A indústria
vai mal, o investimento recua e 2014 deve ser marcado por um novo fiasco na
economia, apesar da retórica triunfal da presidente Dilma Rousseff e de seu
ministro da Fazenda, Guido Mantega. A crise industrial já se reflete no setor
de serviços, prejudica o emprego em geral e, cada vez mais, o crescimento
econômico, assim como a exportação, depende da agropecuária. A produção
industrial caiu 0,6% de abril para maio, recuando em 15 dos 24 ramos cobertos
pela pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O setor produziu em maio 3,2% menos que um ano antes. De janeiro a maio, o
resultado foi 1,6% inferior ao de um ano antes. O crescimento acumulado em 12
meses ficou em apenas 0,2%, mas nem esse dado ligeiramente positivo pode
justificar algum otimismo. A média móvel trimestral caiu 0,5% no período até
maio. Nos três meses terminados em abril a queda havia chegado a 0,3%.
Mas os
números mais preocupantes são os da fabricação de bens de capital, isto é, de
máquinas e equipamentos, porque confirmam a estagnação da capacidade produtiva.
O ministro da Fazenda prometeu várias vezes, nos últimos anos, um novo padrão
de crescimento econômico. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) seria
puxada principalmente pelo investimento produtivo. Mas essas palavras nunca se
traduziram em fatos. Aos empresários urbanos têm faltado confiança e segurança
para investir. Ao governo tem faltado competência para converter em obras, com
a rapidez necessária, seus programas de ampliação e fortalecimento da
infraestrutura. Os balanços do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) têm
sido sempre vitaminados pela contabilização do dinheiro aplicado em moradias.
Pelos novos
números do IBGE, em maio a produção de bens de capital ficou 2,6% abaixo da de
abril e foi 9,7% inferior à de um ano antes. De janeiro a maio o total
produzido foi 5,8% menor que o de igual período de 2013. Em 12 meses ainda se
acumulou uma expansão de 4,1%, mas esse dado fica bem menos impressionante
quando se examinam os números do passado recente. A produção de bens de capital
cresceu 5% em 2011 e permaneceu praticamente estagnada nos dois anos seguintes,
com queda de 11,2% em 2012 e aumento de 11,6% em 2013.
A expansão
de 4,1% nos 12 meses terminados em maio parte, portanto, de uma base achatada e
muito próxima do nível de 2011. Em outras palavras, o setor derrapou durante a
maior parte do governo da presidente Dilma Rousseff. O resultado de janeiro a
maio deste ano, 5,8% inferior ao dos mesmos meses do ano passado, mostra a
continuidade da crise no setor e confirma a baixa disposição de investir do
empresariado.
As cifras
do comércio exterior complementam esse quadro. De janeiro a junho, foram gastos
US$ 21,14 bilhões com a importação de bens de capital, 5,1% menos que no
primeiro semestre do ano passado.
O cenário
de produção em queda também se completa com a redução da despesa com
matérias-primas e bens intermediários importados. O valor gasto, US$ 50,36
bilhões, foi 1% inferior a de um ano antes. Internamente, a produção de bens
intermediários entre janeiro e maio foi 1,8% menor que a dos mesmos meses de
2013. Em maio, ficou 2,2% abaixo da estimada no ano anterior.
A crise da
produção industrial e a redução das importações confirmam o esgotamento da
política baseada no estímulo ao consumo. Analistas haviam apontado há bom tempo
o fracasso inevitável dessa política.
A
disposição de compra dos consumidores pode animar a produção durante algum
tempo, mas é preciso mais que isso para manter a indústria em atividade e –
mais importante – para expandir sua capacidade produtiva e seu poder de
competição internacional.
O governo
errou no diagnóstico e na estratégia. Além disso, criou insegurança entre os
empresários com intervenções inábeis e medidas improvisadas. Também as medidas
protecionistas, aplaudidas por alguns setores, tiveram efeito negativo, porque
desestimularam a busca de eficiência. O balanço é claro e está sintetizado nas
séries de números do IBGE.
O Estado de
S. Paulo – 03/07/2014
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