Aécio Neves
- Folha de S. Paulo, 31 de julho de 2014
Nasci no
ambiente da política e vivi nele toda a minha vida. Sei que todo homem público
tem uma obrigação e um direito: a obrigação de responder a todo e qualquer
questionamento, especialmente os que partem da imprensa. E o direito de se
esforçar para que seus esclarecimentos possam ser conhecidos.
Nos últimos
dias, fui questionado sobre a construção de um aeroporto na cidade de Cláudio,
em Minas Gerais. Como o Ministério Público Estadual atestou e a Folha registrou
em editorial, não há qualquer irregularidade na obra. Mas surgiram
questionamentos éticos, uma vez que minha família tem fazenda na cidade. Quero
responder a essas questões.
A pista de
pouso em Cláudio existe há 30 anos e vem sendo usada por moradores e
empresários da região. Com as obras, o governo de Minas Gerais transformou uma
pista precária em um aeródromo público. Para uso de todos.
As
acusações de benefício à minha família foram esclarecidas uma a uma. Primeiro,
se disse que o aeroporto teria sido construído na fazenda de um tio-avô meu. A
área foi desapropriada antes da licitação das obras, como manda a lei. O
governo federal reconheceu isso, ao transferir a jurisdição do aeroporto ao
governo de Minas Gerais, o que só é possível quando a posse da terra é
comprovada.
Depois,
levantaram-se dúvidas sobre o valor da indenização proposta pelo Estado. O
governo ofereceu R$ 1 milhão. O antigo proprietário queria R$ 9 milhões e briga
até hoje na Justiça contra o governo de Minas.
Finalmente,
se disse que a desapropriação poderia ser um bom negócio para o antigo
proprietário, porque lhe permitiria usar o dinheiro da indenização para arcar
com os custos de uma ação civil pública a que responde. Não é verdade. O
dinheiro da indenização está bloqueado pela Justiça e serve como garantia ao
Estado de pagamento da dívida, caso o antigo proprietário seja condenado. Se
não houvesse a desapropriação, a área iria a leilão. Se fosse um bom negócio
para ele, não estaria lutando na Justiça contra o Estado.
Sempre
tomei cuidado em não misturar assuntos de governo e questões pessoais. Durante
meu governo, asfaltamos 5.000 quilômetros de estradas, ligando mais de 200
cidades. Apesar desse esforço, deixei sem asfalto uma estrada, no município de
Montezuma, que liga a cidade ao Estado da Bahia e passa em frente à fazenda que
meu pai possuía, há décadas, na região. Avaliei que isso poderia ser explorado.
Foi a decisão correta. De fato, na semana passada, fui acusado de construir um
aeroporto em Montezuma. A pista, municipal, existe desde a década de 1980 e
recebeu em nosso governo obras de melhoria de R$ 300 mil, inseridas em um
contexto de ações para a região. Pelo que me lembro, pousei lá uma vez.
No caso de
Cláudio, cometi o erro de ver a obra com os olhos da comunidade local e não da
forma como a sociedade a veria à distância.
Tenho sido
perguntado se usei o aeroporto de Cláudio, como se essa fosse a questão
central. Priorizei até aqui os esclarecimentos sobre o que me parecia
fundamental: a acusação de ter cometido uma ilegalidade à frente do governo de
Minas. Hoje, me parece que isso está esclarecido. Não tenho nada a esconder.
Usei essa pista algumas vezes ao longo dos últimos 30 anos, especialmente na
minha juventude, quando ela ainda era de terra.
Depois de
concluída essa obra, demandada pela comunidade empresarial local, pousei lá
umas poucas vezes, quando já não era mais governador do Estado. Viajei em
aeronaves de familiares, no caso a da família do empresário Gilberto Faria, com
quem minha mãe foi casada por 25 anos.
Refletindo
sobre acertos e erros, reconheço que não ter buscado a informação sobre o
estágio do processo de homologação do aeródromo foi um equívoco. Mas reitero
que a obra foi não apenas legal, mas transparente, ética e extremamente
importante para o desenvolvimento do município e da região.
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