segunda-feira, 30 de junho de 2014

As 'convicções' de Dilma


Amanhã (30/6), último dia estabelecido pela legislação eleitoral para a realização de convenções partidárias destinadas a definir candidatos e deliberar sobre coligações para o pleito de 5 de outubro, estará se encerrando a mais despudorada temporada de compra e venda de minutos e segundos da propaganda eleitoral gratuita, que estará no ar a partir de 19 de agosto, jamais registrada neste país. 

E à afronta à Nação representada por esse vergonhoso espetáculo soma-se o cinismo de quem tem a responsabilidade maior de zelar pela seriedade na vida pública: "A política que aprendi a praticar ao longo da minha vida desde a minha juventude, que me levou inclusive à prisão, implica em construir relações que sejam baseadas não em conveniências, mas em convicções".

Dilma Rousseff permitiu-se esse cínico rompante ao discursar na convenção nacional do PSD que na quarta-feira selou o apoio à sua reeleição. Não explicou a quais "convicções" se referia, mas recomendou a todos que não aceitassem "provocações que buscam baixar o nível do debate, que buscam acirrar o antagonismo". E não deixou de se gabar das "transformações rápidas e profundas" realizadas por seu governo, garantia, no futuro, de "um ciclo ainda mais rápido e duradouro de mudanças".

Esqueceu-se, apenas, de que a divisão da Nação entre "eles" e "nós" e as campanhas de difamação dos adversários fazem parte da obra política do lulopetismo. Esqueceu-se, ainda, de que seu governo é um continuado desastre econômico-financeiro, ditado por atrasada ideologia.

Poucas horas antes, Dilma havia promovido uma transformação rápida e profunda em seu governo ao trocar o titular do Ministério dos Transportes, feudo do PR, por imposição de um aliado importante, o chefão de fato daquele partido, o mensaleiro Valdemar Costa Neto, que enviara seu ultimato diretamente do presídio da Papuda. O ministro defenestrado, César Borges, também é do PR, mas o sentenciado Costa Neto decidiu trocá-lo por entender que ele "não ajudava" o PR. É assim que Dilma governa.

Tanta "convicção" que marcou esses recentes movimentos da campanha eleitoral é o resultado de reunião de que Dilma participou na noite de terça-feira sob o comando de seu criador, com a indispensável presença do marqueteiro oficial do PT. Ouviu e cumpriu a ordem de Lula de que não é hora de contrariar aliados.

Convém repetir o que tem sido reiteradamente afirmado neste espaço: Lula e os petistas não inventaram o fisiologismo político, o toma lá dá cá na composição da base de apoio parlamentar ao governo, o aparelhamento partidário que compromete a eficiência da máquina governamental e tantas outras mazelas que corrompem a vida pública no Brasil. Na verdade, por mais de 20 anos Lula e o PT rangeram os dentes contra esses vícios, prometeram mudar "tudo isso que está aí". Em 2003 chegaram finalmente ao poder e concluíram - aliás, muito rapidamente, como prova o mensalão - que "é impossível" governar sem o apoio dos "picaretas" que, como Lula denunciara dez anos antes, infestam o Congresso. Deu no que deu.

Esse raciocínio da "impossibilidade" só faz sentido quando o pragmatismo se torna um valor fundamental. Os petistas que hoje argumentam que os fins justificam os meios - e por isso podem cultivar a incoerência e o desmando - não consideram que o fim da política é o bem comum. Seu objetivo é a manutenção do poder - e a qualquer custo, material ou moral. Mas isso tem consequências.

Em decorrência do aprimoramento das ancestrais práticas de fisiologismo político a que o PT se vem diligentemente dedicando, a falta de pudor e de coerência, a mistificação, o populismo mais rasteiro, o apego às "boquinhas", tudo, enfim, que há de mais condenável na vida pública ameaça hoje gangrenar irremediavelmente o tecido político do País, tornando o ato fundamental da cidadania, o de votar, cada vez mais um penoso exercício de escolha do menos pior.


Não se pode esperar que Lula & Cia., inebriados com as delícias do poder, reneguem seu ethos. Mas a presidente de todos os brasileiros - que diz ter "convicções" - poderia pelo menos nos poupar do cínico espetáculo que acabamos de presenciar.

O ESTADO DE S.PAULO - 29 Junho 2014 

sábado, 28 de junho de 2014

Da glória do Cruzado à solidão do Amapá


Depois dos bons tempos do poder, ex-presidente José Sarney sai de cena politicamente isolado.



Imperatriz, sul do Maranhão, 6 de abril de 1989. Cabisbaixo, o presidente José Sarney pega o microfone. No palanque improvisado no Clube Juçara ele inicia um discurso com seu mais tradicional bordão: “Brasileiras e brasileiros...”. Acrescenta: “... de Imperatriz e do Maranhão”. Diz que está emocionado e afirma que a Ferrovia Norte-Sul – cujos primeiros cento e poucos quilômetros seriam inaugurados naquele momento – não é de nenhum Estado. “É a ferrovia da integração nacional.”

E prossegue, desconfiado: “Nos 11 meses que ainda me restam nós vamos continuar. Se de alguma coisa me arrependo durante o meu governo é de não ter tido a audácia de resistir àqueles que resistiram à Norte-Sul. Mas, compensarei, sem dúvida, esta omissão, depois de deixar a Presidência, pois no dia em que parar a construção desta estrada, eu estarei ali presente, naquele lugar (aponta para os trilhos), esperando até o dia em que ela recomece a ser feita.” Depois que deixou a Presidência, em março de 1990, a obra foi interrompida várias vezes – até hoje não foi concluída. Nem por isso Sarney se sentou nos trilhos. Esse tipo de enfrentamento não faz parte de seu perfil.

No dia seguinte, Sarney tomou o trem de volta a São Luís. À medida que a composição avançava, ele ia se animando. Concedeu entrevistas em portunhol, disse que não trocaria a dívida externa do País por compensações ambientais e fez mais discursos em Açailândia e Santa Inês. Ali, diante do povo do Maranhão, ele parecia ganhar coragem e valentia, mas isso era em 1989. Com o tempo, esse mesmo Maranhão rejeitou Sarney.

Isolado no PMDB – que havia apoiado até uma CPI da Corrupção contra o governo federal – e pelo então governador maranhense Epitácio Cafeteira, e sabendo-se sem chances de ser eleito senador – um passo atrás para quem havia sido presidente da República e governador aos 35 anos –, só lhe restou mudar o domicílio eleitoral para o Amapá. E, pelo novo Estado, criado pela Constituinte que convocou, fez-se senador até hoje. Agora, 25 anos depois de ter deixado o Maranhão, e aos 84 de idade, com problemas de saúde, ele pressentiu de novo o risco de enfrentar uma eleição sem a certeza de vitória. Decidiu se aposentar.

Paralisações. Naqueles 11 meses que lhe restavam, em 1989, Sarney não tinha apoios no Congresso e via à sua volta uma sequência de greves – 8.790, segundo ele mesmo contou – que prejudicava tanto o setor privado quanto o estatal. A Assembleia Constituinte que convocara, um feito político tido como de coragem, que o levaria definitivamente para a democracia, tentara tirar dele dois anos de mandato. Teve de negociar muito para perder só um. Adversários o acusaram de distribuir concessões de emissoras de rádio e de TV em proveito próprio.

Tudo isso acontecia sob as vistas grossas do então deputado Ulysses Guimarães, que se empenhava em assegurar sua candidatura à Presidência pelo PMDB, justamente para suceder ao presidente acuado. Sarney julgava-se vítima de ingratidão tanto da parte de Ulysses – que mandara e desmandara no governo – quanto do PMDB. Três anos antes, por causa do Plano Cruzado que o presidente lançara no início de 1986, o partido havia se consagrado nas urnas, elegendo 22 dos 23 governadores. Ainda um fruto dos alegres dias dos “fiscais do Sarney”.

Faltando 11 meses para o fim do governo – e enquanto Sarney inaugurava os primeiros trechos da ferrovia Norte-Sul –, o País presenciava a intensa movimentação para a eleição do primeiro presidente depois do golpe militar. O grande vitorioso foi Fernando Collor de Mello, com o discurso de “caçador de marajás”, e que na campanha havia atacado Sarney de forma violenta.

Lula. Negociador por natureza, assim que Sarney chegou ao Planalto o clima mudou – ficava para trás o tempo dos generais e a liberdade de informação se espalhava por toda parte. Conciliador, aproximou-se de Luiz Inácio Lula da Silva, que tanto o atacara e fora um crítico ferrenho da Norte-Sul, e de Epitácio Cafeteira (PTB), que lhe fechou as portas no Maranhão e o empurrou para o distante Amapá.
Mas, como afirmam assessores e políticos que lhe foram próximos, ele nunca foi santo.

Sarney apoiou, por exemplo, a censura imposta ao Estado pela Justiça de Brasília, a pedido de seu filho Fernando – caso que o Judiciário está por resolver há 1.734 dias. Também não perdoou o escritor Millôr Fernandes, que fez duras críticas ao livro Brejal dos Guajas, lançado por Sarney quando era presidente. Para Millôr, era “uma obra-prima sem similar na literatura”, pois “só um gênio poderia fazer um livro errado da primeira à última frase”. Quando Millôr morreu, em 2012, intelectuais do País inteiro lhe fizeram homenagens. Sarney não apareceu.

JOÃO DOMINGOS/BRASÍLIA - O ESTADO DE S. PAULO


sexta-feira, 27 de junho de 2014

O PT fora do eixo

Estadão, 26/06/2014 - José Serra

O PT não é um partido muito tolerante já a partir de seus próprios pressupostos originais e de seu nome: quem se pretende um partido “dos” trabalhadores, não “de” trabalhadores, já ambiciona de saída a condição de monopolista de um setor da sociedade. Mais ainda: reivindica o poder de determinar quem pertence, ou não, a essa categoria em particular. Assim, um operário que não vota no PT, por exemplo, não estará, pois, entre “os” trabalhadores; do mesmo modo, o partido tem conferido a “carteirinha” de operário padrão a pessoas que jamais ganharam o sustento com o fruto do próprio trabalho.

A fórmula petista é conhecida: a máquina partidária suja ou lava reputações a depender de suas necessidades objetivas. Os chamados bandidos de ontem podem ser convertidos à condição de heróis e um herói do passado pode passar a ser tratado como bandido. A única condição para ganhar a bênção é estabelecer com o ente partidário uma relação de subordinação. A partir daí não há limites. Foi assim que o PT promoveu o casamento perverso do patrimonialismo “aggiornado”, traduzido pela elite sindical, com o patrimonialismo tradicional, de velha extração.

Afirmei no final de 2003 o que nem todos compreenderam bem, que o petismo era o “bolchevismo sem utopia”. Aproxima-se do bolchevismo nos métodos, no propósito de tentar se estabelecer, se possível, como partido único; nas instâncias decisórias aproxima-se do chamado “centralismo democrático”, que nada mais é do que a ditadura da direção central do partido. É bolchevista também na certeza de que determinadas ações até podem ser ruins para o Brasil, mas serão implementadas se parecerem boas para o partido. Como se considera que é ele que conduz a História do Brasil, não contrário, tem-se por certo que o que é bom para o partido será, no longo prazo, bom para o País e para o povo. Nesse sentido particular os petistas ainda são bastante leninistas.

Quando afirmei que lhes faltava a dimensão utópica, não estava emprestando um valor necessariamente positivo a essa utopia. Na minha ação política miro a terra que há, não a Terra do Nunca. E nela procuro sempre ampliar aquilo que é percebido como os limites do possível. De todo modo, é inegável que o bolchevismo tinha um devir, uma prefiguração, um sonho de um outro amanhã, ainda que isso tenha desembocado na tragédia e no horror stalinista. Mas isso não muda a crença genuína de muitos que se entregaram àquela luta. Isso o PT não tem. E chega a ser piada afirmar que o partido, de alguma maneira e em alguma dimensão, no que concerne à economia é socialista ou mesmo de esquerda. Muitas correntes de esquerda são autoritárias, mas convém não confundir o autoritarismo petista com socialismo. O socialismo tem sido só a fachada que o PT utiliza para lavar o seu autoritarismo – associado, infelizmente, a uma grande inépcia para governar, de que tenho tratado sempre nesta página.

Quero chamar a atenção é para o recrudescimento da face intolerante do partido. Como também já abordei aqui, vivemos o fim de um ciclo, que faz cruzar, episodicamente, a História do Brasil e a do PT. As circunstâncias que permitiram ao petismo sustentar o modelo que aí está – que nunca foi “de desenvolvimento”, mas de administração oportunista de fatores que não eram de sua escolha – se esgotaram. Na, infelizmente, longa agonia desse fim de ciclo temos a economia semiestagnada, os baixos investimentos e a desindustrialização, os déficits do balanço de pagamentos em alta e a inflação reprimida. E, nota-se, o partido nada tem a oferecer a não ser a pregação terrorista de que qualquer mudança implicará desgraça nacional.

Não tendo mais auroras a oferecer, não sabendo por que governa nem por que pretende governar o País por mais quatro anos, e percebendo que amplos setores da sociedade desconfiam dessa eterna e falsa luta do “nós” contra “eles”, o petismo começa a adentrar terrenos perigosos. Se a prática não chega a ameaçar a democracia – tomara que não! –, é certo que gera turbulências na trajetória do País. No apagar das luzes deste mandato, a presidente Dilma Rousseff decide regulamentar, por decreto – quando poderia fazê-lo por projeto de lei –, os “conselhos populares”. Não por acaso, bane o Congresso do debate, verticalizando essa participação, num claro mecanismo de substituição da democracia representativa pela democracia direta. Na Constituição elas são complementares, não excludentes. Por incrível que pareça – mas sempre afinado com o bolchevismo sem utopia –, o modelo previsto no Decreto 8.243 procura substituir a democracia dos milhões pela democracia dos poucos milhares – quase sempre atrelados ao partido. É como se o PT pretendesse tomar o lugar da sociedade.

Ainda mais detestável: o partido não se inibe de criar uma lista negra de jornalistas – na primeira fornada estão Arnaldo Jabor, Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Guilherme Fiuza, Danilo Gentili, Marcelo Madureira, Demétrio Magnoli e Lobão –, satanizando-os e, evidentemente, expondo-os a riscos. É desnecessário dizer que tenho diferenças, às vezes severas, com vários deles. Isso é parte do jogo. É evidente que o regime democrático não comporta listas negras, sejam feitas pelo Estado, por partidos ou por entidades. Mormente porque, por mais que se possa discordar do ponto de vista de cada um, em que momento eles ameaçaram a democracia? Igualmente falsa – porque há evidência dos fatos – é que sejam tucanos ou “de oposição”. Não são. Mas, e se fossem? Num país livre não se faz esse tipo de questionamento.


Acuado pelos fatos, com receio de perder a eleição, sem oferecer uma resposta para os graves desafios postos no presente e inexoravelmente contratados para o futuro, o PT resolveu acionar a tecla da intolerância para tentar resolver tudo no grito. Cumpre aos defensores da democracia contrariar essa prática e essa perspectiva. Não foi assim que construímos um regime de liberdades públicas no Brasil. O PT está perdendo o eixo e tende a voltar à sua própria natureza.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Apareça no Mineirão, companheiro Lula



Penúltimo a falar na convenção nacional do PT, Lula reservou um trecho da discurseira para fantasiar-se de doutor honoris causa em futebol, Copa do Mundo e derivados. Zanzando pelo palco feito animador de auditório, o criador voltou-se para a criatura e deu por cumpridas todas as promessas que a dupla esqueceu no palanque: “Eu acho que o que o país tinha que mostrar já mostrou, ou seja, os estádios estão todos inaugurados, de melhor qualidade pra fazer qualquer inglês morrer de inveja”, começou o Gugu Liberato de picadeiro.

Lula deve achar que Wembley é marca de cigarro americano. Nunca deu as caras num dos estádios cinco estrelas que sobram na Grã-Bretanha. Mas faz de conta que os ingleses sonham com governantes que enterram em arenas superfaturadas (e condenadas a transformar-se em elefantes brancos) os bilhões de dólares que poderiam tirar da gaveta as “obras de mobilidade” urbana prometidas desde 2007. Se alguém fizesse por lá o que o padrinho e a afilhada fizeram aqui, perderia o emprego. E seria transferido do gabinete para um tribunal.

“É a primeira vez, presidenta Dilma, é a primeira vez que um time perde por excesso de qualidade do nosso estádio”, continuou a aula magna de vigarice. “A Inglaterra não estava habituada a jogar num campo daquela qualidade, como ela jogou aqui no país”. Lula descobriu que os inventores do futebol só ganham jogos em campos de várzea. E achou excelente a situação dos gramados que só viu na TV porque o medo de vaia o aconselhou a acompanhar a Copa sem sair de casa.

Há poucas horas, na entrevista ao Jornal do SBT, pareceu bem menos seguro: “Possivelmente a gente tenha culpa”, ressalvou no meio do falatório sobre a goleada sonora sofrida por Dilma Rousseff no Itaquerão. Por que o ex-presidente não aproveita o jogo do Brasil contra o Chile, neste sábado, para livrar-se de dúvidas. Basta interromper a prisão domiciliar voluntária, trocar a sala do apartamento em São Bernardo pela arena de Belo Horizonte e ouvir o que pensa a multidão.


Coragem, companheiro Lula. Apareça no Mineirão.

Augusto Nunes - Veja.com

Meu comentário: não há limite, no Brasil, para duas coisas; a capacidade do Lula e da Dilma para dizer besteira e da cumpanheirada para aplaudir bobagem . . . 

Orgia Partidária

É perturbador o painel das alianças que mobilizam líderes partidários às vésperas da eleição, repetindo de forma ampliada uma prática consagrada pela política brasileira. Em todos os níveis, e envolvendo governistas e oposição, disseminam-se acordos que denunciam oportunismos, incoerência e posturas desrespeitosas em relação ao eleitor e às suas expectativas. Registre-se, como exemplo recente de movimento de acomodação de interesses, o afastamento do ministro dos Transportes, César Borges (PR), porque seu partido passou a desconsiderá-lo como representativo para ocupar cargo tão importante no Executivo.

O ministro chegara ao posto como beneficiário de um acordo, e não necessariamente por sua habilitação para uma das mais importantes pastas do governo. Caiu, não porque passou a ter sua competência questionada, mas para que a agremiação a que pertence se aproprie de uma vaga que considera sua na Esplanada dos Ministérios.

Espaços políticos, como o citado, deixaram de ser compartilhados por afinidades programáticas. Negocia-se tudo e com os mais variados objetivos. Num primeiro momento, um acordo pode significar mais tempo na propaganda eleitoral na TV. Mais adiante, com as definições do poder, significa cargos, acesso à gestão de verbas, favorecimentos a apadrinhados nas chamadas bases partidárias e, com frequência, tráfico de influência e corrupção. Com 32 partidos em atividade, um exagero em qualquer democracia, o Brasil vem ampliando, ao invés de reduzir, o número de siglas.

Não há racionalidade política capaz de pôr ordem em tantos interesses, muitos dos quais sem nenhuma relação com as demandas do país. Registre-se que a orgia que se repete este ano não poupa os chamados grandes partidos e não distingue as práticas de situação e oposição. Em nome de um falso pragmatismo, o vale-tudo contagia a todos, com as exceções que apenas confirmam a prevalência de um comportamento condenável, sob todos os aspectos.

As combinações, dentro e fora do governo, por mais esdrúxulas que sejam, estão dentro da lei, o que apenas comprova que a inconsistência da representação política brasileira se sustenta num lastro legal. O que falta é base moral aos atos dos líderes, acentuados a três meses do pleito. Os brasileiros merecem, para fortalecimento da democracia, partidos que se sustentem em programas tornados públicos e postos em prática, e não em interesses imediatistas.

A incoerência chegou ao ponto de unir desiguais ideológicos em todos os níveis e de criar alianças regionais conflitantes com os conchavos nacionais. São distorções que poderiam ser pelo menos reduzidas com uma reforma política. Mas seria ingênuo demais pretender que os protagonistas dos acertos de ocasião conspirem contra o mercado de transações que os sustenta.


Diário Catarinense - Florianópolis. 

Insegurança trava consumo e desacelera o crescimento


Apesar de a Copa do Mundo ter estimulado as vendas de produtos como televisores, tudo indica que o varejo continua fraco, compondo com a indústria e os serviços um quadro de desaceleração econômica.

Desde o fim do primeiro trimestre, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra recuo no volume de vendas no varejo restrito, que exclui material de construção e automóveis. Em março, a queda foi de 0,5%; em abril, novo baque foi verificado, de 0,4%.

Levantamentos do comércio mostram que a tendência se manteve nos meses seguintes, emitindo sinais negativos para o desempenho da economia no segundo trimestre. Em um dos principais mercados do país, a cidade de São Paulo, a intenção de consumo é a menor desde 2009, de acordo com avaliação da Federação do Comércio.

Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) indica queda na intenção de consumo das famílias em junho, de 1,6% em comparação com maio, para o menor patamar da série histórica, iniciada em 2010. Em comparação com junho de 2013, a queda é de 7,4%.

Para a CNC, a tendência de enfraquecimento das atividades do varejo pode se intensificar no segundo semestre. Por isso, acaba de reduzir a estimativa de aumento do volume de vendas neste ano, dos 4,9% acumulados em 12 meses até abril, para 4,7%. A nova previsão frustra a expectativa de recuperação mais significativa do varejo em comparação com 2013, quando o volume de vendas aumentou 4,3%, menos do que a inflação e praticamente a metade dos 8,4% de 2012 - o pior resultado aferido pelo IBGE desde 2003, quando houve queda de 3,7%.

Um mix de inflação mais elevada, aumento dos juros, maior endividamento das famílias e preocupação com o emprego desestimula as compras. A inflação e o crédito apertam o orçamento familiar. Com os consumidores gastando mais com alimentos, diminuiu o espaço para a compra de outros produtos, como bens duráveis de maior valor.

No passado, as famílias não hesitavam em se endividar para consumir mais, confiantes na manutenção do emprego e em salários crescentes. A pesquisa da CNC apurou, porém, queda de 6,2% na intenção de compras a prazo.

O nível de confiança das famílias caiu em todas as faixas, mas foi mais acentuada no segmento com renda abaixo de dez salários mínimos. Um dos principais motivos é a preocupação com o mercado de trabalho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, mostram queda de 18,3% na criação de vagas em maio, para o pior patamar para o mês desde 1992.

O percentual das famílias que se sentem seguras em relação ao emprego caiu de 45,5% para 44,2% em junho. Segundo a FecomércioSP, os paulistanos não estavam tão preocupados com suas carreiras desde outubro de 2009, quando a crise internacional atingiu em cheio o país.

Além do receio de desemprego, o aumento dos juros inibe a tomada de crédito. O custo do crédito ao consumidor sobe há 12 meses seguidos, constatou a Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). Embora a inadimplência esteja estável nos bancos pelo critério habitual de atrasos acima de 90 dias, o quadro não é animador nos prazos mais curtos. Por isso, as instituições já apertam os controles, exigindo mais documentos e comprovações de capacidade de pagamento (Valor, 24/6). O varejo, porém, que costuma trabalhar com critérios mais flexíveis, registra aumento da inadimplência desde o início do ano.

O desempenho nada animador do varejo se soma ao da indústria, cuja produção e faturamento vêm desacelerando neste ano. Nos 12 meses encerrados em abril, a produção da indústria de transformação aumentou 1% e o faturamento, 1,9%.

Até o setor de serviços dá sinais de arrefecimento desde fevereiro. Em abril, registrou aumento de faturamento de 8,3% no acumulado em 12 meses, a menor taxa da série histórica, iniciada em janeiro de 2013.

A situação do varejo preocupa particularmente porque reflete o pulso do consumo das famílias, que representa 65% do PIB e vinha sustentando o crescimento econômico, mas já registrou queda de 0,1% no primeiro trimestre - o que só ocorreu três vezes entre 2004 e 2013 e pode repetir-se agora.


Valor Econômico - SP - Editorial

No dos outros é sempre refresco . . .

Excelente postagem do jornalista Augusto Nunes, na seu blog:

Sete episódios infames desmoralizam a ladainha da seita que louva a hipocrisia

As oitavas de final já vão chegando, mas o time do Planalto continua tentando prorrogar o jogo de abertura da Copa, que terminou com a vitória do Brasil sobre a Croácia e a goleada sonora imposta a Dilma Rousseff pela multidão cansada de vigarices e bandalheiras protagonizadas pela seita lulopetista. Lula cobra dos adversários gestos de subserviência explícita à mãe e avó constrangida por xingamentos. Rui Falcão exige que os candidatos oposicionistas condenem (e com veemência) o comportamento dos 50 mil brasileiros que recomendaram à chefe de governo, em coro, o que todas as torcidas, em todos os estádios, invariavelmente ordenam ao juiz ou ao bandeirinha.
Haja hipocrisia, grita o calendário da infâmia resumido neste post. Pinçados no vastíssimo acervo de violências liberticidas acumuladas pelo PT desde o dia do nascimento, sete episódios bastam para escancarar o farisaísmo das carpideiras do Itaquerão. Por achar que os fins justificam os meios, o bando no poder age há 13 anos como se tudo fosse permitido. Só é proibido alvejar com nomes feios a candidata em queda nas pesquisas e abandonada por antigos aliados, ressalva o mestre e repetem os coroinhas de missa negra. A ladainha é desmoralizada pela amostra exibida a seguir:
MAIO DE 2000Sem perceber que os microfones estavam ligados, Lula se preparava para gravar a declaração de apoio a Fernando Marroni, candidato do PT a prefeito de Pelotas, quando qualificou a cidade gaúcha de “pólo exportador de veados”. Nunca se desculpou pela afronta. O partido não viu nada de mais no deboche homofóbico.
Veja mais aqui.


O STF e os Mensaleiros


Exatamente como todo mundo sabia, com o afastamento do Ministro Joaquim Barbosa o Supremo Tribunal Federal irá, aos poucos, anulando a condenação dos políticos petistas do chamado Mensalão.

E o Brasil, antes um país do futuro, assina sua confissão de que, na verdade, pertence ao passado e nele pretende ficar. Uma pena, mas parece ser este o triste destino do nosso país.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

A antiutopia pelega


Volta à cena o discurso do ódio. Já não é plantação, é colheita. Nenhum ódio tem sido desprezado pelo partido do "nós" contra "eles", este que patrocina o exército de apedrejadores profissionais que patrulha a internet. Está morto o Brasil em que Gilberto Freyre viveu e há muitos outros ódios no forno. Mas o ódio por trás de todos os outros, o ódio cujo nome o PT que sobrou não ousa mencionar é o ódio ao merecimento.

Há uma boa razão para isso.

O PT não é causa, o PT é consequência. Essa corrupção toda não está no ponto de chegada, está no ponto de partida.

O que é essa "expertise" em se apropriar das bandeiras alheias e pervertê-las para sustentar a Contrarrevolução em nome da Revolução senão o velho expediente "corporativista" que Portugal inventou lá atrás para "fazer a revolução antes que o povo a fizesse" e, assim, abortar a da igualdade perante a lei, da meritocracia e dos representantes submetidos aos representados que vinha derrubando monarquia atrás de monarquia pela Europa afora?

O PT que sobrou é o resultado dessa receita na versão retemperada por Getúlio Vargas apud Benito Mussolini e Juan Domingo Perón. O produto do sindicalismo pelego que saltou do papel de "coadjuvante assalariado" para o de dono do cofre e do Poder, ele próprio.

Essa evolução de "subornado" para "subornante" a que nós todos assistimos não foi apenas natural, portanto, era inevitável.

A receita não poderia resultar em coisa muito diferente.

Junte meia dúzia de "companheiros" dispostos a tudo e funde um sindicato sem trabalhadores associados que o governo vai lhe dar uma teta eterna no grande úbere do imposto sindical. Trate, daí por diante, apenas de não perdê-la nas "eleições" por aclamação desse seu sindicatozinho do nada. É a primeira etapa do curso. Use dinheiro, use intimidação, use a imaginação: vale tudo nesse jogo sem juiz.

Como força auxiliar dessa "forja de lideranças", monte uma justiça paralela e diga a todo sujeito que trabalhou para alguém um dia que contrato, neste país, não vale nada: se ele mentir, inventar e trair, e se cabalar quem se preste a coadjuvá-lo nessa milonga depois de finda a relação, ganha um monte de dinheiro no mole.

"Seja desonesto que o governo garante!", é a mensagem que desce do Olimpo. Essa sempre próspera indústria custou R$ 51 bi aos empregadores brasileiros só no ano passado.

Repita a mesma receita para a criação de partidos do nada. Adicione ao dinheiro do Fundo Partidário o tempo de TV negociável no mercado "spot" da governabilidade e você estará selecionando a "elite" dos mais sem limites entre os que não se põem limites para disputar esse tipo de "liderança".

Cubra tudo com uma categoria de brasileiros "especiais" que, uma vez tocados pela mão que loteia o Estado, nunca mais perde o emprego, nem que não trabalhe, nem que seja pego roubando.

Decore com elementos da pornografia comportamental - essa em que todo mundo trai todo mundo dentro e fora da família; os filhos às mães e estas a eles e daí para baixo tudo, e "Tudo bem! Ai de quem disser o contrário!" - em que todo brasileirinho e toda brasileirinha é sistematicamente treinado pela televisão desde o nascimento.

Está pronto! "Reserve" e deixe fermentar.

Que tipo de país pode resultar dessa mistura? Este cuja festa nacional evoluiu da ingênua "pátria em chuteiras" de há pouco para esta Copa da corrupção com 57 mil soldados do Exército nas ruas para garantir a paz que não há, um para cada brasileiro assassinado no ano passado?

Não é um palpite absurdo...

Enquanto procura a resposta sobre se "é a arte que imita a vida ou a vida que imita a arte", vá se perguntando que argumento tem uma mãe da favela para convencer seu filho a não entrar para o tráfico e continuar estudando nas nossas escolas públicas porque este é o país onde quem se esforça vai pra frente!

Esse é o único jeito de jogar o jogo do poder que o PT entende; aquele em que o partido nasceu e foi criado. Eventualmente "lá", até por falta de qualquer outro tipo de repertório, é inevitavelmente mais do mesmo que o carregou até ali que o partido fará para manter o que conquistou.

Mas as contas, agora, são outras. Será preciso comprar 50% + 1 de todas as lealdades, o que pode custar a destruição da economia. Para que essa relação de causa e efeito não seja percebida será necessário falsificar as contas nacionais. A confiança do investidor será, porém, a primeira vítima. E então o dilema se apresentará: para que os investimentos voltem será preciso admitir a verdade; mas para admitir a verdade será preciso admitir que se estava mentindo antes. Como, então, manter "aprovada" a farsa exposta senão substituindo a regra de maioria pela do "onguismo pelego"? A lei terá de passar a ser feita na rua; no porrete. Mas isso só será possível se o jornalismo livre for substituído por um "jornalismo" também "pelego"...

Não é, portanto, uma questão de ideologia ou de coerência - e quem se importa com elas? - a progressão da antiutopia pelega do lulopetismo. É um imperativo de sobrevivência.

Há um Brasil submetido à meritocracia - se não por outra razão, porque a internacionalização do jogo econômico o impõe implacavelmente - no qual educação é a única medida do merecimento; e há um Brasil que, a um preço cada vez mais proibitivo para o outro, só subsiste se conseguir mantê-la longe dele. Esses dois Brasis são mutuamente excludentes na nova realidade globalizada. A opção hoje está em entrar nele pelo mérito ou sair do mundo e viver bolivarianamente à margem dele.

Pense nisso antes de decidir qual das alternativas de caminho postas à sua frente conduz ao beco sem saída do ódio e qual a que, com todas as dificuldades que houver, deixa aberta a porta da esperança. Sua escolha vai decidir o destino de toda uma geração.

FERNÃO LARA MESQUITA - O ESTADO DE S.PAULO - 23 Junho 2014


O STF SEM BARBOSA



Não pode passar despercebida a saída do ministro Joaquim Barbosa da relatoria dos processos de execução penal do Mensalão e sua iminente aposentadoria. Ainda que sofra contestações, sua atuação no episódio resgatou a confiança da população brasileira na Justiça. Sua retirada precoce, conjugada com a campanha de descrédito comandada por alas inconformadas do PT e por atritos com advogados de defesa dos condenados, ressuscita a desconfiança de que as chicanas jurídicas para proteger os poderosos voltarão a predominar nos julgamentos. É verdade que o temperamento irascível do ministro contribuiu para litígios desnecessários. Mas a grande questão agora é outra: manterá o Supremo a aura de respeitabilidade reconquistada?

Entre as alegações para o fato de o presidente do STF deixar a relatoria de todas as ações e recursos relacionados ao Mensalão, algumas reforçam a perspectiva de menos rigor tanto na condução do processo quanto nas decisões em geral da Corte máxima daqui para a frente. É o caso da decisão sobre demandas como a do ex-ministro José Dirceu, interessado em trabalhar fora da prisão, e a do ex-presidente do PT José Genoino, que pleiteia prisão domiciliar alegando razões de saúde. O futuro relator, Luis Roberto Barroso, para quem o Mensalão consistiu num "ponto fora da curva", promete encaminhar ao plenário essas questões, em relação às quais o ministro prestes a se aposentar tinha posições muito firmes, das quais não abria mão. E a tendência é de que sejam revistas.

Ao assumir a relatoria do inquérito, Joaquim Barbosa contribuiu em muito para desfazer a imagem de um Supremo incapaz de punir políticos. Até começar a ser derrotado por um plenário já com nova composição, o ministro prestes a deixar a casa impôs um inédito rigor nas penas e nas condenações. O caso do ex-presidente Fernando Collor é exemplar dessa fase menos rigorosa: afastado do cargo em 1992 por denúncias de corrupção, só teve seu julgamento concluído neste ano, duas décadas depois. E foi absolvido por unanimidade.

Enaltecido por uns e criticado por outros pelo rigor na interpretação da lei, Joaquim Barbosa conseguiu mostrar ao Brasil e ao mundo que políticos podem, sim, pagar por seus erros. O risco agora é de que o vazio deixado pela saída antecipada do ministro volte a ser preenchido pela histórica indisposição do Supremo para punir políticos faltosos e, em consequência, por um desgaste inevitável na sua credibilidade.


Diário Catarinense - Florianópolis - 22/6/2014

domingo, 22 de junho de 2014

Lula pressiona para Dilma gastar mais


A dívida pública do Brasil já atingiu níveis nunca vistos na história republicana.

No entanto, Lula e o PT continuam pressionando a presidente Dilma a gastar cada vez mais, na tentativa desesperada para manter-se no poder.

Vejam este artigo:

Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas públicas ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, há cerca de duas semanas, em Porto Alegre, deixou visível as divergências entre ele, o PT e a presidente Dilma Rousseff em torno da condução da política econômica neste ano eleitoral. A afilhada começou a atender à parte das pressões vindas do antecessor e do partido e, na campanha, será preparada para confrontar números dos 12 anos de gestões petistas com os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.
Segundo fontes próximas de Lula e Dilma, embora mantenham uma relação estreita de parceria, são frequentes as discordâncias sobre os rumos da economia. Lula cobra que o governo abra o cofre para aumentar o crédito na praça, agradar setores do empresariado e do agronegócio e criar uma sensação de aquecimento da economia às vésperas da eleição, enquanto Dilma defende a política de rédea curta nos gastos, temendo o descontrole da inflação.
Embora a presidente seja a responsável pela chave do cofre, petistas apontam pelo menos três casos recentes nos quais Dilma cedeu às pressões de Lula e do PT e abriu o cofre.
Pressões. O primeiro caso foi a liberação do volume recorde de R$ 156 bilhões para o Plano Safra 2014/2015, anunciado em 18 de maio. No dia seguinte, Dilma sancionou a lei que cria o piso salarial nacional de R$ 1.040 para agentes comunitários de saúde. De acordo com pessoas próximas à presidente, integrantes da equipe econômica recomendaram veto ao projeto de lei aprovado pelo Congresso, alegando que a iniciativa teria impacto de R$ 3 bilhões anuais no Orçamento da União. Mas Dilma cedeu às pressões de Lula - e principalmente do PT - e acabou sancionando a lei.
O terceiro exemplo é o pacote de benefícios para a indústria, anunciado na quarta-feira em reunião do Fórum Nacional da Indústria, que inclui mudanças no Refis, extensão do Plano de Sustentação de Investimentos (PSI) e a desoneração da folha de pagamento para 56 setores, entre outras benesses. Lula foi um dos defensores dessas medidas, contrariando orientações da equipe econômica.
Lula e o PT já tem traçada a estratégia para debater economia na campanha. A principal mensagem do programa de governo será a de que o Brasil é o país de "oportunidades" para quem trabalha e investe aqui.
Para tentar desconstruir o discurso da oposição de que é possível fazer mais e melhor, Dilma adotará o mote de que só quem fez no passado pode promover mudanças sem sustos nem rupturas e melhorar o futuro.
Estratégia. Para inflar os indicadores sociais e econômicos, a propaganda do PT tratará o governo de Dilma e Lula como se fossem um só, desde 2003. A estratégia é considerada necessária porque vários índices caíram sob Dilma, que enfrentou uma crise financeira mundial.
De posse desses dados, a equipe da reeleição vai comparar o atual período com os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Embora o Produto Interno Bruto tenha crescido pouco na gestão Dilma, a propaganda destacará que o PIB, em dólares, cresceu 4,4 vezes desde o primeiro ano da gestão FHC.
Para contornar o crescimento baixo do PIB no governo Dilma, a campanha também pretende ideologizar o debate econômico, dando mais destaque à redução do desemprego, que hoje é de 4,9% contra 12,6% do último ano da gestão presidencial tucana, para sustentar o argumento de que as oportunidades de trabalho têm mais impacto na vida da população do que o índice de crescimento econômico.
Além disso, o PT vai aproveitar todos os espaços possíveis para provocar o candidato do PSDB, Aécio Neves, a revelar suas propostas para a economia, explorando a declaração do tucano de que tomaria "decisões impopulares" na economia.
RICARDO GALHARDO  - O ESTADO DE S.PAULO - 22 Junho 2014 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

O Mundial 2014 e a Casa da Mãe Joana


No século XIV, a rainha de Nápoles, Joana, após envolver-se em conspiração para a morte do marido, fugiu e foi morar em Avignon, na França. Lá, se instalou em um palácio e passou a mandar e desmandar na cidade, a ponto de regulamentar até os bordéis. A partir daí, cada prostíbulo passou a ser conhecido como “Paço da Mãe Joana”. No Brasil, a expressão foi alterada para “Casa da Mãe Joana”, sinônimo de lugar ou situação em que predominam o vale-tudo, a balbúrdia e a desorganização.

Associo a história à Copa. Desde 2007, quando o Brasil foi anunciado como país-sede, venderam-nos gato por lebre. À época, o então ministro do Esporte, Orlando Silva, afirmou: “Os estádios para a Copa serão construídos com dinheiro privado. Não haverá um centavo de dinheiro público.” Na mesma linha, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira disse: “Faço questão absoluta de garantir que será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas.” O ex-presidente Lula confirmou: “Tudo será bancado pela iniciativa privada.”

Se fosse verdade, ninguém criticaria as arenas de Manaus, Natal, Cuiabá e Brasília — uma manada de elefantes brancos —, construídas pela iniciativa privada, por sua própria conta e risco. Curiosamente, porém, a maioria dos empresários não se interessou pelos estádios padrão Fifa. A fatura de R$ 8 bilhões, em sua quase totalidade, caiu mesmo no colo da viúva.

Afirmar que a metade desse valor decorre de financiamentos que serão cobrados com rigor pelos bancos é, no mínimo, uma falácia. Em sete arenas, os próprios governos estaduais assumiram dívidas de R$ 2,3 bilhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Sendo empréstimos contraídos pelos estados, adivinhe, leitor, de onde sairá o dinheiro para quitá-los?

Outro sofisma é a comparação entre o custo dos estádios em 12 cidades e os gastos integrais em Saúde e Educação, efetuados pela União, pelos estados e por todos os municípios brasileiros, de 2010 a 2013. Com a intenção de tornar irrelevantes os investimentos nas arenas, a presidente Dilma, às vésperas da Copa, apresentou soma de R$ 1,7 trilhão, segundo ela “investida” em Saúde e Educação, incluindo no montante, de forma inadequada, itens de custeio, como vigilância, limpeza, salários, luz e água, entre outros. Na realidade, o custo dos estádios equivale a dois anos de investimentos federais em Saúde ou à instalação de 2.263 escolas.

Em contrapartida, boa parte das reformas dos aeroportos e do legado de mobilidade ainda está pelo caminho. Para atenuar o caos urbano chegaram a ser previstos R$ 12,4 bilhões. No entanto, cerca de R$ 4 bilhões simplesmente sumiram da Matriz de Responsabilidades, visto que as obras não ficariam prontas a tempo do Mundial. Das que restaram, apenas 43% foram concluídas, segundo o TCU. Dessa forma, chegamos ao Mundial com o ônus dos elefantes brancos e sem o bônus dos legados.

Até agora, ninguém sabe o custo real da Copa. No Portal da Transparência constam R$ 25,6 bilhões, mas o valor — por sinal desatualizado — não inclui, por exemplo, as verbas de publicidade, as estruturas temporárias, os centros de treinamento e os subsídios à entidade presidida por Blatter, bem como às empresas por ela indicadas. Apesar de a Fifa ter obtido receitas de R$ 10 bilhões, o Congresso Nacional concedeu-lhe inédita isenção total de impostos, correspondente a R$ 1,1 bilhão. No pacote do perdão estão tributos federais como IRRF, IOF, contribuições sociais, PIS/Pasep, Importação, Cofins Importação, entre outros. Como a Fifa diz que não exigiu esse amplo favor, quem foi o mentor dessa caridade com o nosso chapéu?

Enfim, a Copa 2014 será marcada por falta de planejamento, má gestão, obras inacabadas, excessivas cidades-sede, desperdícios evitados pelo TCU (R$ 700 milhões), denúncia de superfaturamento do “Mané Garrincha” (R$ 431 milhões), arenas entre as mais caras do mundo e repulsa à Fifa, entidade que merece um “chute no traseiro”.

De qualquer forma, quando 72% da população estão insatisfeitos (Pew Research Center), a Copa é apenas parte do contexto. As manifestações e as vaias são consequência da inflação, da estagnação da economia, da péssima qualidade dos serviços públicos e da corrupção deslavada. É bom lembrar que em 2010, na Copa da África do Sul, o ex-presidente Nelson Mandela foi ovacionado.

Como o protesto mais eficiente não é nos estádios, mas nas urnas, o dever de casa para hoje será o Brasil vencer o México e avançar rumo à conquista da Copa — a Copa da Mãe Joana.

Gil Castello Branco - Economista e fundador da organização não-governamental Associação Contas Abertas


Espanha anuncia redução no imposto de renda

O governo da Espanha anunciou um amplo pacote de cortes de impostos, em um movimento que busca reduzir o ônus fiscal sobre a classe média.
A Espanha vai reduzir a taxa máxima de imposto de renda de 52% atualmente, uma das mais altas do mundo, para 45% nos próximos dois anos e, ao mesmo tempo, vai implementar cortes similares a outras faixas de renda. A taxa de imposto corporativo geral no país também será reduzida de 30% para 25%.
Os cortes revertem parte dos aumentos de impostos adotados pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy logo depois de assumir o cargo, em dezembro de 2011. Diversas vezes Rajoy admitiu que as elevações iam contra suas promessas eleitorais e prometeu reduzir as taxas assim que possível.
O anúncio surge em um momento em que a economia espanhola está dando sinais claros de recuperação pela primeira vez em seis anos. No mês passado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) informou que a quarta maior economia da zona do euro cresceu 0,5% no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado, um dos desempenhos mais fortes da zona do euro.
Autoridades do governo afirmam que o crescimento mais forte abre espaço para cortes de impostos e preveem que a receita fiscal pode subir, apesar das taxas mais baixas, o que ficará em linha com os planos de redução do ainda significativo déficit orçamentário do país.
Enquanto isto, num certo país do hemisfério sul . . . 

O caos se estabelece na nave sem comando

O Brasil segue perdido no seu rumo, como um navio sem comando.

A presidente da república (minúsculas propositais) concentra seus esforços na campanha (ilegal) por sua reeleição. Ninguém governa o país. O Tribunal Superior Eleitoral, chefiado por um de seus apadrinhados, olha para o lado, como se nada acontecesse.

Um idiota ignorante, com mais títulos de doutor honorário do que anos de trabalho operário, continua a deitar ensinamentos éticos à população, apesar de ser o líder do partido com mais dirigentes cumprindo penas de prisão por corrupção, do país.

Grupos de vândalos operam livres, leves e soltos, destruindo patrimônio público e privado. A Polícia Militar de São Paulo faz "acordo" com movimentos ilegais e se surpreende quando este movimento não cumpre com o "acordado."

Cada dia surgem mais núcleos de "movimentos sociais", devidamente orientados para objetivos políticos, exigindo "direitos" e sendo recebidos pela mais alta autoridade do país, como se tivessem legalidade na sua representação e nas suas exigências. Um favor negado à maioria da população brasileira.

O governo federal gasta bilhões de reais em propaganda - claramente com intenção eleitoral - enquanto o país carece de investimentos em áreas básicas.

O país, amortecido pelo ópio do futebol, pára, deixa de produzir, de estudar, de pesquisar, para se grudar na telinha, como se a sua própria vida dependesse do resultado de um campeonato cuja única importância para a sua vida são exatamente os 90 minutos de entretenimento. Quando o jogo acaba, as misérias do país continuam miseráveis e o desenvolvimento nacional continua atrasado, um pouquinho mais, até.

A economia, com crescimento pífio, patina sem direção. A estabilidade monetária, arduamente conquistada há 20 anos, começa a perder força, vendo o monstro da inflação crescer a cada dia.

Os valores morais e éticos, totalmente invertidos, ensinam às novas gerações a procurar, quase somente, fazer um único esforço e obter um cargo público, na ilusão de isto vai garantir a tranquilidade na sua vida.

Fingem que não enxergam - ou até de fato não enxergam - que a conta não fecha e que não há almoço grátis no mundo: alguém vai ter que pagar esta conta.

Debaixo de uma carga tributária imensa, crescente, os passageiros desta nau de insensatos buscam sua satisfação no consumismo que não podem suportar, afundando-se em dívidas que não poderão honrar.

Os chamados representantes do povo, que só representam seus próprios interesses, fazem conluios, formam alianças, costuram acordos, com o objetivo único de se manter no poder, num país onde a oposição política não vem dos partidos de oposição e, sim, da imprensa não alinhada aos projetos de supremacia política e das redes sociais, único instrumento utilizado por um pequena parcela de população para expressar sua indignação.

A cidadania, cada vez mais dividida entre brancos, negros, índios, cotista e não cotistas, hétero e homossexuais, trabalhadores e "elites", castas criadas para colocar brasileiros contra brasileiros, invenção maléfica de uma doutrina política baseada no dividir para governar. Na falta de um "inimigo" externo, criou-se vários "inimigos" internos. Colocando-os uns contra os outros, espera-se manter a todos presos nas cadeias que eles próprios criaram ou deixaram criar.

Pequeno diante do peso da impunidade, perdido num emaranhado de leis e regulamentos que já definem até como educar seus filhos - tirando-lhes o poder divino de ser pai ou mãe - o brasileiro se apequena e longe de ser gigante ou de dar o brado retumbante converte-se numa tribo diminuta, vendo sua importância cada vez mais diminuída e sua capacidade de decisão cada vez mais reduzida.

A grande nau segue, assim, por mares nunca antes navegados, sem rumo ou direção, pilotada por desorientados e comandada por insanos.

Só um intervalo


Um jogo de futebol, mesmo um jogo de abertura de Copa do Mundo e com o time brasileiro em campo, é apenas um jogo de futebol. Para a maioria da população brasileira, as aflições da luta diária e silenciosa pela sobrevivência são bem maiores, na prática, do que qualquer tristeza esportiva; ninguém tem tempo para ficar chorando quando é preciso encarar, logo na madrugada seguinte, três horas de ônibus, metrô e trem para ir até o trabalho. O ex-presidente Lula pode achar que é uma "babaquice" pensar em transporte público de primeira classe para quem vive na terceira, nesta bendita Copa que inventou de trazer para o Brasil sete anos atrás. Pode achar o que quiser, mas não vai aliviar em um grama a selvageria imposta à população para que ela exerça seu direito constitucional de ir do ponto A ao ponto B - e muitos outros prometidos em troca dos 30 bilhões de reais que custará a Copa mais    cara    da    história, num país onde a classe média começa nos 290 reais de renda por mês. Do mesmo modo, as alegrias da vitória são apenas momentos que brilham, depois de leve oscilam, e se desfazem num prazo médio de 48 horas.

A vitória do Brasil sobre a Croácia por 3 a 1, em sua estreia na mais grandiosa e emocionante disputa esportiva do planeta, foi um desses momentos que valem enquanto duram. Não garante nada, é claro, numa competição de alpinismo em que cada passo rumo ao topo é mais difícil que o passo anterior; garante mais, em todo caso, que uma derrota. Mas para a vida do Brasil e dos brasileiros é apenas um intervalo que não muda nada—justamente numa hora em que é urgente mudar tanto. É urgente porque o Brasil se encontra, neste mês de junho de 2014, em estado de desgoverno. A questão, a esta altura, não é dizer que o governo da presidente Dilma Rousseff tem tudo para ficar entre os piores que o país jamais teve. Isso muita gente, e cada vez mais gente, já está cansada de saber — segundo a última pesquisa do Pew Institute, organização americana de imparcialidade e competência indiscutíveis, mais de 70% dos brasileiros estão hoje descontentes com o governo; eram 55% em 2013. Esse nível de frustração, segundo o instituto, "não tem paralelo em anos recentes" Que mais seria preciso dizer? O problema real, seja qual for o resultado final da Copa, é que o governo federal deixou de existir como autoridade responsável; traiu os eleitores, suprimindo o seu direito de ser governados sob o império da lei, e passou a agir no mundo da treva. Não se sabe se os donos do poder estão sonhando em arrastar o Brasil para uma aventura totalitária. Mas certamente dão a impressão de quererem algo muito parecido com isso.

Lula, Dilma, o PT e as forças postas a seu serviço não aceitam, por tudo o que dizem e sobretudo pelo que fazem, a ideia de perder a eleição presidencial de outubro. Por esse objetivo, mandaram a governança do país para o diabo e empregam 100% de suas energias, sua capacidade de cometer atos ilegais e seu livre acesso ao dinheiro público para impedir que a massa dos insatisfeitos possa eleger para a Presidência qualquer candidato que não se chame Dilma Rousseff. Uma greve ilegal e abusiva dos agentes do metrô de São Paulo, armada na zona escura dos apoios clandestinos ao governo, fez algo inédito: montou piquetes para impedir que os passageiros chegassem aos trens — dentro da estratégia de impor a desordem nos serviços públicos paulistas e, com isso, prejudicar candidatos da oposição. Um decreto da presidente criou, e quer tornar efetivos, uns "conselhos populares" com poderes e competências acima dos do Congresso Nacional e do Judiciário. Num país com 55000 assassinatos por ano, o governo nega aos cidadãos o direito fundamental à vida, ao tornar-se cúmplice dos criminosos com sua tolerância máxima ao crime — em quase doze anos de governo, Lula e Dilma não disseram uma única palavra contra esse massacre, e muito menos tomaram a mínima providência a respeito. Ambos tiveram, ou compraram, o apoio de 70% do Congresso; o que fizeram de útil com essa imensa maioria? Zero. Ela foi usada apenas para impedir investigações sobre seus crimes, como na espetacular sequência de escândalos na Petrobras, por exemplo, e encher o PT e seus aliados com empregos públicos, verbas e oportunidades de negócio. O uso sistemático da mentira tornou-se a forma mais praticada de ação política. A presidente da República não fala ao público na abertura da Copa — fica num discurso pré-fabricado de elogio a seu governo. Um Brasil como esse perde se perder e perde se ganhar.

J.R.Guzzo

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quem diria . . .


Um notável empresário costumava dizer que a vantagem de ser idoso é ter visto tudo acontecer, e ter visto o contrário também. Pois é. Quem imaginaria?
1 - Negro mandando brancos ricos e poderosos para a cadeia;
2 - Esquerdistas citando (e com amor) o autor que antes odiavam: Nelson Rodrigues. Diziam que era reacionário. E ele confirmava;
3 - Maluf aliado ao PT mas dizendo que, perto de Lula e Dilma, é comunista;
4 - A elite branca endinheirada comparecendo em massa ao estádio do Corinthians, no elitista bairro de Itaquera;
5 - Eduardo Suplicy fazendo um discurso mais curto que o do candidato de seu partido ao Governo paulista;
6 - Aécio e Serra se elogiando e cumprimentando como velhos amigos;
7 – Brasileiros fascinados por um papa argentino;
8 - Brasileiros fascinados por um craque argentino;
9 - O comunista linha chinesa (da antiga, original) Aldo Rebelo, ministro dos Esportes, o imprimindo e distribuindo A Pátria em chuteiras, de Nelson Rodrigues – porque, ao contrário do que pensa a direita, futebol não é o ópio do povo;
10 - Políticos presos brigando para (argh!) trabalhar;
11 - Marta Suplicy tuitando sua alegria bem na hora do gol-contra do Brasil;
12- Lula desistindo de ir ao estádio que ajudou a construir, para a abertura da Copa que conseguiu trazer para cá. E Dilma, que nem sabe quem é a bola, indo.

Carlos Brikmann

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A Mágoa dos Derrotados e o Medo dos Desacreditados

"Estou realmente impressionado com o poder que um governo tem de ferrar um país. Conseguiram o impossível: destruir a paixão do brasileiro por futebol. Às vésperas de uma copa do mundo no Brasil, nada de bandeiras, nem carros decorados, nem torcida, nem bolões. Nada. Apenas a apatia, a revolta, a dor-de-estômago dos aviltados. Imagino que as vítimas de crimes sexuais devem se sentir mais ou menos assim.

A indignação por causa de todos os escândalos que cercaram a preparação para o torneio conseguiram fazer naufragar o maior de todos os amores brasileiros. Até eu que nunca gostei muito de futebol estou chateado. Gostaria de ser uma dessas pessoas que conseguem distinguir as coisas: de um lado, o governo corrupto (como sempre...); de outro, a festa da Copa, que deveria ser. Mas não consigo. E, junto comigo, de acordo com as pesquisas, outros 52% de brasileiros, dentre os entrevistados.

Que os sucessivos governos péssimos que tivemos desde as diretas-já tinham acabado com o patriotismo e o otimismo da nação eu já sabia. Houve, é verdade, um breve período de resgate de tais valores em 1991 com os "caras-pintadas", mas durou pouco.

E também imaginava que, pelo andar da carruagem, era só questão de tempo até as grandes multinacionais irem a pique, sangradas até a morte com tanta roubalheira.

Também não foi surpresa ver um país desacreditado nacional e internacionalmente, sem perspectiva (boa) de curto ou médio prazo.

Mas ver o Brasil completamente descolorido faltando pouco mais de vinte e quatro horas para o pontapé inicial de uma copa do mundo em solo doméstico... essa realmente me assustou.

Depois dessa, simplesmente não há mais nenhum limite a ser cruzado. O Governo provou que é capaz de destruir TUDO para prestigiar seus interesses escrotos. E o fez. O que importa é se manter no poder eternamente, e foco nas eleições. E mais e mais reeleições.

E nós ficamos aqui, com a mágoa dos derrotados, o medo dos desacreditados e a vergonha dos estuprados.

Parabéns, governo brasileiro!"


Sergio Bernardinetti

Desespero, ódio e baixaria


No desespero diante da sólida evidência de que a incompetência de Dilma Rousseff está colocando seriamente em risco o projeto de poder do PT, Luiz Inácio Lula da Silva apela para seu recurso retórico predileto: fazer-se de vítima, acusar "eles" - seus adversários políticos - daquilo que o PT pratica, transformando-os em inimigos do povo e sobre eles jogando a responsabilidade por tudo de ruim e de errado que acontece no País. Lula decidiu de vez "partir para cima" e deixou claro que até outubro estará se atolando no ambiente em que se sente mais confortável: a baixaria.

Uma das mais admiráveis figuras do século 20, Nelson Mandela, reconciliou a África do Sul - que saía do abominável regime do apartheid - consigo mesma promovendo pacificamente o entendimento entre a minoria branca opressora e a ampla maioria negra oprimida. Lula continua fazendo exatamente o contrário: dividiu os brasileiros entre "nós" e "eles", arrogando-se a tutela sobre os desvalidos, que tem procurado seduzir, transformando-os não em cidadãos, mas em consumidores. Um truque que, como se vê hoje nas ruas, está saindo pela culatra.

Pois é exatamente o homem que subiu na vida com um punhal entre os dentes, disseminando a divisão em vez da consciência da cidadania como arma de luta contra as injustiças sociais, que agora, acuado pelo desmascaramento da enorme farsa que tem protagonizado, tem a desfaçatez de prognosticar que "a esperança vai vencer o ódio".

Apesar de alegadamente motivada pela declaração de Aécio Neves, na convenção do PSDB que lançou oficialmente sua candidatura à Presidência da República, de que "um tsunami" vai varrer o PT do poder, foram dois os sinais de alerta que levaram Lula a abrir a caixa de ferramentas: nova queda de sua pupila Dilma nas pesquisas e as vaias e agressões verbais em coro de que ela foi vítima na quinta-feira durante o jogo de estreia do Brasil na Copa do Mundo.

Quanto às pesquisas, não há muito mais a dizer do que aquilo que elas revelam: uma tendência constante de queda do prestígio e das intenções de voto na candidata do lulopetismo à reeleição. A debandada dos membros mais "pragmáticos" da "base aliada" reforça essa evidência.

As vaias e xingamentos no Itaquerão, por sua vez, refletem o que têm afirmado, abertamente, muitos líderes oposicionistas e, intramuros, lideranças do próprio PT: Dilma e, mais do que ela, o lulopetismo estão colhendo o que semearam. Nem por isso manifestações como aquelas podem ser endossadas. A grosseria não é coisa de gente civilizada. Um chefe de Estado merece respeito, no mínimo, pelo que representa.
Mas não há de ser quem sempre, deliberada e calculadamente, se esmerou em atacar e ofender adversários que agora vai assumir posição de superioridade moral para condenar quem manifesta, no calor da multidão, um sentimento espontaneamente compartilhado.

E também não vale o argumento com que Lula procurou desqualificar os manifestantes do Itaquerão, a eles se referindo como "gente bonita", ou seja, a famigerada elite. Afinal, a Copa do Mundo no Brasil, essa vitrine que está expondo o País aos olhos do mundo com efeitos duvidosos, foi apresentada à Nação sete anos atrás como uma fantástica conquista pessoal de Lula, uma dádiva generosa ao povo brasileiro. Foi para a "gente bonita" que Lula trouxe esse espetáculo - do qual agora mantém a boa distância e não porque não possa pagar os caríssimos ingressos que, como ele sempre soube, são cobrados pela Fifa.

A candidata Dilma, por sua vez, recolheu-se. Alegou uma gripe para não comparecer, ao lado do chefe, à convenção do PT que lançou, no domingo, a candidatura petista ao governo de São Paulo. Mas o recato acabou aí. Gravou um vídeo em que se refere indiretamente ao episódio do Itaquerão e dá uma magnífico exemplo do tom mistificador que passará a imprimir à campanha eleitoral: "(O Brasil) é um país em que mulheres, negros, jovens e crianças, a maioria mais pobre, passaram a ter direitos que sempre foram negados. É isso que vaiam e xingam. É isso que não suportam".


Os líderes do lulopetismo só estarão a salvo de vaias e constrangimentos se escolherem as multidões que estão sob seu próprio controle.

O ESTADO DE S.PAULO - 17 Junho 2014

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A Copa do Mundo e o Respeito perdido


Eu não sou apreciador de futebol, nem nunca acompanhei este esporte. Mas, como a grande maioria dos brasileiros, torcia pela seleção brasileira nos campeonatos internacionais em que a CBF participava.

Isto, até o grande malogro de 2006. Naquela ocasião me dei conta de que a equipe de futebol, formada por profissionais do esporte mais bem pagos do Brasil, estavam representando sómente seus interesses e de seus patrocinadores. Eles não representavam o Brasil e muito menos a minha pessoa.

A partir daí, futebol, CBF e Copa do Mundo passaram a ter para mim o mesmo valor de uma boa partida de gamão: isto é, absolutamente nada.

Até mexer no meu bolso!

E isto aconteceu quando o governo brasileiro, no meio de uma relação que parece infindável de escândalos, começou a defender o investimento, a fundo perdido, de bilhões de reais de impostos, neste megalomaníaco empreendimento chamado de Copa 2014. Neste momento, passamos a conhecer os absurdos e crimes contra os contribuintes, cometidos pelo Governo Federal e Estadual, em várias unidades da Federação.

Que um jogador de futebol - ou um treinador/técnico - ganha milhões de dólares por ano, não é problema meu.

Que o governo gaste bilhões de dólares para construir estádios, num país absurdamente carente de hospitais, escolas, estradas, é problema meu e dos grandes.

A Presidência da República, assim como o Congresso Nacional, são instituições que merecem todo o respeito, numa sociedade que seja digna deste nome.

Não é o caso brasileiro. Este país, pouco a pouco, vai se transformando num grande gueto, numa grande favela, com suas "tribos", com suas mazelas, com a total e completa falência da ordem e do direito.

Passamos a ser uma população dividida entre as "zelites" e o povo. Entre brancos, negros e índios. Entre cotistas e não cotistas.

Somos um país onde a presidente se sente perfeitamente à vontade de publicar um decreto, passando por cima do Poder Legislativo - que nem se rebela contra o estupro - e determinando que "grupos sociais" participem na decisões governamentais, criando um quarto poder. Na prática, a Constituição de 1988, chamada de "Cidadã," foi virtualmente rasgada e jogada no lixo.

Um país onde o presidente de um dos seus poderes, o Judiciário, é avacalhado e desrespeitado por vários políticos, todos do partido presentemente no governo, sem que nenhuma ação seja tomada contra estes indivíduos.

Somos um país onde o Poder Legislativo atua com um corporativismo de dar inveja à mais clássica das máfias, defendendo e protegendo seus membros e passando por cima, como um tanque, de sua obrigação constitucional, que é defender o povo que o elegeu. Que só defenestra algum membro quando debaixo de uma pressão avassaladora da mídia e da opinião virtual.

A cada dia, em cada pronunciamento, a autoridade máxima do Brasil desrespeita seus cidadãos com mentiras imediatamente desmascaradas ou com pronunciamentos que são como uma facada nas costas do idioma oficial do país.

Somos um país onde professores e policiais são diariamente desrespeitados por estudantes malcriados e bandidos recorrentemente presos. Sem que nada ou quase nada aconteça.

Somos uma nação onde seus cidadãos são diariamente desrespeitados pelas prefeituras corruptas e incompetentes, por governos estaduais omissos, corruptos e incompetentes e por governos federais omissos, corruptos e incompetentes, preocupados em ajudar outros países - na maioria ditaduras - com o dinheiro dos impostos brutais pagos por toda a população, dos ricos aos mais miseráveis. Sim, todos pagam estes os impostos covardemente ocultos nos preços e que ninguém consegue visualizar o absurdo de seus valores.

Então, quando as vaias começam - e foram usadas nos mais diversos locais e pelos mais diversos públicos - o governo se surpreende?

Quem mais desrespeita o cidadão brasileiro?

O respeito é uma atitude em extinção, no país "do nunca antes."

E o governo federal perdeu direito a esta atitude, por parte da grande maioria dos brasileiros.

Não usaria palavras de baixo calão contra a presidente do Brasil, enquanto exercendo suas funções. Eu tive uma boa educação, no berço.

Mas que ela mereceu, não tenho a menor dúvida.

Petistas reciclam slogan




Após os xingamentos dirigidos à presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo e as declarações do tucano Aécio Neves segundo as quais “um tsunami vai varrer” o PT do governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou neste domingo a eleição de 2014 com a de 2002, e afirmou que, se 12 anos atrás o partido teve de “fazer uma campanha para a esperança vencer o medo”, agora terá de fazer “uma campanha para a esperança vencer o ódio”.
A frase foi usada também por outros líderes petistas durante a convenção que lançou o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha ao governo do Estado de São Paulo, em evento realizado no ginásio do Canindé, na zona norte paulistana. Ela sintetiza tática de tirar o PT da defensiva num momento em que a avaliação do governo da presidente está em queda e a chance de 2.º turno, com o crescimento dos candidatos de oposição, aumenta. 
Lula e outros petistas também recorreram à metáfora do tsunami, usada inicialmente pelo candidato tucano ao Palácio do Planalto no sábado, durante a convenção que o lançou à Presidência, para atacar a crise de abastecimento de água no Estado de São Paulo e fustigar a gestão tucana do governador Geraldo Alckmin.
Ausente na convenção sob justificativa de estar gripada, Dilma gravou um vídeo de apoio à candidatura de Padilha no qual elencou melhorias na qualidade de vida do brasileiro promovida pelas gestões petistas, como aumento da renda e do emprego, e afirmou que elas são as causadoras dos xingamentos. “É um país em que mulheres, negros, jovens e crianças, a maioria mais pobre, passaram a ter direitos que sempre foram negados. É isso que vaiam e xingam. É isso que não suportam”, afirmou.
Os discursos deste domingo radicalizam a linha já adotada um dia após o jogo de quinta-feira, no qual Dilma foi hostilizada. A ideia é reforçar uma percepção explorada em eleições anteriores segundo a qual o PT defende os mais pobres e os adversários, os ricos. 
Decreto. A presidente usou o decreto 8243, que regulamenta a política nacional de participação social, nesse mesmo contexto. Ela afirmou que os críticos defendem “uma democracia sem povo”. O decreto, que orienta todos órgãos federais a terem conselhos populares para consultas à sociedade civil sobre políticas públicas, é criticado por partidos de oposição, que ameaçam derrubá-lo no Congresso. “Alguns conselhos já existem desde 1937. Funcionam e prestam bons serviços, trazendo sugestões para as políticas de governo. Não substituem o Congresso e nem judiciário, mas são essenciais para ampliar a democracia no País. Para nós do PT, quanto mais participação popular, quanto mais democracia, melhor para o Brasil. A democracia que eles (os adversários) defendem não tem povo. Nós governamos pelo povo e para o povo.”
‘Essa raça’. Durante o seu discurso, Lula chegou a comparar a metáfora do tsunami feita por Aécio a uma declaração dada em 2005 pelo ex-senador Jorge Bornhausen, então presidente do extinto PFL - hoje DEM -, que afirmou, durante a crise do mensalão, em referência ao PT, que o País se veria “livre dessa raça por pelo menos 30 anos”.
“Na convenção do PSDB eles repetiram aquilo que o Bornhausen falou em 2005 quando começou o processo da CPI do mensalão. Precisamos acabar com essa raça. E nós não acabamos, quem acabou foi o PFL”.
Lula voltou a criticar a imprensa, a quem acusou de “manipulação” e afirmou que “qualquer jornalista, para ganhar credibilidade para esculhambar o PT começa a dizer ‘eu não sou político’, mas na testa dele tem um carimbo de tucano”.
Fonte: O Estadão - 15/6/2014.
Por falar em ódio, vale a pena ver de novo:

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