sábado, 20 de fevereiro de 2010

Amizade com o Irã? Pra que?

É terrível o país que não tem memória.

Muita gente não se lembra, não sabe e nem quer saber dos problemas enfrentados pelo Brasil e por quase todo o mundo ocidental, quando os países árabes, com a participação forte do Irã, quase destruíram nossa economia com a crise do petróleo dos anos 70 e 80.

Naquele tempo, produzíamos menos de 20% do petróleo que precisávamos para continuar crescendo e importávamos o petróleo árabe.

Eu mesmo, como milhares de outros colegas, passei grande parte de minha vida pilotando os super-petroleiros de então, que iam ao Golfo Pérsico buscar o petróleo de que tanto necessitávamos. Meses e meses de solidão no mar, longe da família, na missão de abastecer o país com esta fonte de energia.

Agora, de repente, nos tornamos amigos e aliados do Irã. Por quê? Para quê? Qual o objetivo estratégico desta mudança radical na nossa política exterior?

Talvez este artigo, escrito por Augusto Nunes, possa nos indicar as razões.

Só consegue ser amigo do governo do Irã quem despreza a liberdade.

Afrontados pela fraude colossal que viciou as eleições presidenciais, centenas de milhares de manifestantes expuseram-se nas ruas do Irã à truculência do Exército regular e à cólera das milícias a serviço dos aiatolás . O mundo civilizado comoveu-se com a coragem das multidões de manifestantes anônimos. Lula enxergou algo parecido com um jogo de futebol.

Primeiro, comparou os atos de protesto à reação de torcedores que não aceitam a derrota do time. Depois, exigiu respeito ao placar criminosamente adulterado. Nos meses seguintes, oposicionistas que não seguiram o conselho de Lula foram torturados e mortos. O estadista brasileiro não viu nada demais. No fim do ano, recepcionou Mahmoud Ahmadinejad com honras de estadista. E vai retribuir a visita em maio.

Indignadas com o cinismo de Ahmadinejad, que continuou a montar nas sombras o arsenal nuclear cuja existência sempre negou em público, as nações desenvolvidas exigiram que o farsante deixasse de mentiras. O mundo civilizado hoje vê com perturbadora nitidez um psicopata no comando de um regime primitivo. Lula só consegue enxergar um bom companheiro.

Ahmadinejad lhe prometera usar a energia nuclear só para fins pacíficos, revelou há três meses. Depois da notícia, a gabolice de praxe: “Ele não teria motivos para mentir para mim”. O espancador da verdade garante que o Holocausto não existiu e garante que não pretende atacar Israel. Lula acha a primeira afirmação um tanto exagerada e acredita na segunda.

Em 11 de fevereiro, no meio da entrevista coletiva em Brasília, uma jornalista perguntou o que o chanceler Celso Amorim achava da revelação feita horas antes por Ahmadinejad: o Irá já tem condições de produzir a bomba e é, portanto, “um país nuclear”. Visivelmente perturbado, um gaguejante Amorim primeiro duvidou do que ouviu, depois lamentou o que ouviu e enfim prometeu pensar no que ouviu. No dia seguinte, retomou a lengalenga exasperante: “Precisamos conversar bastante com o Irã”, disse o áulico de todos os chefes.

O governo brasileiro nunca quis conversa com o presidente colombiano Alvaro Uribe, para que ele tentasse convencer o vizinho a parar de tratar os narcoguerrilheiros das FARC como “insurgentes”. Tampouco quis conversa com o governo interino de Honduras, para saber o que fez Manuel Zelaya para justificar a deposição. Mas quer muita conversa com os companheiros iranianos. Esses merecem toda a paciência do mundo.

A paciência acabou, avisa o comportamento dos países que contam, todos convencidos de que chegou a hora de tratar com dureza os provocadores atômicos. Sempre do lado errado, Lula comunicou que não aceitará a adoção de “medidas unilaterais” contra o governo amigo. Parece brincadeira, mas ele acredita mesmo na Teoria do Ponto G, segundo a qual o mundo já não consegue viver sem ouvir a voz do Brasil.

O presidente nunca folheou um livro de História e é desoladoramente ignorante em geopolítica. O cérebro baldio facilita as coisas. Permite-lhe, por exemplo, embarcar alegremente na fantasia do “protagonismo” alcançado por um país que ainda não descobriu como tirar das trevas 10 milhões de analfabetos ou mandar para a cadeia um único corrupto da classe executiva. Difícil é entender a inexistência, nas cercanias de Lula, de alguém capaz de dizer-lhe que nenhum chefe de governo tem o direito de cobrir de ridículo uma nação inteira.

Melhor assim. Quanto mais demorada for a parceria com o Irã, mais tempo terá o eleitorado brasileiro para entender que a política externa da companheirada antecipa as bandidagens que, se pudesse, já estaria praticando no Brasil. Quem se desmancha em agrados com a Venezuela de Chávez sonha com o “controle social da mídia”. Só pode ser parceiro do Irã dos aitolás quem despreza a democracia e odeia a liberdade. Os amigos estrangeiros só fazem por lá o que os stalinistas farofeiros pretendem fazer por aqui.

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