sábado, 30 de agosto de 2014

O DESASTRE DA TUCANO-DEPENDÊNCIA DO PT


O jihadismo petista se estruturou construindo um inimigo: o PSDB, sobretudo personificado em FHC.

Fernando Henrique saiu da cena política há 13 anos. Mas o PT não consegue atuar sem ele. A cada circunstância tem que ressuscitá-lo, dizendo que era ele que estava por trás de Serra ou de Alckmin ou agora de Aécio.

Porque o PT precisa desesperadamente do inimigo. Não para destruí-lo e sim para mantê-lo como inimigo universal e eterno.

Por isso afirmei há anos que a pior coisa que poderia acontecer ao PT seria a dissolução do PSDB (o que já deveria ter acontecido por decisão interna e pode acabar acontecendo agora à revelia, pela constelação aziaga das circunstâncias).

A guerra (no caso, a política praticada pelo PT como arte da guerra ou continuação da guerra por outros meios) é um engendramento que visa construir inimigos como pretexto para reproduzir sistemas de dominação (hierárquico-autocráticos).

Mas, para tanto, não pode destruir os inimigos (sobretudo depois que eles foram cuidadosamente escolhidos e construídos a duras penas): tem de mantê-los.
Por isso muitos dizem que o PT ficou tucano-dependente.

Marina agora entrou em cena e quebrou a bipolarização que caia como uma luva: PT x PSDB representava Esquerda x Direita, Povo x Elites, Explorados x Exploradores, Socialistas x Neoliberais ou qualquer outra besteira semelhante.

O PT não teve - e nem terá - tempo de construir Marina como inimiga e a ela não se aplicam as caracterizações de Direita, Elite, Exploradora ou Neoliberal.

E agora? Agora fudeu.

Augusto de Franco.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Fantasma de Celso Daniel assombra companheiros


JOSÉ NÊUMANNE - O ESTADO DE S.PAULO

27 Agosto 2014 | 02h 04
Quem poderia imaginar que na quarta campanha presidencial posterior ao aparecimento do cadáver do prefeito de Santo André licenciado para coordenar o programa de governo da candidatura vitoriosa de Luiz Inácio da Silva, do PT, o fantasma de Celso Daniel deixaria o limbo para assombrar seus companheiros? E, pelo visto, o espírito vindo do além não se limitou a puxar o dedão do pé de uns e outros em sono solto, mas deixou-os a descoberto em pleno inverno. Para sorte deles, este inverno não tem sido tão gélido assim. Mas a alma é fria que só. E como é!
Sábado, em reportagem assinada por Andreza Matais, de Brasília, e Fausto Macedo, este jornal noticiou que a Polícia Federal (PF) apreendeu no escritório da contadora Meire Poza, que prestou serviços ao famigerado doleiro Alberto Youssef, contrato de empréstimo de R$ 6 milhões. O documento, assinado em outubro de 2004, reconhece dívida de tal valor, a ser paga em prestações em 2004 e 2005 pelas empresas Expresso Nova Santo André e Remar Agenciamento e Assessoria à credora, a 2S Participações Ltda. A primeira pertence a Ronan Maria Pinto, empresário do ABC e personagem do sequestro e morte de Celso Daniel, cujo cadáver foi encontrado no mato em Itapecerica da Serra em janeiro de 2002. A 2S pertencia ao publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, peculato e evasão de divisas a pena de 37 anos, quatro meses e seis dias e multa de R$ 3,062 milhões.
O elo encontrado pelos federais entre o assassinato do principal assessor de Lula na campanha presidencial de 2002, o escândalo de corrupção do mensalão e as denúncias apuradas na Operação Lava Jato, protagonizadas pelo doleiro acusado de lavar R$ 10 bilhões de dinheiro sujo, estava numa pasta identificada como "Enivaldo" e "Confidencial". A PF supõe que este seja Enivaldo Quadrado, condenado no mensalão.
A investigação em que o juiz federal Sérgio Moro encontrou provas suficientes para mandar prender o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que substituiu Sérgio Gabrielli na presidência da empresa 24 vezes, apurou que a corretora Bônus Banval não era de Enivaldo Quadrado, mas, sim, de Alberto Youssef. Costa, que o ex-presidente Lula, conforme testemunhos citados no noticiário do escândalo, chamava de Paulinho e teria oferecido ajuda nas investigações em troca de alívio na pena (pelo visto, ele conta até com a eventual liberdade), tem sido motivo de aflição de gente poderosa na República, temendo que suas revelações cheguem a comprometer a realização das eleições gerais de outubro.
O que já se sabe sem sua ajuda é grave. E a entrada em cena do espectro de Celso Daniel - que não é Hamlet, mas já expôs parte considerável da podridão que reina nestes tristes trópicos -, se não alterar o calendário eleitoral, abalará significativamente a imagem de vários figurões que disputam o posto mais poderoso de nossa velha e combalida República.
Em depoimento ao Ministério Público (MP) em dezembro de 2012, também revelado pelo Estado, Valério, chamado pejorativamente de "carequinha" pelo delator Roberto Jefferson, seu colega no banco dos réus do mensalão, contou que dirigentes do PT lhe pediram R$ 6 milhões a serem destinados ao empresário Ronan Maria Pinto. Conforme o depoente, o dinheiro serviria para calar Ronan, que estaria chantageando Lula, o secretário da Presidência, Gilberto Carvalho, e o então chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu. Gilberto Carvalho, conforme se há de lembrar quem ainda não perdeu a memória, tinha sido secretário de Celso Daniel e foi acusado pelos irmãos deste de transportar malas com as propinas cobradas de empresários de ônibus em Santo André para Dirceu, à época presidente do PT.
De acordo com a reportagem do Estado no sábado, há 20 meses "o PT não se manifestou oficialmente, mas dirigentes declararam que ele não merecia crédito". Com a descoberta do documento, contudo, parte da versão de Valério - a que se refere à "dívida", embora não se possa afirmar o mesmo em relação ao motivo desta - deve ter passado a merecer crédito, se não do PT, ao menos da PF. Crédito similar, por exemplo, ao dado pelo partido no poder federal ao chamado "operador do mensalão" quando o mineirinho emergiu como o gênio do esquema de distribuição de dinheiro, que o relator do processo no STF, Joaquim Barbosa, desvendou de maneira lógica e implacável.
O documento assinado por Valério nos papéis da contadora do doleiro acaba com qualquer dúvida, se é que alguém isento e de boa-fé possa ter tido alguma, de que nada há a imputar de político ou fictício à condenação de Dirceu, Valério, José Genoino e outros petistas de escol a viverem parte de sua vida no presídio da Papuda, em Brasília. Isso bastaria para lhe garantir a condição de histórico no combate à corrupção. Mais valor terá se inspirar o MP estadual a exigir da Polícia Civil paulista uma investigação mais atenta e competente sobre a morte de Daniel.
Ao expor a conexão entre o assassinato do prefeito, a compra de apoio ao governo Lula e a roubalheira desavergonhada na Petrobrás, a dívida contraída por Ronan põe em xeque todos quantos, entre os quais ministros do Supremo, retiraram a "formação de quadrilha" da lista de crimes cometidos por vários réus do mensalão. Negar a prática continuada por mais de dez anos de um delito em bando formado pelos mesmos personagens conotaria cinismo e até cumplicidade.
A delação de Paulo Roberto merecerá um prêmio, sim, se ele for capaz de informar quem são os verdadeiros chefões nos três delitos. Acreditar que possam ser um menor da favela, um publicitário obscuro e um doleiro emergente seria como nomear Papai Noel ministro dos Transportes.
*José Nêumanne é jornalista

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A sociedade, segundo Marina


Publicado em 28/08/2014 | Demétrio Magnoli

No registro do lugar-comum, Dilma Rousseff é associada com qualificativos como rude, ríspida, mandona e autoritária. No mesmo registro, atribui-se a Marina Silva qualidades opostas: suavidade, doçura, flexibilidade, reflexão. A gerente tecnocrática, de um lado; a filósofa da “nova política”, do outro. O lugar-comum é a notação do mundo das aparências. Os primeiros passos de Marina como candidata presidencial oferecem indícios de que o contraste é uma má caricatura – e, ainda, de uma similitude fundamental entre as duas candidaturas.

Marina rejeitou participar das campanhas de Lindbergh Farias (PT-RJ), Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Beto Richa (PSDB-PR), apoiados pelo PSB, sob o curioso argumento de que sua ausência desses palanques fora previamente acordada com Eduardo Campos. O gesto equivale a selecionar exclusivamente os produtos que lhe interessam: da prateleira do presente, ela fica com a posição de candidata presidencial; da prateleira do passado, com um acordo aplicável apenas a uma postulante à vice-presidência. Das fagulhas da manobra oportunista acendeu-se uma fogueira no PSB. Mas a luz desse fogo ilumina algo mais relevante: a crença de Marina de que uma pureza singular proporciona-lhe liberdades políticas excepcionais.

Na réplica à pergunta de um jornalista encontram-se pistas na mesma direção. Indagada sobre sua permanência no PSB caso triunfe na corrida ao Planalto, Marina saiu-se com uma não resposta, articulada na forma de um longo desvio em torno das balizas da “nova política”. Ao sonegar a informação, a candidata circunda uma dúvida legítima de todos os eleitores: afinal, o voto nela tem o potencial de sagrar uma presidente do PSB ou da Rede? Contudo, para além da constatação de que Marina refugia-se em ambiguidades dignas da “velha política”, a não resposta contém um elemento mais esclarecedor.

À pergunta, a candidata replicou, hieraticamente: “Nós não devemos tratar o presidente como propriedade de um partido. A sociedade está dizendo que quer se apropriar da política. E as lideranças políticas precisam entender que o Estado não é o partido, e o Estado não é o governo”. Em tudo isso, há um sopro de justa aversão à putrefata elite política brasileira – e uma crítica pertinente à indistinção lulopetista entre Estado, governo e partido. Entretanto, o núcleo do raciocínio situa-se na palavra “sociedade”, traduzida de modos diversos pelas diferentes correntes de pensamento político. O que é a “sociedade”, segundo Marina?

Segundo Margaret Thatcher, “essa coisa de sociedade não existe”. De acordo com o polo ultraliberal, existem apenas indivíduos que realizam intercâmbios no mercado. No extremo oposto, encontra-se o polo neocorporativista, que define a sociedade como um conjunto de “coletivos” legitimados por um selo estatal.

O lulopetismo coagulou essa concepção pelo Decreto 8.243, que institui a “democracia participativa” e normatiza os “conselhos de políticas públicas”. No fundo, o governo está dizendo que a sociedade é uma extensão do Estado, o ente responsável pela seleção dos “movimentos sociais” convidados a se sentar à volta das mesas de negociação.

Mas e Marina? Dois meses atrás, a então candidata a vice defendeu a substância do Decreto 8.243, que ressurge numa versão preliminar de seu programa de governo. A vida política de Marina organizou-se ao redor de suas relações com uma coleção de ONGs. Seu partido chama-se Rede para marcar uma distância com o sistema político-partidário. Teia de movimentos, de ONGs – eis o sentido do nome cunhado pelos “marineiros”. Na sentença “a sociedade quer se apropriar da política”, não é abusivo ler que o Estado deve estabelecer uma relação preferencial com as ONGs “marineiras”.

À primeira vista, a Marina “doce”, “flexível” e “reflexiva” concorda com um princípio caro ao lulopetismo – ou seja, à “ríspida”, “mandona” e “autoritária” Dilma. Tanto uma quanto a outra, ao que parece, imaginam-se portadoras da prerrogativa de falar pela “sociedade”. A diferença residiria no detalhe: os “movimentos sociais” do lulopetismo não são os mesmos que os do “marinismo”. Nessa linha de raciocínio, não é casual que Marina sinta-se à vontade para ignorar as alianças do partido cuja sigla ostenta diante dos eleitores e para desdenhar da indagação sobre sua filiação partidária na eventualidade da vitória.

Todo o poder às ONGs! – é isso a “nova política” cantada no verso difícil de Marina? O lulopetismo degradou as instituições da democracia representativa, especialmente o Congresso, em nome de uma “democracia participativa” que funciona como metáfora de seu próprio poder. Nessa moldura, o projeto de uma “nova política” vertebrada pelos movimentos “marineiros” significaria mais continuidade que ruptura – e o “novo” seria tão somente um disfarce eleitoral do “velho”.

É cedo demais, porém, para formular diagnósticos definitivos. Marina é uma obra aberta, no sentido positivo da expressão. A evolução do pensamento “marineiro” expressou-se, em 2010, por uma narrativa avessa ao sectarismo, capaz de tecer elogios paralelos à estabilização econômica de FHC e às políticas contra a miséria de Lula. Hoje, na candidata comprometida com a restauração da credibilidade do tripé de política macroeconômica, há poucos traços da senadora petista que votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Um sintoma da abertura à mudança apareceu em suas últimas declarações, segundo as quais “aprofundar a democracia significa a valorização das instituições”, e no alerta de que a versão preliminar do programa não passou pelo seu crivo.

A candidatura de Marina surfa na onda imensa de indignação popular contra a “velha política” – ou seja, a ordem de coisas que estimula o consumo privado sem produzir bens públicos. Nem por isso ela deve ser autorizada a utilizar o refrão da “nova política” como instrumento de prestidigitação.

Demétrio Magnoli é sociólogo.

Sou Marina (até a posse)

Em artigo, o ex-colunista da Veja Diogo Mainardi se diz animado com a candidatura de Marina Silva. Segundo ele, há uma real perspectiva de derrotar o PT, mas diz não esperar nada do governo Marina um dia depois de sua posse. 
Leia:

Sou Marina (até a posse)
Não espero rigorosamente nada de seu governo e passarei a torcer contra ela um dia depois da posse. Sou um homem simples.

Sou um homem simples: acredito que, a cada quatro anos, é necessário trocar o bandido que nos governa. Tira-se um, bota-se outro qualquer em seu lugar. Nunca votei para presidente e, por isso mesmo, nunca me arrependi por ter votado num determinado candidato.

O voto nulo é sempre o melhor --o menos vexaminoso, o menos degradante. Isso não quer dizer que não me interesse pelas eleições.

Ao contrário: acompanho fanaticamente todas as campanhas e, no tempo ocioso, que corresponde a mais ou menos quatro quintos de meu dia, pondero sobre a fanfarronice daquela gente pitoresca que pede nosso voto. Além de ponderar sobre a fanfarronice daquela gente pitoresca que pede nosso voto, sou um especialista em torcer contra.

Torci contra Fernando Henrique Cardoso em 1998. Torci contra Lula em 2002. Torci contra Lula --e torci muito-- em 2006. Torci contra Dilma em 2010. Agora estou torcendo novamente contra ela. Como se nota, além de ser um especialista em torcer contra, sou também um especialista em derrotas eleitorais. E quem se importa? Com tanto tempo ocioso, aprendi a esperar.

A candidatura de Marina Silva, para quem só sabe torcer contra, como eu, é muito animadora. Depois de 12 anos, há uma perspectiva real de derrotar o PT. E há uma perspectiva real de derrotar o PSDB, sem o qual o PT tende a desaparecer, pois perde seu adversário amestrado.

O conceito segundo o qual é necessário trocar, a cada quatro anos, o bandido que nos governa (Montesquieu, "O Espírito das Leis", volume 2), finalmente pode ser aplicado. Tira-se um, põe-se outro qualquer em seu lugar. O outro qualquer é Marina Silva? Eu topo.

A possibilidade de derrotar o PT --toc, toc, toc-- é o aspecto mais atraente da candidatura de Marina Silva. Com um tantinho de empenho, porém, posso apontar outros. Muitos palpiteiros se alarmaram porque seu primeiro passo foi rachar ao meio o PSB; eu, vendo aquela gente pitoresca do PSB, comemorei. De fato, espero que ela rache ao meio os outros partidos de sua base.

Passei 12 anos denunciando os apaniguados de um partido que se empossava criminosamente de todos os cargos estatais. O que eu quero, agora, é que os partidos se esfarinhem. Em primeiro lugar, o PT. Em seguida, o resto.

Outro aspecto animador de Marina Silva é que ela sabe que o eventual apoio de um petista ou de um tucano só pode tirar-lhe votos, prejudicando suas chances de ser eleita. Isso deve persuadi-la a repelir, neste momento, qualquer tentativa exasperada de adesismo.

Se ela ganhar, porém, tudo mudará: voluntários de todos os partidos irão oferecer seus préstimos, e ela, agradecida, aceitará, claro.

Assim como aceitará a serventia e a cumplicidade daqueles que, até hoje, sempre lucraram com Dilma e o PT: no empresariado, no sindicato, na cultura, na imprensa. Mas esse é outro motivo pelo qual me animo com a candidatura de Marina Silva: não espero rigorosamente nada de seu governo, e passarei a torcer contra ela um dia depois da posse. Sou um homem simples.


Publicado na Folha de São Paulo - 27/8/2014

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

VENEZUELA NA UTI


A irresponsável aventura bolivariana na Venezuela não para de dar seus frutos. Um dos mais recentes, e graves, é a escassez generalizada de insumos médicos e hospitalares, que ocorre já faz algum tempo, mas que neste mês atingiu um ponto crítico. Faltam desde materiais básicos, como bisturis e gaze, até produtos para procedimentos complexos. A Associação Venezuelana de Clínicas e Hospitais e outras entidades médicas qualificam a situação de "crise humanitária".
O problema é o mesmo que atinge diversos outros setores da economia: o controle rígido do câmbio para tentar estancar a sangria de dólares impede que fornecedores estrangeiros recebam o pagamento pelos seus produtos e serviços. O calote na área de materiais e insumos atingiu US$ 363 milhões, enquanto na área de remédios e matérias-primas as dívidas pendentes somam US$ 970 milhões. Isso gerou perda de credibilidade com os fornecedores, queixou-se Cristino García Doval, presidente da associação de hospitais. Como a Venezuela importa 90% dos insumos médicos e hospitalares, é possível dimensionar o tamanho do problema.
As consequências são inúmeras, muitas delas dramáticas. Sete clínicas de Caracas decidiram suspender as cirurgias eletivas para poder atender somente às emergências. Cerca de 6 mil pacientes com cirurgias marcadas não puderam ser operados por falta de material. O presidente da Sociedade Venezuelana de Anestesiologia, Nerio Bracho, disse que o déficit de anestésicos inaláveis, por exemplo, atinge 90%.
No início do mês, a Associação Venezuelana de Distribuidores de Equipamentos Médicos entregou um volumoso relatório à Assembleia Nacional - o Congresso do país, dominado pelos chavistas - para denunciar a situação e pedir providências. Foi o segundo produzido em três meses. O presidente Nicolás Maduro também foi informado diversas vezes sobre o problema. Segundo as entidades médicas, ainda não houve reação dos parlamentares nem do governo.
Em nota, a Sociedade Venezuelana de Saúde Pública advertiu que "a falta de respostas do governo para os problemas identificados há meses nos conduz irremediavelmente a uma crise humanitária na saúde, como já advertimos publicamente em janeiro deste ano, com graves e imprevisíveis consequências para a saúde e a vida das pessoas".
Além de não dar nenhuma satisfação para as organizações médicas, Maduro parece mais interessado em privilegiar sua agenda política e ideológica, ao lotar um avião com alimentos, remédios e equipamentos hospitalares e enviá-lo à Faixa de Gaza. Não foi a primeira vez que o governo chavista, em meio ao agudo desabastecimento na Venezuela, prestou "ajuda humanitária" a sócios de sua empreitada anti-imperialista, como Cuba e Síria. Enquanto isso, em seu país, pacientes deixam de ser operados e consumidores enfrentam filas para comprar comida, situação que mais se assemelha à de lugares conflagrados pela guerra.
Mas nada disso surpreende. A despeito do discurso de que o chavismo revolucionou os serviços públicos na Venezuela, em atendimento aos pobres, a administração da saúde na última década sempre foi amadora, dependente do voluntarismo típico de governos autoritários. Em 2009, o então presidente Hugo Chávez reconheceu o descalabro e declarou situação de emergência na área de saúde dentro do seu principal programa social, o Bairro Adentro. No entanto, em vez de atacar o cerne do problema - corrupção desenfreada e má administração dos recursos -, a solução encontrada foi a mera importação de mais médicos cubanos, que se somaram ao enorme contingente que já atuava no país.
O paliativo nada resolveu, como se observa agora. No final do ano passado, Maduro admitiu que a situação dos hospitais era "uma vergonha". Foi um súbito acesso de sinceridade, que, todavia, não resultou em nenhuma medida para encaminhar uma solução concreta. Ao contrário: a inépcia do governo venezuelano está atirando o país de vez na UTI.
O Estado de São Paulo

O debate da Band

O que eu achei do debate?
Pura perda de tempo, se não fosse pela declaração do Aécio Neves, de que irá nomear Armínio Fraga para conduzir a economia do país, caso seja eleito.
A Dilminha continua como a garota propaganda do sabonete Lux: segundo ela, 9 em cada 10 brasileiros gostariam de viver no país que ela pensa que existe e governa. Até entendo: como ela não sai à ruas com medo de ser vaiada, acredita piamente no que lhe dizem seus asseclas. Só pode ser isto. Não respondeu a nenhuma pergunta, fala o discurso decorado que os marqueteiros colocam na sua cabeça e mantém aquela cara de bunda que já cansou todo mundo.
Marina, ah! a doce Marina. Todo mundo é bonzinho, todos tem qualidades e oh! como ela quer unir todos os brasileiros!!!! Nenhuma proposta específica, só a "dor" da perda do seu antigo companheiro de chapa. Continua sendo a "viúva" do Eduardo Campos. Já vi este filme antes, li o livro e não gostei de nenhum dos dois. Eu quero saber é quem pagava o jatinho! Pena que ninguém perguntou, nem os jornalistas. Grande falha da Band.
Gostei da porrada dada na Dilminha pelo Aécio sobre o desastre feito pelos petistas e asseclas, na Petrobrás. Claro que ela não iria admitir nada de errado. Afinal, ela é uma debilóide completa, mas não é doida. Mas a porrada foi válida e necessária.
De resto, as propostas do Everaldo e do Levy de redução do tamanho do Estado, aposta nas empresas e redução da maioridade penal tem meu total apoio. Mas sabemos que eles não tem a menor chance.
Quanto ao candidato do PV, como era mesmo o nome dele????
A comunista do PSOL, mentora de vândalos e criminosos arruaceiros e protetora de bandidos, late como um cão raivoso, mas não amedronta. Pena que há de incluí-la no debate. Uma lástima.
Mudou alguma coisa? Nada, absolutamente nada.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Poucos, mas existiam. Quantos ainda restam?


Antonio Ermírio de Moraes era dedicado ao trabalho desde a juventude
Os ternos antigos e até meio amarrotados eram uma marca de Antônio Ermírio de Moraes. Os amigos faziam piada, mas ele não dava a mínima. "Quando escolho um livro, não ligo para a encadernação. Preocupo-me com o conteúdo", costumava dizer.
De hábitos matutinos, o empresário acordava todo dia por volta das cinco da manhã. Às sete horas, religiosamente, saía de casa. Passava pelo Hospital Beneficência Portuguesa ou ia direto para a sede da companhia, que ficava na região central de São Paulo. Da janela do escritório, acompanhou a deterioração do centro da capital paulista ao longo de décadas e, mais tarde, a revitalização da Praça Ramos, patrocinada pela Votorantim.
Tonhão, como era tratado pelos mais próximos, não era dado aos luxos que seriam facilmente comprados pela fortuna acumulada durante décadas de trabalho. Quando a filha caçula fez 18 anos, ganhou de presente um carro popular. Antônio Ermírio também fazia questão de dirigir o próprio carro e não queria saber de andar escoltado por seguranças.
Na rua, gostava de parar, conversar e ouvir o que as pessoas tinham a dizer. Sempre que tomava um táxi, acomodava-se ao lado do motorista. Numa ocasião, ao pegar um táxi no ponto próximo ao escritório para uma corrida de poucos quarteirões, pagou o motorista com uma nota de R$ 50. Diante da insistência do taxista para devolver o troco, Antônio Ermírio perguntou se ele tinha filhos. "Então use este dinheiro para fazer alguma coisa por eles."
Com o tempo e a dificuldade de se locomover, passou a ir apenas eventualmente ao trabalho. Mas, quando aparecia, fazia questão de se reunir com os principais executivos, atualizar a papelada com a secretária de décadas, dona Valéria, e ser informado do que estava acontecendo.
Amigos de Antonio Ermírio de Moraes o descrevem como madrugador e dedicado ao trabalho desde a juventude. O empresário Álvaro Lopes, dono da Casa Santa Luzia, em São Paulo, lembra de boas histórias dos tempos em que os dois foram colegas de turma no ginásio, no Colégio Rio Branco, em Higienópolis. Na época, a família Moraes já se consolidava como dona de um império em São Paulo. Lopes era filho do dono de um empório de secos e molhados. Os filhos de José Ermírio, Antônio e José Ermírio de Moraes Filho, o mais velho dos irmãos, iam para a escola sempre bem arrumados. Além do currículo tradicional, os irmãos tinham aulas particulares de inglês. "O pai deles ajudou no que pôde para que tivessem uma boa educação", recorda Lopes.
Vizinho. O publicitário Washington Olivetto, dono da agência de publicidade W/Brasil, foi vizinho de Ermírio por muitos anos no Morumbi. Quando o publicitário acordava, por volta das 6h, Antônio Ermírio já estava a caminho do Hospital Beneficência Portuguesa ou do escritório na Votorantim. Ambos torcedores do Corinthians, o assunto era sempre recheado de comentários sobre o futebol.
Convidado em 1991 para fazer uma campanha publicitária para um novo carro da Fiat, o Prêmio, Olivetto lembrou-se do vizinho. Homem respeitado e conhecido por ser trabalhador, ele seria ideal para divulgar o novo modelo popular da montadora italiana. "Como ele não aceitaria participar só pelo cachê, pensei na possibilidade dele doar o pagamento a uma instituição de caridade", recorda o publicitário. A campanha associava o empresário ao carro com frases como "Dr. Antônio é um homem grande. O Fiat Prêmio também".
Social. Em 2003, o empresário Paulo Lima, da editora Trip, procurou Olivetto para que ele entregasse notas de R$ 10 a uma pessoa rica e a alguém de baixo poder aquisitivo. Os dois poderiam comprar o que quisessem. O resultado renderia um artigo escrito pelo publicitário. Um office boy da W/Brasil foi um dos escolhidos e o outro foi Antônio Ermírio, que optou por multiplicar a quantia com muitas outras notas de R$ 10 e fazer uma doação para uma instituição de caridade.
Ele explicou o motivo em uma comovente carta a Olivetto: "Só você poderia reviver em minha alma um sentimento tão gostoso quanto o experimentado quando recebi os R$ 10 que gentilmente me enviou. Recordar é viver. Você me trouxe saudade, muita saudade, de minha mãe. Lembro-me como se fosse hoje que ela sistematicamente dava ao Instituto de Cegos Padre Chico uma quantia de 10 mil réis todos os meses... Ao receber o seu envelope com R$ 10, falei com duas religiosas daquele instituto e perguntei a elas o que fazer com recursos múltiplos dos seus R$ 10", dizia a carta. "Como conclusão, prometi à madre superiora do Instituto de Cegos Padre Chico que manteremos, durante 30 dias, com o múltiplo dos seus R$ 10, as despesas desse instituto com escola e alimentação para aquelas 80 crianças... Nunca, meu caro Washington, R$ 10 fizeram tão bem à nossa alma."
Antônio Ermírio era conhecido pela atuação social. Boa parte da sua jornada de trabalho era reservada para a gestão do Hospital Beneficência Portuguesa que, apesar de ser particular, atendia principalmente a pacientes do Sistema Único de Saúde, o SUS.
Apaixonado pelas artes, especialmente pela música clássica, Ermírio acertou com o maestro Silvio Baccarelli que todo último sábado do mês o salão nobre do hospital seria palco de uma apresentação para pacientes, médicos e funcionários. Um dos concertos foi com as crianças de Heliópolis, um dos bairros mais carentes de São Paulo. No fim da apresentação, soube que aquela seria a última apresentação do grupo, porque o patrocinador havia desistido do projeto. Antônio Ermírio assumiu o patrocínio, que até hoje é mantido pelo Instituto Votorantim.
Texto de NAIANA OSCAR, MARINA GAZZONI, MÔNICA SCARAMUZZO, FERNANDO SCHELLER, NAYARA FRAGA e PAULA PACHECO, ESPECIAL PARA O ESTADO

A protetora de saúvas



REYNALDO ROCHA

Um dia o prefeito da maior capital do país se definiu como alguém que não era de centro, nem de direita e nem de esquerda. Entendi que ele era de baixo.

Agora temos uma política profissional – sempre viveu disso – repetindo o discurso de Collor: cuidado com os políticos (os outros). O perigo maior é ela própria.
Messiânica, com ar de retirante de butique, seringueira de Brasília e acusadora de todos os que ousam discordar do que diz, Marina Silva faz lembrar o que de pior temos nestas terras tupiniquins: o antigo PT, dono de ética e das verdades. Deu no que sabemos. Difícil escolher entre o descaramento explícito e a desfaçatez silenciosa.

Uma escolha entre Dilma e Marina não é sequer um plebiscito. É uma roleta russa. Envolta em panos (caros) e echarpes (mais ainda), Marina se porta frente aos marineiros como guru a ser idolatrado. Concorda com tudo e não assume nada. Diz platitudes que, se não têm consistência, ao menos entendemos. Entendemos?
Como uma madre Teresa do Acre, cultiva a figura que tenta ser uma Quixote de saias. Mesmo sendo um Sancho Pança famélico.


Não é contra nada. Mas sempre longe de ser a favor de algo, pois para ser a favor é preciso ter ideias.
Dizer-se sucessora de dois ex-presidentes é o cúmulo da prepotência. Quer ser a continuidade e oposição ao mesmo tempo. Quer ser herdeira sem ter sido aliada de um deles. Pelo outro foi usada e usou a imagem de pobres e nordestinos. Uma falta de vergonha e compostura que envergonha qualquer povo da floresta, da cidade ou do butequim.


Quem em sã consciência é contra a luz elétrica? Ter como programa o apoio à luz elétrica é tão assustador quanto pretender ser presidente e contar com quadros (que a Rede de Embalar Idiotas não tem) de outros partidos. Um ministério com Aloysio Nunes e José Dirceu? Com Álvaro Dias e Ideli? Todos irmanados em mantras matinais quando a salvadora e casta presidente adentrar qualquer ambiente?


Marina Silva é um engodo. A Rede sabe disso. Eduardo Campos também sabia. O que ela tem de valioso são os votos de quem, sem entender o que diz, prefere uma frase com pé e sem cabeça a frases sem uma coisa nem outra, como as despejadas por Dilma. É pouco. Muito pouco.


Tancredo morreu e herdamos Sarney. Eduardo deixou essa coisa amorfa e arrogante que se julga a nova dona do Brasil


Triste destino nos tem dado a Velha Senhora. Joga com a vida e morte escolhendo o absurdo para além da morte em si.


Marina escolheu o PSB por falta absoluta de opção. Continua apoiando petistas do Acre e do Rio de Janeiro. Continua sem saber que economia é ciência e não slogan de sonháticos e pesadeláticos.


Continua a criar uma seita, que neste início é ainda mais sectária que o PT.


Acha que em se plantando tudo dá, mesmo que seja no quintal das casas dos protegidos pela falta de estrutura. Não enxerga o agronegócio. Assim como o idiotizado Suplicy (isso explica a amizade que os une) é monotemática. Alguém se lembra de UMA ÚNICA palavra de Marina sobre a saúde e os médicos cubanos? Ou a agressão a Yoani Sanches? Política fiscal? Inflação? Política de desenvolvimento da indústria? Agências reguladoras? Sobre os 39 ministérios e Ali Lula Babá? Sobre a amante Rosemary? Sabe-se o que ela pensa sobre política externa? Infraestrutura? Exportações? Política de emprego e renda?


São detalhes para os marineiros. Na visão tacanha desse grupo, que lembra antigos bandos de hippies em Arembepe, mais importantes são os povos da floresta, a plantação de mandioca e a sustentabilidade que NUNCA foi explicada com clareza.


Marina é insustentável. Insuportável. Despreparada. Fruto de um destino cruel com Eduardo Campos. Dona da verdade. Aproveitadora de partidos e lutas que não são dela.


Marina é – esta sim – um Collor repaginado.


O Caçador de Marajás saiu do Planalto a pontapés (aliás, onde estava Marina naquela época?). 


Quem está tentando entrar é a Protetora das Saúvas, uma praga que agora age em rede.

Marina tenta explicar a fábula do avião sem dono

Não me peçam para aderir a ondas de opinião com base no que pensam este ou aquele, especialmente gente que detesto ou execro. Imaginem se justamente pessoas que desprezo iriam determinar os rumos das minhas escolhas. Seria um contrassenso. Alguém me viu aqui a tratar delinquentes que saíam quebrando tudo por aí como aliados objetivos só porque a popularidade de Dilma caía? Quem passou a mão na cabeça deles foi Gilberto Carvalho, não eu. Dá-se o mesmo agora com a “onda Marina”, que pode, reconheço, virar tsunami e devastar nosso futuro: “Ah, entre a Dilma e a Marina, tudo contra o statu quo…” Não é assim que eu penso. Não é assim que eu opero. O voto nulo, numa democracia, é um direito. Se necessário, eu o usarei.
Imbecis dizem por aí: “Claro! Reinaldo é simpático ao PSDB!” Sou? Perguntem aos tucanos para ver se eles acham isso. Mas vamos ao que mais interessa: hoje é dia 26. Já se passaram 13 dias desde o acidente que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas. Até agora, o PSB não conseguiu dizer a quem pertencia o jatinho. Pior: tanto Marina Silva como Beto Albuquerque, candidato a vice, tiram ares de ofendidos e ainda tentam cutucar a Polícia Federal, cobrando dela um esclarecimento. Até parece que havia alguma conspiração possível, cuja investigação coubesse à PF. De resto, tivesse havido, a única beneficiária seria Marina, não é? Ou terei perdido alguma coisa? Adiante.
Nesta segunda, a candidata do PSB à Presidência falou a respeito. Foi a primeira vez que resolveu pedir para a procissão parar o andor para que ela se dirigisse aos fiéis. E se saiu com estas palavras, prestem bem atenção:
“Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos, e, para termos a materialidade dos fatos, é preciso que haja tempo necessário para que essas explicações tenham as devidas bases legais”.
Você não tem culpa nenhuma se não entendeu patavina. Eu também não entendi nada. Marina não entendeu nada. Beto Albuquerque não entendeu nada. Os demais leitores não entenderam nada. Os outros jornalistas não entenderam nada. E é fácil explicar por que é assim: Marina não falou para ser entendida. A isso se chama técnica do despiste. Ela já é dona, no mais das vezes, de uma retórica incompreensível porque faz questão de deixar claro que não habita este mundo em que mortais arrastam suas vidas terrenas. Ela desfila sua figura e seu olhar etéreos como quem se comunica com dimensões que nos escapam, daí falar uma língua que quase sempre sugere, mas nunca explica.
Desta feita, ela exagerou. Vamos quebrar em pedaços o que ela disse: “Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos”. Como? Que sejam dadas por quem? Eu não voei naquele avião. Você não voou naquele avião. Ela sim! Quem é o agente da passiva de sua sintaxe? Marina quer que as explicações sejam dadas por quem? Aí a candidata diz que é preciso tempo para que as “explicações tenham as devidas bases legais”. Como assim? Com um pouco de severidade, é possível inferir que está a nos dizer: “Olhem aqui: nós estamos tentando arrumar alguma desculpa legal para dar; quem sabe a gente consiga até amanhã”.
Dilma resolveu tirar uma casquinha na entrevista coletiva concedida nesta segunda quando indagada sobre o avião: “Eu não estou acompanhando isso, porque, você vai me desculpar, mas não é objeto do meu profundo interesse. Agora, acredito que nós, que somos candidatos, inexoravelmente temos de dar explicação de tudo. (…) Candidato a qualquer cargo eletivo, principalmente a presidente da República, está sujeito a ser perguntado sobre qualquer questão e deve responder, se puder, né?”
Dilma sabe bem do que fala porque deixou e deixa de responder a muita coisa. Querem um exemplo: até agora, a pergunta que lhe dirigiu William Bonner no “Jornal Nacional” segue sem resposta. Ele quis saber se o PT não fez mal em tratar corruptos condenados como heróis do povo brasileiro. A candidata Dilma afirmou, então, que, como presidente, não se pronunciava sobre julgamento do Supremo. Ora: era uma questão dirigida à candidata, não à presidente, e dizia respeito ao PT, não ao Supremo. Como diria a petista, candidatos devem responder a qualquer questão — se puderem… Ela, por exemplo, não pôde.
Mas volto a Marina. Hoje, dia 26, 13 dias depois do acidente, vamos ver a desculpa que o PSB arrumou para a fábula do avião sem dono…
Encerro
Para encerrar: não me peçam para brincar daquela historinha de que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo…” Isso é ruim até como exercício de guerra, como não cansa de provar a realidade. De resto, em política, existem adversários, não inimigos a serem destruídos. Mais: não faço política — e, portanto, nessa área, nem adversários eu tenho. No máximo, há ideias e valores que não me servem. E é sobre eles que falo.
Marina não terá o meu voto enquanto falar uma língua que, segundo entendo, avilta a razão e enquanto defender propostas que violam os fundamentos da democracia representativa. E ponto.
Texto publicado originalmente às 4h33
Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Santa Marina, Santinha do pau oco

SANTA MARINA, SANTINHA DO PAU OCO.
 NEIL FERREIRA

Santa Marina Cheia de Graça, santinha do pau oco, os otários estão convosco entre as duas mulheres, garantidos os votos pela tragédia, amém.
Às duas mulheres, atiro uma das mais nocivas pragas judaicas: “—Que cada uma engula a outra e que as duas se engasguem”.
Tenho um livro, “As Melhores Pragas Judaicas”, que é uma preciosidade.
Uma das Bruxas de Eastwick, ela disse que “o povo saberá” dissociá-la do PT. É impossível dissociar tal figura do ninho paterno. O petismo é incurável: uma vez petista, petista e pelo resto da vida.
A santinha do pau oco é petista de coração há mais de 30 anos e foi Ministra do Lula da Çilva por 5 anos no auge do Mensalão.
Não viu nada, não escutou nada, não abriu o santo biquinho pra nada e fez de conta que não havia o que houve e estava havendo.
Agora, quando seu correligionário Tião Viana despachou uma turma de haitianos pra outros estados, como se fossem lixo humano, ela também não viu nada, não escutou nada, e não abriu o santo biquinho. Não era com ela.
lula_silva
Na eleição presidencial de 2010, teve absurdos e surpreendentes 20 milhões de votos e chegou em 3º lugar. No seu estado, seu reduto eleitoral, perdeu para o Serra e para a Dilma. Os eleitores sabiam de quem se tratava e deram-lhe a merecida surra.
Quando saiu do governo, escreveu uma carta ao Da Çilva, distribuída à imprensa pra que todo mundo soubesse o que estava acontecendo.
A carta está esquecida; Santa Marina está mandando “recados ao Mercado”, tentando acalmar as forças da Economia, do mesmo jeito com que Da Çilva fez na famosa “Carta aos Brasileiros”.
Os barões do capital imediatamente acreditaram, porque queriam acreditar; adotaram Da Çilva como seu amuleto, seu operário “in residence”.
Fizeram alegres e refinadas sessões de charutos importados, talvez os famosos Cohibas cubanos, de 30 dólares cada.
Poucos anos depois, para comprovar que já era um deles, Da Çilva disse a eles que “ – Nunca os senhores ganharam tanto como no meu governo”.
Ganharam mesmo, os balanços dos bancos explodiam de alegria. O nosso operário, sabotado pela zelite segundo ele acusava, virou milionário.
Até a Lei de Responsabilidade Fiscal, que o PT foi à Justiça para impedir sua votação e aprovação, a santinha deu a entender que respeitaria. Ela quer enganar milhões de bobos na casca do ovo.
Marina aceitou oficialmente ser a candidata à Presidência da República. Não sei se notaram que no velório de Eduardo Campos, o caixão virou palanque.
Marina recebia os pêsames como a viúva política que era, no lugar da viúva real, Renata, mãe dos 5 filhos do candidato que nos deixou prematuramente e de imediato foi canonizado, até o seu petismo histórico e a nomeação da sua mãe ao TCU foram esquecidos. No seu enterro houve foguetório, onde já se viu.
Estava escrito na sua carta de “despedida” do PT e aqui vale o que estava escrito: “- Saio da nossa casa, mas continuamos no mesmo bairro” (sic).
Pra bom entendedor, um pingo é letra e ela fez uma declaração que não deixa dúvida e então ela me vem e fala dessa “dissociação”. Nem eu nem você somos otários, mas, como todo petista, ela quer é nos fazer de trouxas.
benett
Você está vendo que o meu voto é aberto: Aécio, Serra e Alckmin, não tenho nada a esconder. Apenas quero repartir o que sei e as razões pelas quais estou escrevendo essas recordações.
Se a Marina for para o 2º turno, sabemos que o PSDB tapa o nariz e vai votar nela, para supostamente derrotar Da Çilva ao derrotar Dilma. Puro engano.
Se Aécio for para o 2º turno, eu sei – tenho certeza – que Marina vai descarregar na Dilma os votos que puder dos que recebeu. Isso está mais do que explicado naquela frase da carta de “despedida” que mandou ao Da Çilva, “—(…) continuamos no mesmo bairro.”(sic).
O recente DataFalha, deu Marina com 21%, Aécio com 20% (como no outro DataFalha) e Dilma, que caiu para 35% mas sua aprovação subiu 6%, vá a gente entender. Num 2º turno, Marina venceria Dilma que venceria Aécio. Mas estou com Carlinhos Sensitivo, que previu que Aécio ganha, apertado mas ganha.
Quem está neste momento escolhendo a Marina, está pensando que ela é ambientalista, que foi pé descalço que venceu a pobreza, que foi aliada do Chico Mendes.
Pode ter sido tudo isso e mais ainda, e a admiro se realmente foi. Mas quem foi, foi; como Eduardo Campos que infelizmente e tragicamente se foi.
Eu, você, todo mundo e a torcida do Flamengo sabemos o que é “santinha do pau oco”. Na minha cidadezinha, “santinha do pau oco” era a menina sapequinha que aprontava muito além da conta; era o sonho de consumo da meninada, mas que não perdia missa e comunhão aos domingos. Fumava escondida do papai e da mamãe e chupava bala de hortelã para disfarçar o bafo do cigarro e nas brincadeiras dançantes bebia copinhos de cerveja no toalete com outras amiguinhas, então ditas “da pá-virada”. Eram as mais populares, os meninos viviam atrás delas; não perdiam dança e iriam às matinês do cinema aos domingos com um bando de meninos sentados atrás e dos lados dela; não enganavam ninguém, só o papai e a mamãe.
Marina é um perigo para a democracia. Eleita, não entraremos numa Era Evangélica. Continuaremos no petismo que cada vez mais se aproxima dos 70 anos do PRI mexicano. Ela precisa ser derrotada, tanto quanto a Dilma e isso só depende de nós: Seu voto sua arma. Atire para matar.

sábado, 23 de agosto de 2014

Medo de pena maior do que a de Valério fez ex-diretor da Petrobras buscar acordo


O alerta, feito por pessoas próximas, de poderia passar mais tempo na cadeia do que o operador do mensalão, Marcos Valério, condenado a 37 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, foi um dos fatores que levou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa a optar por um acordo de delação premiada. 

A decisão, antecipada na sexta-feira pela coluna Radar, de Lauro Jardim, foi também influenciada pelo desejo de Costa de preservar sua família. Parentes do ex-diretor da estatal também se tornaram alvos da Operação Lava Jato da Polícia Federal. 

Horas antes de Costa se decidir por falar o que sabe de corrupção em negócios da Petrobras, a PF deflagrou a sexta fase da operação e vasculhou os endereços de treze empresas de consultoria, gestão e assessoria, todas situadas no Rio de Janeiro e ligadas a uma filha, Ariana Azevedo Costa Bachmann, a um genro, Humberto Sampaio Mesquita, e a um amigo dele, Marcelo Barboza. As buscas foram realizadas a pedido da Procuradoria da República, que apontou "vertiginoso acréscimo patrimonial" das empresas no período em que Costa foi diretor da Petrobras (2004/2012). Após sua saída da estatal, verificou-se "decréscimo de receita" no caixa dessas empresas.

Acuado, na iminência de sofrer uma sucessão de condenações como réu da Operação Lava Jato, Costa considera que não tem a menor chance de sair da prisão tão cedo. Se falar o que sabe muitos políticos poderão ser incriminados. Ele já afirmou a interlocutores que "se disser o que sabe, não haverá eleição". No período em que atuou na Petrobras, manteve contatos com parlamentares, empreiteiros e também com o doleiro Alberto Youssef, mentor da Lava Jato, segundo a PF. 

Preso na sede da Superintendência Regional da PF em Curitiba (PR), ele se reuniu na sexta-feira com a advogada criminalista Beatriz Catta Preta. Na advocacia desde 1997, Beatriz é especialista na condução de delações premiadas. A advogada já participou com êxito de pelo menos oito procedimentos dessa natureza. Em troca de informações à Justiça, os acusados por ela defendidos alcançaram o perdão ou significativa redução de pena. O caso mais célebre foi o da delação do investidor Lúcio Bolonha Funaro, durante o processo do mensalão. Em nota, a criminalista observou: "O acordo é um dos caminhos possíveis por ser meio de defesa previsto em lei. Vou me inteirar e analisar todas as possibilidades."

Crivo - O acordo precisa ser submetido ao crivo do Ministério Público Federal e homologado pela Justiça Federal. Força-tarefa composta de seis procuradores, todos com ampla experiência em investigações sobre crimes financeiros, vai analisar o que Costa tem a oferecer e se isso justifica concessões. O ajuste traz as condições, inclusive o benefício que o acusado poderá receber. Celebrado o termo, o juiz homologa e aí começa a fase dos depoimentos. 

Costa é réu em duas ações criminais conduzidas pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná. Ele é acusado por lavagem de dinheiro desviado da Petrobras e por suposta destruição de documentos. Outras ações deverão ser abertas. Se fizer delação pode neutralizar os efeitos de novas acusações. 

Há algum tempo, ele vinha avaliando a possibilidade da delação. Mas ainda apostava em possível "virada de jogo" no Supremo Tribunal Federal, onde foi protocolada uma reclamação formal, por meio da qual seus antigos defensores sustentam que a competência para o caso é da Justiça Federal em São Paulo. O argumento é que as empresas citadas por lavagem ficam em São Paulo. Não deu certo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Já fiz minha opção

Eu acompanho a vida política do Brasil desde muito jovem.
A primeira eleição presidencial que acompanhei detalhadamente foi em 1959, quando o Jânio Quadros foi eleito. Meu pai não era político, mas muito interessado no que acontecia na nossa cidade, no nosso Estado (Minas Gerais) e no país. Era um democrata ferrenho e um anti-comunista de primeira linha. Herdei isto dele.

Participei ativamente, como estudante, do movimento contra os comunistas infiltrados no movimento estudantil, durante o período em que Jango e sua quadrilha tentavam transformar o Brasil numa Cuba continental.

Fiz campanha contra o Maluf na última eleição presidencial do governo militar, quando o Tancredo Neves foi eleito. Infelizmente, para todos os brasileiros, Tancredo morreu e Sarney assumiu o que, na minha opinião, foi o governo mais corrupto da história republicana, até então.

Fiz campanha pelo Collor, pois acreditei que com sua juventude ele faria uma diferença. Fui enganado, como tantos outros brasileiros. Mas tenho que agradecer ao seu vice e substituto, Itamar Franco, por ter encerrado o ciclo terrível da inflação, com o Plano Real.

Fiz campanha pela eleição de FHC e fiquei muito feliz com as ações do seu governo, no esforço para reduzir o tamanho do estado na economia, se desfazendo das inúmeras empresas públicas que só davam prejuízos e permitiam a corrupção.

Ainda que morando no exterior (1995-2005), procurei demonstrar aos amigos e conhecidos, o perigo potencial da eleição do Lula.

Infelizmente, ele foi eleito, reeleito e ainda conseguiu colocar um “poste” em Brasília, levando o Brasil aos 12 anos mais funestos de sua vida republicana, quando a ética e a moral foram enterradas e a corrupção institucionalizada.

2014 é a última eleição em que sou obrigado a participar, por força de lei. Na próxima já terei cumprido 70 anos (se Deus permitir) e estarei isento desta obrigação cidadã.

Estamos a 43 dias das eleições e temos, na realidade, três candidatos que devem ser considerados: Dilma Rousseff, que representa a continuidade da podridão; Marina Silva, tão radicalmente à esquerda, sem qualquer experiência executiva e com uma agenda controversa e Aécio Neves, um jovem político com uma trajetória de 8 anos como governador de Minas Gerais, com ampla aprovação.

Não tenho dúvidas em quem votarei. Espero, para o bem do Brasil, que a maioria pense como eu.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A incrível decadência argentina e suas lições para o Brasil

         
Existe uma piada que diz que o melhor negócio do mundo é comprar um argentino pelo que ele realmente vale e revendê-lo pelo que ele acha que vale.  O pano de fundo desta piada é o orgulho argentino, conhecido em todo mundo. É este mesmo orgulho que está na raiz da rivalidade entre Brasil e Argentina, algo que transcende o futebol.

Basta imaginar que até o início dos anos 50 a Argentina era a sexta maior economia do mundo, com uma população escolarizada, recursos naturais abundantes e uma indústria pungente que disputava de igual para igual até mesmo em setores de alta tecnologia, como o automotivo. E não se tratavam de apenas filiais estrangeiras. A Argentina tinha sua própria marca de automóveis (SIAM), além de várias outras de eletrodomésticos. A riqueza argentina era tamanha que o país, em 1920, chegou a ter reservas em ouro superiores ao decadente império britânico e ao emergente novo império norte-americano. Era praticamente um “europeu” latino americano. Não por acaso, o país tornou-se o destino preferido de milhões de refugiados das duas guerras mundiais, inclusive de carrascos nazistas acolhidos por Perón.

Meio século depois, a Argentina não passa de mais um problemático país latino-americano, com as conhecidas mazelas que afligem o continente, como favelas, violência crescente, inflação galopante, analfabetismo, doenças epidêmicas entre outros. A decadência da Argentina é tão evidente que o país virou um case internacional, citado como um caso raro de país que “involuiu” nas últimas décadas.

Uma rápida comparação com o Brasil dá uma ideia da decadência dos nossos hermanos. A economia que até os anos 50 era maior que a nossa, hoje é menor que a economia do estado de São Paulo. Agora imagine-se na pele de um argentino que viveu este apogeu, ver o país hoje em mais uma moratória, com uma inflação de 40%, dependente da economia brasileira e, claro, vendo os “macacos” brasileiros serem campeões mundiais por cinco vezes!

Mas afinal, o que causou toda esta decadência? Como a Argentina conseguiu empobrecer justamente no momento em que tantos países antes miseráveis ascenderam econômico e socialmente, a ponto de alguns deles integrarem hoje o clube dos ricos?

A Argentina é vítima do que Hayek chamou de “caminho da servidão”, um processo lento e gradual de coletivização, aumento do intervencionismo estatal e polarização da sociedade em diferentes níveis.

O início de tal processo tem uma data: 04/06/1946, dia da chegada de Perón ao poder. O simpatizante de Hitler e Mussolini iniciou uma tradição populista na Argentina que dura até os dias de hoje. A exemplo de Getúlio Vargas no Brasil, que instituiu os direitos trabalhistas inspirados na Carta del Lavoro de Mussolini e se tornou o “pai dos pobres”, Perón dividiu a Argentina entre seus apoiadores (o bem, o povão, os “trabalhadores”) e seus adversários (o mal, os “exploradores capitalistas”, a velha “elite colonial” ).

E como sempre acontece nestes casos, os discursos inflamados dos “pais dos pobres” conquistaram os eleitores da base da pirâmide. Começou então uma simbiose entre a nova elite governante trabalhista/socializante, que precisa dos votos da massa para continuar oferecendo-lhes novas “conquistas”, e a massa, que descobre o poder do voto e passa a endeusar seus ídolos.

A conquista da hegemonia da opinião publica passa a moldar também os políticos. Com medo se colocarem “contra os pobres”, até mesmo políticos da antiga aristocracia migraram para a base do governo peronista. Aos poucos, a oposição foi minguando, ao mesmo tempo em que a Argentina transformava-se numa república sindicalista.

E mais uma vez, como sempre acontece, no começo tudo é festa. Aumento do salário mínimo acima da inflação, aumento do crédito, crescimento recorde, nacionalização de multinacionais, grandes obras, políticas de transferência de renda e tudo o mais que já nos é bem familiar.

Mas todo crescimento artificial tem um preço. A fatura vem com o tempo e com ela os efeitos negativos decorrentes do intervencionismo governamental. Ao final do primeiro mandato de Perón, a Argentina já dava claros sinais de crise, com as exportações caindo pela metade, reservas se esvaindo e aproximando a balança comercial de um déficit histórico, uma vez que até então a Argentina tinha sempre grandes superávits. Apesar de todos estes sinais, o caudilho conseguiu mudar a legislação que lhe deu mais cinco anos de mandato.

O segundo mandato foi ainda pior, abrindo espaço para o primeiro de uma sequencia de golpes militares só interrompido nos anos 70 com um breve período de redemocratização onde, mais uma, vez o peronismo voltou ao poder. E como da primeira vez, em pouco mais de um ano de governo, Perón já multiplicou a inflação que chegou a 74% em 1974. Dois anos depois, chegaria à casa dos 954%!

Para completar a tragédia argentina, Perón morreu em pleno mandato, o que o elevou ainda mais a categoria de mito. Sua terceira mulher, “Isabelita”, assumiu então o governo e continuou seu projeto populista, afundando ainda mais a economia argentina.

E como sempre acontece na América Latina, os militares estão sempre prontos para um novo golpe. E foi o que aconteceu. Em 1976, começava um dos regimes mais truculentos da América Latina.

A esta altura, além de Perón e Evita, a segunda esposa que quase vira santa, a Argentina já tinha um novo mito para cultuar: Che Guevara. Agora, além dos adversários peronistas, os desastrados militares argentinos tinham também como novos inimigos os diversos movimentos de esquerda que se organizavam em toda a América Latina e que tentavam chegar ao poder pela via armada.

Paralelamente, a exemplo do que aconteceu no Brasil e em todo mundo, o marxismo cultural passou a dominar os meios acadêmicos e culturais, avançando gradativamente por todas as demais áreas estratégicas para a construção da “nova mentalidade” gramisciana.

No campo econômico, o segundo período militar argentino herdou a época do choque do petróleo que culminou com o aumento expressivo dos juros em 1982, os quais elevaram substancialmente as dívidas dos países do chamado Terceiro Mundo.  A nova redemocratização veio em 1983 com Raul Alfonsín que, a exemplo de Sarney, no Brasil, fracassou redondamente no combate a inflação.

A nova esperança surgia na figura populista de um novo peronista, Carlos Menem, em 1989. Os tempos agora eram outros. Não havia mais espaço para novas “conquistas trabalhistas” como no passado. A grave crise dos anos 90 levou Menem a ser pragmático, aderindo ao Consenso de Washington, a odiada “cartilha neoliberal”.

Suas raízes populistas peronistas, no entanto, não lhe permitiram executar bem as dez recomendações do Consenso de Washington (confira aqui o nosso post que compara os governos argentino e brasileiro na execução das tais recomendações). Apesar disso, Menem passou a ser apontado pelos esquerdistas como o maior exemplo de fracasso das políticas “neoliberais”. Um dos seus principais erros foi desobedecer à diretriz que recomendava câmbio flutuante. Ao invés disso, ele dolarizou a economia argentina, instituindo a paridade entre o peso e o dólar. E como previsto por diversos economistas, ao longo dos anos a situação da Argentina foi se agravando paulatinamente, a ponto de quebrar duas vezes em um intervalo de quatro anos.

Em meio a mais profunda crise da história da Argentina que culminou com mais uma moratória em 2002, eis que surge um novo salvador da pátria, também peronista: Néstor Kirchner. E assim como no Brasil, quando Lula assumiu justamente no início do ciclo de maior crescimento do capitalismo desde o final da II Guerra Mundial, Kirchner começou a contar com o aumento expressivo das receitas decorrentes do aumento dos preços dos seus principais produtos de exportação.

E assim Kirchner surfou na onda da globalização chinesa, esquecendo, no entanto, de fazer reformas estruturais para tornar o crescimento sustentável nos próximos anos. Terminado o período do boom de crescimento global, as mazelas da economia Argentina começaram a reaparecer.  E o governo dos Kirchner que começou com um calote da dívida externa vai terminar da mesma forma, com um novo calote, com uma inflação galopante.


E mais uma vez a história se repete. A Argentina não aprende com os próprios erros, tornando-se cada vez mais refém da mentalidade populista que asfixia a economia e produz políticos mais interessados no poder do que realmente resolver os problemas argentinos. Qualquer semelhança não é mera coincidência…

Amilton Aquino - O Mundo, 01/08/2014
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