quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Governo Não Suporta Crítica - Típico

10/02/2010 - 12h41

Jobim anuncia exoneração de general após declaração sobre plano de direitos humanos

MÁRCIO FALCÃO
da Folha Online, em Brasília

O ministro Nelson Jobim (Defesa) anunciou nesta quarta-feira a exoneração do general da ativa Maynard Marques de Santa Rosa, chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército.

Santa Rosa, segundo reportagem publicada hoje pela Folha, afirmou que a comissão da verdade, criada pelo governo para investigar crimes contra os direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985), seria formada por "fanáticos" e viraria uma "comissão da calúnia".

O ministro não apresentou justificativa para a exoneração do general, apenas confirmou sua saída do cargo. "Acabei de encaminhar ao presidente da República a exoneração do chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército. Ele está à disposição do comando do Exército. O assunto está absolutamente encerrado."

Segundo a reportagem, Santa Rosa, que é general de quatro estrelas (maior patente militar) e parte do Alto Comando do Exército, disse que os integrantes da comissão seriam os "mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos como meio de combate ao regime, para alcançar o poder".

Na nota que circula na internet, ele diz: "Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa. A história da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos. Quando os sicários de Tomás de Torquemada [1420-1498] viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar 30 mil vítimas por ano".

Consultado pela Folha, o Comando do Exército disse que o texto do general é uma "carta pessoal a um amigo" e não traduz a posição da Força, pois quem fala pelo Exército é o comandante, general Enzo Martins Peri.

A reportagem está tentando contato com o Exército para comentar a decisão de Jobim.

Plano cria "comissão da calúnia", diz general

Militar da ativa afirma que comissão da verdade, criada pelo governo para investigar crimes na ditadura, seria formada por "fanáticos".

Comando do Exército diz que declarações, que circulam na internet, estão em "carta pessoal a um amigo" e não refletem a posição da Força.

ELIANE CANTANHÊDE

Colunista da Folha

O general da ativa Maynard Marques de Santa Rosa, chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército, diz em nota que a comissão da verdade, criada pelo governo para investigar crimes contra os direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985), seria formada por "fanáticos" e viraria uma "comissão da calúnia".

Segundo ele, que é general de quatro estrelas (maior patente militar) e parte do Alto Comando do Exército, os integrantes da comissão seriam os "mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos como meio de combate ao regime, para alcançar o poder".

Na nota que circula na internet, Santa Rosa diz: "Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa. A história da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos. Quando os sicários de Tomás de Torquemada [1420-1498] viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar 30 mil vítimas por ano."

Consultado pela Folha, o Comando do Exército disse que o texto do general é uma "carta pessoal a um amigo" e não traduz a posição da Força, pois quem fala pelo Exército é o comandante, general Enzo Martins Peri". A "carta ao amigo", porém, é tão formal que contém a patente, o nome completo e o cargo de Santa Rosa.

Considerado um dos remanescentes e o atual "porta-voz" da "linha dura" da ativa, o general Santa Rosa já se envolveu em pelo menos dois outros conflitos com autoridades civis no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ele deve ir para a reserva, por tempo, neste ano.

Um dos conflitos foi em 2007, quando discordou das negociações para a reserva indígena Raposa/Serra do Sol e foi afastado pelo ministro Nelson Jobim da Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais da Defesa e devolvido ao Exército.

O outro foi em 2009, quando assinou nota com dois outros generais, então da ativa, criticando a Estratégia Nacional de Defesa e o novo organograma das Forças Armadas, por afastarem ainda mais os militares do poder.

"Hierarquia e disciplina"

Falando em tese, já que disse desconhecer o teor da nota, o ministro Carlos Alberto Soares, do STM (Superior Tribunal Militar), disse à Folha que esse tipo de manifestação "não é normal de militar da ativa e que, ao circular pela internet, deve obedecer todos os princípios de hierarquia e disciplina".

O "Regulamento Disciplinar do Exército" relaciona pelo menos duas transgressões que se encaixam no caso de Santa Rosa: "Manifestar-se, publicamente, sem que seja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária"; e "censurar ato de superior hierárquico ou procurar desconsiderá-lo, seja entre militares, seja entre civis".

A nota do general que circula na internet não tem data. Os seis integrantes da comissão foram designados pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), no dia 6 de janeiro. São ligados aos direitos humanos e às famílias dos mortos e desaparecidos políticos na ditadura.

Entre eles, está o secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, principal responsável pelo decreto presidencial que mandou criar a comissão e que atraiu críticas da área militar, da Igreja Católica, do setor ruralista e acabou sofrendo alterações semânticas justamente na parte que previa a investigação de tortura e mortes na ditadura.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Também Quero Ser Corrupto

Cacá Rosset

O espectro da corrupção ronda o Brasil.Os escândalos se sucedem, com vagalhões cada vez maiores: Coroa-Brastel, Ferrovia Norte-Sul, escândalo da Mandioca, decretos retroativos, fraudes, desvio de verbas, etc...É uma roubalheira que não acaba mais.

A família brasileira, está chocada. O cidadão comum está perplexo. As donas de casa estão em prantos. A juventude está revoltada.

Nesse agitado mar de lama, em que a ladroagem campeia desenfreada, a nação se pergunta atônita e desesperada: " onde é que vamos parar "?

Chegou a hora de acabar com tudo isso e colocar um ponto final nesses fatos vergonhosos.

A gravidade da situação exige uma medida corajosa e patriótica: é preciso legalizar a corrupção no Brasil.

Essa seria a solução simples, prática e definitiva para todos os nossos males.

Não é justo que a corrupção fique concentrada nas mãos de poucos. Faz-se necessário, redistribuir a corrupção no Brasil, aumentando a corrupção " per capita".Não é preciso nem esperar crescer o bolo da corrupção para depois dividi-lo em fatias. Ele já está enorme; vamos fatiá-lo já!

Eu que sempre cumprí com meus deveres de cidadão, também quero o meu quinhão de corrupção.

Essa idéia nasceu depois que lí na imprensa o que está acontecendo com a CPI da corrupção. No início, seu objetivo era simples: apurar a roubalheira na Secretaria do Planejamento.

O governo reagiu: e surgem denúncias de corrupção envolvendo os próprios membros da CPI. Um ministro chegou a dizer que há corruptos muito proximos do presidente José Sarney. A resposta do governo foi dizer que vai interpelar o ministro.

Eu pensava que só existia corrupção num lugar e descubro então, que está presente em toda a parte.

Pensava que o objetivo era achar os corruptos, mas não é; parece ser mais divertido acusar o adversário de ladrão e, feito isso , estamos todos em casa.

Também quero entrar nessafamilia, já que ficou impossível acusar qualquer pessoa de ser corrupta. Vendo a confusão entre CPI e o governo, parece que todos tem razão.

Um outro caso muito estranho, é o desses decretos n° 94.042 e 94.233, que reajustam os preços das empreiteiras que prestam serviços ao governo. Por um lado, pode-se dizer, esses decretostem sua razão de ser: a inflação subiu e seria errado não reajustar as contas dos empreiteiros.

Mas quando se pensa nisso, vemos o outro lado do problema, ou seja, por quê só os preços dos empreiteiros foram reajustados? Por quê os salários também não foram e ficaram congelados quando se coloca o ágio por baixo do tapete? Por quê os reajustes não são iguais aos grupos econômicos, ao pessoal do teatro, aos empregados, e os clubes de mães, ao pessoal da rua?

Talvez, os conservadores se choquem com essa medida, já que as grandes idéias, as vezes são mal recebidas numa primeira fase.

Mas uma boa campanha publicitária se encarregaria de convencer os mais refratários.

Poderiam ser usados slogans do tipo: "Corrupção é cultura" ou "Corrupção...essa onda pega" ou mesmo "Corrupção...sabendo usar, não vai faltar".

Algumas medidas práticas terão que ser tomadas para agilizar o mar de lama.

Em primeiro lugar, seria muito importante a criação do Ministério da Corrupção, que teria a função de organizar, administrar e traçar os rumos da corrupção no Brasil.

O ministério faria com que o país entrasse numa nova era, na qual a corrupção seria mais tecnológica e menos amadora.

Em segundo lugar, teria que se tornar disciplina curricular, para que as crianças de hoje, tivessem uma sólida formação para serem os corruptos de amanhã.

Um decreto do governo, tornaria a corrupção obrigatória para todos, assim como o voto, o serviço militar,e o pagamento de impostos.

Isso evitaria possíveis dúvidas ou crises existenciais, pois o cidadão não se perguntaria: " Será que tenho que me tornar um corrupto? ".

Não, o cidadão diria: " eu tenho que ser um corrupto ".

O problema atual é acabar com o favorecimento exclusivo de determinadas categorias profissionais.

Por que não estender o privilégio a outros segmentos da sociedade? Ampliemos o clientelismo. Dá cá o meu !

Que se crie o Instituto de Dois Pesos e Duas Medidas para regulamentar os casuísmos, adulterar taxímetros, aumentar a porcentagem de água no leite, de metanol no álcool combustivel, autorizar a venda de medicamentos proibídos em outros países, afrouxar o controle sobre os bancos de sangue, regulamentar a comissão do governo sobre toda e qualquer transação comercial, elevando-a dos irrisórios 10% para robustos 40% ou 50%; sem esquecer obviamente, do estabelecimento de tarifas para apoio político referente a cargos públicos de qualquer escalão.

Será necessário implementar um moderno sistema de computadores para controlar as declarações de renda , para apanhar na malha fina todos os aposentados, pequenos comerciantes e outros malandrinhos que insistam em não sonegar impostos.

Será a maior revolução política, moral e econômica de todos os tempos, um exemplo para o mundo. De minha parte, prometo que serei um corrupto aplicado e exemplar, que não pouparei esforços para o sucesso desta grande cruzada patriótica.

Cacá Rosset, é ator e diretor de teatro em São Paulo e este texto foi publicado em Maio de 1988.

Como se vê, parece que a proposta dele foi grandemente encampada pelo governo.

Roberto Carlos Recusa Convite Em Brasília

Blog do Josias: Roberto Carlos recusa convite para cantar em Brasília
Da Folha Online


Roberto Carlos recusou convite para se apresentar nas festividades do cinqüentenário de Brasília, em abril.

O empresário do cantor, Dodi Sirena, não fez segredo do motivo da recusa: José Roberto Arruda (ex-DEM) e o escândalo que o rodeia, informa o colunista Josias de Souza.

"Houve o convite e chegamos a considerar a possibilidade [de aceitar], porque Roberto estará no Brasil", disse Sirena.

Ele explicou que os 50 anos da Capital serão celebrados na mesma semana em que Roberto Carlos fará aniversário.


Porém "o convite foi feito pelo comitê de José Roberto Arruda. E decidimos interromper o contato. O Brasil está indignado com essa situação. E há uma prova de que houve desvio de dinheiro público", Sirena acrescentou, referindo-se ao panetonegate.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Guerrilha e Democratização

Por Ives Gandra da Silva Martins

Pela má qualidade do texto do PNDH-3 e pelo viés ideológico ditatorial, dificilmente essas propostas passarão no Legislativo

O Regime de exceção, em que o Brasil viveu de 1964 a 1985, foi encerrado, não por força da guerrilha − que terminou, de rigor, em 1971 −, mas principalmente pela atuação da OAB, à época em que figuras de expressão a conduziam, como Raymundo Faoro, Márcio Thomaz Bastos, Mário Sérgio Duarte Garcia e Bernardo Cabral, e de parlamentares como Ulysses Guimarães, Mário Covas e Franco Montoro, entre outros.


Tenho para mim que a guerrilha apenas atrasou o processo de retorno à democracia, pois ódio gera ódio, e a luta armada acaba por provocar excessos de ambos os lados, com mortes, torturas e violências.


Muitos dos guerrilheiros foram treinados na mais antiga e sangrenta ditadura da América (Cuba) e pretendiam, em verdade, apenas substituir uma ditadura de direita por uma ditadura de esquerda.

Os verdadeiros democratas, a meu ver, foram aqueles que, usando a melhor das armas, ou seja, a palavra, obtiveram um retorno indolor à normalidade, sem mortes, sem torturas, sem violências.

A Lei da Anistia, proposta principalmente pelos guerrilheiros, foi um passo importante para a redemocratização, pois possibilitou àqueles que preferiram as armas às palavras a sua volta ao cenário político. A lei, à evidência, pôs uma pedra sobre o passado, sepultando as atrocidades praticadas tanto pelos detentores do poder, à época, como pelos guerrilheiros. E foram muitas de ambos os lados.

Num país em que o ódio tem pouco espaço − basta comparar as revoluções de nossos vizinhos com as do Brasil para constatar que o derramamento de sangue aqui foi sempre muito menor −, tal olhar para o futuro permitiu que o Brasil ressurgisse, com uma Constituição democrática.


Nela, o equilíbrio dos Poderes possibilitou o enfrentamento de crises, como o impeachment, a superinflação, os mais variados escândalos, entre os quais o do mensalão foi o maior, e a alternância de poder sem que se falasse em rupturas institucionais. Vive-se − graças à redemocratização voltada para o futuro, e não para o passado − ambiente de liberdade e desenvolvimento social e econômico próximo ao de nações civilizadas.

O Programa Nacional de Direitos Humanos, organizado por inspiração dos guerrilheiros pretéritos, pretende, todavia, derrubar tais conquistas, realimentando ódios e feridas, inclusive com a tese de que os torturadores guerrilheiros eram santos, e aqueles do governo, demônios.


Essa parte do plano foi corrigida, tendo o presidente Lula admitido que, se for criada a comissão da verdade, há de apurar tudo o que de excessos foi praticado naquela época − por militares e guerrilheiros. Tenho a impressão de que isso não será bom para a candidata Dilma Rousseff.

O pior, todavia, é que o programa é uma reprodução dos modelos constitucionais venezuelano, equatoriano e boliviano, todos inspirados num centro de estudos de políticas sociais espanhol, para o qual o Executivo é o único Poder, sendo o Judiciário, o Legislativo e o Ministério Público Poderes vicários, acólitos, subordinados.


No programa, pretende-se fortalecer o Executivo, subordinar o Judiciário a organizações tuteladas por "amigos do rei", controlar a imprensa, pisotear valores religiosos, interferir no agronegócio para eliminá-lo, afastar o direito de propriedade, reduzir o papel do Legislativo e aumentar as consultas populares, no estilo dos referendos e plebiscitos venezuelanos, além de valorizar o homicídio do nascituro e a prostituição como conquistas de direitos humanos.

Quem ler a Constituição venezuelana verificará a extrema semelhança entre os instrumentos de que dispõe Chávez para eliminar a oposição e aqueles que o PNDH-3 apresenta, objetivando alterar profundamente a lei maior brasileira.


O programa possui, inclusive, "recomendações" ao Judiciário sobre como devem os magistrados decidir as questões prediletas do grupo que o elaborou, à evidência, à revelia de toda a população e do Congresso.

Pela má qualidade do texto e pelo viés ideológico ditatorial, dificilmente essas propostas passarão no Legislativo.

Se passarem, creio que o Supremo barrará tudo aquilo que nele fere as cláusulas pétreas constitucionais e os valores maiores em que a sociedade se lastreia.

Certa vez, ao saudoso crítico Agripino Grieco um amigo meu (Dalmo Florence) apresentou livro de poesia recém-lançado, pedindo-lhe a opinião. No dia seguinte, Agripino disse-lhe: "Dalmo, li o livro de seu amigo e aconselho a queimar a edição e, em caso de reincidência, o autor".


Sem necessidade de adotar a segunda parte do conselho agripiniano, a primeira seria admiravelmente aplicável a esse programa de direitos desumanos.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 74, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio.

O Fato e a Versão

Judy Wallman é uma pesquisadora de genealogia e histórico de famílias no sul da Califórnia.

Recentemente ela resolveu conduzir uma pesquisa em sua própria árvore genealógica e descobriu o seu tio-bisavô, Remus Reid era o ancestral comum entre ela e o atual Senador pelo Estado de Nevada, Harry Reid. Ela e o Senador Reid tinham em Remus um ancestral comum.

Ela descobriu também que seu tio-bisavô Remus Reid havia morrido enforcado, condenado por roubo de cavalos e roubo de trem no Estado de Montana, em 1889.

A única fotografia disponível de Remus Reid mostra seu enforcamento, no Território de Montana, em 1889.

No verso da fotografia de Remus Reid, obtida por Judy durante sua pesquisa, estava a seguinte anotação: 'Remus Reid, ladrão de cavalos, encarcerado na Prisão do Território de Montana em 1885, fugiu em 1887, roubou o trem Montana Flyer por seis vezes. Foi preso pelos detetives da Agência Pinkerton, foi condenado e enforcado em 1889.'

Judy então enviou um e-mail ao Senador Harry Reid solicitando informações sobre seu ancestral comum, Remus Reid, sem mencionar o que já sabia.

Os assessores de Harry Reid enviaram-lhe o seguinte resumo bibliográfico sobre Remus, para ser inserido em sua pesquisa genealógica:

"Remus Reid foi um famoso vaqueiro no Território de Montana. Seu império comercial cresceu a ponto de incluir a aquisição de valiosos exemplares de cavalos de raça, bem como um íntimo e profícuo relacionamento com a Ferrovia de Montana. A partir de 1883, ele dedicou vários anos de sua vida ao serviço do governo estadual. Após isso, ele licenciou-se para reiniciar seu relacionamento com a Ferrovia. Em 1887, ele foi o elemento fundamental em uma importante investigação conduzida pela famosa Agência de Detetives Pinkerton. Em 1889, ele veio a falecer durante uma importante cerimônia cívica realizada em sua homenagem, quando a plataforma sobre a qual ele estava cedeu logo após seu discurso."

Isso é política.


Qualquer semelhança com políticos brasileiros que mentem em seu currículo e assumem, como suas, as ações dos seus antecessores, não é coincidência.

Os Militares e a Memória Nacional

Os militares e a memória nacional
por Olavo de Carvalho

Como todos os meninos de escola na minha época, eu não podia cantar o Hino Nacional ou prestar um juramento à bandeira sem sentir que estava participando de uma pantomima. A gente ria às escondidas, fazia piadas, compunha paródias escabrosas. Os símbolos do patriotismo, para nós, eram o supra-sumo da babaquice, só igualado, de longe, pelos ritos da Igreja Católica, também abundantemente ridicularizados e parodiados entre a molecada, não raro com a cumplicidade dos pais. Os professores nos repreendiam em público, mas, em segredo, participavam da gozação geral.

Crescí, entrei no jornalismo e no Partido Comunista, freqüentei rodas de intelectuais. Fui parar longe da atmosfera da minha infância, mas, nesse ponto, o ambiente não mudou em nada: o desprezo, a chacota dos símbolos nacionais eram idênticos entre a gente letrada e a turminha do bairro. Na verdade, eram até piores, porque vinham reforçados pelo prestígio de atitudes cultas e esclarecidas. Graciliano Ramos, o grande Graciliano Ramos, glória do Partidão, não escrevera que o Hino era "uma estupidez"?

Mais tarde, quando conheci os EUA, levei um choque. Tudo aquilo que para nós era uma palhaçada hipócrita os americanos levavam infinitamente a sério. Eles eram sinceramente patriotas, tinham um autêntico sentimento de pertinência, de uma raiz histórica que se prolongava nos frutos do presente, e viam os símbolos nacionais não como um convencionalismo oficial, mas como uma expressão materializada desse sentimento. E não imaginem que isso tivesse algo a ver com riqueza e bem-estar social. Mesmo pobres e discriminados se sentiam profundamente americanos, orgulhosamente americanos, e, em vez de ter raiva da pátria porque ela os tratava mal, consideravam que os seus problemas eram causados apenas por maus políticos que traíam os ideais americanos.

Correspondi-me durante anos com uma moça negra de Birmingham, Alabama. Ali não era bem o lugar para uma moça negra se sentir muito à vontade, não é mesmo? Mas se vocês vissem com que afeição, com que entusiasmo ela falava do seu país! E não só do seu país: também da sua igreja, da sua Bíblia, do seu Jesus. Em nenhum momento a lembrança do racismo parecia macular em nada a imagem que ela tinha da sua pátria. A América não tinha culpa de nada. A América era grande, bela, generosa. A maldade de uns quantos não podia afetar isso em nada. Ouvi-la falar me matava de vergonha. Se alguém no Brasil dissesse essas coisas, seria exposto imediatamente ao ridículo, expelido do ambiente como um idiota-mor ou condenado como reacionário, um integralista, um fascista.

Só dois grupos humanos, neste país, falavam do Brasil no tom afetuoso e confiante com que os americanos falavam da América.

O primeiro eram os imigrantes: russos, húngaros, poloneses, judeus, alemães, romenos. Tinham escapado ao terror e à miséria de uma das duas grandes tiranias do século (alguns, das duas), e proclamavam, sem sombra de fingimento: "Este é um país abençoado!" Ouvindo-nos falar mal da nossa terra, protestavam: "Vocês são doidos. Não sabem o que têm nas mãos." Eles tinham visto coisas que nós não imaginávamos, mediam a vida humana numa outra escala, para nós aparentemente inacessível.

Falávamos de miséria, eles respondiam: "Vocês não sabem o que é miséria." Falávamos de ditadura, eles riam: "Vocês não sabem o que é ditadura." No começo isso me ofendia. "Eles acham que sabem tudo", dizia com meus botões. Foi preciso que eu estudasse muito, vivesse muito, viajasse muito, para entender que tinham razão, mais razão do que então eu poderia imaginar. A partir do momento em que entendi isso, tornei-me tão esquisito para meus conterrâneos como um estoniano ou húngaro, com sua fala embrulhada e seu inexplicável entusiasmo pelo Brasil, eram então esquisitos para mim. Digo, por exemplo, que um país onde um mendigo pode comer diariamente um frango assado por dois dólares é um país abençoado, e as pessoas querem me bater. Não imaginam o que possa ter sido sonhar com um frango na Rússia, na Alemanha, na Polônia, e alimentar-se de frangos oníricos. Elas acreditam que em Cuba os frangos dão em árvores e são propriedade pública. Aqueles velhos imigrantes tinham razão: o brasileiro está fora do mundo, tem uma medida errada da realidade.

O outro grupo onde encontrei um patriotismo autêntico foi aquele que, sem conhecê-lo, sem saber nada sobre ele exceto o que ouvia de seus inimigos, mais temi e abominei durante duas décadas: os militares.

Caí no meio deles por mero acaso, por ocasião de um serviço editorial que prestava para a Odebrecht e que me pôs temporariamente de editor de texto de um volumoso tratado O Exército na História do Brasil.

A primeira coisa que me impressionou entre os militares foi sua preocupação sincera, quase obsessiva, com os destinos do Brasil. Eles discutiam os problemas brasileiros como quem tivesse em mãos a responsabilidade pessoal de resolvê-los. Quem os ouvisse sem saber que eram militares teria a impressão de estar diante de candidatos em plena campanha eleitoral, lutando por seus programas de governo e esperando subir nas pesquisas junto com a aprovação pública de suas propostas. Quando me ocorreu que nenhum daqueles homens tinha outra expectativa ou possibilidade de ascensão social senão as promoções que automaticamente lhes viriam no quadro de carreira, no cume das quais nada mais os esperava senão a metade de um salário de jornalista médio, percebi que seu interesse pelas questões nacionais era totalmente independente da busca de qualquer vantagem pessoal. Eles simplesmente eram patriotas, tinham o amor ao território, ao passado histórico, à identidade cultural, ao patrimônio do país, e consideravam que era do seu dever lutar por essas coisas, mesmo seguros de que nada ganhariam com isso senão antipatias e gozações. Do mesmo modo, viam os símbolos nacionais – o hino, a bandeira, as armas da República – como condensações materiais dos valores que defendiam e do sentido de vida que tinham escolhido. Eles eram, enfim, "americanos" na sua maneira de amar a pátria sem inibições.

Procurando me explicar as razões desse fenômeno, o próprio texto no qual vinha trabalhando me forneceu uma pista. O Brasil nascera como entidade histórica na Batalha dos Guararapes, expandira-se e consolidara sua unidade territorial ao sabor de campanhas militares e alcançara pela primeira vez um sentimento de unidade autoconsciente por ocasião da Guerra do Paraguai, uma onda de entusiasmo patriótico hoje dificilmente imaginável.

Ora, que é o amor à pátria, quando autêntico e não convencional, senão a recordação de uma epopéia vivida em comum? Na sociedade civil, a memória dos feitos históricos perdera-se, dissolvida sob o impacto de revoluções e golpes de Estado, das modernizações desaculturantes, das modas avassaladoras, da imigração, das revoluções psicológicas introduzidas pela mídia. Só os militares, por força da continuidade imutável das suas instituições e do seu modo de existência, haviam conservado a memória viva da construção nacional. O que para os outros eram datas e nomes em livros didáticos de uma chatice sem par, para eles era a sua própria história, a herança de lutas, sofrimentos e vitórias compartilhadas, o terreno de onde brotava o sentido de suas vidas. O sentimento de "Brasil", que para os outros era uma excitação epidérmica somente renovada por ocasião do carnaval ou de jogos de futebol (e já houve até quem pretendesse construir sobre essa base lúdica um grotesco simulacro de identidade nacional), era para eles o alimento diário, a consciência permanentemente renovada dos elos entre passado, presente e futuro. Só os militares eram patriotas porque só os militares tinham consciência da história pátria como sua história pessoal.

Daí também outra diferença. A sociedade civil, desconjuntada e atomizada, é anormalmente vulnerável a mutações psicológicas que, induzidas do Exterior ou forçadas por grupos de ambiciosos intelectuais ativistas, apagam do dia para a noite a memória dos acontecimentos históricos e falseiam por completo a sua imagem do passado. De uma geração para outra, os registros desaparecem, o rosto dos personagens é alterado, o sentido todo do conjunto se perde para ser substituído, do dia para a noite, pela fantasia inventada que se adapte melhor aos novos padrões de verossimilhança impostos pela repetição de slogans e frases-feitas.

Toda a diferença entre o que se lê hoje na mídia sobre o regime militar e os fatos revelados em sites, como o Terrorismo Nunca Mais, vem disso.

Olavo Luiz Pimentel de Carvalho, nascido em 1947 em Campinas, SP, é jornalista, escritor e filósofo. Como jornalista, escreveu para os jornais Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e O Globo. Vive em Richmond, Virginia, EUA, onde é correspondente do jornal Diário do Comércio, de São Paulo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Fracasso do Filme de Lulla

por Ipojuca Pontes

Produto estrategicamente amparado pelo aval do Palácio do Planalto e embalado para ser visto por 20 milhões de espectadores pagantes, “Lula, o Filho do Brasil”, o mais caro filme produzido até hoje no país (algo em torno de R$ 40 milhões, incluindo farta publicidade, confecção de 430 cópias e outras despesas) - fracassou miseravelmente.

Ao tomar conhecimento do fato Lula ficou “desapontado”, pois contava com o êxito do filme para arrebanhar votos e eleger Dilma Rousseff - ex-terrorista e assaltante de banco - à presidência da República.

Em São Paulo, principal mercado exibidor do país, o filme de Lula conseguiu pouco mais de 100 mil espectadores na sua segunda semana de exibição. (Para se ter idéia do desastre, em apenas três dias o desenho animado “Alvim e os Esquilos”, produção de segunda linha americana, superou a casa dos 640 mil ingressos vendidos). E na sua terceira semana de exibição, em circuito nacional, a frequência media do filme, que já era baixa, caiu 70%, consolidando a derrocada.

Fui ver o filme de Lula numa sala da Zona Sul do Rio, na última sessão de uma sexta-feira, horário considerado nobre para o mercado exibidor.Sua platéia, constituída por 17 incautos, mostrava-se entediada, em que pese o som áspero de uma trilha sonora sobrecarregada – em cinema, curiosamente, um fator decisivo para se anular a atenção do público.Antes do letreiro “Fim”, uns cinco espectadores, mais hostis, simplesmente abandonaram a sala de projeção, entre apupos e imprecações.

Por que o filme de Lula, mesmo com a milionária campanha de marketing e massivas chamadas na televisão, além do intenso noticiário da mídia amiga e o apoio milionário das centrais sindicais, fracassou a olhos vistos?

Em primeiro lugar porque é um filme pesado, “bore” - como diria, apropriadamente, a vigorosa Pauline Kael. Seu roteiro, por elíptico, caminha aos saltos e carece de uma estrutura dramática eficiente, capaz de envolver o espectador. Seus articuladores, movidos pela insensatez, pretendendo compor um ambicioso painel da vida do “cinebiografado”, estraçalharam as etapas de apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho da narrativa em função de uma montagem que corre em velocidade supersônica, suprimindo, com isso, a necessária integridade e clareza da narrativa.

Eis o veredicto: como se processa numa dramaturgia capenga, o filme de Lula corre por conta de situações dramáticas apenas esboçadas e, ao modo de um relatório previsível, materializa-se como peça de ilustração – ilustração chata e pouco convincente.

Mas a razão primeira pela qual o filme de Lula fracassa é porque ele navega, do início ao fim, nas águas turvas da mentira. Basicamente tudo que nele é exposto - desde os episódios da infância carente narrados em tom autocomplacente pelo ex-operário à “companheira” Denise Paraná (paga pela Fundação Perseu Abramo, instituição petista) até os relatos da sua ascendência na vida sindical - traz o selo da invencionice dissimulada e o desejo manifesto de se fabricar a imagem do herói predestinado que se fez presidente.

Como o filme não tem senso humor, o ponto de partida objetivado é comover o espectador pela exploração emotiva do miserabilismo físico e humano da paisagem social adversa. Neste diapasão, por exemplo, a cabrinha traçada por Lula na infância, conforme seu relato à “Playboy”, fica de fora. Como de fora fica o episódio marcante em que Vavá, o irmão mais velho de Lula, rouba mortadela para matar a fome da família - cena que é o ponto de partida de “Os Miseráveis”, a obraperene de Victor Hugo.

Por sua vez, na ânsia de soterrar a moral de botequim que norteia o personagem, por (de)formação infenso a qualquer tipo de valor espiritual, o filme subtraí a cena em que o futuro líder sindical, depois de pedir ao patrão para fazer algumas horas extras na oficina, enfia o dinheiro pago no bolso e, fugindo do trabalho, manda o patrão “tomar no cu”.

Como também fica ausente da narrativa, não por acaso, o relato crucial da enfermeira Miriam Cordeiro, ex-mulher do santificado sindicalista, que o trata por consumado “canalha” em depoimento ao “Estado de São Paulo”, tendo em vista a discriminação exercida por ele contra a filha Lurian, cuja vida, anos antes, “queria ver abortada”.

Ademais, para enganar a audiência, os articulares da escorregadia peça publicitária sequer mencionam o papel dos cursilhos comunistas (lecionados na Alemanha Oriental) na formação ideológica do sindicalista empenhado em fomentar o ódio de classe.

Por outro lado, com o firme propósito de incensar o mito do líder carismático, pleno de virtudes, o filme esconde as relações promíscuas de Lula com Murilo Macedo, o ministro do Trabalho com quem enchia a cara de cachaça num sítio de Atibaia, interior de São Paulo, na tentativa de morder a grana fácil da “ditadura militar”.

Pior: o filme esconde do espectador que a liderança de Lula no movimento sindical emerge da infiltração dos apóstatas da “teologia da libertação”, aliados do terrorismo (rural e urbano) financiado por Fidel Castro, somada à ação dos ativistas radicais banidos da vida política cabocla e dos intelectuais marxistas da USP - na prática os reais fundadores do Partido dos Trabalhadores. Não parece estranho, por exemplo, que tenha sido eliminado do entrecho a figura subversiva do “Frei” Betto, o mentor ideológico do maleável líder sindical?

Por incrível que parece, há no filme de Lula dois personagens que são responsáveis pelos momentos (raros) em que o filme anda e adquire verossimilhança. São eles: Aristides (interpretado por Milhem Cortaz, na férrea composição de um sub-Zampanô caboclo), o pai alcoólatra de quem Lula reconhece ter “herdado o lado ruim”, e Feitosa (Marcos Cesena, convincente), na vida real Paulo Vidal, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, hábil precursor do “sindicalismo deresultados”, de quem o operário de nove dedos tudo absorveu em matéria de malandragem e, depois, já contando com o apoio e as instruções das facções vermelhas, traiu.

São personagens episódicos, mas funcionais, visto que representam de alguma forma presenças antagônicas, sem as quais não há vestígio de dramaturgia. Já a personagem de D. Lindu (Gloria Pires, uma máscara sustentada com boa porção de pancake), de quem muito se esperava, opera convencionalmente, proferindo sentenças prosaicas, como é de se esperar de uma figura materna – por sinal, segundo Frei Chico, o filho mais velho, negligenciada pela eterna ausência do amado lídersindical.

Resumo da ópera: em vez de uma cinebiografia contraditória e humana, temos no filme de Lula o engendrar da construção de um mito. Nele, o personagem é visto como um ser perfeito e predestinado – logo ele, um sujeito grosseiro e vulgar, desprovido de qualquer tipo de grandeza, a não ser a de mercadejar mentiras em função da manutenção do poder. NemStalin, o monstruoso fabricante de si mesmo, consentiu que se cultuasse, em vida, sob forma de obra de ficção, sua personalidade ditatorial.

O que restará ao filme de Lula? Com o apoio da grana fácil do governo, cumprir a sua missão como peça de propaganda enganosa na agenda eleitoral de 2010. No Sul do país, as centrais sindicais estão distribuindo milhões de ingressos entre os seus filiados, ao tempo em que fornecem sanduíche, refrigerantes e serviço de transporte gratuito aos eventuais companheiros que se disponham a ver a peça de louvação.

No Nordeste, fala-se na contratação de unidades móveis de exibição para percorrer centenas de cidades do interior que ainda não possuem salas de projeção. São gastos adicionais que os mentores (públicos e privados) do projeto não abrem mão na esperança de que as populações miseráveis testemunhem o florescer da Virtú. A meu ver, inutilmente.Pois, como dizia o outro (que não foi, em absoluto, o Joãozinho Trinta), quem gosta de miséria - e dela se beneficia - são osintelectuais de esquerda. Pobre – ou operário - só quer luxo e riqueza.

No que está coberto de razão.

P.S. – Visto como espetáculo soa como desperdício que “Lula, o Filho do Brasil”, o “bom negócio” da LC Barreto, tenha custado em torno de enxundiosos R$ 20 milhões, até a 1ª cópia. É muita grana! Um produtor eficiente teria chegado a resultado idêntico com pouco mais de R$ 2 milhões.
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