Um país
sério jamais deixaria passar impune esse escandaloso estelionato eleitoral em
curso
Caro
leitor, sei que hoje é terça de carnaval, e a última coisa que quero é azedar o
seu clima de folião. Tampouco acho que a situação caótica de nossa economia
deveria impedir sua diversão. O ser humano tem direito às fugas da dura
realidade de vez em quando, e talvez elas fiquem mais prementes à medida que a
situação piore. Mas gostaria de trocar dois dedos de prosa com você.
Só o
fato de estar lendo esse texto num dia desses demonstra que faz parte da turma
preocupada com os rumos de nosso país, buscando mais informação ou reflexão
sobre política e economia. Infelizmente, sinto lhe informar que faz parte de
uma minoria. Ao menos é o que percebo olhando em volta. A maioria parece estar
tranquila, preocupada mais com a sua escola de samba do que com o futuro do
Brasil.
Acha que
exagero? Nem tanto, nem tanto. Senão, vejamos: nossa economia está prestes a
entrar em recessão, a inflação passou de 7% ao ano e não deve cair tão cedo,
corremos o risco de apagão mesmo com a conta de luz subindo sem parar, falta
água, as empresas pararam de investir e começam a demitir, a gasolina sobe
justo quando o petróleo desaba lá fora, os brasileiros estão muito endividados
e a taxa de juros só sobe, o dólar se valorizou bastante e não há a menor
perspectiva de melhora à frente. E isso foi apenas a parte econômica.
Peço sua
vênia para passarmos para a política agora. O “petrolão” já fez o “mensalão”
entrar para o rol de crimes de pequenas causas, com suas cifras bilionárias.
Nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção, e os militantes
petistas ainda tentam nos convencer de que isso se deve ao governo que agora
investiga mais, como se quem investigasse não fossem as instituições de estado,
com o governo criando obstáculos (tentando impedir a CPI, por exemplo).
Uma
quadrilha montou o maior esquema de desvio de recursos públicos de nossa
história bem diante de nossos olhos, e o que a Operação Lava-Jato trouxe à tona
até agora já seria o suficiente para derrubar o governo em qualquer país sério.
Mas o PT diz que falar em impeachment é “golpismo”.
Aliás,
parêntese: um país sério jamais deixaria passar impune esse escandaloso
estelionato eleitoral em curso. Os americanos foram acusados de hipócritas
quando quase derrubaram Clinton por conta de uma mentirinha sobre sexo oral,
mas o que nossos “intelectuais” antiamericanos não entendem é que aquele povo
não tolera a mentira escancarada dessa forma. Fecho o parêntese.
Volto ao
“petrolão”: o PT, partido da presidente, está envolvido até o pescoço, e tudo
que Dilma faz, quando não está sumida, é repetir que não vai transigir com os
“malfeitores”. Enquanto isso, seu partido trata como herói seu tesoureiro, que
teria desviado centenas de milhões para irrigar o caixa da campanha dos
petistas.
Já o
deprimi o bastante? Calma, estimado leitor. Tome um Prozac. Eu espero. Tomou?
Então vamos lá: não são “apenas” a economia e a política que vão muito mal; a
saúde, a educação, o transporte público e a segurança também. Ou seja, as
funções precípuas do Estado, aquelas que supostamente estariam bem atendidas
pelos 40% de impostos que pagamos. Que tal a prestação de serviço do governo?
A carga
tributária não para de aumentar. O leitor percebeu alguma melhora nessas áreas?
Nem eu. Aliás, as estatísticas mostram que pioraram mesmo. O Brasil caiu no
ranking do Pisa por exemplo, que mede a qualidade do ensino. O governo importou
como se fossem escravos milhares de “médicos” cubanos, mandando bilhões para o
ditador Castro. Por acaso o leitor notou um salto de qualidade no SUS? De
segurança é melhor nem falar. Começamos o ano com balas “perdidas” encontrando
um alvo inocente por dia!
Agora
que dei um panorama bem resumido do que vem acontecendo com nosso país nos
últimos anos, pergunto: o povo está ou não está tranquilo, ignorando tudo isso?
Afinal, milhares tomaram as ruas em junho de 2013, e o pretexto era o aumento
de vinte centavos na passagem de ônibus. Hoje vemos a Petrobras dizer que uma
firma independente encontrou mais de R$ 60 bilhões de excesso de valor lançado
nos ativos da empresa, e fica por isso mesmo. Ou seja, o PT está destruindo a
maior estatal do Brasil, e ninguém parece ligar muito. O petróleo é nosso?
Naquela
época, antes de os vândalos mascarados dos “black blocs” destruírem as
manifestações espontâneas da população, muitos acreditaram que o gigante havia
acordado. Não fui tão otimista. E detesto dizer que estava certo em meu
ceticismo. O gigante, meu caro, pode até ter acordado, mas resolveu é cair no
samba!
Rodrigo
Constantino, O Globo, 17/2/2015
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