terça-feira, 27 de abril de 2010

Degradação

Wesley Collyer

Já disse em outro artigo que, em matéria de falta de ética, estamos sempre ultrapassando o fundo do poço.

Desta vez, passamos do fundo. Pode ser chamado de prostituição!

Informa a revista “Veja” que uma turma de formandos de administração da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, de Goiatuba, no interior de Goiás, escolheu como patrono, Delúbio Soares, “o homem que está no epicentro do maior escândalo de corrupção da história do Brasil, que manuseou milhões de reais em dinheiro roubado dos cofres públicos”, e que está sendo processado por corrupção e formação de quadrilha, como informa a jornalista Sofia Krause.

Delúbio foi o escolhido apenas porque “poderia dar uma ajudazinha nas despesas”, diz o presidente da comissão de formatura. Um dos formandos, completou: “A gente sabe que a fama dele é horrível, mas fazer o quê, se ele pode bancar a festa?” Questionada, a direção da instituição que tem a nobre finalidade de formar profissionais que vão ajudar a construir o Brasil do futuro, declarou: “Nós respondemos ao MEC e ao Conselho Estadual de Educação, órgãos do governo”.

Delúbio deu R$ 6.000,00 e terminou seu discurso com a s palavras: “É importante ter ética em tudo que se faz na vida”.

Se ele não estava gozando da cara dos formandos e da direção da “faculdade” (que certamente não perceberam, por falta de ética, cultura e vergonha na cara), talvez estivesse fazendo pouco de nossa Justiça, pois, se tivesse sido julgado e preso, não seria patrono.

Se quisermos falar em números, embora a ética não possa ser medida em reais, cada formando vendeu-se (atenção: não foi comprado, ofereceu-se), por R$ 270,00.

Permitam-me os(as) leitores(as) algumas conclusões, recheadas de indignação.

Patrono é alguém que merece as honras, que não gasta nada, nem no coquetel, porque é personalidade reconhecida, exemplo a ser seguido. Lembro que meu irmão Willy, professor dos bons, um dia me disse, acabei de disputar com Einstein e venci. Perguntei o quê. “Ser patrono da turma”, respondeu...

Os jovens brasileiros estão sem referência ética, não há valores em quem se espelhar. É doloroso, mas não injusto dizer que somos o paraíso da impunidade e, por conseqüência, dos transgressores, dos oportunistas, dos que gostam de levar vantagem em tudo. Não há mais respeito às leis nem às instituições.

Que péssimo exemplo para as outras turmas!... E os pais, professores, coordenadores, reitor – que como Pilatos, disse: “Afinal, a escolha foi dos alunos” – o que dizer deles?

Todos os participantes desse fato vergonhoso também são o retrato do Brasil.

Não será demais perguntar se o governo Lula tem a ver com isso. Afinal, esses jovens (23, 24 anos) tomaram entendimento da vida nos últimos dez anos e, nos últimos sete, temos visto exemplos e declarações que fazem muito mal à ética e aos que “queimam as pestanas” estudando...

E o STF, e as nossas leis? Certamente têm contribuído enormemente para esse estado de coisas. É inadmissível a demora no julgamento dos “mensaleiros”.

Escolha, leitor(a) o melhor final para este artigo.
  1. Acabou a esperança. Se a educação leva à ética e uma turma de universitários age dessa forma, não há mais o que esperar...
  2. Vocês, administradores de Goiatuba, ajudaram a tornar menor o país que amamos e que queremos ver não apenas “gigante pela própria natureza”, mas por suas instituições e por seu povo. Isto se chama degradação.
  3. Nosso país está à mercê de gente sem ética. E está chegando mais uma turma deles, recém-formados...

Seja qual for o final escolhido, o Brasil está de luto.

Wesley Collyer é Capitão de Longo Curso da Marinha Mercante, Advogado, Mestre em Ciência Jurídica, Juiz Federal Aposentado e Professor Universitário. Visite seu blog em http://wesleycollyer.blogspot.com

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