sábado, 15 de agosto de 2015

A corrida pela delação


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Léo Pinheiro, da OAS, Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, e Jorge Zelada, ex-dirigente da área internacional da estatal (da esq. para dir) apostam nas delações para reduzir suas penas

Condenados pela Lava Jato no esquema do Petrolão aceleram as negociações com o MP e a PF de olho na redução das penas. Quem estiver no fim da fila, pode ter pouco a acrescentar às apurações e, com isso, ficar sem homologar o acordo.

Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)

A partir das primeiras sentenças de condenação em processos originários da Operação Lava Jato ficou claro que a delação premiada virou um bom negócio para os réus que não querem envelhecer na cadeia. Investigados que, até agora, se mantiveram firmes e silentes poderão amargar mais de 15 anos de prisão. Para executivos da Engevix, por exemplo, a força tarefa da Lava Jato chegou a sugerir a pena máxima de 30 anos. O tratamento tem sido bem diferente para os que se dispõem a colaborar. O doleiro Alberto Yousseff, um dos primeiros a abrir o verbo e revelar detalhes de como e com quem operava na Petrobras, recebeu uma pena bem menos pesada do que uma de suas comparsas e subordinada na hierarquia do esquema, Nelma Kodama. Enquanto ela foi condenada a 18 anos de cadeia, ele pegou oito.

FOI DADA A LARGADA 

Com o recado entendido pelos principais escritórios de advocacia do País, nos últimos dias a corrida pelas delações ganhou um novo ritmo. Executivos de empreiteiras e ex-dirigentes da Petrobras se apressam para homologar o acordo com a força-tarefa da Lava Jato, antes que os segredos que eles estão dispostos a revelar se tornem irrelevantes para os investigadores – e, assim, a delação fique inviabilizada. Procuradores à frente do caso têm se mostrado mais rigorosos em relação às informações prestadas pelos candidatos a delatores. Como muito da engenharia do esquema já foi contada até agora, quem não fornece novos detalhes saborosos e relevantes para a apuração não consegue sacramentar o acerto.

Na semana passada, por muito pouco o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, não teve sua delação homologada. Duas reuniões foram feitas com a presença do subprocurador Marcelo Miller e dos advogados Marlus Arns, Roberto Neto e Eduardo Marassi. Duque, ligado ao ex-ministro José Dirceu, hoje preso, é apontado como elo do esquema de pagamento de propinas para o PT. A expectativa é que o depoimento de Duque tenha o mesmo impacto das declarações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Mas, até semana passada, Duque entregou menos do que a força-tarefa da Lava Jato esperava. Por isso, os termos da delação ainda estão sendo negociados.

ESQUEMA SE APROXIMA DA EX-MINISTRA DA CASA CIVIL E SENADORA PETISTA, GLEISI HOFFMANN

Para os procuradores da Lava Jato, a estratégia de endurecer com os próximos delatores fará com que as investigações cheguem cada vez mais no andar de cima do esquema. “O bagrinho não interessa mais”, afirmou um dos integrantes da força-tarefa.

Além de Duque, ensaiam entrar para o rol de colaboradores o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, o ex-diretor internacional da Petrobras, Jorge Zelada, e seu antecessor no cargo, Nestor Cerveró. Na última semana, quem também passou a negociar com a Justiça foi Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, tido como operador do PMDB. O que ele já revelou atingiria figuras de proa do partido, mas os investigadores querem mais detalhes, antes de conceder a ele os benefícios da delação. Quem se antecipou a Baiano foi o comparsa Hamylton Padilha. Ele é acusado de repassar US$ 31 milhões em propinas para integrantes do PMDB durante processo de contratação de um navio-sonda pela Petrobras em 2009. O operador atuava sob a tutela de Jorge Zelada. Além de aceitar contar detalhas sobre a operação fraudulenta, ele se comprometeu a devolver R$ 70 milhões aos cofres públicos. A delação pode garantirá a Padilha o teto de oito anos de pena em regime fechado. Se o acordo não fosse celebrado, certamente ele não pegaria menos do que 20 anos de cadeia.

Enquanto dirigentes de estatais e operadores do esquema aceleraram as tratativas para homologar a delação premiada, em troca de benefícios, na quinta-feira 13 a Polícia Federal inaugurou a fase 18 da operação. Novo alvo da Lava Jato, o ex-vereador do PT de Americana (SP) Alexandre Romano é apontado como operador de esquema de corrupção que movimentou R$ 52 milhões de forma irregular do caixa do Ministério do Planejamento. Parte do montante foi destinado ao coordenador jurídico da campanha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o advogado Guilherme Gonçalves. Em 2010, o marido de Glesi, Paulo Bernardo, era ministro do Planejamento. À época, a empresa de tecnologia Consist pagou propina ao PT - segundo as investigações - para explorar a folha de empréstimo consignado da pasta, que reúne informações de dois milhões de servidores. O escritório do assessor jurídico de Gleisi recebeu R$ 7,2 milhões da Consist.

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