Era o que o
PT mais temia. O embate do segundo turno da eleição presidencial deverá ser
travado em torno de dois temas espinhosos que o Planalto vinha tentando evitar
a todo custo: corrupção e o desempenho da economia. No domingo, mal finda a
apuração, Lula foi o primeiro a reconhecer que essa será a temática dominante
do segundo turno. Quanto a isso, o PT já não alimenta ilusões.
Nas
denúncias à corrupção, o foco da oposição deverá estar centrado nas
irregularidades que vêm aflorando na Petrobrás. Os primeiros resultados das
investigações em curso já causaram sérios danos ao projeto da reeleição. Mas o
pior é que tudo indica que ainda há muito mais por aflorar, na esteira dos
depoimentos do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, feitos no quadro de
um acordo de delação premiada.
Ao
asseverar que, como presidente do Conselho de Administração da Petrobrás,
jamais tomou conhecimento de qualquer irregularidade, durante a longa permanência
de Paulo Roberto Costa na diretoria da empresa, a presidente Dilma teve de
incorrer em grande desgaste adicional da sua já erodida imagem de
administradora competente e diligente, tão habilmente vendida ao eleitorado na
campanha de 2010.
A apreensão
do governo com os depoimentos de Costa aumentou muito desde que o ministro
Teori Zavascki os considerou suficientemente plausíveis e promissores para que
fosse homologado o acordo de delação premiada oferecido ao ex-diretor da
empresa. Especialmente importante para a homologação foi o fato de tais
depoimentos mencionarem nada menos que 32 parlamentares potencialmente
envolvidos, com direito a foro especial no Supremo Tribunal Federal. Na
quarta-feira, Paulo Roberto Costa revelou que parte dos recursos desviados
bancou gastos de campanha em 2010.
Há
indagações básicas sobre o faraônico projeto da Refinaria Abreu e Lima que
dificilmente poderão continuar sem resposta no segundo turno. Uma questão
crucial, que precisa ser elucidada, é como exatamente a decisão de ir em frente
com o projeto da refinaria foi imposta pelo Planalto à Petrobrás, mesmo depois
de ter seu corpo técnico alertado que o estudo de viabilidade
econômico-financeira indicava que a decisão seria lesiva à empresa, como
mostrou matéria de O Globo em 23/6.
Dilma tem
plena consciência de que está fadada a enfrentar sérias dificuldades no embate
em torno das irregularidades que afloraram na Petrobrás. Mas também sabe que o
outro tema que deverá dominar o segundo turno tampouco lhe será fácil.
No embate sobre
o desastroso desempenho da economia nos últimos quatro anos, Dilma entra de
mãos vazias. Afora o desemprego ainda baixo, tem pouco ou nada a mostrar, como
bem ilustram os dados deste final de mandato: taxa de juros mais alta do que no
início do governo, preços de energia represados, inflação de 6,75%, bem acima
do teto de tolerância da meta, resultado primário tendendo a zero, contas
externas seriamente desequilibradas e economia estagnada.
Diante
dessa penúria de resultados apresentáveis, o melhor que a campanha de Dilma
conseguiu urdir foi uma mistificação e um truque. De um lado, a candidata
insiste em atribuir o fiasco a um suposto agravamento da crise econômica
mundial. De outro, tenta camuflar o desastre dos últimos quatro anos diluindo-o
nos oito anos do período Lula. A ideia é vender ao eleitor um pacote fechado de
"12 anos de governo petista", ainda que, da perspectiva da condução
da política macroeconômica, esse três-em-um encerre mandatos muitos distintos.
No primeiro
mandato, Lula seguiu de perto a política que vinha sendo adotada por FHC. No
segundo, coadjuvado por Dilma Rousseff, embarcou na aventura charlatanesca da
"nova matriz macroeconômica", cujos frutos amargos têm sido agora
colhidos neste terceiro mandato. Não obstante todo o esforço de camuflagem do
desastroso desempenho da economia dos últimos quatro anos, é na denúncia dessa
colheita amarga que a oposição deverá centrar fogo no segundo turno.
ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK* - O ESTADO DE S.PAULO - 10 Outubro 2014
*Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor
titular do departamento de Economia da Puc-Rio
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