Numa só
jogada de boliche, o delator Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás e da BR
Distribuidora, mira três ex-presidentes e balança a presidente Dilma Rousseff.
É intrigante, ou pior, angustiante confirmar a desenvoltura e a sofreguidão com
que a BR Distribuidora foi tomada de assalto pelo poder político, tanto quanto
a própria Petrobrás, hoje campeã mundial de endividamento, e os fundos de
pensão, que viraram pau para toda obra. O que sobra, afinal?
A BR, ou
Petrobrás Distribuidora S.A., é uma sociedade anônima de capital fechado,
subsidiária integral da Petrobrás. Criada em setembro de 1971, é a maior rede
de postos de distribuição de derivados de petróleo do país. Hoje, está presente
em todo o território nacional com cerca de 7.500 postos de serviços e mais de
10 mil grandes clientes entre indústrias, termoelétricas, companhias de aviação
e frotas de caminhões, tratores e carros.
Em seu site
oficial, a companhia se gaba de ser “uma das empresas brasileiras que mais
valoriza o seu capital humano”. E continua: “Faz isso porque sabe que é
impossível alcançar seus resultados financeiros, de produtividade, de
tecnologia, sem valorizar as pessoas que nela trabalham”. A questão é quem é
valorizado. Ou melhor, quem manda lá.
Toda essa
potência virou um joguete político. Caiu no colo de um sujeito já mais do que
conhecido como Fernando Collor, foi manipulada pelo braço direito dele, Pedro
Paulo Leoni Ramos, assaltada por políticos de diferentes partidos e
vilipendiada de vários modos. Exemplo contundente do que virou: Lula embrulhou
em papel de presente a diretoria mais sensível da BR, a de Finanças e Serviços,
e, segundo ele, a deu como mimo para Nestor Cerveró - que é quem é.
Em suas
delações e em documentos sobre elas encontrados pela Polícia Federal no
gabinete do senador Delcídio Amaral (então líder do governo e atualmente na
cadeia), Cerveró fala genericamente de propina de US$ 100 milhões “ao governo
FHC” na compra de uma empresa petrolífera na Argentina. Também diz que ganhou
de presente de Lula uma diretoria da BR - justamente a de Finanças! - por ter
facilitado uma operação do banco Schahin para o PT. Revela que Lula teria
ofertado todas as diretorias da BR para Fernando Collor e propôs reunião da
cúpula da empresa com ele e arremata contando que Dilma teria avalizado a
decisão.
É ou não de
tirar o fôlego? Se mentir, Cerveró corre o risco de perder todas as vantagens
da delação premiada e cair no pior dos mundos e na pior das penas. Lembram-se de
Marcos Valério, do mensalão? É por isso que os investigadores levam os
depoimentos de Cerveró a sério e é por isso que Delcídio Amaral morria de medo
das revelações que ele faria. A ponto de cair como um patinho na rede do filho
do ex-gerente da Petrobrás e acabar sendo preso não pelas roubalheiras, mas por
tentar planejar a fuga de Cerveró para bem longe do Brasil, da Lava Jato e dele
próprio.
Nos relatos
sobre a bilionária roubalheira no setor de petróleo do Brasil, a BR
Distribuidora aparece como um joguete de mão e mão, roubada por diretores,
funcionários e clientes, ao sabor da conveniência política. E o mais grave é
que ela não era e não é um caso isolado, mas apenas parte de um esquema que
emerge a cada dia da Lava Jato em estatais, bancos públicos, agências de
governo. Você está estarrecido? Pois não fique. Vem muito mais por aí, isso
está longe do fim.
Eliane Cantanhêde, O Globo, 13/02/2016
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