O PT roubou
só um “pouquinho”…
Ao ler a
notícia hoje de que o Diretório Nacional do PT aprovou a expulsão de seus membros
comprovadamente envolvidos em corrupção (mas não de imediato), fiquei com a
sensação de déjà vu e fui me certificar de que não pegara um jornal de uma
década atrás. Como assim? Eu poderia jurar que o estatuto do PT já contemplava
tal expulsão para corruptos!
“Manifestamos
a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção. Qualquer
filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção, deve ser
expulso”, diz trecho. Bem, deixando de lado essa questão de que a coisa já era
assim antes e não fica claro ao certo o que mudou, resta perguntar: então José
Dirceu vai finalmente ser expulso do PT e não mais receber aplausos emocionados
sob o grito de “guerreiro nacional”?
Quer
comprovação maior do que ser condenado pelo STF após todos os devidos processos
legais e chances quase inesgotáveis de apelação? “Se há algum envolvimento,
quero saber se as denúncias são comprovadas ou não. Todos têm direito a defesa
e contraditório. Reafirmo que se alguém estiver envolvido, não ficará no PT”, disse
Rui Falcão, presidente do PT. Mais direito a defesa do que teve Dirceu, Delúbio
e companhia? No entanto, não vamos esquecer que nem William Bonner nem Aécio
Neves conseguiram arrancar de Dilma sequer sua opinião sobre a condenação dos
companheiros…
Tudo isso é
uma grande piada de mau gosto. As coisas que o PT fala, escreve e faz são para
“inglês ver”, ou mais precisamente para “inocente útil brasileiro ver”. Todo o
esforço do partido vai na direção de simular que os escândalos que arrastam os
seus na lama se devem a fatores exógenos, ao sistema político, ao financiamento
privado de campanha, e que ele faz de tudo para combater tal corrupção.
O pior é
que ainda tem gente que acredita! Como escreve Guilherme Fiuza em sua coluna da
“Época” desta semana, um tanto incrédulo, surge em meio às vozes que defendem
Dilma e o PT para se sentir progressistas “o postulado central para tentar
salvar o pescoço do governo: relativizar a corrupção da Petrobras”.
Pessoas que
se acham sérias e não estão (ainda) a soldo do petismo repetem que o ocorrido
na maior estatal do país foi algo “normal”, que sempre ocorreu antes. O foco
dos petistas em debater a “reforma política” e proibir o financiamento privado
de campanha visa justamente a essa tática: jogar para ombros alheios o que o
partido fez, e tratar tudo como parte natural da política brasileira.
O mesmo
recurso usado por Lula no mensalão ao falar de caixa dois, o que “todos fazem”.
Um empresário que se disse tucano chegou ao absurdo de escrever em um artigo na
Folha que hoje se rouba até menos na Petrobras que no passado. Música para os
ouvidos dos petistas e dos inocentes úteis que desejam fechar os olhos para a
realidade para preservar a sensação de defensores dos pobres e oprimidos (só
porque apertaram 13 nas urnas). Diz Fiuza:
Vamos
explicar aos ignorantes ou mal-intencionados (a esta altura, dá no mesmo): o PT
não ficou igual aos outros; o PT não é corrupto como os outros, nem um pouco
menos, nem um pouco mais; o PT é o único, sem antecessor na história do Brasil,
que montou um sistema de corrupção no Estado brasileiro, de dentro do Palácio
do Planalto, para enriquecer o partido e se eternizar no poder.
Como alguém
ainda não se deu conta disso é, para mim, um espanto. José Dirceu, o
ex-ministro de Lula e homem forte do ex-presidente, foi preso não por corrupção
“apenas”, mas por montar um duto entre as estatais e o caixa do partido,
privatizando o dinheiro dos “contribuintes” para alimentar o projeto
autoritário de poder do PT. O mesmo se deu na Petrobras, sem nenhum tipo de
receio da quadrilha após o mensalão vir à tona. Fiuza pergunta:
Deu para
entender, queridos inocentes úteis? O roubo não é a velha esperteza de uns
oportunistas com cargos na máquina. O roubo é um projeto político de poder.
Que, aliás, graças a seres compreensivos como vocês, dá certo há 12 anos. [...]
Vocês estão esperando o quê? Que um companheiro bata na sua porta
informando-lhe com ternura que veio buscar suas calças?
Parece que
é exatamente aquilo que alguns esperam. Fiuza é até obsequioso ao chamá-los de
“inocentes úteis”. São aqueles que vão aplaudir as “mudanças” aprovadas no PT
para, agora, expulsar os corruptos. Mas não imediatamente. Afinal, ninguém
precisa ser tão duro assim com esses pobres heróis injustiçados, que tentam
apenas melhorar a vida dos oprimidos em um sistema cruel que os obriga a
desviar recursos públicos…
Rodrigo Constantino