Dona Dilma
Jane, a mãe de Dilma Rousseff, mora com a filha no Palácio da Alvorada desde
2011. Mas tudo leva a crer que mãe e filha têm conversado pouco. Só a falta de
aconselhamento materno pode explicar a descortesia da presidente com o
companheiro Eduardo Suplicy.
Dilma
deixou Suplicy esperando durante dois anos por uma brecha na agenda
presidencial. Abordada em três oportunidades, prometeu-lhe a audiência. E nada.
O companheiro reiterou o pedido em 19 cartas. E aguardou… Aguardou… Aguardou…
Finalmente, a conversa foi marcada para as 17h desta segunda-feira.
Exultante,
Suplicy tomou um avião em São Paulo com grande antecedência. Pousou em Brasília
por volta das 14h. Decorridos 40 minutos da aterrissagem, o chefe de gabinete
da presidente, Álvaro Henrique Baggio, lhe telefonou.
“A ligação
foi para informar que havia ocorrido uma série de problemas nos últimos dias,
em especial no final de semana, e a presidente não poderia me receber hoje'',
relatou Suplicy. “Eu já tinha contado para meus amigos, familiares e alunos que
a presidente me receberia. Estou entristecido.''
A primeira
vez que Eduardo Suplicy pediu a Dilma Rousseff que o recebesse foi em junho de
2013. Desde então, a presidente dá preferência a outras companhias. Recebeu
inúmeras vezes, por exemplo, o morubixaba peemedebista Renan Calheiros. Afora
as conversas extra-agenda, abriu as portas do Planalto e do Alvorada para
Marcelo Odebrecht uma, duas, três vezes.
Hoje, Renan
defende-se em inquérito no STF da acusação de receber propinas na Petrobras. E
Odebrecht, herdeiro e presidente da empreiteira de mesmo nome, está preso na
carceragem da PF em Curitiba sob a suspeita de participação no cartel que pagou
propinas na estatal petroleira.
Dilma Jane,
a mãe da presidente da República, não deve ser diferente de todas as outras
mães. Uma de suas lições vitais há de ter sido: “cuidado com as más companhias,
minha filha.”
Pode-se
conviver com Renan Calheiros por obrigação protocolar. Mas cortejar o Renan,
manter o apadrinhado de Renan na Transpetro por 12 anos, entregar a
governabilidade nas mãos do Renan, ajudar a reeleger Renan à presidência do
Senado, isso nenhuma mãe é capaz de compreender.
Conversar
com empreiteiro no gabinete presidencial, vá lá! Mas qualquer mãe diria que
abrir o almoço e o café da manhã do Alvorada para esse tipo de empreitada é
mais arriscado do que fazer xixi sentada em privada de banheiro público.
Se pedisse
conselhos à sua mãe, Dilma Rousseff talvez ouvisse algo assim: “Recebe o
Eduardo Suplicy, minha filha. Tudo o que o Suplicy deseja é fazer a defesa
daquele projeto dele: a renda básica de cidadania. Não deixe de ouvir o
Suplicy. Ele pode ser chato, mas é inofensivo.”
Nos
próximos dias, Dilma receberá a 20ª carta de Suplicy. Para não perder a viagem,
ele foi recebido pelos ministros petistas Pepe Vargas (Direitos Humanos) e
Tereza Campello (Desenvolvimento Social). Mas ainda não se deu por vencido.
“Não perdi a esperança, estou no aguardo que a presidente Dilma volte a marcar
comigo.''
Nesta
segunda-feira, enquanto Dilma exercitava sua descortesia em Brasília, Lula
atacava o PT num evento organizado por seu instituto, em São Paulo. “O PT
perdeu a utopia'', afirmou. Os petistas “só pensam em cargo, em emprego, em ser
eleito'', acrescentou. “Temos que definir se queremos salvar nossa pele, nossos
cargos, ou nosso projeto.''
Tomado
pelos parâmetros de Lula, Suplicy é um petista démodé. Não tem afilhados para
indicar, sua pele não carece de salvamento, conhece o mensalão e o petrolão de
ouvir dizer, não teve contato com Alberto Youssef, não voou em jatinho da
Odebrecht. Por tudo isso, virou uma espécie de tiozão excêntrico do PT. Ninguém
sabe muito bem como tratá-lo. Nas reuniões partidárias, os mais jovens são
orientados para não rir do seu jeitão. E os mais velhos escondem suas cartilhas
da renda básica de cidadania. Suplicy representa o ex-PT. Em meio à lama,
tornou-se uma curiosidade anacrônica.
Josias de Souza, 23/06/2015
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