MERVAL PEREIRA
O truque já foi usado uma vez,
recentemente, e não funcionou, ao tentarem fazer da presidente Dilma uma
coitadinha quando foi vaiada na abertura da Copa do Mundo no Itaquerão. Nada
indica que funcionará desta vez. Transformar a presidente Dilma em uma senhora
delicada que foi tratada com grosseria por seu adversário Aécio Neves no debate
do SBT na quinta-feira, não é um relato fiel do que aconteceu, nem faz jus à história
da presidente e do PT. Beira o ridículo.
O mal-estar da presidente a final do
debate pode ter sido provocado pelo calor da discussão e do estúdio de
televisão, e prenuncia uma fragilidade emocional dela, conhecida por seu vigor
verbal, digamos assim. Ontem, Dilma, antes de adiar uma vinda ao Rio " a
conselho médico" que depois foi desmentido, disse algo como “o PT não é de
briga, mas sabe enfrentar desafios”. Nada menos verdadeiro.
Ao contrário, o PT só sabe fazer
política na base do confronto, precisa de um inimigo para mobilizar seus
militantes, que andam meio desanimados ultimamente. Esse clima de guerra
permanente foi instalado pelo PT no país, que não sabe fazer política sem
radicalizar. A prática do “nós contra eles”, aprofundada nesta campanha com uma
tentativa de jogar o PSDB contra os nordestinos, acaba levando a exacerbações.
Na ocasião da abertura da Copa escrevi
que a grosseria é um problema nosso, de uma sociedade que precisa encontrar
novamente o caminho da civilidade e da convivência pacífica entre os
contrários. A vaia é um problema da presidente Dilma e do PT. Naquela ocasião,
a presidente Dilma passou a ser tratada como uma senhora frágil e desacostumada
a essa linguagem, quando ela própria já demonstrou, em reuniões com ministros e
empresários, que sabe lidar com esse tipo de problema.
Que o digam os ministros
que já saíram chorando de seu gabinete depois de uma boa espinafração, muitas
vezes com uso de palavras nada convencionais.
O ex-presidente Lula voltou a tentar o
truque depois do debate do SBT, dizendo que “quando eu vejo um homem na
televisão ser ignorante com uma mulher, como ele tem sido nos debates, eu fico
pensando: se esse cidadão é capaz de gritar com a presidenta, fico imaginando o
dia que ele encontrar um pobre na frente: é capaz dele pisar ou não enxergar”.
Lula evidentemente está fazendo baixa
política, sem muita chance de dar certo. A própria presidente Dilma não dá
razão para esse tratamento condescendente com ela, pois quando soube que a
ex-candidata Marina Silva havia chorado ao ser atacada pela propaganda petista,
saiu-se com esse comentário: “um presidente da República tem de resistir à
pressão”.
Em discurso dirigido a movimentos negros
em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, Dilma afirmou que quem
não quer ser criticado "não pode ser presidente".
— Um presidente da República sofre
pressão 24 horas por dia. Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser
criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República.
Acho que, (para) ser presidente, a gente tem que aguentar a barra — disse
Dilma.
Se a vitimização de Marina não teve
sucesso, e ela só reagiu à altura dos ataques muito tempo depois, quando sua
votação já se esvaía, agora o candidato do PSDB Aécio Neves está
enfrentando os mesmos ataques, o que
coloca um dado novo na disputa presidencial. Na verdade, Aécio é o primeiro
candidato tucano que enfrenta o PT sem receios, resgatando o legado de Fernando
Henrique Cardoso e exorcizando de vez a demonização que o PT vem fazendo dos
governos tucanos pelos últimos 12 anos.
Tanto Serra quanto Alckmin entraram na
disputa contra o PT com receio de se indispor com Lula e seus seguidores, e
tiveram dificuldades para defender as políticas do PSDB, quando não evitaram
simplesmente temas polêmicos como as privatizações. A postura de Aécio Neves já
mostrou que há um projeto político para enfrentar o lulismo, e defendê-lo não
tira votos.
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