segunda-feira, 1 de novembro de 2010

The Day After

Ontem eu me sentia como no noite em que estava na minha casa em Ocala, Flórida, e ví pela televisão que o Hugo Chávez havia retornado ao seu gabinete, na Presidência da Venezuela, depois de ter renunciado três dias antes.

Não vou discutir as razões que levaram Chavez a renunciar, depois do massacre de civis por seus seguidores – claramente incitados por ele em cadeia nacional de rádio e televisão.
Não vou discutir, também, como ele desmentiu a renúncia – lida em cadeia nacional pelo Ministro da Defesa. Ninguém me contou: eu ví, pela CNN, o Ministro da Defesa ler a carta-renúncia que Hugo Chavez assinou e que negou depois – apesar de não ter demitido o ministro, que continuou no governo por vários anos.

A menção ao fato é sómente para retratar o sentimento que se apossou de mim, no momento que ví a diferença percentual entre os votos dados a Dilma Roussef e aos dados a José Serra.
Frustração, revolta, raiva.

O que passou pela minha mente foi pensar que 56% dos brasileiros haviam escolhido a corrupção, a mentira e a falta de ética, como novos padrões morais do nosso país.

Mas nada como um dia após o outro, com uma noite de reflexão no meio.

Ao amanhecer hoje, menos chocado com o resultado das eleições, pude analisar com mais cuidado os números das urnas.

Sem tirar a legitimidade da eleição da candidata do Lula (enfiada goela à baixo no PT), os números mostram um país dividido, sem dúvida, mas , ao mesmo tempo equilibrado.

As diferenças culturais e políticas entre o Sul-Sudeste-Centro Oeste e o Norte-Nordeste do Brasil são conhecidas e fazem parte da nossa história.

Currais eleitorais, mantidos por coronéis do sertão à exemplo do José Sarney e do falecido Antonio Carlos Magalhães, são fatos históricos que não cabe discutir.

Equívocos políticos do Rio de Janeiro, um Estado que conseguiu eleger pessoas como Leonel Brizola, Moreira Franco, Garotinho e Garotinha e reeleger Sergio Cabral – apesar de tudo o que ocorre por lá nas áreas de saúde, educação e segurança – já são uma tradição que os cariocas cultuam e que conseguiram transferir para seus conterrâneos fluminenses, desde que a fusão Guanabara-Rio de Janeiro aconteceu, na década de 1970.

Portanto, ver a grande parte do Norte e todo o Nordeste votando em massa na fantoche do Lula, não me surpreendeu.

Ver a votação que o Lula obteve no Rio de Janeiro, também não (eu escreví Lula, mesmo, não foi erro de digitação. A Dilma não tem méritos siquer para ter sido a escolhida do seu partido, se o PT tivesse tido a chance de discutir o assunto).

A grande surpresa foi Minas Gerais. Eu até entendo a Dilma ter sido mais votada no primeiro turno, com Minas Gerais ainda curtindo a decepção de ter visto Aécio Neves preterido em favor de José Serra.

Não concordei com o voto de protesto, mas entendí.
Só não consigo entender a votação expressiva dada à candidata do PT, no segundo turno. Naquele momento, era o futuro do Brasil que estava em jogo e voto protesto não tinha mais sentido.
Mas, vamos ao números:

Dilma: 55,7 milhões de votos
Serra: 43,7 milhões de votos
Nulos: 4,7 milhões de votos
Brancos: 2,3 milhões de votos
Abstenção: 29,2 milhões de votos

Estes números me dizem que 55,7 milhões estão com Lula e Dilma, mas 48,4 milhões estão contra Lula e Dilma e 31,5 milhões estão pouco se ligando para Lula e Dilma.

Ou seja, se estes eleitores que preferiram se abster ou votar em branco, tivessem exercido seu direito de decisão, o resultado poderia ter sido bem diferente.

Isto me dá mais ânimo.

Olhando o mapa do Brasil e vendo que a grande maioria do povo que trabalha, produz, paga impostos e não vive de "bolsas" é contra o Lula e a Dilma, fico mais tranquilo.

Lamento por aqueles milhões de brasileiros iludidos que preferem acreditar em esmolas e votaram pela continuação do paternalismo do Estado. Estão destinados a continuar vivendo desse paternalismo, infelizmente.

Mas a parte mais ao sul do nosso país-continente demonstrou que não pactua, não apoia e não perdoa as mentiras, a impunidade e a institucionalização da corrupção, marca registrada dos últimos 8 anos da nossa vida política nacional.

Agora, já não há mais nada a fazer para mudar o resultado das eleições.

Voltamos a trabalhar, a produzir, a pagar impostos e a exercer um vigilância constante para que nosso direito de decidir e nossa liberdade de criticar continuem a existir no Brasil.

Por que na Venezuela, à exemplo de muitos outros países, já não existe.

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