Mais do
que impeachment ou novas eleições, a reforma que o Brasil mais precisa é
instituir a meritocracia
O
recente balanço do desastre da Petrobras é a prova contábil e irrefutável de
uma triste verdade brasileira: a incompetência, a má gestão ou a simples
estupidez, mesmo movidas pelas melhores intenções, dão mais prejuízos do que o
roubo e a corrupção. Na devastação da Petrobras, a burrice irresponsável venceu
a esperteza criminosa por 41 a 6 bilhões de reais. O que é o rombo da corrupção
perto dos prejuízos que os não ladrões despreparados e incompetentes, e os que
os nomearam, deram à empresa?
É o
resultado de uma política de ocupação de cargos de alta importância e
responsabilidade por quem tem como única credencial a lealdade ao partido ou a
militância sindical.
Assim como
na ditadura esses cargos eram ocupados por militares, que nada entendiam
daquelas atividades, mas tinham a confiança de seus superiores de que não
roubariam e não abrigariam inimigos da revolução, Lula deu a mesma função e
prestigio aos sindicalistas.
O que um
bancário sindicalista que luta por aumentos, participações nos lucros, hora
extra, semana de 40 horas e, sobretudo, odeia visceralmente a instituição
“banco” (sonha ver todos estatizados) pode entender dos complexos negócios de
um banco numa sociedade de mercado?
Militância
no sindicato dos petroleiros dá a alguém competência e condições técnicas para
administrar grandes estruturas de exploração, refino e comércio internacional
de petróleo? A resposta está no balanço da Petrobras.
Essa é
uma das mais malditas heranças de Lula, a “sindicalização” do país, abrigando
companheiros onde não estavam qualificados, reduzindo a politica à lógica — e à
ética — das eleições sindicais, e à função, legítima e necessária, de um
sindicato: conseguir mais e melhor para os seus companheiros. Faz sentido.
Mas um
país não é um sindicato. Nem pertence a um partido. A mais maldita das heranças
do PT é o aparelhamento das estatais para um projeto de poder que teve na
Petrobras o seu melhor e pior exemplo.
Mais que
um impeachment ou uma alternância de poder numa eleição livre e democrática, a
reforma que o Brasil mais precisa é instituir a meritocracia.
Nelson Motta. O Globo, 02/05/2015
Nelson Motta. O Globo, 02/05/2015
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