sexta-feira, 30 de maio de 2014

Na hora certa

O ministro Joaquim Barbosa é impetuoso, não mede as palavras, bate de frente quando acha que deve bater e não foram poucas as ocasiões em que perdeu as estribeiras no Supremo Tribunal Federal.

Características mercuriais que aparentemente contrastam com a absoluta serenidade com que ele se manteve senhor da razão diante da popularidade jamais alcançada por um magistrado e dono do próprio tempo de sair de cena; soube ver a hora de fazê-lo antes do declínio que não raro se segue ao auge.

Deixar o Supremo antes da aposentadoria compulsória não é prática incomum. O decano da Corte, Celso de Mello, já anunciou que pretende antecipar a saída prevista para 2015. Nos últimos anos, por motivos diferentes, Nelson Jobim, Ellen Gracie e Eros Grau se aposentaram quando ainda tinham tempo pela frente. Mas não houve comoção nem maiores especulações. Joaquim Barbosa é um caso peculiar.

Depois da atuação como relator no processo do mensalão e da passagem pela presidência do STF, que lhe conferiram notoriedade (nos melhores e nos piores dos sentidos, dependendo do ponto de vista), a volta dele como apenas mais um integrante do colegiado ficaria muito difícil. Nada poderia ser como antes. Pasta de dentes que não volta ao tubo.

De imediato, por dois anos estaria sob a presidência de Ricardo Lewandowski, seu mais ferrenho oponente durante o julgamento em que atuou como ministro revisor e cujos embates com Barbosa chegaram a ultrapassar limites de civilidade. De parte a parte, diga-se. Apenas um estava sempre no papel de algoz e outro ficava na posição de vítima.

Sem a presidência ou a autoridade da relatoria de um processo em que foi na maior parte dele irretorquível - basta ver que foi acompanhado pela maioria em quase todas as suas posições -, Barbosa ficaria bastante vulnerável. Os atritos que criou deixaram sequelas que não podiam ser resolvidas ali, enquanto ele estivesse no comando. Mas, depois, talvez o pusessem no rumo do isolamento, do desprestígio.

Diferentemente do ministro Marco Aurélio Mello, com vocação para a polêmica e prazer acadêmico de divergir, Joaquim Barbosa não é homem de aceitar com facilidade o contraditório. Não perde com o mesmo conforto daquele que, ao contrário, não abre mão do direito de ser voto vencido há mais de 20 anos.
Mais que questões de saúde - existentes nos 11 anos em que o ministro passou na Corte - a decisão, de resto anteriormente já anunciada embora sem data, parece ter sido pautada por um sexto sentido que lhe avisou: a missão está cumprida, chega.

O mesmo que o aconselhou a não cair na tentação de atender ao canto da sereia deste ou daquele partido interessado na sua popularidade para fazer do ministro um "puxador" de votos. Tivesse feito isso, teria passado recibo aos que o acusavam de ter dado condução política ao processo do mensalão.

Dora Kramer - O Estadão - 30/5/2014

O que nos resta é o voto. Ou não?

REYNALDO ROCHA
O Brasil é surreal. Cada vez mais uma caricatura de quem, como o desenhista oficial do Planalto, ainda não sabe sequer colorir álbuns infantis.
Um índio flechando um policial. Como um Touro Sentado num duelo com o general Custer, sob o olhar complacente do especialista em “movimento sociais” – o que e me leva a incluir os índios nessa categoria. Seria emocionante como um faroeste se não fosse real.
Um bandido (ladrão que havia sido condenado a 12 anos de pena por assalto à mão armada), agora deputado estadual pelo PT, participando de reuniões com o PCC. A mesma organização que, segundo o partido do mensalão, só existe porque existe o governo do PSDB.
Agora temos Lula Cabral do Restelo. O que não descobriu o Brasil porque a história o traiu e colocou Pedro Álvares Cabral na caravela mais veloz. Perdeu a primazia.
E por fim há um presidente do Supremo Tribunal Federal que decidiu antecipar em 11 anos a aposentadoria por não suportar o convívio no mesmo plenário com o seu sucessor no comando da Corte.
É normal?
Tudo no Brasil é normal e aceitável?
Quem dirá que Joaquim Barbosa não tem razão? Quem dirá que sim?
O PT está em festa. É possível que no sábado haja mais uma feijoada na Papuda.
Miopia. Perderam a noção da cidadania e da garantia legal que o Poder Judiciário nos dá. Festejam o próprio enterro. Exaltam o desastre sem entender que também estão sob os escombros.
Neste país de poderes podres, ministros que devem favores (ou dinheiro a réus que irão julgar), ministros risíveis, presidente que supera Maria, a Louca, deputados ladrões. O que nos resta?
Resta o voto. Ou não?

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Mudança de regime por decreto

O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff quer modificar o sistema brasileiro de governo. Desistiu da Assembleia Constituinte para a reforma política - ideia nascida de supetão ante as manifestações de junho passado e que felizmente nem chegou a sair do casulo - e agora tenta por decreto mudar a ordem constitucional. O Decreto 8.243, de 23 de maio de 2014, que cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa soar, numa leitura desatenta, como uma resposta aos difusos anseios das ruas. Na realidade é o mais puro oportunismo, aproveitando os ventos do momento para impor velhas pretensões do PT, sempre rejeitadas pela Nação, a respeito do que membros desse partido entendem que deva ser uma democracia.
A fórmula não é muito original. O decreto cria um sistema para que a "sociedade civil" participe diretamente em "todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta", e também nas agências reguladoras, através de conselhos, comissões, conferências, ouvidorias, mesas de diálogo, etc. Tudo isso tem, segundo o decreto, o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo". Ora, a participação social numa democracia representativa se dá através dos seus representantes no Congresso, legitimamente eleitos. O que se vê é que a companheira Dilma não concorda com o sistema representativo brasileiro, definido pela Assembleia Constituinte de 1988, e quer, por decreto, instituir outra fonte de poder: a "participação direta".
Não se trata de um ato ingênuo, como se a Presidência da República tivesse descoberto uma nova forma de fazer democracia, mais aberta e menos "burocrática". O Decreto 8.243, apesar das suas palavras de efeito, tem - isso sim - um efeito profundamente antidemocrático. Ele fere o princípio básico da igualdade democrática ("uma pessoa, um voto") ao propiciar que alguns determinados cidadãos, aqueles que são politicamente alinhados a uma ideia, sejam mais ouvidos.
A participação em movimentos sociais, em si legítima, não pode significar um aumento do poder político institucional, que é o que em outras palavras estabelece o tal decreto. Institucionaliza-se assim a desigualdade, especialmente quando o Partido (leia-se, o Governo) subvenciona e controla esses "movimentos sociais".
O grande desafio da democracia - e, ao mesmo tempo, o grande mérito da democracia representativa - é dar voz a todos os cidadãos, com independência da sua atuação e do seu grau de conscientização. Não há cidadãos de primeira e de segunda categoria, discriminação que por decreto a presidente Dilma Rousseff pretende instituir, ao criar canais específicos para que uns sejam mais ouvidos do que outros. Ou ela acha que a maioria dos brasileiros, que trabalha a semana inteira, terá tempo para participar de todas essas audiências, comissões, conselhos e mesas de diálogo?
Ao longo do decreto fica explícito o sofisma que o sustenta: a ideia de que os "movimentos sociais" são a mais pura manifestação da democracia. A História mostra o contrário. Onde não há a institucionalização do poder, há a institucionalização da lei do mais forte. Por isso, o Estado Democrático de Direito significou um enorme passo civilizatório, ao institucionalizar no voto individual e secreto a origem do poder estatal. Quando se criam canais paralelos de poder, não legitimados pelas urnas, inverte-se a lógica do sistema. No mínimo, a companheira Dilma e os seus amigos precisariam para esse novo arranjo de uma nova Constituição, que já não seria democrática. No entanto, tiveram o descaramento de fazê-lo por decreto.
Querem reprisar o engodo totalitário, vendendo um mundo romântico, mas entregando o mais frio e cinzento dos mundos, onde uns poucos pretendem dominar muitos. Em resumo: é mais um ato inconstitucional da presidente Dilma. Que o Congresso esteja atento - não apenas o STF, para declarar a inconstitucionalidade do decreto -, já que a mensagem subliminar em toda essa história é a de que o Poder Legislativo é dispensável.
O Estadão - 29/5/2014

Programa de índio

Até os tufos de grama dos estádios superfaturados sabiam que a Copa do Mundo tem tudo para virar um tremendo programa de índio. Mas nem o mais finório dos cartolas poderia imaginar que, nesta terça-feira, os antigos donos da terra conseguiriam piorar o que já parecia exemplarmente ruim. Como informa o site de VEJA, a proeza foi consumada pelo inverossímil duelo que opôs, nas cercanias do Estádio Mané Garrincha, uma tropa de 400 índios a um pelotão formado por 500 integrantes da PM de Brasília.

Segundo os caciques de uma certa Mobilização Nacional Indígena, os combatentes recrutados em 100 tribos distintas pretendiam apenas “entregar uma taça de sangue” a algum figurão do governo federal, num ato de protesto contra mortes de caciques atribuídas a policiais. Os planos mudaram quando os guerreiros que misturavam cocares com tênis ou saiotes típicos com calças jeans toparam com o bando de civis que marchavam sobre uma das arenas mais caras do mundo para outra manifestação contra a gastança da Copa.
Para impedir que os inimigos se aproximassem do local onde estava exposta à visitação pública a taça que será entregue ao vencedor do certame, soldados a cavalo e índios pintados com as tintas da guerra protagonizaram a versão brasileiríssima de um espetáculo que só pode ser visto em velhos filmes de faroestes ou na Disneyworld. Com uma diferença essencial: eram reais tanto as bombas de gás lacrimogêneo e as balas de borracha usadas pela PM quanto os arcos e flechas sobraçados pela infantaria da selva. No Twitter, a página do Conselho Indigenista Missionário garantiu que três índios foram feridos. Uma foto exibida pela PM atesta que pelo menos um fardado foi atingido por uma flechada.
As imagens do conflito, transmitido ao vivo por emissoras de TV e noticiado com merecidíssimo destaque pela imprensa internacional, vão exigir acrobacias retóricas especialmente ousadas dos espertalhões que miraram nas urnas e acertaram o próprio pé. Principal responsável pela transformação do Brasil em província provisória da Fifa, Lula logo estará recitando mais uma vigarice panglossiana. Talvez enxergue no episódio uma prova contundente de que, ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, aqui os índios são uma espécie em expansão. Talvez prefira jurar que tudo não passou de uma inventiva homenagem a Garrincha, o mais famoso descendente de índios da história do futebol.
Se os caçadores de votos são forçados a correr atrás do prejuízo, os mais notórios caçadores de dólares já dormem em paz. “O que tinha que ser gasto, roubado, já foi”, informou há poucas horas Joana Havelange. Eis aí o que se pode qualificar de “fonte bem informada”. Mais que integrante do comitê local da Copa, Joana é filha de Ricardo Teixeira, que hoje gasta em Miami o que embolsou enquanto presidiu a CBF, e neta de João Havelange, o ex-chefão da Fifa que transformou a dona do futebol mundial na Casa da Moeda dos Supercartolas. Esses se afastaram da cena do crime antes da chegada do camburão.
Continuam em ação os que, além de muito dinheiro, querem ganhar a eleição. De olho na divisão do produto do roubo, podem perder a chance de escapar. Eles nunca estiveram tão perto de cair fora do poder.
Augusto Antunes - 28/5/2014

quarta-feira, 28 de maio de 2014

O Partido Verde-Oliva

Está em curso, como é evidente, e ninguém precisa fazer muito esforço para constatá-lo, um processo de demonização das Forças Armadas. A chefe da torcida é a própria presidente Dilma Rousseff, com a sua “Comissão da Verdade”, que está encarregada de embaralhar os dados da história brasileira, igualando fatos a mistificações. É dali que parte o ímpeto para tentar, entre outras coisas, rever a Lei da Anistia para levar militares aos bancos dos réus. Quem apoia tortura? Que se saiba, ninguém. Os que se opõem à agressão da Lei da Anistia se alinham simplesmente com regras elementares do estado de direito.
Pois é… Em tempos assim, quem diria que uma esquerdista autêntica como Dilma Rousseff garantisse, numa reunião com empresários, que a ordem será mantida durante a Copa com o auxílio dos tais… milicos?  Não há nada de constitucionalmente excepcional nisso. Afinal, o Artigo 142 da Carta Magna estabelece que as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” Logo, os militares podem, sim, se ocupar da segurança interna se isso for necessário.
Que país curioso! As esquerdas, incluindo os petistas, transformaram numa pauta o que chamam de “desmilitarização das Polícias Militares”. Na hora em que a coisa aperta, como vemos, em vez de falar em desmilitarizar a PM, seja lá o que isso signifique, Dilma prefere apelar aos homens de verde.
Na tal reunião com empresários, a presidente disse que ofereceu tropas aos 12 Estados que sediarão jogos da Copa. Advertida para o risco de baderna, a exemplo do que se viu na Copa das Confederações, a presidente afirmou: “O que está em jogo é a imagem do país, não vou permitir que se repitam as cenas de violência da Copa das Confederações”. É? Não vai permitir como? Pretende fazer o quê? Ela já combinou com Gilberto Carvalho? Seu governo não conseguiu nem sequer votar uma lei que agrave a pena de quem põe em risco a segurança coletiva. A presidente que diz que não vai aceitar a violência recebeu em palácio militantes do MST que haviam ferido no dia anterior 30 PMs na Praça dos Três Poderes. Em São Paulo, chamou para um papinho os contumazes invasores de bens públicos e privados do MTST. Quem estimula a bagunça é o Palácio do Planalto.
Mas, ora vejam!, vai sobrar para o PVO mais uma vez,  O Partido Verde-Oliva, ao qual agora apelam os vermelhos.
A presidente assegurou ainda que não vai deixar que manifestantes “encostem o dedo” em delegações estrangeiras. Que bom! Falta agora que o governo federal demonstre intolerância com aqueles que encostam o dedo, sem autorização, também nos brasileiros, não é mesmo? A soberana acha “gravíssimo”, apelando a palavra sua, que se faça política com a Copa.
É mesmo? E o que tem feito o governo petista desde que ficou decidido que a disputa ocorreria no Brasil? E todas aquelas propagandas ufanistas, inclusive das estatais, exaltando o torneio como se fosse mais um feito heroico do petismo? Já que estamos no terreno militar, cumpre apelar a um clichê bem apropriado: o tiro saiu pela culatra, não é?
E, quando tudo dana, cumpre, então, convocar o Partido Verde-Oliva.
Reinaldo Azevedo - 28/5/2012

terça-feira, 27 de maio de 2014

Os Valores dos Brasileiros

Num Brasil conturbado como o atual, só a sua população, majoritariamente bem-intencionada, pode assegurar o melhor para a Copa e para o futuro do país.

A proximidade da Copa tem intensificado nos países com seleções inscritas para o certame a disseminação de recomendações para turistas que acompanharão os jogos nem sempre coerentes com a realidade. O Brasil tem, sim, dificuldade de cumprir prazos de obras, carências sérias de infraestrutura, criminalidade desenfreada, desigualdade social e doenças que já deveriam estar há muito sob controle, além de enfrentar a insatisfação de parcela da sociedade com os gastos impostos pelo certame. O país costuma também ser visto preconceituosamente no Exterior como paraíso sexual. Assim como ocorre com a população de qualquer país, porém, os brasileiros têm suas peculiaridades, mas não merecem ser julgados pelos estereótipos, muito menos pelos erros de seus governantes.

Entre as características indissociáveis da população, está a de saber aproveitar bem seus momentos de lazer, além da paixão pelo Carnaval e pelo futebol. Ainda assim, a imagem do brasileiro está longe de corresponder à de alguém deitado na rede, como expôs recentemente uma publicação britânica. E, se a produtividade dos trabalhadores deixa mesmo a desejar, essa é uma questão que não se deve a razões culturais. Os brasileiros têm uma jornada oficial de trabalho superior à de muitas potências europeias – e não poderia ser diferente numa economia que precisa gerar o suficiente para fazer o país avançar. Durante as recentes greves no transporte coletivo, trabalhadores reafirmaram que nem mesmo sem condução se resignam a faltar ao serviço.

Se há problemas de produtividade, é porque ainda falta à mão de obra brasileira, de maneira geral, mais tempo de escola, por conta de descasos históricos de governantes com a educação. A imensa maioria dos brasileiros não desiste também de trabalhar, mesmo arcando com uma carga de impostos entre as maiores do mundo, sem uma adequada contrapartida em serviços públicos eficientes. Neste ano, os brasileiros precisarão trabalhar 151 dias – até 31 de maio, antevéspera da Copa –, só para pagar impostos, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).


A Copa não deve ser usada para enaltecer o país e sua população de forma ufanista e idealizada, ignorando suas mazelas. Constitui-se, porém, numa oportunidade para os brasileiros exibirem suas qualidades, que são muitas. Uma delas é a de que é um povo trabalhador e cumpridor de seus deveres. Num Brasil conturbado como o atual, só a sua população, majoritariamente bem-intencionada, pode assegurar o melhor para a Copa e para o futuro do país. Os ganhos serão maiores com políticas continuadas de educação, independentemente de quem estiver no governo.

Editorial - Zero Hora, Porto Alegre - 26/5/2014

Histórias feias da Petrobrás

O Estado de S.Paulo
Os estragos já conhecidos são enormes, mas só com mais contas e mais informações será possível avaliar com precisão os danos causados à Petrobrás, maior empresa brasileira, pelo aparelhamento de sua direção, pelo relaxamento dos controles, pelo populismo e pelos interesses pessoais e partidários encastelados a partir de 2003 no Palácio do Planalto. Erros políticos e administrativos levaram a desperdícios multibilionários, como no projeto da Refinaria Abreu e Lima, à perda de foco, à redução do fluxo de caixa, à elevação de custos, à insuficiência de investimentos e à queda de produção.
É preciso levar esses fatores em conta para entender o aumento das importações de combustíveis, estimadas neste ano em US$ 18,8 bilhões - 4,5% mais que no ano passado -, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Ou para entender os efeitos financeiros dos subsídios ao consumo interno de derivados de petróleo - no caso do gás de cozinha, uma perda de R$ 10,5 bilhões entre janeiro de 2011 e o primeiro trimestre deste ano, também de acordo com os cálculos do CBIE, dirigido pelo especialista Adriano Pires.
O aumento dos gastos com a importação, 24,5%, será necessário para a empresa atender a um consumo 4% maior que o do ano passado. A Petrobrás poderá aumentar seu faturamento e melhorar suas condições financeiras, em 2014, se produzir 7,5% mais que no ano passado. Mas, se essa meta for alcançada, a produção apenas voltará ao nível de 2011, de cerca de 2 milhões de barris por dia, segundo comentário de Adriano Pires citado pelo Globo. Esses números indicam um duplo fracasso.
Em 2006, fantasiado com o uniforme laranja do pessoal da Petrobrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou o Brasil autossuficiente em petróleo e "dono de seu nariz" (este último detalhe evidencia uma visão primária da economia e do comércio internacional). Oito anos depois, o País continua dependente de importações. Isso poderia ter ocorrido simplesmente por incapacidade de acompanhar o aumento do consumo. Mas a história é mais feia: a produção diminuiu. Este é o segundo fracasso, explicável pelo investimento insuficiente e mal planejado.
Enquanto se preparava para a exploração das reservas do pré-sal, a empresa perdia capacidade produtiva. Preparava-se mal, é preciso lembrar, porque o modelo irracional concebido pelo governo impõe à empresa uma participação extremamente custosa nas licitações. Isso tanto afeta a capacidade financeira da Petrobrás quanto limita a mobilização de grupos privados para a exploração das novas áreas.
As perdas com o subsídio ao consumo de gás de cozinha também foram estimadas pelo CBIE. A estimativa é parcial, porque o governo, desde 2003, tem obrigado a empresa a manter os preços defasados.
Só na gestão da presidente Dilma Rousseff o subsídio cortou R$ 10,5 bilhões do faturamento da empresa. O custo desse tipo de política é muito maior, no entanto, porque também o preço da gasolina é controlado politicamente. Em vez de combater a inflação, o governo tenta administrar os índices por meio do controle de preços e tarifas. Essa política tem afetado também as tarifas de transporte coletivo e de energia elétrica, provocando distorções na demanda e gerando enormes custos fiscais.
A controles indevidos, como o de preços, é preciso somar os descontroles administrativos. Segundo um relatório de 2009 elaborado por um grupo de auditoria interna da Petrobrás, a área de abastecimento comprometeu milhões em contratos de fretes sem atender aos padrões mínimos em vigor na empresa.
De acordo com o relatório, no ano anterior contratos informais envolveram despesas de US$ 278 milhões, noticiou a Folha de S.Paulo. Esta é mais uma informação sobre os padrões administrativos do ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa, preso por envolvimento em operações do doleiro Alberto Youssef e libertado na semana passada por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. É mais uma informação, também, sobre como um estilo de governo vem consumindo há anos a saúde da maior empresa brasileira.
Fonte: O Estadão - 27/5/2014

Chuteiras sem pátria


Somos hoje uma nação de humilhados e ofendidos, debaixo da chuva de mentiras políticas, violência e crimes sem punição. Descobrimos que o País é dominado por ladrões de galinha, por batedores de carteira e traficantes. E mais grave: a solidariedade natural, quase 'instintiva', das pessoas está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo. Garotos decapitam outros numa prisão, ônibus são queimados por nada, meninas em fogo, presos massacrados, crianças assassinadas por pais e mães, uma revolta sem rumo, um rancor geral contra tudo. Repito: estamos vivendo uma mutação histórica.
Há uma africanização de nossa desgraça, com o perigo de ser irreversível. E não era assim - sempre vivemos o suspense e a esperança de que algo ia mudar para melhor.
Isso parece ter acabado. É possível que tenhamos caído de um 'terceiro mundo' para um "quarto mundo". O quarto mundo é a paralisação das possibilidades. Quem vai resolver o drama brasileiro? As informações criam apenas perplexidade e medo, mas como agir? Não há uma ideologia que dê conta do recado.
O mais claro sinal de que vivemos uma mutação histórica é esta Copa do Medo. Há o suspense de saber se haverá um vexame internacional que já nos ameaça. Será péssimo para tudo, para economia, transações políticas, se ficar visível com clareza sinistra nossa incompetência endêmica, secular. Nunca pensei em ver isso. O amor pelo futebol parecia-me indestrutível. O governo pensava assim também, com o luxo dos gastos para o grande circo. E as placas nas ruas se sucedem: "Abaixo a Copa!". "Queremos uma vida padrão Fifa!"
Como vão jogar nossos craques? Com que cabeça? Será possível ganharmos com este baixo astral, com a gritaria de manifestantes invadindo os estádios? Haverá espírito esportivo que apague essa tristeza?
Antes, nas copas do mundo, éramos a pátria de chuteiras. Hoje, somos chuteiras sem pátria.
Arnaldo Jabor - Estadão - 27/5/2010
Texto completo aqui.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Com os "feriados", gastança da Copa aumenta 60 Bilhões de reais.

BRANCA NUNES
O R$ 1,7 bilhão que transformou a Arena Mané Garrincha, em Brasília, num dos estádios mais caros do mundo, ou a bolada de R$ 1,7 milhão consumida no puxadinho construído para fingir por 90 dias que o aeroporto de Fortaleza ficou maior, vão parecer “dinheiro de pinga” – expressão cada vez mais comum entre os figurões federais – perto dos prejuízos decorrentes dos feriados impostos pela conjugação da inépcia do governo com as correrias da Copa prestes a começar. O país deixará de produzir pelo menos R$ 60 bilhões nos dias em que terá de parar porque é incapaz de mover-se normalmente quando a Seleção Brasileira entra em campo.
A conta é tão simples que até Guido Mantega pode entender. Graças aos oito feriados de verdade que caíram ou cairão no meio da semana, 2014 terá um calendário de 244 dias úteis. Baseado no PIB de 2013 (R$ 4,8 trilhões), André Perfeito, economista chefe da corretora Gradual Investimentos, calcula que a perda por dia parado seja de R$ 19,7 bilhões.
Só na primeira fase da Copa, a seleção de Luiz Felipe Scolari vai paralisar o país três vezes. Embora o governo federal tenha feito de conta que não haverá feriados nacionais, feriados informais já foram programados por escolas, fábricas, empresas e órgãos públicos. Todos avisaram que, se não estiverem fechados o dia inteiro, depois do meio-dia até creches e pré-escolas onde os alunos mal aprenderam a falar gol, deixarão de funcionar.
Os argumentos para justificar as interrupções das atividades vão desde questões logísticas com transporte até preocupações com segurança por causa de possíveis manifestações. Mas todas essas hipóteses convergem para mascarar a verdade solar: a inépcia do poder público não permitiu que o Brasil cumprisse o que prometeu. E a decretação desses “feriados” é a prova contundente de que as obras de mobilidade urbana não foram feitas. O país precisa parar pela simples razão de que não tem condições de andar.
As contas feitas por André Perfeito indicam que nem mesmo as horas extras programadas por algumas empresas ou os possíveis lucros do comércio varejista com a venda de aparelhos de televisão ou geladeiras, conseguirão compensar o tempo perdido. O aumento de 30% nas vendas do comércio popular, esperado pelos comerciantes da Rua 25 de Março, em São Paulo, também serão infinitamente menores do que os ganhos que o país poderia ter com o Mundial.
“Não é exatamente a Copa que faz crescer um país”, explica Perfeito, baseando-se num estudo feito com os países que sediaram os jogos nos últimos 30 anos. “O campeonato permite principalmente melhorar gargalos de infraestrutura, forçar o poder público a investir em determinadas áreas e gerar um potencial de crescimento para os anos seguintes. Este definitivamente não foi o caso do Brasil”.
Se depender dos esforços do governo, nem o turismo será alavancado da maneira como poderia. Além de ser um fato que os turistas brasileiros continuarão a gastar mais nas viagens ao exterior, os estrangeiros têm cada vez menos motivos para desembarcar por aqui. Numa de suas últimas entrevistas, Aldo Rebelo, ministro do Esporte, usou um argumento no mínimo esdrúxulo para tentar atrair para o país os visitantes preocupados com a violência: “Não creio que o Brasil vá trazer mais riscos para os ingleses do que o risco que eles enfrentaram nas províncias iraquianas, nas guerras que praticaram recentemente”.
Se o Brasil tem muito o que lamentar, Joseph Blatter e outros dirigentes da Fifa estão rindo à toa. Uma reportagem publicada no Estadão desta quinta-feira mostrou que a renda da entidade com a Copa no Brasil ultrapassará a marca de US$ 4 bilhões, mais de US$ 800 milhões do que faturou na África do Sul em 2010.
Também nesta quinta, números publicados na Folha de S. Paulo mostram que os gastos e os empréstimos dos governos federal, estaduais e municipais com os jogos somam R$ 25,8 bilhões. O valor equivale, por exemplo, a um mês de gastos públicos com educação e ao triplo do que se planeja torrar na transposição do Rio São Francisco. Só com estádios foram R$ 8,5 bilhões, 36% a mais dos que os iniciais R$ 5,9 bilhões.
Em julho de 2010, o ex-presidente Lula disse, durante a Copa da África do Sul, que era “descabido alguém se preocupar com alguma coisa sobre a Copa de 2014″. “O Brasil vai investir em infraestrutura até 2014 o que não investiu em 30 anos”, delirou o palanque ambulante. “Se com tudo isso o Brasil não tiver condições de realizar uma Copa, volto ao país a nado”. Pouco depois, Lula voltou ao país. De avião.
A menos de 20 dias do início dos jogos, não há dúvida: vai ter Copa. Também está fora de dúvida que o que foi planejado para ser o grande acontecimento esportivo-eleitoreiro para 2014 não passará de um fiasco político-econômico.

Perdendo as estribeiras?

O Estado de S.Paulo
Para quem vive no Brasil, não é propriamente uma novidade, mas a recente fala de Lula, classificando como "babaquice" o desejo popular de que os estádios de futebol tenham boa conexão com o transporte público - discursava naturalmente para uma plateia condescendente -, traz um dado novo ao atual contexto político. Demonstra que com certo atraso ele entendeu as pesquisas de opinião de abril. Percebeu o problema que tem pela frente e está desnorteado, falando a coisa errada na hora errada.
A pesquisa do Ibope do mês passado apontava, por exemplo, que 68% dos entrevistados tinham a expectativa de que se modifique a forma de governar o País e 64% diziam que preferiam essa mudança com "outro presidente". Lula entendeu o recado: Dilma precisa desesperadamente dele. Mas não é apenas isso o que está fazendo Lula perder as estribeiras; o problema é mais profundo.
A situação atual é muito diversa da de 2010. Há quatro anos, tratava-se de criar uma personagem a partir do zero. Agora, ele precisa recriar uma candidata com enorme passivo político, que não poupou esforços em desmentir a imagem de gerente competente.
Dilma não pode culpar as circunstâncias, internas ou externas, pelo seu pífio governo. Teve maioria no Congresso e, por bom tempo, altos índices de popularidade, a economia internacional melhorou, a arrecadação interna aumentou. E ainda recebeu um generoso dote do padrinho político: a realização da Copa do Mundo no seu governo. Quem poderia imaginar melhor cenário do que esse para a mãe do PAC atuar e deixar patente ao mundo inteiro a sua competência?
Mas a companheira Dilma, tão obediente nos tempos de juventude, insistiu na incompetência e em incompetentes, manifestando uma incrível capacidade de transformar oportunidades em problemas. A Copa do Mundo é o exemplo mais evidente dessa sua "qualidade".
Há motivos para acender a luz vermelha no painel político de Lula. Os dois presidentes anteriores reelegeram-se. Agora, quando era a vez de Dilma, a imprevisibilidade é consenso, e Lula precisa entrar novamente em cena, para recriar a candidata. Isso não significa que está afastada a possibilidade de ele concorrer. Se alguma coisa o recente doutor honoris causa por Salamanca ensinou-nos durante os últimos anos é a de que não se deve ouvi-lo literalmente. Até a Convenção Nacional do PT, em junho, tudo pode acontecer.
O destempero da fala de Lula sobre a expectativa do brasileiro em relação aos serviços públicos evidencia também que ele captou a mensagem das manifestações de junho. Embora não tenha se dirigido diretamente contra o ex-presidente petista, a voz das ruas protestou contra a situação, e ninguém mais do que ele é responsável pelo que está aí. Os onze anos de governo do PT deixam uma herança maldita não apenas na economia e nos serviços públicos, mas de retrocesso político (que é a outra face da moeda do populismo), administrativo (não é novidade que Pasadena é apenas a ponta do iceberg) e institucional (a começar pelas agências reguladoras).
Mas será que isso é suficiente para que Lula ande dizendo o que está dizendo? Não é novidade que ele fale coisas sem muito nexo. Tem a rara capacidade que Andy Hertzfeld, um dos pais do Macintosh, atribuiu certa vez a Steve Jobs: a de criar um campo de distorção da realidade, posteriormente definida como a habilidade de acreditar e fazer acreditar em quase tudo, pelo carisma, exagero e marketing persistente, distorcendo o sentido coletivo de proporção e dimensão.
No entanto, Lula não está apenas falando coisas sem nexo. A sua própria bússola política está desorientada: enfrenta ele legítimas aspirações populares com uma arrogância típica da sua sucessora? Talvez seja um sintoma de que tenha compreendido o seu verdadeiro problema político. Gaba-se de eleger qualquer poste, mas agora - e aqui está o seu calcanhar de aquiles - ele não pode escolher o poste. Já foi escolhido há quatro anos, noutro cenário político. Certamente, a companheira Dilma, combalida por sua própria incompetência, não seria a sua atual opção. É uma das consequências de ser governo, que ele parece não ter aprendido: os seus atos geram responsabilidade. Mas essa palavra ainda não está no seu dicionário.
Editorial do "O Estado de São Paulo"- 24/05/2014

Um conto de dois partidos

Por Demétrio Magnoli

Vermelho ou azul? PT ou PSDB? O PT controla o governo federal há quase 12 anos; o PSDB o controlou durante os oito anos anteriores. Lula e FH polarizam paixões políticas conflitantes. Não por acaso, a análise política convencional, refratada pela imprensa e nas redes sociais, costuma retratar o sistema político brasileiro à luz do modelo bipartidário.

A série histórica de pesquisas do Ibope evidencia que esse modelo chegou a funcionar como uma simplificação razoável ao longo dos mandatos de FH, mas se tornou completamente inadequado desde a ascensão de Lula ao Palácio do Planalto. Hoje, só existe um grande partido nacional, que é o PT. Entretanto, o partido dominante ingressou numa nítida, talvez irreversível, trajetória de declínio.

Uma pesquisa realizada em 1988, nos meses derradeiros da Assembleia Constituinte, revelou que o PSDB tinha a preferência de quase 25% dos eleitores, enquanto o PT contava com apenas 12%. Contudo, os dois partidos percorriam trajetórias históricas inversas: em 1995, no início do primeiro governo FH, o PT assumiu a dianteira com 22% das preferências, e, em 1999, menos de um ano após a reeleição, a disputa estava igualada, com 18% para cada um. Três anos mais tarde, durante a campanha que conduziria Lula à Presidência e impulsionado pelas crises do segundo mandato tucano, o PT atingiu o seu apogeu, convertendo-se no partido de 34% do eleitorado.

Três governos petistas sucessivos inverteram o sentido da trajetória. A última pesquisa da série, realizada em março, mostrou o PT de volta a 1995: são 21% os que, hoje, preferem o partido. Contudo, o retorno às taxas de duas décadas atrás é uma ilusão estatística. A base eleitoral petista sofreu mudanças dramáticas no plano etário. No período 1995-2002, tempos de oposição a FH, os jovens com até 24 anos representavam 27% dos eleitores do partido, mais que os 25% de eleitores com mais de 40 anos. Hoje, em contraste, entre os que declaram voto no PT, apenas 17% são jovens, enquanto 38% têm mais de 45 anos.

A distribuição etária do eleitorado petista é um espelho bastante fiel da pirâmide etária brasileira. De um lado, isso atesta o enraizamento social do partido, que é um traço marcante na paisagem política do país. De outro, indica que o PT não mais se identifica com a aspiração de mudança. O partido de Lula converteu-se em pilar da ordem — ou melhor, da “velha ordem’’. Sua mais recente peça de propaganda tenta atemorizar os espectadores contrapondo o presente (supostamente estável e próspero) ao passado (supostamente desastroso). A renúncia ao discurso sobre o futuro, mesmo se justificado pelas circunstâncias perigosas que cercam a campanha de reeleição de Dilma, atesta o encerramento de um ciclo. No fim, o medo derrotou a esperança.

A base eleitoral petista também se deslocou regionalmente. Em 1995, o Sudeste concentrava mais da metade do eleitorado do partido e o Nordeste, apenas 24%. Hoje, são 43% e 32%. No Sul, estão apenas 9% dos que declaram voto no PT. O partido de Lula nasceu em São Paulo e se consolidou com os triunfos eleitorais de Luiza Erundina, na capital paulista, e de Olívio Dutra, em Porto Alegre, ambos em 1988.

Na última década, a preferência pelo partido tornou-se mais rarefeita na heterogênea classe média do Centro-Sul, que abrange os trabalhadores qualificados. Ao mesmo tempo, expandiu-se no Nordeste, região mais dependente das transferências de recursos do governo federal, sob o influxo tanto dos aumentos reais no salário mínimo e nas aposentadorias quanto no Bolsa Família. A relativa “nordestinização” do PT não indica força: eleitoralmente, o partido depende cada vez mais do controle da máquina de Estado.

O declínio petista não foi replicado por uma recuperação dos tucanos. Ao contrário do que sugeriria o modelo bipartidário, a curva histórica declinante do PSDB acentuou-se ao longo dos governos petistas. Dos 18% do eleitorado de 1999, o partido de FH recuou para 14%, em 2001, e 8%, em 2006, quando foi ultrapassado pelo PMDB, até atingir a melancólica marca dos atuais 5%. Em contraste com o PT, os tucanos fracassaram no imperativo de formular uma narrativa política oposicionista — um fracasso, aliás, patente durante as campanhas presidenciais de Geraldo Alckmin e José Serra. O eleitorado que debandou do PT não rumou para a esquerda, como atesta a crônica fraqueza do PSOL, mas dispersou-se e, em parte, dirigiu-se para a utopia gelatinosa de Marina Silva. Já o PSDB parece ter perdido simpatizantes para todos os demais partidos — e, em especial, para a aversão profunda ao sistema político-partidário tão bem exposta durante as “jornadas de junho” do ano passado.

O panorama político não pode ser descrito nos termos do modelo bipartidário, mas exibe notável polarização. O Brasil tem um único grande partido nacional, mas também uma disseminada resistência à hegemonia petista. FH se elegeu e se reelegeu no primeiro turno. Lula só carimbou a reeleição no segundo turno e Dilma, igualmente, precisou dele — apesar, nos dois casos, das conjunturas econômicas favoráveis que impulsionavam as candidaturas governistas e da notória ausência de um discurso oposicionista coerente. O projeto continuísta de Dilma enfrenta o desafio da reversão do ciclo econômico, mas, ainda assim, pode ter sucesso, pois o PSDB carrega o fardo da reiterada incompetência de fazer oposição.

As sondagens eleitorais descortinam um cenário atravessado pela aspiração de mudança. Diferentemente de 2006 e 2010, a derrota do governo seria um resultado mais normal que a vitória nas eleições que se avizinham. Contudo, um triunfo tucano depende crucialmente da capacidade de Aécio Neves produzir uma pequena mágica: o candidato precisaria conectar-se com as ruas, dizendo em poucos meses aquilo que seu partido não disse em tantos anos. Na TV, o PT acaba de desafiá-lo a fazer isso.


Demétrio Magnoli é sociólogo. Originalmente publicado em O Globo em 22 de maio de 2014.

sábado, 24 de maio de 2014

Esses babacas do metrô



Fernando gabeira

PUBLICADO EM 23.05.2014
Houve um tempo em que esperávamos a Lua entrar na sétima casa, Júpiter se alinhar com Marte e a paz reinar no planeta. Era a aurora da era de Aquarius. Aquarius, Aquarius. As mulheres arrancando os sutiãs, os homens com calça boca de sino, cavalos da polícia dançando, tudo porque a Lua tinha, finalmente, entrado na sétima casa.
Nossas esperanças hoje são mais prosaicas. Em vez de Júpiter se alinhar com Marte, contemplamos o alinhamento da Copa do Mundo com as eleições no Brasil. E os nervos estão mais sensíveis. Na cúpula, governo e Fifa se estranham. Para Jérôme Valcke, o contato com as autoridades brasileiras foi um inferno. Para Dilma Rousseff, Valcke e Joseph Blatter são um peso.
É o tipo de divórcio que não se resolve com as cartomantes que trazem de volta a pessoa amada em três dias. Eles se distanciam num mero movimento defensivo. Quem será o culpado se as coisas não derem certo?
Dilma, com a Copa das Copas, quer enfrentar a eleição das eleições e põe toda a sua esperança nos pés dos atletas. A Fifa não gostaria de entrar numa gelada no Brasil, mesmo porque o Qatar a espera com calor de 52 graus. Seriam dois fracassos seguidos, pois Blatter já admitiu que o Qatar foi um erro.
Essa conjunção histórica está levando a uma certa irritação da cúpula conosco, que não inventamos essa história. Blatter declarou que os brasileiros precisavam trabalhar mais porque as promessas de Lula não foram cumpridas. Nada mais equivocado do que essa visão colonial. Se Blatter caísse no Brasil e vivesse nossa vida cotidiana, constataria que trabalhamos muito mais que ele mesmo, um cartola internacional. Desde quando o objetivo do nosso trabalho é cumprir as promessas de Lula?
A tática de Lula é diferente da de Blatter. Lula não critica nossa insuficiência no trabalho, mas nossas aspirações de Primeiro Mundo. Ele, que vive espantando o complexo de vira-latas, apossando-se politicamente de uma frase de Nelson Rodrigues, nos convida agora a reviver o espírito que tanto condena: “Querer vir de metrô ao estádio é uma babaquice. Viremos a pé, de jumento…”. Para Blatter, precisamos trabalhar mais; para Lula, desejar menos. Só assim nos transfiguramos na plateia perfeita para o espetáculo milionário.
Lula começou sua carreira falando em aspirações dos mais pobres, hoje prega o conformismo. Não é por acaso que o PT faz anúncios inspirados no medo de o adversário vencer as eleições. Não há mais esperança, apenas um apego desesperado aos carguinhos, à estrutura do Estado, aos grandes negócios.
No passado exibi um filme em que Lula e Sérgio Cabral dialogam com um garoto do Complexo da Maré. Eles entram em discussão, Cabral ofende o jovem e Lula diz ao garoto que gostava de jogar tênis: “Tênis é um esporte de burguês”. Na cabeça de Lula, o menino tinha de se dedicar ao futebol. Outras modalidades seriam reservadas aos ricos. Se pudesse livrar-se de seus aspones e andar um pouco até a Baixada Fluminense, veria um campo de golfe em Japeri onde atuam dezenas de garotos pobres da região. Dali saem alguns dos melhores jogadores de golfe do Brasil.
Lá por cima, pela cúpula, muito nervosismo, uma certa impaciência com um povo que não se ajusta ao espetáculo. Estão mais ansiosos que os próprios jogadores para que o juiz dê o apito inicial. Nesse momento, acreditam, o Brasil cai num clima de festa. Com a vitória da seleção o Brasil entraria num alto-astral e os carguinhos, os grandes negócios, tudo ficaria como antes.
Li nos jornais algumas alusões à Copa de 70, a que assisti na Argélia. De fato, o PT vai se agarrar à seleção como o governo Médici o fez naquela época.
Mas já se passaram tantos anos, o Brasil mudou tanto, e o alinhamento das eleições com a Copa, organizada pelo País, tudo isso traz novidades que a experiência de 1970 não abarca.
Estamos entrando num momento inédito. Dilma é vaiada em quase todo lugar por onde passa. Lula está visivelmente ressentido com o povo, que não o celebra pela realização da Copa; que é babaca a ponto de desejar ir de metrô ao estádio.
Não importa qual deles venha. “Que vengan los toros”, como dizem os espanhóis. Não importa quantos gols nosso ataque faça – e espero que sejam muitos -, a glória do futebol não obscurece mais nossas misérias políticas e sociais. Se os idealizadores da Copa no Brasil fizessem uma rápida pesquisa, veriam que o sonho de projetar a imagem de um país pujante e pacífico está ardendo nas fogueiras das ruas, na violência das torcidas, no caos cotidiano nas metrópoles, nos relatos sobre a sujeira da Baía de Guanabara.
O governo do PT e aliados não poderá esconder-se atrás do futebol, porque eles já foram descobertos antes de a Copa começar. A Copa do Mundo não sufoca as denúncias de corrupção porque a própria Copa está imersa nela. A Fifa, com Jérôme Valcke sendo acusado de venda irregular de jogadores, não ajuda. Até o técnico Felipão caiu nas redes do fisco português.
O sonho de uma plateia ideal para a Copa, milhares de pessoas com bandeirinhas, de um eleitorado ideal que vota sempre nos mesmos picaretas, de torcedores ideais que vão a pé ou de jumento para estádios bilionários, esse sonho entra em jogo também. Assim como aquele de projetar a imagem positiva do Brasil, o sonho de uma plateia ideal para a Copa foi por terra. Nem todos cantam abraçados diante das câmeras.
Começou um jogo delicado em que a Copa do Mundo é apenas uma etapa. Valcke vai viver o inferno nos 52 graus do Qatar e Dilma enfrentará a eleição das eleições, a qual precisa vencer, mas não para de cair.
A Lua entrou na sétima casa e não veio o paraíso. As eleições se alinham com a Copa, como Júpiter e Marte, e o Brasil, num desses momentos de verdade decisivos para sair dessa maré. Se estão nervosos agora, imagino quando as coisas esquentarem.
Os babacas que querem ir ao estádio do metrô podem querer também um governo limpo, um combate real à corrupção, serviços públicos que funcionem.
Babacas, felizmente, são imprevisíveis.
Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo em 23/05/2014

Brasil começa a alcançar o primeiro mundo

Duzentos anos depois, o Brasil finalmente começa a tomar ares de primeiro mundo.

A conquista do oeste americano, iniciada em 1807 e concluída em 1912, deu margem a um festival de criminalidade e desordem que beirava ao caos. Só não atingiu este estágio com a criação dos Delegados Federais, denominados U.S. Marshals, a mais antiga força policial dos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, lançou os Estados Unidos para o topo, ultrapassando a Inglaterra e tornando-se a maior potência econômica do mundo.

A descontrolada conquista do oeste, caracterizada na luta contra os índios e nos filmes de faroeste, eram bem retratadas num programa de televisão chamado "Terça Sem Lei" e exibido todas as terças-feiras.

Parece que estamos chegando neste nível, o que me dá a esperança de que por volta do ano 2214, possamos ser, justificadamente, um país do primeiro mundo.

Se estou enganado, digam que isto que leio é fantasia:

Guilherme Boulos, o coxinha extremista, não quer nem saber: ou tudo ou sangue
Guilherme Boulos, aquele coxinha extremista, oriundo de família rica, mas que decidiu fazer a revolução em lugar dos pobres e se transformou no queridinho dos engajados, reuniu nesta quinta 15 mil pessoas, segundo a PM, num protesto na Zona Oeste de São Paulo em favor de moradia. Ele é o chefão do MTST, o dito Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Bloquearam avenidas, causaram um congestionamento dos diabos, infernizaram a vida das pessoas. Mas a imprensa diz que a manifestação foi “pacífica”. Por enquanto ao menos. Boulos já deixou claro que, se o poder público não ceder às suas chantagens, vai correr sangue.

A sua turma invadiu um terreno privado nas imediações do Itaquerão, nomeou a área de Copa do Povo e de lá ninguém sai, assegura o rapaz. Hoje haverá uma audiência pública para tratar do assunto. Ele ameaça: “Se a opção da construtora e dos governos for tratar a questão como caso de polícia e buscar garantir posse sem nada para as famílias, vai haver resistência. Se querem produzir uma Copa com sangue, essa é a oportunidade que eles têm”.

Por que esse rapaz fala assim, com esse desassombro? Porque o prefeito Fernando Haddad já subiu num caminhão de som do seu movimento para discursar. Porque a presidente Dilma Rousseff, hoje a chefe da baderna nacional, já o recebeu depois de ele liderar invasões. Agora ele se tornou personagem frequente do noticiário e chega a conceder entrevistas, na linha papo social-cabeça, para o encantamento da ignorância deslumbrada.

E depois alguns idiotas se espantam que motoristas de ônibus descontentes com um reajuste de salário promovam o caos da cidade. Ora, por que não? Se o Guilherme, da família Boulos, pode, por que o Severino, da família Silva, não pode? Todos estão cometendo crimes. A questão é saber por que algumas práticas criminosas causam indignação, e outras, encantamento.

Considero, sim, que a eventual reeleição de Dilma fará um mal gigantesco ao país. E, por isso, eu poderia estar a aplaudir, em razão, digamos, de afinidades e “desafinidades” eletivas, esses movimentos de protesto contra a Copa. Mas não aplaudo! Sempre achei essa conversa de “educação e hospital padrão Fifa” uma besteira, uma bobagem. O país gastou uma soma razoável com a Copa — e poderia tê-lo feito sem roubalheira —, mas é uma conta energúmena achar que esse dinheiro contribuiria para minorar de forma significativa a pobreza.

Não é verdade que o Brasil gaste pouco com a área social. Ao contrário! Caso gastasse um pouco menos e houvesse um pouco mais de investimentos, haveria menos pobres e a necessidade de gastar ainda menos na área social, o que liberaria mais para investimentos e resultaria em ainda menos pobres. Entenderam a lógica? Investir pouco e torrar muito em custeio é o caminho da reprodução da pobreza, não da riqueza. Mas vá tentar explicar isso a um esquerdista estúpido. Se estúpido não fosse, esquerdista não seria.

A Folha publica nesta sexta um pequeno e precioso texto, de Gustavo Patu, Dimmi Amora e Filipe Coutinho. Reproduzo um trecho em azul:
Mesmo mais altos hoje do que o previsto inicialmente, os investimentos para a Copa representam parcela diminuta dos orçamentos públicos. Alvos frequentes das manifestações de rua, os gastos e os empréstimos do governo federal, dos Estados e das prefeituras com a Copa somam R$ 25,8 bilhões, segundo as previsões oficiais. O valor equivale a, por exemplo, 9% das despesas públicas anuais em educação, de R$ 280 bilhões. Em outras palavras, é o suficiente para custear aproximadamente um mês de gastos públicos com a área. A comparação deve ser relativizada porque haverá retorno, no futuro, de financiamentos. O Corinthians, por exemplo, terá de devolver os recursos que custearam o Itaquerão. Além disso, os gastos da Copa começaram a ser feitos há sete anos — concentrados nos últimos três.

Retomo

Há, evidentemente, uma grande diferença entre gastar bastante na área social e gastar de forma adequada. Mas esse tipo de debate não viceja na demagogia. O país é hoje refém de grupelhos extremistas que os petistas, na sua, digamos, ânsia inclusiva, transformaram em interlocutores privilegiados. E com eles é assim: ou tudo ou sangue.

Reinaldo Azevedo - 23/5/2014.

É ou não é Terça Sem Lei?

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O país da impunidade segue firme em sua marcha para caos

O poderoso chefão, o homem acima de qualquer suspeita, estará prestes a ser investigado?

Com o STF dominado por marionetes, duvido muito.

Suspeita contra Sarney no caso do Banco Santos chega ao STF

Justiça Federal de SP encaminha ao Supremo pedido para investigar se Sarney recebeu informações privilegiadas do dono do banco, Edemar Cid Ferreira.


A Justiça Federal de São Paulo encaminhou nesta sexta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) documentos de uma investigação envolvendo o senador José Sarney (PMDB-AP), por suspeita de que tenha sido favorecido pelo dono do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira. O ministro José Dias Toffoli recebeu o inquérito e o encaminhou para análise do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.

Em fevereiro, o Ministério Público Federal em São Paulo apontou que há elementos suficientes para investigar se Sarney recebeu informações privilegiadas de Edemar Cid Ferreira, de quem é amigo há três décadas, para efetuar um saque no valor de 2 milhões de reais da conta que mantinha na instituição um dia antes de o Banco Central decretar a intervenção do Banco Santos. Como Sarney tem prerrogativa de foro, a investigação foi remetida ao STF.


A transação aconteceu em 2004. Na época, Sarney e Ferreira se encontraram em uma reunião não agendada na sala da Presidência do Senado pouco antes da intervenção imposta pelo BC. Ferreira foi condenado a 21 anos de prisão por crimes de gestão fraudulenta, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, mas recorreu e nunca cumpriu pena.

Fonte: Veja.com

Estado, pais e filhos: a era da inversão de valores

Dilma e Xuxa - uma ex-terrorista e uma ex-abusadora de menores.
Dupla perfeita.
Você sabe que os valores morais estão completamente invertidos quando uma mãe que faz um aborto só porque ainda não acha que é o momento ideal para ter filhos é vista como heroína das liberdades, o pai que expõe seu filho ainda garoto a todo tipo de mensagem hedonista e com apelo sexual é tratado como herói progressista, mas os pais que ousam dar uma palmada ou um beliscão no próprio filho são tratados como monstros e criminosos.

Eis o ideal progressista das esquerdas: um estado subsidiando todo tipo de aborto, banalizando a prática como se fosse simples método contraceptivo, escolas públicas distribuindo kit-gays com vídeos “ensinando” aos adolescentes que é o máximo gostar hoje de meninos, amanhã de meninas e depois de amanhã de ambos, funk com letras chulas denegrindo as mulheres tocando no lugar do hino nacional, e o estado entrando em nossas casas para prender os pais que deram uma palmada no filho.

Dá vontade de gritar: pára o mundo que eu quero descer! Pessoas sem nenhum histórico de decência moral muitas vezes estão por trás desses movimentos e projetos. Vide o caso da apresentadora Xuxa. Será que ela pode se vangloriar de seu passado no que diz respeito às crianças? Xuxa foi um bom exemplo de ensinamento moral? Alguém que chegou a fazer um filme erótico com um adolescente? Ou que apresentava seu programa infantil com roupas minúsculas?

Já comentei o caso aqui, e volto a ele uma vez mais, pois é da maior seriedade. As esquerdas querem estimular o sexo cada vez mais precoce, acham cool os pais que levam adolescentes para bailes funks, banalizam o aborto, mas se mostram chocadas com uma palmada? É sério isso? Ou é o sinal dos tempos, uma completa inversão de valores que pretende destruir os pilares familiares da sociedade?

Abaixo, mais um texto antigo meu sobre o assunto, quando passou pela primeira vez pela CCJ o projeto sobre as palmadas. Reparem de quem é a autoria: aquela que defende os “direitos humanos”, só quando tem bandido da pior espécie envolvido. Socorro!

Xuxa "educando" a molecada no passado.
Foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara o Projeto de Lei 2654/2003, de autoria de Maria do Rosário, do PT/RS. Trata-se da proibição do uso de reprimendas físicas adotadas por pais na educação de seus filhos, tais como palmadas, beliscões ou puxões de orelha. O projeto segue para votação no Senado, e caso aprovado, os pais que praticarem tais castigos estarão sujeitos a punições, desde programas de proteção à família até tratamento psicológico e cursos de orientação. Mais um caso absurdo de interferência estatal na esfera privada.

Vejo, estarrecido, alguns debates sobre o tema, todos focando na questão da eficácia ou não de tais castigos impostos aos filhos. Na minha opinião, isso sequer vem ao caso. Eu, particularmente, não sou adepto da prática de uso da força física com os filhos, e nunca bati na minha filha, assim como espero nunca me ver na suposta necessidade de tal ato. Mas jamais defenderia a perda de tal direito por parte de pais que pensem diferente. A educação dos filhos é, senão a maior, uma das maiores prioridades dos pais. Diz respeito ao foro íntimo familiar, e excetuando-se casos extremos de verdadeira violência contra a criança, o Estado não deveria dizer como os pais devem educar seus filhos.

A mentalidade paternalista por trás disso parte da premissa de que os pais são perfeitos idiotas, e que “iluminados” burocratas sabem melhor como as crianças devem ser educadas. Com certeza, observando a postura da petista que propôs tal projeto, penso bem diferente, e vejo sua educação como um grande fracasso. Com certeza faltaram uns bons puxões de orelha. Ela pode até ser bem intencionada, mas de boas intenções o inferno está cheio!

Há um enorme ranço coletivista neste projeto, suprimindo totalmente a liberdade individual. É como se homens fossem cupins, e uns poucos “sábios” decidissem como o resto do grupo deve viver. Esparta era um exemplo deste modelo, que delegava ao Estado os cuidados das crianças, desde cedo educadas no rigor militar para o “bem geral”. Atenas ia por uma linha bem diferente. O tempo mostrou qual o melhor modelo.

Os comunistas sempre pregaram esse coletivismo também, partindo do pressuposto que indivíduos são nada mais que meios para fins maiores, ligados ao bem-estar do grupo. Skinner, por exemplo, um maoísta, escreveu na década de 70 que as pessoas deveriam ser recompensadas por comer em grandes refeitórios comunitários em vez de comer em casa com a família, para economizar recursos. Outros socialistas já defenderam a idéia de separar pais e filhos, para estes serem “educados” pelo Estado. Os kibutzim israelenses tentaram adotar políticas de se criar as crianças separadas dos pais também, mas abandonaram-nas. A União Soviética e China forçaram “coletivizações”, considerando que os indivíduos são insignificantes perante o “interesse” da comunidade, que na prática é sempre o interesse de alguns indivíduos.


Esse lamentável projeto de lei é um passo nessa direção assustadora, onde os pais perdem até mesmo o direito de educarem, da melhor forma que acreditam, os seus próprios filhos. Desse jeito, é bem capaz que no futuro tenhamos uma proliferação maior ainda da mediocridade. Assim, seu filho, educado pelo Estado, poderá ser apenas mais um deputado petista, propondo novos projetos onde os pais perdem mais e mais direitos sobre a educação dos filhos. Triste destino este. Nada me apavora mais que isso quando penso na minha filha…

Rodrigo Constantino - O Estadão - 23/5/2014

Polícia Federal acha comprovantes de pagamento de doleiro a Collor


A Polícia Federal encontrou, durante as operações de busca e apreensão no escritório do doleiro Alberto Youssef, oito comprovantes de depósitos bancários em nome do senador Fernando Collor de Mello (PTB -AL). Os depósitos teriam sido feitos no intervalo de três dias, em maio de 2013, e somam R$ 50 mil.

A descoberta da PF é citada em ofício do juiz federal Sergio Moro, do Paraná, remetido ao Supremo Tribunal Federal para explicar a sua atuação no processo decorrente da Operação Lava Jato.

O juiz afirma que os agentes da PF localizaram oito diferentes comprovantes bancários em valores de R$ 1.500, R$ 4000, R$ 8000 e R$ 9000, realizados entre os dias 2 e 5 de maio de 2013. De acordo com o documento, publicado na tarde desta quinta-feira, 22, o material apreendido pela Polícia Federal foi encontrado "fortuitamente" durante a busca e apreensão no escritório do doleiro Alberto Youssef, acusado de comandar uma organização criminosa que movimentou mais de R$ 10 bilhões em recursos públicos.


"Tal prova e eventual relação entre o suposto doleiro e o referido Senador era absolutamente desconhecida deste Juízo, tendo sido encontrada fortuitamente durante a busca e apreensão", avalia o juiz Sergio Moro, no ofício.

O Estadão - 23/5/2014
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