segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Narcotráfico Forever e a Cilada para as Forças Armadas

Por Jorge Serrão


O narcotráfico no Rio de Janeiro não vai acabar. Nem sofrer um baque estrutural, apesar da “guerra” a ele declarada pela administração Serginho Cabral. É sério o risco de desmoralização da parceria do governo fluminense com as Forças Armadas e a Polícia Federal. A presente batalha campal no Complexo do Alemão é apenas mais uma encenação midiático-policial-militar, no pretenso combate do Poder do Estado ao Poder Paralelo das facções criminosas. Na verdade, nada acontecerá contra o Crime Organizado, porque ele só existe na interação entre a máquina estatal e os criminosos – incluindo os políticos que se beneficiam dos esquemas criminosos.

Não importa o resultado da “Batalha do Alemão”. Seus efeitos serão idênticos ao da famosa Batalha de Itararé – aquela que não ocorreu, na década de 30 do século passado. O gerenciamento do narcotráfico apenas vai mudar de mãos. Pouco munda, em essência, na previsível rotatividade da ilegal atividade comercial de venda de drogas e aluguel de armas pesadas. Os traficantes A, da facção X, serão trocados pelos traficantes B, da facção Y. Todos, claro, parceiros do crime estatalmente organizado. Enfim, o que as “Forças de Segurança” fazem agora, no Rio de Janeiro, tem o efeito prático de um profundo enxugamento de gelo.

O narcotráfico não vai ser extinto no Rio e alhures. Por vários motivos simples. Indagar não ofende. Por acaso, a cadeia de consumo das drogas sofreu ou vai sofrer alguma alteração significativa? A demanda pelas drogas diminuiu, para que o tráfico seja extinto pela simplória via do combate armado? A prisão de dezenas de operários do narcotráfico é realmente significativa para acabar com a atividade criminosa? Os verdadeiros sustentáculos da máquina do tráfico realmente foram (ou serão) presos ou tirados definitivamente de circulação? As parcerias internacionais dos vendedores de drogas no Brasil (com grupos guerrilheiros ideologicamente identificados com o Foro de São Paulo) serão combatidas pelo poder vigente?

O narcotráfico é uma atividade econômica altamente lucrativa. Os economistas Sergio Guimarães Ferreira e Luciana Velloso, da subsecretaria estadual de Fazenda, elaboraram, em abril de 2009, o estudo: “A Economia do Tráfico na Cidade do Rio de Janeiro: uma tentativa de calcular o valor do negócio”. Os números da estimativa de consumo anual apavoram: Maconha (90 toneladas). Cocaína (8,8 toneladas). Crack (4,3 toneladas). A Quantidade de delinquentes envolvidos no tráfico é de 16.387 pessoas (estimativa da Polícia Civil).


Faturamento anual do Tráfico (ajustando a subestimativa das pesquisas diretas): Maconha (108,1 milhões de reais). Cocaína (423,2 milhões de reais). Crack (102,1 milhões de reais). Total: 633,4 milhões de reais. Custo Anual Estimado: Pessoal (158,7 milhões de reais). Custo de compra das drogas (193,9 milhões de reais). Armas (24,8 milhões de reais). Perdas por apreensões (19,4 milhões de reais). Total: 396,8 milhões de reais. Lucro operacional: (236,6 milhões de reais). Estudo completo pode ser visto e baixado em:http://www.fazenda.rj.gov.br/portal/ShowBinary/BEA%20Repository/site_fazenda/transpFiscal/estudoseconomicos/pdf/NT_2008_35.pdf
Tudo nessa guerra exibida midiaticamente é um jogo de ilusão. Ontem, o chefão Luiz Inácio Lula da Silva deixou isto claro - em Georgetown, onde participou de uma cúpula de emergência da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Avisou que as Forças Armadas mobilizadas nas operações contra a violência no Rio de Janeiro não fariam prisões. Com isto, Lula quis apenas ressaltar que as tropas de elite das Forças Armadas se tornaram meras coadjuvantes, sob comando do Governo e da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Ou seja, na bagunda institucional promovida por Lula e seu ministro da Defesa, Nelson Jobim, o Exército e a Marinha viraram “forças auxiliares”. 

As Forças Armadas caíram em uma cilada institucional. A atuação deles nesta operação de Garantia da Lei da Ordem não tem amparo legal. Os políticos não regulamentaram a ação constitucional do Exército, Marinha e da FAB nestas situações de emergência. Se a “batalha” do Alemão demorar demais, a chance de desgaste de imagem para as Forças Armadas é imensa. Se os militares forem obrigados a entram em combate, a vero, gerando “vítimas” no “meio civil” (aliado ou não do narcotráfico), acabarão atacados virulentamente pelos pretensos defensores dos “direitos humanos”, sempre háveis em relacionar as Forças Armadas com ações autoritárias.

Enquanto o pau canta na Cidade Maravilhosa – sendo visto no mundo inteiro -, a Presidenta eleita Dilma Rousseff toma uma decisão previsível. Decide dar continuidade à política internacional do governo Lula – alinhada ideologicamente com o radicalismo socialista na América Latina. Dilma manterá no cargo de Aspone Internacional o ilustre top-top Marco Aurélio Garcia – um dos principais dirigentes do Foro de São Paulo. Garcia fará o meio campo de Dilma com o PT e seus aliados externos. Por isto, tudo vai continuar como dantes, nas bocas de fumo do Abrantes.

Repetir conceitos corretos é preciso. Crime Organizado é a associação entre criminosos e servidores públicos. Sem a proteção do Estado o crime não se organiza. Cada vez mais organizado, o crime joga contra a Ordem Pública, que é o patrimônio jurídico mais importante para a sociedade, pois garante a vida e a liberdade dos cidadãos. Ou seja, agora, no Rio de Janeiro, o crime organizado não é combatido.

O crime organizado corrompe e destrói as instituições – que são a concretização da vontade da Nação (cristalizadora da vontade de um povo). A ação criminosa inviabiliza a Democracia, que é a segurança do direito natural. No Brasil, o sistema delitivo obedece, ideológica e politicamente, a esquemas externos que nos mantêm permanentemente colonizados, sem soberania efetiva. O crime não é um fim. É um meio.

O crime organizado emprega duas sofisticadas modalidades de violência radical. Tudo para minar as instituições e constranger o senso comum a não identificar o verdadeiro inimigo. A intenção é usar o medo como fator de contenção social. Isto dificulta ou impede uma reação efetiva da sociedade. E quem não reage rasteja. Perde qualquer guerra antecipadamente. 

A organização criminosa promove a Guerra de 5ª geração. Também chamada de guerra assimétrica, é toda tentativa de origem externa, por quaisquer meios, que objetive minar o cenário político – econômico – tecnológico – psicossocial – ambiental – militar de um País, através de agentes internos ou externos. No teatro de operações carioca, o que se combate agora é o “operariado” do narcovarejo, cujos gerentes custam caro ao contribuinte nos Hotéis de Segurança Máxima. E os verdadeiros chefões dos gerentes, alguém vai combater? Jura que vai?

Ou seja, por todos estes conceitos objetivos, a “batalha” do Alemão vai dar em nada. No Brasil, como bem afirma o provérbio francês, tudo parece que muda para ficar sempre a mesma coisa. O próximo governo apenas dará continuidade a tudo que está aí. Certamente, com pequenas alterações na escalação do time do Crime Organizado. Tomara que os segmentos esclarecidos não caiam em mais uma armadilha do ilusionismo ideológico que comanda a verdadeira Organização Criminosa.

Por enquanto, a sociedade do espetáculo se aliena com uma pretensa guerra que se torna "real" com a colaboração da mídia amestrada tupiniquim. Aonde vamos parar? Nem o herói-fictício Coronel Nascimento saberá responder...

Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.

Um comentário:

  1. Roque, transcrevo uma resposta que deixei no forum dos biduzidos por entender ser pertinente com a opinião que publicou:

    a resposta dada não foi suficiente, tese que eu concordo. o tráfico não acaba com armas. Acaba com educação.

    é preciso real e efetivamente desmontar a estrutura politico-financeira que o tráfico tem no Estado. Além disso é preciso que o Estado cumpra seu papel, não de mera limpeza, mas sim de criador de condições para que exista igualdade social.

    eu não sou idiota o suficiente como muitos que venho lendo como os que escrevem contra os diversos programas sociais que foram implantados. Acho que precisam de ajustes e o governo que acaba teve o grande mérito de não encerrá-los para criar outras coisa. Manter o que funciona é mostra de inteligência.

    Educação não é ensinar a ler para saber quem o Eike Batista está comendo ou qual o carro do Luciano Hulk. Educação é ensinar a ler e mostrar o que ler para ter discernimento e poder saber escolher.

    o famoso "apoio que a população vem dando aos militares" é mais força de modismo (agora é moda ser contra traficante armado, mas ninguém deixa de consumir como forma de combatê-los). A população carioca é cínica e finge acreditar enquanto puder tirar algum proveito, mas ofereça R$ 100,00 para um garoto desses que anda na rua a fim de queimar o carro daquele vascaíno/tricolor/flamenguista/botafoguense que você odeia para ver se ele não aproveita a onda de vandalismo para fazer um troco.

    tolera-se o errado até o momento em que alguém vira para você e te obriga a fazer o certo. Isso não é modelo de educação. Modelo de educação é dizer que está errado e por isso não vou fazer ou tolerar quem faça assim.

    Educação é muito mais que ensinar o Tiririca a ler. Educação é ensinar a viver sem aporrinhar o terceiro só porque o terceiro anda de Ferrari ou Uno e você tá andando de onibus. Se você anda de onibus, precisa se esforçar para poder andar de Uno e se você anda de Uno precisa se esforçar para andar de Ferrari, se esses forem seus objetivos para ser feliz.

    Educação é ensinar a ser feliz e não parecer que tem a felicidade na mão. Felicidade é algo difícil de conseguir, muda a todo momento de lugar se você não a tiver dentro de si.

    o futuro de qualquer nação passa pela educação: educação e conhecimento são requisitos para ser feliz e realmente eu só quero ser feliz... sem ficar me aporrinhando com o tráfico ou com o governador que quer o lugar da Dilma em 2014.

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