Depois de
destruir as finanças públicas e arruinar com o legado do Plano Real, os
petistas desejam tirar ainda mais recursos da iniciativa privada?
O abuso de
governantes que avançaram sobre o bolso dos cidadãos foi, historicamente,
motivo das mais famosas revoluções. Roboão abriu uma cicatriz milenar no povo
judeu ao ignorar o conselho dos anciões e partir para o aumento de impostos. A
Revolução Americana ganhou corpo após a Coroa Inglesa tentar incrementar a
taxação da colônia. Tiradentes e os inconfidentes mineiros se rebelaram contra
o quinto, que confiscava 20% do ouro produzido em Minas Gerais.
Não pode
haver taxação sem representação, como sabiam os colonos americanos inspirados
pelo Iluminismo. Quem está disposto a defender que hoje, no Brasil, há um
quadro de representatividade legítima no Congresso e no governo federal? Um
sistema político que preserva no poder uma presidente com apenas 7% de
aprovação não parece muito eficiente em atender às demandas populares. No
entanto, esse governo quer mais impostos.
O país está
em crise, nessa periclitante situação, por conta da incompetência, da
roubalheira, da arrogância e dos equívocos ideológicos do PT. Depois de
destruir as finanças públicas e arruinar com o legado do Plano Real, os
petistas desejam tirar ainda mais recursos da iniciativa privada? E o ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, um tecnocrata, ainda tem a ousadia de chamar isso de
“investimento”, como se fosse desejável retirar ainda mais dinheiro do setor
produtivo para bancar um governo perdulário?
Sim, as
contas públicas precisam estar ajustadas, e as despesas não podem ser maiores
do que as receitas. Mas só mesmo um “cabeça de planilha” pode achar que tanto
faz chegar lá pelo aumento da arrecadação ou pelo corte de gastos. Num país
cujo governo já arrecada quase 40% do PIB, e praticamente a fundo perdido,
chega a ser imoral falar em aumento de impostos. É preciso ser muito bitolado
para afirmar que pagamos poucos impostos no Brasil.
A conta
verdadeira precisa levar em conta, além da carga já elevada, o custo dobrado
que a classe média tem para sobreviver. Afinal, quem está satisfeito com o SUS?
Quem pode, tem plano de saúde privado, o que é custo extra. Quem, podendo fazer
o contrário, coloca os filhos na escola pública, palco de doutrinação ideológica
e greves constantes? Novamente, custo dobrado para ter educação razoável.
Segurança? Condomínios fechados que encarecem a cota mensal dos moradores.
Em suma,
pagamos muito imposto, trabalhamos até maio só para sustentar o governo, e
fazemos isso sem contrapartida. Ainda somos chamados de “contribuintes”,
eufemismo que é um desrespeito aos pagadores de impostos que, sob a mira da
coerção estatal, são forçados a contribuir com essa roubalheira, incompetência
e quantidade incrível de privilégios.
A crise
atual tem sua origem justamente nas irresponsabilidades do governo populista do
PT, que achou ser possível “pedalar” como se não houvesse amanhã, como se
austeridade fiscal fosse um palavrão, uma invenção de “neoliberais”. Os alertas
dos “Pessimildos” se mostraram acertados, e agora o governo precisa enfrentar a
dura realidade. Mas quer fazer isso jogando o fardo para ombros alheios, para o
trabalhador, para a classe média?
É um
acinte! Enquanto sofremos com a alta inflação, com o risco crescente de desemprego,
os políticos trocam de carros oficiais, aprovam aumentos de salários, continuam
em suas bolhas, isolados dos efeitos nefastos de suas medidas. Confiam demais
no mito do pacato cidadão brasileiro, que apanha o ano inteiro, mas deixa rolar
pois tem o carnaval, o futebol e as novelas para afogar suas mágoas. Até o dia
em que esse gigante adormecido realmente acordar: aí seus exploradores vão
tremer.
Que fique
claro uma coisa: não aplaudo revoluções, muito menos as sangrentas como a
Francesa. Costumam trocar seis por meia dúzia, às vezes colocando no poder algo
ainda pior. Acredito na via da democracia representativa, das reformas dentro
do sistema. É justamente para evitar revoluções que a democracia existe, com
sua alternância de poder e sua capacidade de se adaptar. E é por temer o risco
de uma revolução sem controle que faço esse alerta.
Ainda dá
tempo de evitar o pior, de usar essa crise para fortalecer nossas instituições
republicanas, para aprender lições importantes contra o desenvolvimentismo inflacionista.
Ainda é possível fazer do limão uma limonada. Mas se a reposta da classe
política for, uma vez mais, fingir que vive na Suécia e demandar mais impostos
ainda da população, aí creio que, cedo ou tarde, será inevitável o pior. A
marcha da insensatez cobrará seu preço. Estão brincando com fogo, e vão se
queimar.
Rodrigo
Constantino, economista e presidente do Instituto Liberal. O Globo, 15/9/2015
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