O ESTADO DE
S. PAULO - 23 Junho 2015
Fazendo eco
às pesquisas que demonstram que o apoio popular e a aprovação ao governo
continuam despencando, Luiz Inácio Lula da Silva, como se não tivesse nada a
ver com isso, faz duras críticas à presidente da República que colocou no
Palácio do Planalto, escancara seu estilo populista ao dar conselhos à
sucessora e tem o caradurismo de afetar consternação e se queixar do “ódio que
está na sociedade”.
O
estarrecedor depoimento de Lula, diante de líderes religiosos que reuniu em seu
instituto em São Paulo na semana passada, foi relatado pelo Globo no sábado.
O
ex-presidente falou aos líderes religiosos no momento em que era divulgada mais
uma pesquisa Datafolha dando conta de que caiu para 10% a aprovação popular a
Dilma Rousseff e subiu para 65% o índice de brasileiros que consideram seu
governo ruim ou péssimo. “A Dilma está no volume morto”, ironizou Lula,
acrescentando que ele próprio está no mesmo nível e o PT ainda mais abaixo.
Com o
cinismo que seus admiradores preferem interpretar como “visão pragmática” das
questões políticas, Lula endossou de modo geral as críticas feitas por seus
interlocutores ao governo, a Dilma e ao PT e ainda botou lenha na fogueira na
tentativa de convencê-los de que os problemas apontados são consequência da
teimosia de sua sucessora, que se recusa a seguir os conselhos que recebe do
mestre.
Tendo ao
lado o ex-ministro Gilberto Carvalho, que manifestava aprovação a todas as
intervenções do chefe e a elas acrescentava argumentos, Lula desfiou críticas a
Dilma e ao governo que ela comanda: “O Gilberto sabe do sacrifício que é a
gente pedir para a companheira Dilma viajar e falar”. “Numa reunião em Brasília
eu disse a ela: companheira, você lembra qual foi a última notícia boa que
demos. Ela não lembrava.” “Estamos há seis meses discutindo ajuste. Ajuste não
é programa de governo. Depois de ajuste vem o quê?” “Os ministros têm de falar.
Parece um governo de mudos.”
Não se
dando ao trabalho de disfarçar o tratamento de líder para liderada que pretende
impor em seu relacionamento com a presidente da República, Lula contou:
“Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa
rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para a Dilma, em que nós só temos 7%
de bom e ótimo. E disse para ela: isso não é para você desanimar, não. Isso é
para você saber que a gente tem de mudar, que a gente pode se recuperar. E
entre o PT, entre eu (sic) e você, quem tem mais capacidade de se recuperar é o
governo, porque tem iniciativa, tem recurso, tem uma máquina poderosa para
poder falar, executar, inaugurar”.
Lula
garantiu que nos encontros que mantém regularmente com a chefe do governo tenta
convencê-la da necessidade de se expor publicamente, fazer contato pessoal
“porque na hora em que a gente abraça, pega na mão, é outra coisa”. E resumiu:
“Falar é uma arma sagrada”, ressalvando que não se trata de falar na TV ou no
rádio, mas “olho no olho”.
Está claro
que, apesar de achar que entende de política mais do que ninguém, Lula é
incapaz de – ou não quer – perceber que de nada mais adianta Dilma Rousseff
sair por aí anunciando planos mirabolantes e fazendo promessas maravilhosas
pela razão simples de que perdeu a credibilidade. Pelo menos dois em cada três
brasileiros não acreditam nela. De resto, os conselhos de Lula recendem a
populismo barato e a vigarice chinfrim: para ele, o importante é levar o
eleitor “na conversa”.
Embora
permissivo quando se trata de si próprio, da família e dos amigos, Luiz Inácio
Lula da Silva se comporta com uma arrogância e uma presunção que o levam a
colocar-se sempre acima do bem e do mal.
Subiu na
vida pública transformando os adversários políticos em inimigos a serem
destruídos. E agora demonstra uma consternação hipócrita, como o fez no
encontro com os religiosos: “Jamais vi o ódio que está na sociedade. Família
brigando dentro de família, companheiro do PT que não pode entrar em
restaurante...”.
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