Só se
fala sobre o efeito interno das crises (política, econômica, Petrobrás...), mas
o impacto é devastador também na imagem externa do Brasil. Na mídia
internacional, nos governos, nas empresas, nas sociedades, aquele Brasil
pintado de dourado deixou de brilhar.
Some-se
a isso o desconhecimento da presidente Dilma Rousseff sobre política externa, o
desprezo pela diplomacia, a queda de um chanceler atrás do outro, a pindaíba do
Itamaraty e... temos um cenário constrangedor.
Goste-se
ou não da política externa de Lula, goste-se ou não do seu chanceler, Celso
Amorim, o fato é que o Brasil vinha embalado dos dois governos de Fernando
Henrique, pegou o vento de popa mundial e o combustível da economia interna e
disparou na era Lula.
Amorim
costumava dizer que o chefe era o instrumento de política externa que qualquer
diplomata pedia a Deus: um presidente carismático, com uma biografia pujante e
uma verve inebriante. O céu era o limite. Não era para mudar com a primeira
presidente mulher, mas mudou.
De
queridinho dos países ricos, médios, pobres e miseráveis, o Brasil passou a
enjeitado por uns e desimportante para outros a partir da posse de Dilma,
descendo degrau por degrau até chegar onde está, num piso incompatível com suas
dimensões geográficas e econômicas e com suas potencialidades políticas.
Dilma é
incapaz de compreender a importância da política externa, não tem gosto pelas
reuniões multilaterais e setoriais, não tem paciência com a linguagem
excessivamente cautelosa da diplomacia e acha tudo isso uma chatice. E uma
chatice cara. Nem manteve a firme aproximação de Lula com países emergentes,
nem tratou de recuperar a aliança esgarçada com os ricos. Ficou no limbo.
Se fez
bem em cancelar a visita a Barack Obama em 2013 e em reagir veementemente na
ONU (ou seja, em solo norte-americano) à espionagem da NSA na vida de empresas,
cidadãos e até governantes brasileiros, Dilma estica demais a corda. Protestar,
sim. Eternizar a animosidade com a maior potência do planeta, não.
Primeiro,
Lula ficava incomodado. Depois, perplexo. Agora, chegou à fase da irritação.
Acha que seu legado na política externa foi para o ralo, que ninguém mais quer
saber do Brasil e que até mesmo seus programas do peito na África estão sendo
deixados de lado.
"O
que está acontecendo?", perguntou ao então chanceler Luiz Figueiredo,
antes de ele mesmo responder: "É a Dilma, não é?" E ainda tentou
ensinar: "Com a Dilminha é assim: você fala a primeira vez, fala a
segunda, fala a terceira, até ela ouvir". Mas Figueiredo não teve tempo de
por a lição em prática. Logo em seguida, caiu.
Depois
de jogar Antonio Patriota e Figueiredo ao mar, Dilma testa Mauro Vieira, um dos
melhores quadros da ativa no Itamaraty, ex-embaixador em Buenos Ayres e
Washington - os postos mais disputados em Brasília. Seu desafio é mostrar para
Dilma que, com ou sem exageros, a rede de representações diplomáticas não pode
parar por falta de verbas até para luz, água, papel higiênico. O efeito na
imagem do País é devastador, num momento em que a crise da Petrobrás já não
ajuda muito.
Vieira
se reuniu com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e visitou a Câmara e
o Senado, pedindo apoio e se preparando para argumentar com a urgência da situação
quando despachar com Dilma. Não será uma conversa fácil, porque a presidente
considera a diplomacia "supérflua" e reclama (até com razão) de
gastos nababescos com residências de embaixadores em cidades ricas, como Nova
York.
Pagam os
justos pelos pecadores. Um exemplo é o Japão, e um experiente diplomata indaga:
"A presidente Dilma vive dizendo que o Itamaraty serve para vender o
Brasil, trazer investimentos, dinamizar o comércio. Como defender o país para
investidores japoneses, se a embaixada não paga nem a conta de luz?". Taí,
é uma boa pergunta.
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