Marcha à ré: a destruição de bens e de empregos levou a fatia da indústria na economia de volta aos níveis de 1940 |
As
desgraças dos governos sempre vêm de longe. Não existe, para os que estão por
cima, o infortúnio do “mal súbito”. Não há possibilidade, no mundo dos fatos
concretos, de ocorrer alguma coisa que “ninguém poderia prever”.
Não há
“sustos” causados por um raio que caiu de repente lá de cima — nem desastres
devidos a uma desatenção de autoridades supremas que talvez, quem sabe, tenham
“demorado um pouco” para perceber os desastres que criaram a seu redor. Tudo o
que existe debaixo do céu, como já se sabe desde a redação de Eclesiastes, é um
tempo de semear e um tempo de colher o que foi plantado.
O Brasil de
hoje está, muito simplesmente, no tempo da colheita daquilo que seus três
últimos governos, com o apoio decisivo do atual, semearam de forma sistemática,
arrogante e obsessiva desde o dia 1º de janeiro do ano de 2003. Plantaram joio;
estão colhendo joio.
Desprezaram,
com igual soberba, outras realidades expostas no velho livro. Ensina-se ali que
existe um tempo de armazenar e um tempo de distribuir; quiseram só distribuir,
e ainda assim distribuíram mal, porcamente e sobretudo para si próprios. Há um
tempo para destruir e um tempo para reconstruir; ficaram apenas na destruição.
Queriam o quê?
O país
assiste no momento à tristonha agonia diária do ministro Joaquim Levy — o homem
que deveria ser o funcionário mais importante do governo começa o expediente de
cada dia, de manhã, sem saber se estará no cargo na hora do almoço, e muito
menos no momento de voltar para casa ao fim de sua jornada de trabalho.
Vê o
amontoado de ruínas a que se reduziu o segundo governo da presidente Dilma
Rousseff, cada vez mais empenhada em exercer o que parece ser sua vocação de
capataz em obras de demolição. Raramente passam 24 horas seguidas sem alguma
nova infâmia na economia.
O governo,
pela primeira vez desde a instituição da Lei de Responsabilidade Fiscal,
apresenta um orçamento, o de 2016, com despesas superiores às receitas; estão
faltando uns 30 bilhões de reais para pagar as contas públicas do ano que vem,
mas talvez acabem sendo 80 bi ou sabe-se lá quanto.
A produção
industrial acaba de cair pelo 17º mês seguido, numa destruição frenética de
bens e de empregos que leva a participação da indústria na economia brasileira
a voltar aos níveis de 1940. O Brasil entrou oficialmente em recessão: cresceu
zero em 2014, andará para trás em 2015 e possivelmente cairá de novo em 2016,
uma sequência lógica do desempenho miserável dos quatro primeiros anos de
Dilma e de sua devoção religiosa às decisões erradas. O que mais? Já chega
assim.
Não há
nada, nisso tudo, que venha da “situação atual”. Estava decidido lá atrás, com
a chegada ao governo de forças que acreditam, entre tantas outras insânias, na
quimera do efeito sem causa; querem isso, ou não querem aquilo, sem pensar que
é indispensável praticar atos racionais para obter uma coisa e evitar a outra.
Todo mundo é livre para opinar quando, onde e por que começaram os horrores de
hoje.
Uma boa
escolha está no vírus fatal inseminado pelo ex-presidente Lula quando tomou a
mais funesta decisão de sua vida política ao escolher Dilma como sucessora, num
momento em que tinha a excepcional vantagem de poder colocar na Presidência,
realmente, o nome que quisesse.
Lula achou
que não haveria nenhum problema sério em dar o cargo a uma pessoa que jamais
tinha sido eleita nem sequer para vereador, não tinha uma única realização de
verdade em seu currículo e era portadora natural de uma inépcia devastadora
para a tarefa de governar.
Achava que
Dilma ia apenas esquentar comportadamente sua cadeira durante quatro anos e
entregá-la de volta na eleição de 2014. Mas a primeira coisa que ela fez foi
decidir que não ia devolver coisa nenhuma — uma calamidade anunciada, diante de
sua compulsão em escolher sempre o pior. Ao contrário, como disse, faria “o
diabo” para ficar lá os oito anos que a lei permite. “O diabo” é isso tudo que
vem fazendo desde sempre. É onde estamos, precisamente.
J.R.Guzzo, revista Exame, setembro 2015.
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