Surpresa!
Nem Eduardo Cunha, nem Renan Calheiros... O primeiro senador preso no exercício
do mandato foi, nada mais, nada menos, o líder do governo Dilma Rousseff no
Senado, Delcídio Amaral. Se já é um escândalo em si, torna-se ainda mais grave
no contexto do mensalão e da Lava Jato, com figuras simbólicas do PT presas, o
grande líder do partido acuado e o governo fazendo água por todos os lados.
Além do
ineditismo da prisão de um senador com mandato, destaque-se que Delcídio nunca
foi alvo prioritário do procurador Rodrigo Janot e tinha acabado de se livrar
das suspeitas da Lava Jato, meses antes, por falta de provas. Foi ele próprio
quem se atirou de cabeça numa operação suicida. Como senador, Delcídio não
poderia ser preso a não ser em flagrante. Pois não é que ele tratou de
providenciar esse flagrante e dá-lo de bandeja para a PF, o MP e o Supremo?
A acusação
contra o líder do governo não foi mais a de que ele andou passando a mão em
dinheiro da Petrobrás para se locupletar. Seu novo crime foi o de obstrução da
Justiça, depois de, em desespero, ter caído na armadilha do filho de um cidadão
preso e envolvido até a medula no roubo da Petrobrás.
Foi isso, a tentativa de
impedir as investigações, que garantiu a votação unânime da 2ª Turma do Supremo
a favor da prisão do senador. Agora, além de responder por obstrução de
justiça, vai ter de esclarecer o que tanto tem a esconder.
Homem
afável, político negociador, boa “fonte” para jornalistas, Delcídio sempre foi
respeitado no Congresso e transitou muito bem entre PT e PSDB, governo e
oposição. Torna-se, lamentavelmente, um novo Demóstenes Torres. O tombo é de
igual tamanho.
Ex-ministro
de Itamar Franco, ex-diretor da Petrobrás na era FHC, líder até do governo
Dilma no Senado até esta quarta-feira, 25, Delcídio está politicamente morto
antes até que Eduardo Cunha.
Suicidou-se pela ganância, pela esperteza, enfim,
pelo escárnio de tentar comprar um bandido preso. Nem sempre bandidos que
roubam ou compram bandidos têm cem anos de perdão...
Mas, muito
além de Delcídio, o principal réu, ou vítima, desta quarta-feira foi o PT. Não é trivial que tenham sido
presos dois ex-presidentes, dois ex-tesoureiros, um ex-presidente da Câmara, um
ex-vice-presidente da Câmara e agora o líder do governo de um mesmo partido, há
treze anos no poder.
Numa
referência direta à era PT, a ministra Cármen Lúcia condenou e lamentou nesta
quarta-feira: “Houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou
no mote de que a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a
ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo venceu a esperança. E
agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo”.
Dilma
trocou uma solenidade aberta por um evento a portas fechadas. O PT lavou as
mãos. Lula...
Cadê Lula?! Em fila, ministros e líderes trataram de tentar se
descolar dele, da sua tragédia.
Só que...
Delcídio é do PT, líder do governo e não é caso isolado nem foi vítima de
direitistas ou marcianos, mas sim alvo (e provável réu) do Supremo. A sua
prisão não é só um foco de tensão entre Judiciário e Legislativo, mas também
mais uma punhalada no PT, desfigurando ainda mais a imagem do partido e do seu
governo na opinião pública, justamente quando o grande líder Lula enfrenta
investigações sobre o filho, o amigão, ministros, correligionários. E a
caixa-preta do BNDES mal começou a ser aberta...
Eliane
Cantanhêde, O Estado de São Paulo, 26/11/2015
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