Interessa
muito ao governo de Dilma Rousseff e aos corruptos em geral espalhar a versão
segundo a qual a Operação Lava Jato é a responsável pela instabilidade política
e econômica do País. Ao atingirem gente graúda por suspeita de participação
nesse grande escândalo, as autoridades policiais e judiciais, conforme essa
interpretação, comprometem o trabalho do Congresso e assustam o meio
empresarial, prejudicando o País no momento em que este mais precisa de
serenidade.
Embora seja
de um cinismo patente, tal visão tem conquistado adeptos. Por essa razão, e por
incrível que pareça, tornou-se necessário enfatizar, com todas as letras, que a
instabilidade que hoje paralisa o Brasil é resultado do comportamento devasso
dos políticos e empresários envolvidos no assalto ao Estado patrocinado pelo
governo petista, e não do esforço da polícia, do Ministério Público e da
Justiça para pôr cobro nesse descalabro. Se não houvesse a esbórnia do
petrolão, do mensalão e de outros escândalos menores, não haveria crise nas atuais
dimensões. E essa crise só será superada quando a Justiça cumprir integralmente
sua missão.
Trata-se de
uma constatação elementar, mas parece que, em meio ao tumulto em que se
transformou a vida política nacional, o óbvio já não é mais tão ululante – para
satisfação dos que têm culpa no cartório. Todos concordam – alguns mais por
conveniência do que por convicção – que é preciso punir os corruptos, mas há
quem sustente que a Lava Jato, com suas complexas conexões e seus
desdobramentos imprevisíveis, adiciona insegurança a um cenário já
suficientemente abalado. “O que nos preocupa é a instabilidade política que
isso gera”, comentou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), em agosto.
De lá para cá, essa visão que toma o efeito pela causa só tem se espalhado.
Trata-se de uma tentativa de minimizar a avassaladora crise moral produzida
pelo aparelhamento inescrupuloso da máquina do Estado pelo PT, acolitado por
empresários e funcionários desonestos.
Essa visão
interessa muito a Dilma, ao PT e a seus parceiros, que precisam
desesperadamente desmoralizar a Lava Jato. A operação, como se sabe, frustrou
um gigantesco sistema de arrecadação criminosa de fundos públicos, que atendia
a interesses os mais diversos dentro do condomínio de poder construído por Lula
e mantido por Dilma. Era essa base, alicerçada na corrupção e no compadrio, que
prometia garantir fartura de recursos para sedimentar o lulopetismo no poder.
Agora, com esse edifício de desfaçatez exposto à luz do dia, cresce a certeza
de que ninguém – ninguém, frise-se – será poupado. “Tem tanta coisa para
acontecer ainda nessa Lava Jato”, disse o lobista Fernando Baiano, delator da
Lava Jato. É justamente isso o que apavora o governo.
O Planalto
nunca escondeu seu desconforto em relação à Lava Jato, o que é natural, dado o
envolvimento de muitos de seus inquilinos nos escândalos. Tratou de insinuar,
por exemplo, que a operação contra próceres do PMDB, inclusive ministros, foi
açodada. Em nota, a Presidência disse esperar “que todos os investigados possam
apresentar suas defesas dentro do princípio do contraditório” – como se as
buscas não tivessem sido autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal, guardião
das garantias constitucionais.
Ao mesmo
tempo, o governo alardeia que a operação tende a agravar a instabilidade
política. A estratégia é recorrente. Em julho passado, por exemplo, Dilma
disse, em reunião com seus ministros, que “o pior é a instabilidade” política e
econômica causada pela Lava Jato. “Para vocês terem uma ideia, a Lava Jato
provocou uma queda de um ponto porcentual no PIB brasileiro”, afirmou Dilma,
numa tentativa torpe de atribuir às ações da Justiça a culpa pelo desastre
econômico causado apenas por sua incompetência. Na mesma época, a Fundação
Perseu Abramo, do PT, afirmava que a Lava Jato “criou um cenário de incerteza
política que impede a criação de coalizões sólidas, que permitam ao governo
implementar sem maiores custos seu projeto” – isto é, responsabilizou a
operação policial pelo desastre político que tem sido o governo Dilma.
Cabe aos
brasileiros honestos não se deixarem levar por essa tentativa imoral de
constranger os que se empenham em limpar o monturo acumulado por essa gente.
O Estado de São Paulo, 18/12/2015
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