Olhando
o antigo trilho do trem de chegada dos prisioneiros, atravessei o portão de
ferro onde estava escrita a histórica frase"Arbeit macht frei" (O
trabalho liberta). Era um momento de reflexão, pois eu entrava no primeiro
campo de concentração nazista denominado "Dachau", que serviu de
modelo na segunda guerra mundial, localizado perto da cidade de Munique na
Alemanha.
Passaram
por Dachau aproximadamente duzentas mil pessoas: negros, ciganos, homossexuais,
deficientes físicos e mentais, testemunhas de Jeová, comunistas, judeus etc.
Todos aqueles que na ótica do nazismo prejudicariam a superioridade de uma
raça.
Caminhei
pelos pavilhões, vi os apertados dormitórios, os sanitários coletivos, onde
vários homens e mulheres utilizavam ao mesmo tempo e sem qualquer divisória.
Emocionei-me quando entrei na traiçoeira câmera de gás, em que as pessoas
pensavam que teriam água no chuveiro. Observei as fornalhas do crematório. Era
quase inacreditável admitir que tudo aquilo tinha acontecido.
Por que,
perguntei a mim mesmo, há apenas 80 anos o povo deste atual país de excelente
qualidade de vida, permitiu-se em sua maioria se fanatizar por uma proposta tão
absurda? Por que seguiu lideranças que afirmavam que purificar a raça humana
seria colaborar com Deus? Por que criou ídolos de barro? Por que desumanizou-se
a este ponto?
Ninguém
se torna fanático da noite para o dia. Começa devagarzinho, alicerçado em
lacunas no caráter, que ao serem alimentadas pelo orgulho, vão anestesiando o
nosso discernimento. O orgulho é o inverso da humildade. Esta última quem tem
pensa que não tem, e quem pensa que tem, não tem.
Se nos
perguntarem se somos fanáticos, talvez até nos sintamos ofendidos, e salvo
raras exceções, afirmaremos que não. O fanático ou quem está a caminho de se
tornar, dificilmente percebe o seu estado, pois já foi ou está sendo absorvido
pela ausência de autocrítica, quando imprudentemente descartou um sábio
ensinamento do passado: "conhece-te a ti mesmo".
Algumas
perguntas reflexivas poderão nos ajudar pelos campos da vida, sejam em
ambiências políticas, religiosas ou diversas:
-
Escutamos com respeito o contraditório ou apenas queremos convencer o
interlocutor colocando-o na condição de aprendiz?
-
Acessamos livros, revistas, jornais, programas, blogs etc. de quem pensa
diferente, enriquecendo-nos na diversidade, ou optamos por amaldiçoar o
diferente criando um novo "índex" e, quando o acessamos, o único
objetivo é detectar falhas para alimentar os nossos argumentos?
-
Estamos sendo honestos intelectualmente com a verdade dos fatos ou usamos
critérios diferenciados para episódios semelhantes?
-
Invertemos os papéis, mas mantendo os mesmos fatos, para verificar se as nossas
conclusões continuariam as mesmas ou a dureza do nosso discurso só serve para
os que pensam diferente?
- Quando
recebemos informações sobre os nossos contraditores, analisamos a veracidade e a
pertinência em divulgá-las ou compartilhamos sem qualquer preocupação ética?
-
Dialogamos de forma civilizada ou nos desequilibramos saindo do campo das
ideias para adjetivar os seus autores?
-
Relembramos de anteriores mudanças de posições pessoais, que no passado
tínhamos como pétreas, ou nos colocamos na imutabilidade divina?
É na
abertura para a análise equilibrada do contraditório, do diferente, que
geralmente encontraremos o incentivo à inovação e ao arejamento das nossas
ideias, às vezes já empoeiradas pelos limites do nosso "status quo".
Tenhamos uma janela aberta para novos ares, para o futuro, para a vida. Não
sejamos os modernos algozes de Galileu.
Atuemos
na sociedade de forma cidadã, democrática, pacífica e sem nunca esquecer o
alerta do saudoso Nazareno: orar e vigiar.
A
consciência é a nossa juíza. Perguntemos para ela: somos convictos ou
fanáticos?
Gezsler Carlos West, 19-05-2016
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