. . . Brasília afunda com a orquestra.
Reunidos no
gabinete da presidência do Senado, os líderes partidários esperavam Joaquim
Levy. Como o ministro da Fazenda demorava a chegar, o senador Omar Aziz (AM),
líder do PSD, lançou uma interrogação no ar: “Como é, minha gente, nós vamos
fazer de conta que não está acontecendo nada?”
Brasília
vivia uma terça-feira de Titanic. Agentes federais varejavam endereços de
políticos. Entre eles três senadores: Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nigueira
(PP-PI) e Fernando Bezerra (PSB-PE). E os líderes simulavam normalidade. Mais
ou menos como os passageiros do célebre transatlântico, que desfrutavam do som
da orquestra enquando a água invadia as escotilhas.
Antes que a
pergunta de Aziz fosse respondida, chegou à sala o ministro da Fazenda. E a
prosa mudou de rumo. Horas depois, Renan Calheiros leria no plenário do Senado
uma nota de repúdio à ação dos agentes da PF. Chamou de “invasão” o cumprimento
de ordens de busca e apreensão emanadas do STF. Suas palavras soaram como o
comando do maestro do Titanic para que a orquestra continuasse tocando.
A cinco
quilômetros dali, Lula almoçava no Palácio da Alvorada com Dilma Rousseff e
alguns de seus ministros petistas: Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho
Silva (Comunicação Social), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) e
Jaques Wagner (Defesa). Com água pela cintura, disse-lhes que a Lava Jato é
assunto para o PT, não para o governo.
Lula
aconselhou Dilma e os ministros a trocarem os gabinetes pela estrada. Acha que
devem se tornar espécies de caixeiros-viajantes, propagando aos quatro ventos o
que o governo faz de “bom”. Regente dos regentes, o criador de Dilma finge não
notar que o desnível no chão do navio não decorre da má qualidade do champanhe.
A verdade é
que o rombo no casco do governo Dilma foi aberto na administração Lula. Ele se
cercou de aliados idealistas. Gente como Collor, Renan e um interminável
etcétera. A Lava Jato, com seus 18 delatores, demonstrou que todo esse
idealismo estava impulsionado pela mesma invenção que já havia produzido o
mensalão: o dinheiro.
O enredo de
Titanic, o filme, é sobre um homem, uma mulher e um iceberg. Na sua versão
brasiliense, o script é parecido: o criador, a criatura e os aliados que ajudam
a puxar para o fundo o mito da superioridade moral. Nunca antes na
histór… glub…glub…glub…
Josias de Souza, no Blog do Josias, 15/7/2015
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