Por Jorge Araujo/Folhapress, a imagem que os historiadores do futuro não poderão ignorar |
Em 23 de
novembro, uma segunda-feira, Lula soube que o governo não tem dinheiro em caixa
sequer para garantir o cafezinho de dezembro. Na terça, 24, soube que o amigo
José Carlos Bumlai virou passageiro de camburão. Na quarta, 25, soube que o
companheiro Delcídio do Amaral fizera uma coisa tão imbecil que, além de perder
o próprio direito de ir e vir, transferiu para uma cela em Bangu 1 o banqueiro
André Esteves. Na quinta, 26, soube que o filho caçula pesca na Wikipedia
“trabalhos de consultoria” encomendados por lobistas dispostos a pagar R$ 2,4
milhões por entulhos cibernéticos.
Na
sexta-feira, 27 de novembro, Lula soube que Delcídio está pronto para contar o
muito que sabe aos condutores da Operação Lava Jato. No fim de semana, soube do
vexatório desempenho na pesquisa Datafolha. Se a eleição presidencial fosse
realizada agora, seria derrotado por qualquer um dos principais adversários
possíveis ─ com uma votação semelhante às obtidas nos duelos com Fernando
Henrique Cardoso. O chefe supremo da seita companheira também soube que a
corrupção (sinônimo do PT, que é sinônimo de Lula) agora lidera o ranking dos
mais aflitivos problemas do país.
Há pouco
menos de um mês, o ex-presidente nomeou-se Regente da República, ordenou à
rainha sem rumo que fosse brincar de Maria II em outras freguesias e reassumiu
ostensivamente a chefia do governo. Os 20 dias seguintes foram consumidos em
conluios cafajestes, barganhas repulsivas, meia dúzia de discurseiras para
plateias amestradas e duas entrevistas que só serviram para confirmar que
faltam álibis para tantos crimes. Alguém precisa dar-lhe a má notícia: por
decisão do Brasil decente, o regente da nação foi deposto.
Além de
Lula e seu rebanho, ainda não entenderam que o país mudou os integrantes da
tribo que repete de meia em meia hora a ladainha exasperante: “Está tudo
dominado”. Depois do assombroso 25 de novembro, mesmo os derrotistas
profissionais e os vesgos por opção deveriam enxergar a guinada histórica.
Naquela quarta-feira, os dominadores decadentes fizeram o que desejavam os
antigos dominados, que se tornaram majoritários e hoje têm o bastão de mando ao
alcance da mão.
Os
movimentos no palco foram impostos pela opinião pública, que traduziu a vontade
da imensidão de indignados que exigem o imediato encerramento da era da
canalhice. Se tudo estivesse dominado, Bernardo Cerveró não perderia tempo
gravando conversas bandidas para municiar a Procuradoria Geral da República,
Rodrigo Janot não se animaria a pedir ao Supremo a prisão do senador Delcídio
do Amaral, o ministro Teori Zavascki não determinaria à Polícia Federal que
engaiolasse o líder da bancada governista na Casa do Espanto. Nem teria o apoio
unânime da 2 ª Turma do STF para autorizar, pela primeira vez no Brasil
democrático, a captura de um senador no exercício do cargo.
Se tudo
estivesse dominado, Delcídio e o banqueiro André Esteves não acordariam com a
notícia de que a impunidade chegara ao fim, os senadores endossariam o plano de
Renan Calheiros para desmoralizar o Supremo e usariam o voto secreto para
libertar o colega encarcerado. Rejeitaram por ampla maioria a votação
clandestina e aprovaram as deliberações do STF por saberem que eram mantidos
sob estreita vigilância, desde o começo da tarde, por multidões de eleitores
grudados na TV. Pouco importa se o o roteiro original era outro, é irrelevante
saber se os atores agiram a contragosto. A plateia descobriu que manda.
A soma de
derrotas amargadas pelos vigaristas tornou inevitável a deposição do regente
Lula. Foi a maior demonstração de força da oposição real. Pena que tantos
vitoriosos ainda não saibam disso.
Augusto Nunes, 30/11/2015
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