No 30.º
Congresso Nacional da Juventude do PT, o ex-presidente Lula revelou qual é seu
sonho: “O ideal de um partido é que ele pudesse ganhar a Presidência da
República, 27 governadores, 81 senadores e 513 deputados sem se aliar a
ninguém”.
Eis aí, sem
meias-palavras, aquele que diz ter sido o “mais republicano” de todos os
presidentes e que reiteradas vezes declara que “ninguém fez mais pela
democracia do que nós (os petistas) na história deste país”. Não se tratou de
um ato falho. A esta altura, já está claro para todos, a começar pelos próprios
aliados do PT no governo, que o desejo de Lula foi, é e sempre será governar
sozinho, sem ter de dar satisfação a quem quer que seja, numa negação do
próprio espírito da democracia.
Foi essa a
aula de autoritarismo que o professor Lula ministrou para a turma jovem do PT.
Mestre em descaramento, o ex-presidente admitiu que, como existem outros
partidos políticos que também ganham votos, então é o caso de “aceitar o
resultado e construir a governabilidade”. Assim, Lula tentou justificar a
aliança com o PMDB, repudiada pelos militantes petistas no encontro.
Por
“construir a governabilidade”, como comprovam os escândalos envolvendo o PT e
seus aliados, entenda-se dividir o butim estatal para financiar a perpetuação
no poder e, de quebra, enriquecer a tigrada. “Entre a política e o sonho, entre
o meu desejo ideológico partidário e o mundo real da política, tem uma
distancia enorme. Precisamos aceitar e fazer alianças, em nome da
governabilidade”, pontificou Lula, sugerindo que o PT não teve alternativa
senão juntar-se à escumalha do Congresso para governar, já que não ganhou a
eleição sozinho.
O Lula que
articulou esse presidencialismo de cooptação, corrupto por definição, é o mesmo
Lula que exortou os jovens militantes petistas a acreditarem na política. Ele
se disse preocupado com a “tentativa de setores dos meios de comunicação e da
sociedade de induzir a sociedade brasileira a não gostar de política”. Para o
chefão petista, a imprensa “trabalha para mostrar que a política está
apodrecida”.
Mais uma
vez, Lula atribui a terceiros – os tais “setores dos meios de comunicação e da
sociedade” – a responsabilidade pelo colapso moral que se abateu sobre a
política nacional, para a qual o mensalão, o petrolão e outros tantos
escândalos contribuíram de forma decisiva. Lula quer fazer o País acreditar que
a corrupção que carcome a política – resultado direto do jogo sujo lulopetista
– só existe porque a imprensa a noticia e porque parte da sociedade contra ela
se revolta.
Além disso,
Lula também quer fazer acreditar que a desastrosa situação política e econômica
do País é resultado não da incompetência da presidente Dilma Rousseff, mas de
sabotagem de oposicionistas, que “perderam e não souberam perder”. Sem corar,
ele exortou os correligionários a “ajudar a Dilma a sair da encalacrada em que
a oposição nos colocou”.
É com
lições desse tipo que Lula pretende formar uma nova geração de petistas, à sua
imagem e semelhança – isto é, gente que aceita a ruína da política como um fato
da vida, que se aproveita disso da melhor maneira possível para conquistar e
preservar o poder e que, se flagrada dilapidando o erário por corrupção ou
inépcia, culpa a imprensa que, ora vejam, insiste em investigar os malfeitos e
torná-los públicos.
Os
ensinamentos do mestre Lula já começam a dar frutos. No tal congresso da
juventude petista, havia um cartaz em que José Dirceu, José Genoino, João
Vaccari Neto, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, todos condenados por
corrupção, foram retratados como “guerreiros do povo brasileiro”, injustamente
condenados graças à pressão da mídia.
Opinião, O Estado de São Paulo, 24/11/2015
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