“Subdesenvolvimento
não se improvisa, é obra de séculos!” – Nelson Rodrigues
Se
existe algo que me deixa muito entristecido no Brasil é a admiração, às vezes
secreta e às vezes expressa, aos maus-caracteres. O brasileiro já está tão
doente e tão profundamente ‘encavernado’ no mundo da corrupção e das
más-feitorias que acha normal que um político roube o seu dinheiro. O
brasileiro parece, neste quesito, rir para não chorar, quando na verdade
deveria lutar. A sociedade se encontra em uma espécie de anestesia covarde: vê
algo gravíssimo, alarmante, mas, de tão sofrida, dá risada, se exalta e esquece
no momento seguinte. Isso não é de hoje; isso já vem de tempos e é uma das
principais razões que levam o Brasil a amargurar a condição de país
subdesenvolvido.
Nas
conversas de bar, no trabalho e nas rodas de amigos, não é raro que se escutem
coisas do tipo: “viu lá o carro do Senador? Caramba!”; “olha o deputado fulano
de tal, esse é espada!”. Não há nenhum problema em exclamar a sua admiração por
um carro ou por uma pessoa, mas dentro desses contextos que citei, existe uma
mensagem implícita: o que se admira, na verdade, não é o carro ou a pessoa, é a
malandragem, a esperteza e a sem-vergonhice do sujeito. O cara chegou lá! Foi
malandro o suficiente! É o cara! É assim que o Brasileiro pensa.
Esses
dois exemplos que citei, infelizmente, são reais e foram ouvidos por mim em um
dos melhores restaurantes do Rio de Janeiro, quando um Parlamentar acusado de
corrupção, que não citarei o nome, ingressou na casa. Umas quatro pessoas de
uma mesa falaram do carro. Os ocupantes de outra mesa, bem maior e composta
inclusive por empresários conhecidos, para a minha surpresa, teceram o
comentário “esse é espada!”, tendo, também, um desses ido lhe dar um caloroso
aperto de mão. Tal cena exibe a influência da máquina burocrática nacional e o
amplo poder de controle e decisão que os políticos têm sobre a economia do
Brasil, o que levou à prostituição do empresariado em troca de favores e
benefícios. A Petrobras, o BNDES e as empreiteiras aí estão para provar isto.
Outra
reflexão que me veio à mente foi que todos os indivíduos que tiveram tal
conduta idólatra para com o parlamentar pertencem à elite financeira do País,
isto é, aqueles que deveriam dar o exemplo de virtude, de trabalho, de lucidez
e de responsabilidade. Mas não! No
Brasil, sob estes 13 anos de governo revolucionário, parte espessa da elite
ficou amedrontada e decidiu bajular o governo. Aqueles que deveriam dar o
exemplo mostram como não se deve agir. Os que deveriam mostrar trabalho mostram
malandragem e promiscuidade com o governo; os que deveriam mostrar lucidez, não
acham nada de mais pegar um pouquinho de verba pública para acelerar seus
negócios.
Essa
conduta não vem, é claro, somente da elite; vem do País como um todo, de todas
as classes sociais. Elas existem no mundo inteiro, é verdade, mas no Brasil ela
é suigeneris. Recentemente, um programa de televisão fez um teste de
honestidade onde uma câmera escondida filmava um pedestre em uma rua
movimentada deixando cair a sua carteira cheia de dinheiro e documentos no
chão. Ao final do teste, constatou-se que 70% dos transeuntes pegaram para si a
carteira com tudo.
Hoje em
dia, a canalhice do Brasil está em maior evidência por conta da sem-vergonhice
ilimitada do “governo revolucionário” e sua plêiade de bandidos. A canalhice
está politizada em excesso nessa nossa época, mas ela já era retratada com
frequência na nossa literatura e enfatizada pelos ilustres que passaram por
esta terra. Nelson Rodrigues já dizia que “o brasileiro quando não é canalha na
véspera, é canalha no dia seguinte” e a sua conhecida série de contos “A vida
como ela é” faz uma radiografia da realidade do Brasileiro.
Charles
Darwin, quando veio a estas terras no ano de 1830, resumiu negativamente e até
com certo exagero o que viu no Brasil, mas sua mensagem é de suma importância:
“os brasileiros, até onde vai minha capacidade de julgamento, possuem somente
uma pequena daquelas qualidades que dá dignidade à humanidade”, disse o
cientista em dos trechos mais pesados do diário em que escrevia sua rotina
durante a viagem do “Beagle”.
Também
sobre o Brasil, outro trecho interessante do seu diário e bastante atual,
nestes tempos de agudíssima crise moral, é o seguinte: “Não importa o tamanho
das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que em
pouco tempo ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados”. É óbvio que Darwin generaliza, mas já
naqueles tempos de Império que, por sinal, houve muito mais virtudes e boas
ações de nossos Homens e Mulheres de Estado do que na República, o Brasil já
apresentava uma série de vícios legais e culturais que livravam a cara de quem
podia pagar mais. O crime compensava e ainda, apesar das reservas morais que
existem nas instituições nacionais, compensa.
O
Marxismo cultural da elite socialista que nos governa trouxe ao Brasil o tipo
mais ousado de todas as canalhices: o esquerdismo. Uma espécie de canalhice com
estilo de Robin Hood deturpado na qual, o canalha pensa que está fazendo o bem
ao tirar dos ricos para dar aos pobres e, ainda, estufa o peito alardeando aos
quatro ventos que tem o monopólio da virtude, que ele é uma pessoa boa e conclama
seus seguidores para seguirem o seu exemplo. Afinal, “não existe uma viva alma
mais honesta do que eu!” ele pode dizer.
Nelson
já observava no brasileiro uma baixa autoestima muito forte, tanto para com a
Nação como para si próprio. Ele chamou isso de “complexo de vira-lata”, o que,
automaticamente, denota uma revolta, um sentimento de fracasso. Mas o que
originou este sentimento? As escolhas erradas, os homens errados e as virtudes
erradas que o Brasileiro escolheu no decorrer dos seus 194 anos de história
independente. Um país que joga fora um D.Pedro II, um Mário Ferreira dos
Santos, um Oswaldo Meira Penna, um Roberto Campos, não corre, como diria este
último, o menor risco de dar certo. Eu, particularmente, noto no Brasil uma
decepção consigo mesmo, pois o povo percebe que podia ter feito algo para
melhorar a situação, mas não fez. Um verso poético de Manuel Bandeira descreve
esse sentimento: “a vida inteira que podia ter sido e que não foi.” É daí que
se origina o complexo de vira-lata de que Nelson tanto falava.
Porém,
todo esse bolo de revolta e decepção fica ainda mais amargo com a cereja
vermelhinha e asquerosa que é o socialismo. O socialismo é canalha desde o
berço, já que começa solapando os três pilares de uma sociedade livre: a vida,
a liberdade e a propriedade. Basta ler os escritos de Marx, Engels, Althusser,
Foucault, Gramsci, e outros caricatos mais para perceber isto.
A
canalhice moderna do Brasil, a descrença do seu povo no trabalho, o
ressentimento contra os ricos, a idolatria aos corruptos e o ressentimento que
se nota nas ruas demonstram, perfeitamente bem, um povo que elege os heróis e a
ideologia errada. Se chegamos ao ponto de considerar Lula o maior presidente
que o Brasil já teve, inelutavelmente, amargaremos a maior de todas as
decepções. Se as últimas quatro eleições mostraram uma coisa é que o Brasileiro
é masoquista, idolatra aquele que o quer mal; o elege, e depois diz,
cabisbaixo, que está tudo mal. Ele tem esse direito, desde que o use
corretamente: parando de idolatrar as duas maiores fontes da canalhice moderna
no País: os políticos e o Estado.
Alguns
dizem que o povo acordou, que descobriu que ele é espoliado pelo Estado e que
na mesma medida deposita nele a sua esperança, que o socialismo e a corrupção
estão intimamente ligados, que um Estado grande acaba com a honestidade das
pessoas. Muito bem. Eis aí o caminho certo para a mudança.
A onda
liberal e conservadora que surge no Brasil é algo que me enche de esperança e
que conta com todo o meu apoio e com o suporte de todos os brasileiros, que
ainda conservam em si decência e justiça. Essa é uma ótima hora para o País
começar a planejar a sua mudança de postura rever a sua mórbida relação com a
canalhice.
Rafael
Hollanda, estudante de direito do Ibmec-RJ, publicado na página do Instituto Liberal
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