O PT, na
oposição, se dizia diferente dos demais partidos. No governo, mostrou não era:
era igual no que eles tinham de pior
14/03/2015
- 01h00
Lula,
entre outras façanhas, recolocou as Forças Armadas na agenda política do país.
Ao convocar o “exército do Stédile”, o MST, para ir às ruas e derrotar os que
se opõem ao PT – 93% da população, segundo pesquisa em mãos do Planalto -, deu
a senha para que se justifique a presença militar na cena pública.
Felizmente,
tal não ocorreu. Os militares sabem distinguir bravata de realidade. O
“exército do Stédile” paga R$ 35 por soldado, fornece transporte em ônibus
alugados com verba do imposto sindical e mais um farnel de sanduíche de
mortadela.
Não foi
suficiente para reunir mais que sete ou dez mil “soldados” na avenida Paulista.
Mas Stédile avisa: “Engraxem as chuteiras, pois o jogo apenas começou”. Que
jogo? Com esse time, não se chega nem à quinta divisão.
O PT, na
verdade, está apavorado. Se apenas 7% do país apoiam o governo Dilma, estamos
diante de uma de duas hipóteses: ou a burguesia aumentou o seu tamanho – e é a
maior do planeta – ou o partido perdeu sua massa de manobra.
O que
restou ao PT foi a militância paga, o “povo profissional”, que se manifesta em
dias de semana porque não trabalha. A conivência do governo federal é óbvia.
Quando os caminhoneiros fecharam as estradas, mandou a Guarda Nacional
reprimi-los; quando o MST fez o mesmo, não mandou ninguém.
Enquanto
os caminhoneiros protestavam contra o aumento do diesel – que é vendido mais
barato no Paraguai, que o importa de nós -, o MST protestava contra a burguesia
e o imperialismo. Aos caminhoneiros, foi aplicada a multa de R$ 10 mil por dia
de paralisação; ao MST, foi fornecida a remuneração acima.
O roubo
não é um componente ideológico. Não é de esquerda, nem de direita: é
simplesmente um crime, capitulado nos códigos penais de países “de esquerda” e
“de direita”. A população, em sua esmagadora maioria, nem sabe o que são esses
conceitos. Mas sabe muito bem o que é embromação, malandragem – e sabe
distinguir bem a retórica do mentiroso.
Sabe
constatar gestos de cara de pau, quando, por exemplo, os predadores da
Petrobras convocam um ato em defesa da empresa que eles mesmos liquidaram.
Quando Lula, no ato da ABI, em que convocou o “exército do Stédile”, diz que “a
Petrobras é nossa”, está sendo sincero pelo avesso. Comete um ato falho, sem o
perceber. A frase embute uma confissão, que explica o que a CPI está apurando
na Câmara dos Deputados.
O PT, na
oposição, se dizia diferente dos demais partidos. No governo, mostrou não era:
era igual no que eles tinham de pior. É hoje aliado dos que, no passado,
classificava de ladrões. Hoje, diante do Petrolão, um escândalo sem
precedentes, se esforça para mostrar que é igual a todos, que apenas deu
sequência a uma prática já instalada. Com isso, piora o que já é ruim.
Quando
alguém se defende de um ilícito com o argumento de que outros também o praticaram,
não está propriamente se proclamando inocente. Quando esse alguém é governo,
acrescenta ao delito de que é acusado outro: o de prevaricação.
Se seu
predecessor, de fato, delinquiu, e ele, 13 anos depois, o revela, sem ter
tomado qualquer providência punitiva, é, no mínimo, cúmplice por omissão.
São
contradições como essas, que o desespero produz, que, por acúmulo, levaram à
insatisfação popular expressa na última pesquisa. A manifestação de amanhã,
aguardada com imensa expectativa, não pertence a nenhum dos partidos de
oposição, embora seja legítimo que estes a ela se associem.
Mas,
entre seus recados explícitos, está a decretação não apenas da falência moral
do PT e do governo, mas de todo o sistema político que os viabilizou. A
oposição tem que olhar com humildade e autocrítica este momento, se pretende a
ele sobreviver. E o PT deve começar a providenciar a operação-retirada, ainda
que permaneça figurativamente no governo.
Não se
governa com 7%. Nesses termos, é preciso baixar a crista e buscar socorro
político enquanto é tempo. E o socorro político hoje não está na Praça dos Três
Poderes, mas na sociedade, que exige novos rumos (e novos governantes) para o
país. Esse o recado das ruas, que assistiremos neste domingo.
Ruy Fabiano
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