A Copa do Mundo deixa um legado de infraestrutura para o Brasil muito menor do
que o prometido quatro anos atrás - e a um custo mais alto. Em 2010, o governo
anunciou que o evento atrairia investimentos de R$ 23,5 bilhões em 83 projetos
de mobilidade urbana, estádios, aeroportos e portos. Parte das obras ficou no
caminho e só 71 projetos foram mantidos na lista.
Segundo
levantamento feito pela rede de repórteres do Estado nas 12 cidades-sede, as
obras entregues para a Copa e as inacabadas somam R$ 29,2 bilhões - mesmo tendo
sido substituídos em várias cidades projetos mais ambiciosos, como trens e
monotrilhos, por modestos corredores de ônibus. Ou seja, o País gastou mais
para fazer menos e com menor qualidade.
Em setembro
de 2013, o Ministério dos Esportes apresentou sua última consolidação das obras
da chamada Matriz de Responsabilidade da Copa, já com a exclusão dos projetos
prometidos em 2010 e abandonados. Os 71 projetos confirmados somavam então R$
22,9 bilhões. Esse resultado significava que os governos federal, estaduais e
municipais e a iniciativa privada gastariam 3% a menos do que o previsto em
2010 para fazer 15% a menos em número de obras. Os investimentos estavam
distribuídos assim: 50,5% para o governo federal, 33,1% para os Estados e
municípios e 16,4% para o setor privado. Entretanto, a reportagem do Estado
constatou que o gasto total, hoje, é ainda maior: R$ 29,2 bilhões, ou 27% a
mais do que o anunciado há quatro anos.
A
construção dos estádios foi prioridade, seguida dos aeroportos. Mas na
mobilidade urbana, o principal legado da Copa para os moradores das grandes
cidades, o resultado foi sofrível. De 50 projetos, apenas 32 foram mantidos, o
que quer dizer que um em cada dois foi abandonado. De acordo com a matriz
consolidada em setembro pelo Ministério do Esporte, o País investiria R$ 7
bilhões em mobilidade urbana para receber a Copa, R$ 4,47 bilhões a menos do
que o previsto em 2010.
Inacabadas.
Além disso, boa parte das obras não foi entregue a tempo para o Mundial. O
levantamento do Estado nas 12 cidades-sede mostra que 74 obras de mobilidade
urbana foram entregues e 46 permanecem inacabadas. O número de obras é maior do
que o da lista de projetos do ministério porque as prefeituras e governos
estaduais, que são as fontes dessa informação, costumam fatiar projetos em
várias obras.
Os projetos
de construção do VLT de Brasília e de Manaus, por exemplo, ficaram só no papel.
Já o monotrilho de Cuiabá será entregue no segundo semestre de 2015. Em São
Paulo, o Expresso Aeroporto, trem que ligaria o centro da cidade a Cumbica, foi
cancelado em 2012. E o monotrilho do Morumbi ainda está em construção.
O abandono
e a não conclusão das obras só não tiveram um impacto maior porque a maioria
das cidades decretou feriado ou ponto facultativo para o funcionalismo, além de
as férias escolares de julho terem sido antecipadas. Em uma cidade como São
Paulo, isso equivale a trocar o deslocamento de seus 10 milhões de moradores
pelo de 64 mil torcedores indo para o Itaquerão e outras 30 mil ou 40 mil
pessoas concentrando-se na Fun Fest e bares ao redor no centro da cidade, bem
como na Vila Madalena, na zona oeste.
O único
segmento que não sofreu baixas foram os estádios. Todos os projetos previstos
saíram do papel e custaram R$ 8 bilhões ao País - 98% em recursos públicos-,
montante 50% acima do previsto em 2010. Mal ou bem, ainda que com parte das
arquibancadas provisória, como no Itaquerão, eles ficaram prontos para a Copa,
acalmando a Fifa.
Em São
Paulo, o projeto original previa a reforma do Morumbi, que custaria R$ 240
milhões e mais R$ 315 milhões em obras do entorno. Com a substituição da obra
pela construção do estádio do Itaquera e investimentos no seu entorno, o custo
saltou para R$ 1,37 bilhão.
No caso dos
aeroportos, o desempenho foi mediano - alguns ficaram prontos, outros, não, mas
isso não comprometeu o embarque e desembarque dos torcedores. Obras previstas
em aeroportos como Viracopos, Confins, Fortaleza e Salvador não foram
concluídas antes do Mundial. "A reforma dos aeroportos era uma
necessidade, independente da Copa", analisa Carlos Ebner, diretor-geral da
Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) no Brasil. "Mas a Copa
era uma motivação para dar um salto de infraestrutura e deixar um legado ao
País. Mas nem tudo foi feito e queremos que as obras continuem após a
Copa."
Segundo
ele, o caos não ocorreu porque o setor se organizou em uma operação especial e
compensou os entraves de infraestrutura. Foi o que aconteceu também com o
transporte urbano, beneficiado pelos feriados e linhas especiais de ônibus para
os torcedores. Terminada a Copa, a vida volta ao normal.
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