Faz parte
da pior cinematografia brasileira a obra em que Flávio Barreto tentou filtrar e
tornar cristalinas as águas turvas em que mergulha a figura de seu "Lula,
o filho do Brasil". O filme conta a história de um menino de origem
miserável, cujo caráter teria sido marcado pela figura amorosa de dona Lindu,
mulher de grande valor, que criou sozinha a numerosa prole. Em meio às
dificuldades do sertão e da cidade grande, ela impôs a todos uma firme
determinação moral: "Nesta família ninguém vai ser ladrão nem
prostituta".
O filme e a
frase me vieram à lembrança ao ler que o presidente nacional do PT, Rui Falcão,
informado da busca e apreensão de documentos na empresa de Luís Claudio Lula da
Silva, filho do filho do Brasil, exclamou indignado: "Tem tubarão e vão
atrás de peixinho!". Referia-se a quem? Não sabia que Rui Falcão fosse dado
a sutilezas e ironias. Sobre o mesmo episódio, o noticiário do dia 27 relatou
que Lula se queixou amargamente da presidente e do ministro José Eduardo
Cardozo, que não teriam intervindo para estancar as investigações. "A
situação passou dos limites", haveria dito Lula.
De fato,
passou dos limites. Os filhos de Luiz Inácio - Luís Cláudio e Fábio Luís -
incorporaram Lula ao próprio nome e, em poucos anos, a exemplo do pai, se
tornaram empresários muito bem sucedidos. Receita, não única, mas segura, para
o sucesso no mundo dos negócios brasileiros: acrescente Lula ao nome ou seja
parente do homem. Rapidamente, milhões cairão do céu em suas contas bancárias.
Não sei se
o leitor destas enojadas linhas já reparou que a megalomania de Lula, a mesma
que o leva a afirmar que acabou com a pobreza no país, tem a melhor
representação precisamente no entorno do presidente e de seu partido.
Companheiros que, em 2003, desembarcaram em Brasília viajando de ônibus e
calçando chinelo de dedo, hoje vestem Armani e voam em jatinhos públicos ou
privados. Nada mais acelerado (nem celerado!), em matéria de desenvolvimento
social.
O filho do
Brasil, pai dos pobres e padrinho dos ricos sem caráter, lida com tanta grana
que se expôs a uma investigação da COAF. Enquanto isso, os netos do Brasil, os
filhos do "filho", proporcionam lições de sucesso empresarial que
deveriam ilustrar manuais em cursos de Administração. Fabio Barreto está
devendo à nação um segundo filme, atualizando a biografia do filho de dona
Lindu.
Percival Puggina
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