Lula fazendo o que faz melhor: enchendo a cara e contando mentiras. |
É sempre
assim. Tão logo se descobre que outra reportagem de VEJA vai reiterar que
sábado é o mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, recomeça a
apresentação da ária mais enfadonha da Ópera dos Malandros. É aquele em que o
que há de mais repulsivo no elenco da peça produzida, dirigida e estrelada por
Lula volta ao palco para ensinar à plateia que verdade é mentira.
Tem sido
assim desde a descoberta do Mensalão em meados de 2005. De lá para cá, os canastrões
em cena capricham na pose de vítima e repetem as mesmas falas. Os culpados são
inocentes. O xerife é o vilão. É tudo invencionice da imprensa reacionária a
serviço da elite golpista. O que parece comissão é uma contribuição financeira
espontânea e legal. Os responsáveis pela infâmia serão imediatamente
processados. E tome conversa de 171.
Não poderia
ser diferente neste fim de semana especialmente pressago para celebrantes de
missa negra. Apavorado com a reportagem de capa de VEJA, que enfileirou em 12
páginas a essência dos depoimentos prestados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, o
rebanho que acompanha o sinuelo sem rumo nem esperou pela chegada às bancas da
presente edição da revista para balir em coro que está em curso mais uma trama
sórdida contra o PT.
Como
confiar na palavra de um bandido confesso, e ainda por cima delator?, recitam
os filiados ao partido que virou bando. Para a companheirada, só é criminoso um
parceiro de maracutaias que, em troca dos benefícios reservados aos que aceitam
colaborar com a Justiça, decide contar o que fez, revelar o que sabe e
identificar os comparsas. É o caso de Pessoa. Até recentemente um generoso
amigo de Lula, agora é o inimigo número 1 dos embusteiros no poder.
Coerentemente,
os lulopetistas insones com o ruído do camburão enxergam guerreiros do povo brasileiro em todos os
delinquentes que se mantêm de boca fechada — só abrem o bico para mentir. Nada
fizeram de errado. Como não aconteceram os crimes que cometeram a mando e sob a
proteção dos chefões, não há nada a confessar.
Quem opta
pelo silêncio mafioso, como Delúbio Soares no caso do Mensalão ou João Vaccari
Neto agora, tem vaga na confraria dos heróis de chanchada, composta por
inocentes difamados e ofendidos por direitistas tão inimigos do povo que caem
fora do avião ainda na pista quando um ex-pobre se instala na poltrona ao lado.
Além da
desqualificação do acusador, o manual da esperteza companheira ordena o
sepultamento da prova testemunhal. Se não estiver amparada em provas materiais,
toda acusação deve ser rebaixada a fofoca. Para azar dos cleptocratas
liberticidas, Ricardo Pessoa juntou aos depoimentos uma pilha de documentos e
planilhas com extraordinário teor explosivo. E nem precisava, avisa a
consistência das declarações do empreiteiro.
Os depoimentos
de Pessoa confirmam que o poder de fogo da prova testemunhal é determinado pelo
volume e pela qualidade dos detalhes. Neles é que mora o perigo. Afirmar que
João Vaccari Neto recolhia pessoalmente a parte do PT no produto do roubo põe o
acusado nas cercanias do tribunal. O banco dos réus fica bem mais próximo
quando se acrescenta que a alcunha do coletor de propinas — Moch — foi sugerida
pela mochila permanentemente pendurada no ombro. Saber que o tesoureiro gatuno
chamava propina de “pixuleco” fecha o círculo que lembra o de uma algema.
Detalhes do
mesmo calibre também demoliram a piada do chefe que se mete em tudo mas nunca
sabe de nada se o caso de polícia envolve parentes, amigos, ministros de
confiança e outros meliantes de estimação. “Segundo Ricardo Pessoa”, lê-se na
reportagem de VEJA, “a UTC deu 2,4 milhões de reais em dinheiro vivo para a
campanha à reeleição de Lula, numa operação combinada diretamente com José de
Filippi Júnior, que era o tesoureiro da campanha e hoje é secretário de Saúde
da cidade de São Paulo”.
As minúcias
seguintes atestam que os saqueadores da Petrobras se valiam de métodos que
fundiam cuidado e descuido. Ficou estabelecido que os pacotes de dinheiro
seriam levados ao comitê da campanha de Lula por Pessoa, por Walmir Pinheiro,
executivo da UTC, ou por um emissário ungido por ambos. “Para não chamar a
atenção de outros petistas que trabalhavam no local”, prossegue o relato, “a
entrega da encomenda era precedida de uma troca de senhas entre o pagador e o
beneficiário”.
Ao chegar à
cena do crime, o homem da mala deveria sacar da garganta três consoantes e três
vogais: “Tulipa”, dizia. E só subia depois de ouvir a contra-senha que também
agrupava uma trinca de consoantes e outra de vogais: “Caneco”. As duas palavras
remetem a chope e cerveja. Chope e cerveja têm tudo a ver com “Brahma”.
“Brahma” era o codinome que uma ala da quadrilha usou para referir-se ao
ex-presidente em emails capturados pela Lava-Jato. O resultado da soma da
senha, da contra-senha e do codinome é a traseira de um camburão.
No Brasil
Maravilha que Lula pariu e Dilma amamenta, surtos de criatividade cretina são
cada vez mais frequentes. Não se deve estranhar que, entre um assalto e uma
lavagem de dinheiro, os larápios do Petrolão tenham inventado o que se pode
chamar de imprudência cuidadosa. Ou cautela de altíssimo risco.
Augusto Nunes
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