A
presidente Dilma Rousseff passou o primeiro mandato inteiro menosprezando
qualquer opinião que não fosse a sua, impondo ao País, sem dar ouvidos a
ninguém, uma política econômica desastrosa, cujos efeitos daninhos dificilmente
serão revertidos sem um imenso esforço nacional a ser empreendido quando sua
ruinosa gestão acabar. Afinal, dia após dia, ela demonstrou não ser capaz de
fazer o que a hora exige. Nesses anos todos, ademais, a presidente demonizou
sistematicamente a oposição, atribuindo-lhe intenções perversas contra os
trabalhadores e contra as trombeteadas conquistas sociais proporcionadas pelo
lulopetismo. Agora, no momento em que o projeto delirante de Dilma e do PT está
sendo atropelado pela dura realidade dos fatos, num fracasso tão esmagador que
nem mesmo a competente máquina de propaganda petista é capaz de negar, a
presidente mandou espalhar que gostaria de “conversar” com a oposição.
Que
“conversa”, senão a que faz o boi dormir, pode querer uma presidente que, a
todo momento, chama os opositores de “golpistas”? Que pode querer Dilma com
esse “diálogo” senão um sócio para dividir a responsabilidade pelas medidas
impopulares que ela inevitavelmente terá de adotar para amenizar os danos de
sua trágica administração? Seu apelo à oposição tem o mesmo valor que suas
promessas de campanha – serve somente para enganar os incautos.
Não é de
hoje que Dilma tenta posar de estadista. No primeiro discurso após a reeleição,
conquistada numa campanha eivada de mentiras contra seus adversários, a petista
se disse “disposta ao diálogo”, algo que, segundo ela, faz parte de uma
“democracia madura”. Para perceber o embuste daquele pronunciamento, nem é
preciso notar que Dilma cometeu a indelicadeza de não mencionar, em nenhum
momento, o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB-MG), que havia obtido
expressivos 51 milhões de votos e que lhe teria telefonado para felicitá-la
pela vitória. Basta lembrar que, até aquele momento, as maiores críticas sobre
a indisposição de Dilma ao diálogo partiam de sua própria base de apoio no
Congresso.
Mais
recentemente, os assessores de Dilma divulgaram que a presidente perguntou a
seu vice, Michel Temer, o que ele achava da ideia de convidar a oposição para
discutir soluções para os problemas do País. Também espalharam que o
ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, havia sido incumbido pela petista
de convencer a bancada oposicionista no Congresso a aprovar as medidas que ela
considera necessárias para debelar a crise.
Foi com
esse ímpeto conciliador, tão autêntico quanto uma nota de três reais, que
Dilma, numa entrevista à Folha de S.Paulo (23/1), voltou a dizer que espera
conversar com a oposição e enfatizou que “é impossível ter uma democracia
madura se não pudermos discutir alguns assuntos em comum”.
De fato,
democracias são “maduras”, para usar a expressão de Dilma, quando, do embate de
ideias, surgem consensos que são transformados em políticas de Estado. Esse
cotejo só se realiza e dá bons frutos se houver genuíno desejo de colaboração,
ainda que dentro da luta pelo poder. Não é o caso de Dilma e muito menos é o de
seu partido, o PT.
Há décadas
o PT é o exemplo mais bem acabado de partido que boicota qualquer tentativa de
diálogo. Sua trajetória demonstra profunda indisposição para colaborar com
projetos que não sejam de sua lavra. É uma legenda conduzida por uma ideologia
prepotente, que de saída despreza o contraditório, pois julga ter o monopólio
da verdade.
Quando seus
interesses ou planos são contrariados, o PT não se vexa nem mesmo de boicotar o
governo cuja presidente é sua filiada. Na mais recente resolução de sua
Executiva Nacional, a cúpula petista avisou a Dilma que “o Partido dos
Trabalhadores somente apoiará soluções que sejam negociadas e pactuadas com o
sindicalismo, as organizações populares e os movimentos sociais”.
Portanto,
mesmo que realmente quisesse dialogar, Dilma teria problemas não com a
oposição, que tenta articular seu impeachment e dificultar-lhe a vida no
Congresso, mas sim com seu próprio partido – que chantageia a presidente e, de
olho nas urnas, está a um passo de tratá-la como adversária.
O Estado de São Paulo, 28/1/2016
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