enquanto, não está oficialmente envolvido nas investigações sobre o assalto generalizado aos cofres públicos. Os dois casos juntam-se numa sequência das ações criminosas que levaram dinheiro sujo para os cofres do PT e aliados e “guerreiros” petistas como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares para a cadeia.

O que é inacreditável é que, como presidente da República e dono do PT, Lula não tivesse conhecimento do mensalão e do petrolão que desfilavam sob seu nariz. Assim, é notável o atrevimento – talvez mais estimulado pelo desespero do que por sua índole de ilusionista – com que o personagem, que ficou rico na política, se apresenta como monopolista das mais prístinas virtudes.

Só mesmo alguém empolgado pelo som da própria voz e pelas reações da plateia amiga cairia no ridículo de se colocar como referência máxima e insuperável em matéria de honestidade. “Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido.”

Apesar de inebriado com as próprias virtudes, Lula encontrou espaço para a modéstia – infelizmente de braços dados com a mendacidade, que alguns chamam de exagero retórico – ao se referir ao combate à corrupção. Fez questão de dar crédito a sua sucessora, deixando no ar a pergunta sobre a razão pela qual os petistas esperaram oito anos, até que o chefão deixasse a Presidência, para se preocuparem com os corruptos: “O governo criou mecanismos para que nada fosse jogado embaixo do tapete nesse país. A presidente Dilma ainda será enaltecida pelas condições criadas para punir quem não andar na linha nesse país”. E arrematou, falando sério: “A apuração da corrupção é um bem nesse país”.

Lula não se conforma, no entanto, com a mania que os policiais e procuradores têm de o perseguirem, obstinados pela absurda ideia fixa de que ele tem alguma coisa a ver com a corrupção que anda solta por aí: “Já ouvi que delação premiada tem que ter o nome do Lula, senão não adianta”. Ou seja, os homens da Lava Jato ou da Zelotes não vão sossegar enquanto não obrigarem alguém a apontar o dedo para o impoluto Lula. Mas, confiante, o chefão do PT garante que não tem o que temer: “Duvido que tenha um promotor, delegado, empresário que tenha coragem de afirmar que eu me envolvi em algo ilícito”.

Lula falou também sobre a fase mais financeiramente próspera de sua carreira política, quando, depois de ter deixado o governo, na condição de ex-presidente faturou alto com palestras aqui e no exterior patrocinadas por grandes empresas. Explicou que é comum ex-chefes de governo serem contratados para transmitir suas experiências ao mundo. Quanto a palestrar no exterior para levantar a bola de empreiteiras que para isso lhe pagam regiamente, Lula tem a explicação que só os mal-intencionados se recusam a aceitar: “As pessoas deveriam me agradecer. O papel de qualquer presidente é vender os serviços do seu país. Essa é a coisa mais normal em um país”.

De fato, é muito louvável que um ex-presidente da República se valha de seu prestígio para “vender” os serviços e produtos de grandes empresas brasileiras aptas a competir no mercado internacional. Resta definir quando essa benemerência se transforma em tráfico de influência.


“Nesse país”, porém, qualquer um que manifeste dúvidas em relação à absoluta integridade moral do asceta de Garanhuns é insano ou mal-intencionado.

O Estado de São Paulo, 21/01/2016

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A Petrobras pode fechar as portas


O PT não rouba nem deixa roubar o petróleo. Essa frase pode ser atribuída ao José Dirceu quando ministro da Casa Civil, antes de ser desmascarado.
Na contramão das políticas comerciais adotadas por países sérios, para explorar o petróleo, o governo brasileiro, eivado de idiotas ideológicos, guardou o petróleo no fundo do poço até ver a crise contaminar o “nosso ouro negro”, que só existe na cabeça dos velhos comunistas pichadores de muros com o símbolo da foice e do martelo e inscrições como “o petróleo é nosso” e “fora ianques”.
Todos os desatinos imagináveis foram cometidos na Petrobras por uma organização criminosa de alta periculosidade. Entregar a BR Distribuidora a um presidente que foi cassado por corrupção, a presidente da república Dilma Rousseff bem mostra o quanto os petistas zelam e tem amor pelo patrimônio nacional.
Destruíram a Petrobras sem pensar no país e nos pobres que os elegeram, mas nas sórdidas intenções de assaltar o poder instituindo a corrupção como política de governo.
Para criar fontes de propina construíram um prédio em Salvador para alojar a diretoria financeira da empresa com o único intuito de colocá-lo à disposição dos petistas sindicalistas, proxenetas da nação.
Causa estupefação a declaração de Cerveró, que o presidente da BR Distribuidora, nomeado por Lula-Dilma, reuniu a diretoria da empresa e operadores da Lava jato, no Copacabana Palace, para estabelecer as cotas de propina que cada diretoria deveria arrecadar e os destinatários das mesmas. Os nomes dos aquinhoados já são por demais conhecidos na praça. De outra feita roubaram 12 milhões da Petrobras para pagar um chantagista que ameaçava denunciar Lula na morte de Celso Daniel. A que ponto chegou a ousadia desses criminosos.
Estabelecendo dificuldades às empresas interessadas na exploração do petróleo no Brasil, com a participação obrigatória da Petrobras em todos os blocos licitados, o que tem desestimulado interessados, num sistema de partilha ou concessão com regras incertas, ficamos com o nosso lençol enterrado nas profundezas do oceano e com dívidas até o pescoço, cerca de impagáveis 500 bilhões.
Quem haveria de fazer proposta decente para entrar em parceria com a Petrobras se as empresas estrangeiras e nacionais foram chamadas pelos petistas para roubarem o patrimônio público?
O pré-sal só tem viabilidade econômica com o barril a 50 dólares. Com o preço hoje de 30 dólares o nosso pré-sal vale zero, zero, como diria Jô Soares numa chacota à ridícula Petrobras de hoje.
As bravatas de Lula enganaram incautos e a pátria educadora mostra sua verdadeira face: faltam recursos para educação e os cortes nas despesas ocorrem em todos os estados.
Colocamos esses idiotas oriundos de sindicatos grevistas, que nunca tiveram coragem para trabalhar e levaram o Brasil e a Petrobras para o fundo do poço.
Não é à-toa que Dilma se apressa em fazer indecente acordo de leniência com empreiteiras corruptas para tentar salvar-se das denúncias que vão continuar chegando cada vez mais de forma cabeluda.
Como disse Roberto Campos: a Petrobras só é gigante do solo para cima. Foi chamado de entreguista, de inimigo da pátria, agente americano, e aí está a prova do crime. Ela só existe nos belos prédios do Rio, São Paulo, Salvador. Seu valor de mercado é 60 bilhões enquanto a sua dívida é 500 bilhões. Para se desfazer dela é preciso arranjar um picareta internacional, laranja e falsário.
O petróleo que ela deixou de extrair não vale mais nada. A matriz energética do mundo está mudando com os compromissos das nações de redução do carbono.
O que fazer agora com os elefantes brancos como Comperj e Abreu e Lima?
Sem visão, por que são quase analfabetos funcionais, não estudaram, alguns fizeram cursos rudimentares como Dilma, que se julga uma economista, mas não passa de uma animadora de auditório com as “batatadas” que diz em público.
Ninguém será processado e banido da vida pública porque o STF ideológico foi arrumado para não punir os culpados que os escolheram.
A Petrobras tem que ser repensada urgentemente, desmontar as instalações faraônicas dos seus edifícios, vender ativos, parar a prospecção e extração de petróleo, devolver sondas e plataformas e passar a comprar o produto no mercado por preços mais em conta do que produz.
Há a possibilidade do preço do barril continuar caindo, e eventualmente até subir, mas a disputa é entre gente grande e não entre amadores como os que temos.
A Arábia Saudita baixou o preço do petróleo como uma arma para que os EUA reduzissem sua produção de petróleo a partir do xisto. Os EUA não entraram no jogo da Arábia e manteve sua produção a todo vapor e a Arábia Saudita também manteve sua posição de não reduzir a produção. E os imbecis do Planalto não ficam nem atônitos porque não sabem o que está acontecendo nem o que fazer diante da catástrofe que se anuncia.
Quando o STF permitir que se mande Dilma embora, aí já será tarde demais.
Só nos resta sentar no meio fio da rua da amargura e chorar.

(Desconheço o autor)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Passe livre para o terrorismo


Aqueles que andam de camisa negra, máscara no rosto e pedra na mão e chamam os outros de fascista estão de volta às ruas. Enquanto berram pelo mito do transporte público, gratuito e de qualidade e pedem menos violência, militantes queimam ônibus e jogam coquetéis molotov na polícia. No protesto do Movimento Passe Livre (MPL) da última quinta-feira (14), uma bomba caseira foi lançada dentro da estação Consolação do metrô, deixando um funcionário ferido. No dia seguinte, nenhum espanto. Havia sido apenas mais um "protesto" do MPL.

No ano passado, uma bomba caseira foi jogada numa estação de metrô em Istambul, na Turquia. A população turca ficou chocada com o atentado terrorista, que deixou cinco pessoas feridas. "Terroristas". Esse é o nome dado àqueles que explodiram bomba caseira em uma estação de metrô em Istambul. "Manifestantes". Esse é o nome dado àqueles que explodiram uma bomba caseira em uma estação de metrô no Brasil.

Não há espaço para eufemismo quando tratamos desse tipo de criminoso. Parece que os protestos do MPL têm uma espécie de licença moral e poética para o crime. Vândalos que destroem lojas e agridem policiais são chamados ainda de "ativistas". Queimar ônibus é considerado maneira de protestar. E o terrorismo - evidente para todos aqueles que não se deixam cegar por lentes ideológicas - é absolutamente ignorado.

A Constituição brasileira repudia o terror em dois artigos, no 4º e no 5º, mas este é um dos poucos países do mundo que não dispõem de uma lei para punir atos terroristas. A que tramita no Congresso é duramente combatida pelas esquerdas. Dá para entender por quê. Querem continuar a jogar coquetel molotov em estação do metrô "em nome de um outro mundo possível".

Houve avanço no tratamento dispensado a esses criminosos, chamados por outros praticantes do eufemismo ideológico de "adeptos da tática black bloc". A Polícia anunciou que pretende indiciá-los como membros de organização criminosa (Lei nº 12.850). Não basta! Eles não se organizam simplesmente para cometer crimes. Espalham o medo generalizado. Quem já acompanhou uma manifestação do MPL sabe bem quão caótico é o cenário deixado pelos black blocs. Os criminosos têm consciência de que explodir bombas em estações de metrô não fará a tarifa de ônibus desaparecer magicamente. Mas apostam de forma deliberada no terror.

Apesar disso, a explosão na estação de metrô nem ao menos virou notícia. Tivesse virado, não teria sido amplamente repudiada. O mais provável é que fosse tratada como mais um caso de vândalos "infiltrados" num protesto do MPL. Infiltrados esses que, curiosamente, aparecem única e exclusivamente nos... atos do MPL!

Antes que venham choramingar e dizer que sou autoritário, que quero impedir manifestações democráticas, peço que façam um pequeno exercício. Imaginem uma manifestação com centenas de milhares de pessoas, pouco importa a reivindicação. De repente, essas pessoas começariam a jogar coquetéis molotov e a explodir estações de metrô. Seria um caos, uma catástrofe, uma barbárie, certo? Pois é. Independentemente da quantidade de pessoas que o MPL leva às ruas ou a ideologia que defende, não podemos ignorar os crimes e atos de terrorismo cometidos em seus protestos.

A próxima "manifestação" do MPL já está marcada. Acontece nesta terça (19). E isso significa que, mais uma vez, seremos vítimas do eufemismo ideológico. Mais uma vez, "infiltrados" acabarão com uma "manifestação pacífica". Mais uma vez, os camisas negras da catraca terão passe livre para cometer seus atos de vandalismo e terrorismo.


Passarão?

Kim Kataguiri, Folha de São Paulo, 19/01/2016

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Strike


Numa só jogada de boliche, o delator Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás e da BR Distribuidora, mira três ex-presidentes e balança a presidente Dilma Rousseff. É intrigante, ou pior, angustiante confirmar a desenvoltura e a sofreguidão com que a BR Distribuidora foi tomada de assalto pelo poder político, tanto quanto a própria Petrobrás, hoje campeã mundial de endividamento, e os fundos de pensão, que viraram pau para toda obra. O que sobra, afinal?

A BR, ou Petrobrás Distribuidora S.A., é uma sociedade anônima de capital fechado, subsidiária integral da Petrobrás. Criada em setembro de 1971, é a maior rede de postos de distribuição de derivados de petróleo do país. Hoje, está presente em todo o território nacional com cerca de 7.500 postos de serviços e mais de 10 mil grandes clientes entre indústrias, termoelétricas, companhias de aviação e frotas de caminhões, tratores e carros.

Em seu site oficial, a companhia se gaba de ser “uma das empresas brasileiras que mais valoriza o seu capital humano”. E continua: “Faz isso porque sabe que é impossível alcançar seus resultados financeiros, de produtividade, de tecnologia, sem valorizar as pessoas que nela trabalham”. A questão é quem é valorizado. Ou melhor, quem manda lá.

Toda essa potência virou um joguete político. Caiu no colo de um sujeito já mais do que conhecido como Fernando Collor, foi manipulada pelo braço direito dele, Pedro Paulo Leoni Ramos, assaltada por políticos de diferentes partidos e vilipendiada de vários modos. Exemplo contundente do que virou: Lula embrulhou em papel de presente a diretoria mais sensível da BR, a de Finanças e Serviços, e, segundo ele, a deu como mimo para Nestor Cerveró - que é quem é.

Em suas delações e em documentos sobre elas encontrados pela Polícia Federal no gabinete do senador Delcídio Amaral (então líder do governo e atualmente na cadeia), Cerveró fala genericamente de propina de US$ 100 milhões “ao governo FHC” na compra de uma empresa petrolífera na Argentina. Também diz que ganhou de presente de Lula uma diretoria da BR - justamente a de Finanças! - por ter facilitado uma operação do banco Schahin para o PT. Revela que Lula teria ofertado todas as diretorias da BR para Fernando Collor e propôs reunião da cúpula da empresa com ele e arremata contando que Dilma teria avalizado a decisão.

É ou não de tirar o fôlego? Se mentir, Cerveró corre o risco de perder todas as vantagens da delação premiada e cair no pior dos mundos e na pior das penas. Lembram-se de Marcos Valério, do mensalão? É por isso que os investigadores levam os depoimentos de Cerveró a sério e é por isso que Delcídio Amaral morria de medo das revelações que ele faria. A ponto de cair como um patinho na rede do filho do ex-gerente da Petrobrás e acabar sendo preso não pelas roubalheiras, mas por tentar planejar a fuga de Cerveró para bem longe do Brasil, da Lava Jato e dele próprio.


Nos relatos sobre a bilionária roubalheira no setor de petróleo do Brasil, a BR Distribuidora aparece como um joguete de mão e mão, roubada por diretores, funcionários e clientes, ao sabor da conveniência política. E o mais grave é que ela não era e não é um caso isolado, mas apenas parte de um esquema que emerge a cada dia da Lava Jato em estatais, bancos públicos, agências de governo. Você está estarrecido? Pois não fique. Vem muito mais por aí, isso está longe do fim.

Eliane Cantanhêde, O Globo, 13/02/2016

domingo, 10 de janeiro de 2016

Número de um fracasso


Um número resume o fracasso do atual governo: 10,67%. Essa foi a inflação brasileira de 2015. Não é resultado do que se fez no ano passado, mas sim dos erros, vacilações, distorções do pensamento econômico e energético da presidente Dilma. Ela compartilha com o PT convicções que demonstram desprezo pela estabilidade. O Banco Central teve que escrever uma carta se explicando.

O regime de metas de inflação tem rituais, e um deles é o Banco Central escrever uma carta ao Ministério da Fazenda explicando por que a inflação estourou o teto da meta. No caso atual, foi além até dos 10%. Deveria ser obrigado também que a presidente da República se explicasse. Dilma tomou decisões que levaram a esse resultado. O número pertence principalmente a ela.

Os economistas estão prevendo a queda da inflação ao longo deste ano. Esquadrinham cada número, de cada mês, pensam nas probabilidades de chover ou não, de cair o consumo por causa da recessão, noves fora o impacto de alta do câmbio. A chance maior é de o índice cair um pouco e terminar o ano de novo acima do teto da meta, no patamar de 7%. É alto, mas este é o cenário benigno.

Temores rondam os conhecedores da dinâmica da economia brasileira. O PT aumentou a indexação e elevou o percentual do dinheiro em circulação que está fora do alcance da política monetária, através dos empréstimos subsidiados ao capital. Isso faz com que o remédio amargo dos juros tenha efeito menor. O temor é o de que a inflação suba mais, pelos sinais de hesitação dados pelo governo. No fundo, pode haver até uma torcida por isso.

A inflação reduz a crise fiscal quando ela é grande demais e o governo não sabe como resolver o problema. É a pior forma de ajuste e a mais perigosa. Normalmente, é usada por incompetentes. Funciona assim: todos os custos governamentais não indexados caem pela corrosão inflacionária, e a dívida pré-fixada diminui também. O governo deixa a inflação fazer o trabalho sujo. Esse caminho é a véspera do desastre maior, que é a escalada dos preços.

Quem não entende os erros que cometeu não os corrigirá. Veja-se a patética entrevista da presidente Dilma Roussef. Ela não consegue dizer em que errou. Terceiriza a culpa. Alega que seu erro foi não ter visto que a crise externa era mais grave e não ter notado que a seca era forte demais. Tergiversações.

O que se abateu sobre o país foi o peso dos erros do governo Dilma: pedaladas, nova matriz, gastos excessivos, leniência com inflação, manipulação de preços. O mundo teve pouco a ver com isso. Durante a campanha, todos os bons jornalistas que a entrevistaram falaram sobre a gravidade da crise, que ela fingia não ver. A seca foi forte, sim, mas o que elevou a tarifa da energia foi a administração da política do setor. Ex-ministra da área, suposta especialista, Dilma reduziu os preços em ato de preparação da campanha eleitoral quando a seca já havia começado. Administrou mal os leilões, e as distribuidoras ficaram expostas e tiveram que comprar no mercado livre. O incentivo na hora errada e a barbeiragem nos leilões de oferta alimentaram a bola de neve de prejuízos das empresas. Aí o governo fez outro absurdo: mandou as distribuidoras pegarem empréstimos bancários e cobrarem o custo do crédito e dos juros dos consumidores na conta de 2015. Isso produziu o tarifaço que explica parte do estouro da inflação. Mas Dilma quer fixar a ideia de que foi apenas a seca. Culpa do imponderável, e não dela.

Há erros factuais e ideológicos no número 10,67%. Ele é pior porque castiga o Brasil em plena recessão. Normalmente, a frieza de um ambiente recessivo até impede a alta dos preços, mas o governo Dilma conseguiu servir esses dois purgantes ao país: inflação acima de 10% e PIB caindo quase 4%. Os erros factuais são os dos equívocos das decisões diárias, os ideológicos são mais profundos e nascem do conjunto de crenças do PT.


O partido não participou do esforço do país para estabilizar a economia e tentou sabotá-lo porque jamais entendeu o valor da estabilização. Esse ideário é que produz os monstrengos que foram inflacionando a economia. Esse resultado pertence ao PT e é responsabilidade de Dilma Rousseff. Contudo, é sobre o país como um todo que pesa esse número do fracasso.

Míriam Leitão, O Globo, 9/1/2016

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