Confirmada a nomeação de Lula para não importa qual
Ministério, Dilma Rousseff estará abrindo mão, de fato, de sua condição de
chefe do governo, como preço a pagar pela possibilidade de prorrogação do prazo
de sobrevivência do PT no poder. Ao mesmo tempo, ao transferir o comando do
País a seu padrinho – que no domingo passado, na forma do Pixuleco, foi um dos
principais alvos das clamorosas manifestações de protesto que tomaram conta do
País –, Dilma desmascara o apreço que o lulopetismo alega ter pela “voz das
ruas”. Fazer de Lula ministro de Estado, neste momento, é afrontar os
brasileiros. Mais uma vez.
Afirmar que, uma vez ministro, Lula passará a governar de
fato o País não é exagero retórico, como certamente alegarão os petistas, mas o
desfecho natural da escalada por meio da qual Lula exigiu que Dilma, nos
últimos meses, moldasse o Ministério segundo suas preferências e conveniências.
Assim, ela se livrou de ministros com os quais mais se identificava, mas foram
condenados pelo PT: Pepe Vargas, da Secretaria de Relações Institucionais;
Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência; Joaquim Levy, da Fazenda;
Aloizio Mercadante, da Casa Civil; e José Eduardo Cardozo, da Justiça.
Finalmente, Lula e o PT se deram conta de que o problema não era a equipe, mas
a própria Dilma. E, ao que tudo indica, o chefão do PT, docemente constrangido,
acabará cedendo aos apelos da tigrada e assumirá o poder de fato como último
recurso para salvar a si mesmo e a seu partido.
Estará sendo implantado no País, então, o tal
semipresidencialismo que algumas sumidades lulopetistas passaram a defender nos
últimos dias, numa versão que concentrará nas mãos de Lula o poder político e
em particular o comando da política econômica, restando a Dilma Rousseff a
pompa e circunstância necessárias para salvar as aparências. Poderá continuar
pedalando todas as manhãs pelas vizinhanças do Palácio da Alvorada.
Não há o que lamentar sobre o futuro imediato que parece
reservado a Dilma Rousseff. Ela já está e continuará pagando o preço de sua
inacreditável incompetência política e gerencial, agravada pela teimosia,
arrogância e prepotência que esconde sob o manto de uma falsa altivez.
Para Lula, tornar-se ministro é mais que voltar ao poder. É
obter foro especial – no caso, a Suprema Corte – para os vários processos em
que consta como investigado. E, se o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir
adotar o mesmo procedimento do mensalão, o foro privilegiado estará estendido a
todos os demais implicados nesses processos, inclusive o clã Da Silva. Não é
desprezível o peso dessa implicação judicial na decisão de Lula de superar sua
“hesitação” e “aceitar” um Ministério. Mas isso não significa que ele se
livrará da cadeia. Que o digam os “guerreiros do povo brasileiro”, também
conhecidos como mensaleiros.
É claro que uma vez ministro Lula colocará todo o peso de
sua influência política na tarefa de impedir o impeachment de Dilma. E terá à
sua disposição todo o aparelho estatal, que usará com a desfaçatez que
demonstrou cabalmente nos anos em que exerceu a Presidência.
Mas isso não é tudo – o que significa que pode vir coisa
mais cabeluda por aí. Foram apresentadas a Dilma como conditio sine qua non
para a “aceitação” do cargo de ministro por Lula medidas que levarão a economia
nacional para o subsolo da cova funda em que já nos meteram. Entende Lula, com
o apoio do PT e das entidades que o partido controla, que é indispensável agir
rápida e vigorosamente em duas frentes: acabar com essa história de ajuste
fiscal e promover a abertura de farto crédito para a compra de bens de consumo
e investimentos em infraestrutura. Dinheiro para tudo isso? Dá-se um jeito, nem
que seja metendo a mão nas reservas internacionais.
Se tudo
isso de fato acontecer, o Destino, além de deixar órfãos os brasileiros,
comprovará que Lula é bom profeta. Pois foi ele quem disse, em 1998: “No Brasil
é assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia; mas quando um rico rouba,
vira ministro”.
O Estado de São Paulo, 16/3/2016
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