quinta-feira, 19 de março de 2015

A democracia brasileira não deve nada a Dilma nem ao PT


Em entrevistas e pronunciamentos após as grandes Manifestações de 15 de Março, a presidente Dilma tentou usar de uma estratégia para capitalizar a seu favor estes atos, fazendo um esforço para fingir ignorar que tais manifestações espontâneas e pacíficas foram justamente contra ela, seu governo e seu partido. Combinando a arrogância com a demagogia que lhe é própria, a presidente novamente mentiu de maneira factual e histórica, ao procurar passar a ideia de que ela e integrantes de seu partido merecem algum crédito pelo fato de vivermos em uma democracia, em que as pessoas podem se manifestar livremente contra o governo.

Isso é rigorosamente falso e não passa de uma demagogia barata e apropriação indevida de méritos alheios, como a história demonstra. Fazendo a pose vitimista conveniente, a presidente insistiu na falácia de que muitos “deram a vida para que as pessoas hoje pudessem se manifestar livremente”, em uma alusão aos grupos guerrilheiros como VAR-Palmares e Colina, os quais ela integrou, que empreenderam enfrentamento o armado contra o regime o regime militar anos atrás. A falácia reside na mentira difundida há décadas de que estes grupos faziam a luta armada em reação ao regime militar e em defesa da democracia. Sabemos hoje muito bem, por meio de documentos e relatos de pessoas que viveram aquele período, que as duas afirmações são falsas.

A falsificação da história
Ações terroristas e de luta armada patrocinadas por grupos de esquerda ocorriam no país já em 1961, três anos portanto antes da intervenção militar. A intervenção veio, por clamor popular, em resposta a estas ações armadas e não o contrário, como a falsificação da história veio a relatar anos depois e como a fala da presidente sugeriu.

Nenhum dos grupos de esquerda envolvidos em ações armadas (que é bom frisar, tiveram o início antes de 1964) tinha em seu programa a defesa da democracia. O objetivo desses grupos não era nem nunca foi o de derrubar o regime militar, restaurar as liberdades civis plenas, restabelecer a liberdade de imprensa, a independência do legislativo e do judiciário e convocar eleições gerais. O objetivo desses grupos, conforme se encontra documentado e em relatos posteriores de alguns de seus ex-integrantes, era o de derrubar o regime militar para implantar a ditadura deles, nos mesmos moldes dos regimes comunistas soviético ou cubano, regimes esses que financiavam suas ações.

Ao falar de pessoas que supostamente “deram a vida pela democracia” a presidente deturpa o fato histórico de que estas mesmas pessoas, na verdade, ceifaram a vida de dezenas e dezenas de civis inocentes e desarmados que não tinham nada a ver com luta política, e que foram vítimas das ações terroristas e criminosas perpetradas por esses grupos que desejavam implantar a sua ditadura, sob o pretexto de lutar por liberdade. Entre estes civis inocentes estavam muitas pessoas comuns que estavam na hora errada e no lugar errado, que perderam suas vidas por conta da ação de criminosos que anos mais tarde seriam retratados como heróis da liberdade.

As vítimas quase anônimas do terrorismo de esquerda
Existem registros históricos e documentos oficiais que mostram que mais de cento e vinte civis inocentes morreram por conta da ação criminosa dos grupos de esquerda durante o regime militar. Dentre estas vítimas inocentes da esquerda estão (*):

Jaime Pereira da Silva: morto em 01/08/1971 em PE na varanda de sua casa durante tiroteio entre terroristas e policiais.

Gentil Procópio de Melo: taxista, assassinado em 02/09/197 no RJ a sangue frio por integrantes do Partido Comunista Revolucionário que decidiram roubar um carro para execução de uma ação revolucionária, que consistiria num assalto a um banco.

Jayme Cardenio Dolce, Silvâno Amâncio dos Santos, Demerval Ferreira dos Santos:  vigias de segurança, mortos em 02/09/1971 no RJ por um grupo de terroristas que executavam um assalto à Casa de Saúde Dr. Eiras

João Pereira: sertanejo morto em 26/02/1972 na região do Araguaia no PA pelo PC do B em uma ação de justiçamento praticada pelo partido, por ter servido de guia mateiro para as forças governistas que combatiam a guerrilha.

Sílvio Nunes Alves: bancário, morto em 27/09/1972 em assalto a banco no bairro da Penha no RJ, promovido pelas organizações terroristas PCBR, ALN, VPR, Var Palmares e MR8.

Luiz Honório Correia:  civil comum morto em 01/10/1972 no RJ por terroristas em assalto à empresa de Ônibus Barão de Mauá

Severino Fernandes da Silva: civil comum morto em 06/10/1972 no interior de PE por terroristas durante ação violenta na região rural do estado

Estes são apenas alguns dos 120 (cento e vinte) assassinatos de civis inocentes cometidos pelos terroristas de esquerda que promoviam a luta armada nos país durante o regime militar. Estas pessoas morreram porque esses assassinos, que hoje são retratados nos livros escolares como heróis que lutavam pela democracia e pela liberdade, viam com naturalidade matar pessoas inocentes em nome de seu objetivo principal que era a implantação de outra ditadura, a deles, na qual também poderiam continuar matando e reprimindo impunemente quem bem desejassem, como fazem hoje as ditaduras de Cuba e da Venezuela.

A quase totalidade das famílias desses civis mortos não recebeu nenhum tipo de amparo ou de apoio oficial. Não se tem conhecimento de nenhuma vítima ou familiar de vítima do terrorismo de esquerda daquele período que tenha se beneficiado do programa multimilionário de indenizações de supostas vítimas da ditadura. Os crimes praticados pela esquerda nesse período não foram objeto de investigação da Comissão da Verdade, que se ocupou tão somente de exercer um revanchismo histórico e ideológico, investigando apenas um lado da história, razão pela qual o documento oficial produzido por essa comissão não tem nem terá validade alguma como registro histórico, pois será apenas a reafirmação de uma falsificação iniciada há anos, mas agora com timbre oficial e paga com dinheiro público.

A volta à democracia não se deve aos guerrilheiros
O regime militar, especialmente após 1968, foi um período de exceção na vida política brasileira e não deve ser tomado como modelo, pois nenhum regime é melhor que a democracia com a liberdade que ela proporciona. A democracia brasileira foi uma reconquista de todos os brasileiros, e seu restabelecimento envolveu negociações e concessões mútuas entre segmentos do poder militar e dos civis, principalmente lideranças políticas históricas do antigo MDB, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves entre outros, além de setores do próprio partido governista de então. E o restabelecimento da democracia somente foi possível porque aqueles que queriam outra ditadura e que mataram dezenas de inocentes em nome desse desejo, foram derrotados militarmente.

Se hoje vivemos um regime de liberdade e de democracia, devemos isso a inúmeros atores políticos e militares, que souberam negociar uma transição pacífica e pactuada do poder militar para os civis. Não devemos nada àqueles que pegaram em armas e cometeram crimes matando civis inocentes com a intenção de implantar a ditadura que eles queriam. Pelo contrário, muitos dos que estavam do lado dos que pegaram em armas, ao menos no plano ideológico, se beneficiaram da reconquista negociada da democracia, que se materializou por meio da Lei da Anistia de 1979, e retornaram ao país e passaram novamente a atuar na cena política.

Apoio a ditaduras e a regimes de opressão
Apesar da reconquista da democracia, aqueles que no passado pegaram em armas e mataram inocentes com o objetivo de implantar outra ditadura no país, e não para lutar por democracia como a mentira oficial repetida pela presidente diz, e que hoje estão ocupando posições de poder na vida política nacional, seja no governo ou em cargos de direção do PT, não abandonaram seus sonhos autoritários e antidemocráticos da juventude. Estando hoje nas posições de mando que conquistaram pela via democrática, estes mesmos atores políticos do passado não relutam em apoiar sem qualquer constrangimento regimes de ditaduras que um dia sonharam e ainda sonham em implantar no país.

Estes mesmos atores do passado e que dão as cartas hoje na política brasileira apoiam de modo inequívoco ditaduras como a de Cuba ou a nascente ditadura bolivarianista de Nicolas Maduro na Venezuela. Esse apoio não se limita a gestos políticos, mas se materializa em ações concretas, inclusive de respaldo econômico e financeiro oficial por parte do governo brasileiro a estes regimes.

Deve-se observar que desde o início da era petista, toda a política externa brasileira, contrariando o que determina a nossa Constituição e contrariando também os interesses econômicos do próprio país, é orientada para dar respaldo político, suporte econômico e apoio diplomático a estes regimes de ditadura, como a venezuelana e a cubana. Regimes onde não existe liberdade de expressão ou liberdade de imprensa, onde opositores do governo são presos sem qualquer ordem judicial e são submetidos a tortura, onde as polícias são usadas não para garantir a segurança pública, mas para atuar como guarda pretoriana dos respectivos ditadores, como a Guarda Nacional Bolivariana da Venezuela que, somente no ano passado e apoiada por milícias armadas do partido governista, matou dezenas de pessoas que tentavam protestar contra a ditadura de Maduro.

O caso da Venezuela é exemplar, pois o regime de ditadura bolivarianista naquele país tem o apoio explícito do PT e exerce um fascínio em seu líder, Luís Inácio da Silva, o Lula, que já deu declarações explícitas de apoio ao tardiamente falecido Hugo Chaves e a seu herdeiro Nicolas Maduro. Por mais de uma oportunidade, Lula disse que na Venezuela existe “democracia até demais”, deixando claro que para Lula, o excesso de democracia ocorre quando opositores são presos e torturados, quando judiciário do país é aparelhado e quando o legislativo é transformado apenas num órgão que chancela as decisões do ditador. O excesso de democracia para Lula é quando toda a imprensa do país fica sob controle estrito do governo, como ocorre na Venezuela, e quando até mesmo o direito dos cidadãos do país de ter acesso a redes sociais na internet é limitado.

A identificação do PT e de toda esquerda brasileira com a ditadura bolivariana da Venezuela ficou evidenciada quando nas manifestações chapa-branca nas cores vermelhas realizadas no dia 13 de março, o que mais se via eram bandeiras da Venezuela, ao lado das bandeiras vermelhas. Praticamente não se viu a bandeira nacional.

Quem ameaça a democracia hoje é o PT
Hoje o Brasil vive uma crise política combinada com o risco de recessão econômica. A raiz desta crise está no fato de o PT, apesar de ter chegado ao poder pela via democrática, não ser um partido capaz de conviver com a democracia: seu projeto autoritário e antidemocrático de poder permanente exclui a possibilidade de existência de adversários, seja no âmbito institucional, seja na própria sociedade. Daí a tentativa de atacar e demonizar aqueles que na sociedade civil se opõe a eles, por meio de termos supostamente desqualificadores como elite branca, reacionários, coxinhas. Termos esses que viraram motivo de chacota e escárnio. Mas esse tipo de prática petista de demonizar o adversário tem um DNA bem definido: é a herança do stalinismo, que o PT carrega consigo desde o seu nascimento.

Soma-se a isso as tentativas permanentes por parte do PT de cerceamento da liberdade de expressão e de imprensa, componentes essenciais de qualquer regime democrático, por meio de iniciativas dissimuladas como controle social da mídia, regulação econômica de empresas de comunicação, ou então iniciativas que visam cercear a liberdade de expressão dos indivíduos nas redes sociais, por meio de eufemismos como combate a intolerância e a supostos crimes de ódio nas redes sociais. O mesmo partido que tenta esses subterfúgios para na prática impor a censura e limitar o livre direito de expressão dos cidadãos, é o mesmo partido cujos militantes não se furtam de usar de todo tipo de violência, agressão racista e sexista, e ameaça verbal nas redes sociais contra aqueles que criticam qualquer aspecto das políticas petistas.

A visão autoritária do PT exclui a possibilidade de alternância do poder, como ocorre em toda democracia. Para garantir seu projeto autoritário de poder hegemônico e antidemocrático, o PT apostou na divisão da sociedade brasileira, tentando colocar ricos contra pobres, pregando o ódio à classe média, incitando ódio racial de negros contra brancos, estimulando um suposto conflito de gays contra héteros e outras práticas típicas do receituário gramsciano. Soma-se a isso a ação no plano do estado, por meio da tentativa recorrente de aparelhando de suas instituições e a tentativa de solapar a independência dos poderes da república por meio de mecanismos de corrupção institucionalizada.

A reação da sociedade brasileira
Estas estratégias de destruição da democracia perpetradas pelo PT, seja por ações no plano ideológico na sociedade civil, seja pelas tentativas de aparelhamento do estado e descaracterização de suas instituições, surtiram efeito até certo ponto. Mas a sociedade brasileira é complexa e dinâmica demais, e uma parcela expressiva dela está se dando conta do que se passa. Fazer engenharia social num país de mais de duzentos milhões de habitantes não é tão fácil como o PT imaginou. O que se observa hoje é que o PT e o governo Dilma conseguiram unir o país, não por ódio ou preconceito contra o PT como eles alegam, mas por que muitos brasileiros entenderam o que o PT é e representa. O país se une em defesa da democracia.

Não queremos ser Venezuela ou Cuba! Não queremos viver tutelados por um Grande Irmão! Não queremos viver dependentes das benesses do estado. O brasileiro quer um governo que funcione, que seja honesto, que não minta à população e que deixe o brasileiro fazer aquilo que ele sabe fazer: usar sua criatividade e seu talento para trabalhar, produzir e melhorar de vida pelo seu próprio esforço e mérito. E isso somente é possível num ambiente de democracia e liberdade.

E é para isso que milhões de brasileiros de todas as classes sociais, de todas as regiões do país, de todas as etnias, estão saindo ás ruas, se manifestando pacificamente, dentro da lei, sem confronto com a polícia e sem distúrbios: para em primeiro lugar desfrutar da democracia e da liberdade as quais não devemos à presidente Dilma nem ao PT. E também para assegurar e defender essa democracia e essa liberdade contra o projeto antidemocrático e contrário à própria democracia e à própria liberdade, representado pelo PT. As pessoas estão saindo às ruas essencialmente contra o PT.


(*) Nota:
Os nomes das vítimas civis da guerrilha de esquerda citados nesse artigo foram retirados do excelente levantamento feito pelo jornalista Reinaldo Azevedo com base em documentos oficiais. A lista completa dos cento e vinte pessoas, a maioria civis, mortas pelos grupos de esquerda durante o regime militar, pode ser vista no link abaixo.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/mortos-pela-esquerda/

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