É
inevitável a sombria perspectiva de um governo ainda pior que o desgoverno de
hoje, na hipótese de que o impeachment de Dilma seja barrado na Câmara dos
Deputados, que se tornou necessário considerar porque o Planalto está assumindo
“compromissos com o rebotalho do Congresso, abrindo-lhe espaços nobres no
Ministério e aviltando de forma inédita o exercício da Presidência”, conforme
destacado em editorial publicado no domingo neste espaço. E, pelas notícias que
vêm do submundo brasiliense, não são cargos apenas que são mercadejados. Também
o dinheiro vivo compra ausências (por R$ 400 mil) ou votos (por R$ 1 milhão)
que favoreçam Dilma. São importâncias calculadas, bem a propósito, para caber
em cuecas ou peças semelhantes, como disso bem sabem notórios próceres do
governo petista. Menos insultaria o político corrupto; mais tornaria o negócio
arriscado.
A
agravar essa perspectiva negativa, em especial no que diz respeito ao
aviltamento do exercício da Presidência da República, está o fato de que uma
reviravolta que garanta o mandato de Dilma implicará inevitavelmente o
fortalecimento político de Luiz Inácio Lula da Silva e a provável confirmação
de sua nomeação para o Ministério, que ele próprio acredita que acontecerá em
breve.
Diante
dessa possibilidade, a questão que se coloca é a seguinte: quem será
efetivamente o chefe do governo? Dilma ou Lula? Não que faça muita diferença
para o País, porque, do ponto de vista econômico, a ingovernabilidade tem
raízes profundas no voluntarismo estatista do PT e isso não mudará. E, do ponto
de vista político, este governo impopular continuará refém do fisiologismo
escancarado no qual o baixo clero parlamentar foi acostumado a se esbaldar pela
falta de escrúpulos do lulopetismo. Uma coisa é obter 172 votos e/ou ausências
suficientes para barrar o impeachment.
Outra coisa é garantir maioria de votos,
mesmo que simples, para aprovar as iniciativas do Executivo. Trocando em
miúdos, com o PT no poder, a economia não será saneada e a política continuará
a esbórnia que tem sido. Ou seja, a moralidade não se restaurará.
Lula é
visto pelo PT como a salvação da lavoura. E, se o impeachment não for aprovado,
a influência do chefão no aliciamento de votos terá sido decisiva. Com esse
crédito, ele será uma espécie de primeiro-ministro, detentor efetivo do poder,
até porque é mais fácil acreditar em Papai Noel do que na hipótese de que
Dilma, apesar de toda sua soberba e arrogância, tente com sucesso subordinar
Lula a seu comando. E o próprio ex-presidente não faz segredo disso. Na visita
que fez a Fortaleza no fim de semana, cansou-se de proclamar que vai virar
ministro para “tomar as rédeas” do governo. É exatamente isso o que desejam, e
não disfarçam, o PT e todas as entidades sindicais e sociais que são extensões
do lulopetismo.
A se
confirmar esse drible em Dilma – honi soit qui mal y pense – estará consumado o
golpe que há meses ela teme e denuncia pois, em última análise, estará sendo
deposta de facto, por meio, digamos, de um “arranjo doméstico”. E ninguém no PT
e arredores moverá uma palha para protestar contra o golpe da usurpação do
poder de quem foi consagrada nas urnas com mais de 54 milhões de votos
populares. Lula e o PT, triunfantes mercadores de ilusões, estarão dando uma
debochada banana para os dois terços de brasileiros que querem ver pelas costas
Dilma Rousseff e tudo o que ela significa.
Com Lula
no comando do governo e Dilma se dividindo entre o saudável pedalar matinal nas
cercanias do Palácio da Alvorada e uma intensa agenda de inaugurações
festivamente desimportantes Brasil afora, o País estará condenado a piorar –
mas acreditando que melhora.
Populista
irredimível, Lula acredita ter salvado com as próprias mãos o Brasil da crise
mundial de 2008, sem se dar conta de que a “nova matriz econômica” em que
embarcou crente de que estava abrindo as portas do Paraíso era a súmula do
desastre. Anos de voluntarismo intervencionista paralisaram o País e
surrupiaram a confiança dos brasileiros, interrompendo a produção de riquezas,
única base sustentável para o verdadeiro desenvolvimento econômico e social. A
Nação não aguenta mais do mesmo.
O Estado de São Paulo, 5/4/2016
O Estado de São Paulo, 5/4/2016
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