Durante
dois anos, o Bolsa Família propiciou a Lula seus momentos de são Francisco de
Assis. Mesmo depois do mensalão, quando o PT deixou o socialismo para cair na
vida, Lula manteve o prestígio escorado numa hipotética castidade presumida.
Neste domingo, o asfalto começou a descanonizar o personagem. Um gigantesco
boneco de Lula, vestido de presidiário, ornamentou os protestos de Brasília.
Virou meme na internet. Evidência de que o teflon que protegia a imagem de Lula
não é impermeável ao óleo queimado do petrolão.
Num
instante em que a sua voz soa nos grampos da Lava Jato e sua prosperidade
lateja na conta bancária, Lula encontra-se na constrangedora posição de um
ex-presidente supostamente honrado que legou à sucessora uma esbórnia e
continuou enrolado na bandeira da moralidade. Um pedaço das ruas informa que já
não se dispõe a engolir a imagem que Lula faz de si mesmo.
Na página
147 do livro ‘Lula, o filho do Brasil’, da pesquisadora Denise Paraná, Lula
pintou assim o seu auto-retrato: “…Se eu não tivesse algumas [qualidades
pessoais] não teria chegado aonde cheguei. Eu não sou bobo. Acho que cheguei
aonde cheguei pela fidelidade aos propósitos que não são meus, são de centenas,
milhares de pessoas.''
No momento,
um fantasma assombra as noites de Lula na cobertura de São Bernardo. Trata-se da
assombração do próprio Lula, quando fazia pose de puro e imaculado. A alma
penada ronda-lhe os sonhos, brandindo faixas com bordões inconvenientes. Coisas
como ‘Abaixo a corrupção’. Ou ‘Fora Collor’. Ou ainda ‘Abaixo os 300 picaretas
do Congresso’.
Um outro
fantasma atormenta Lula: Sérgio Moro. Cultuado nas manifestações deste
domingo,o juiz da Lava Jato está para o petrolão assim como Joaquim Barbosa
estava para o mensalão. Com duas diferenças: as delações proliferam e Lula, sem
mandato, agora está ao alcance da primeira instância do Judiciário.
Josias de
Souza, 16/08/2015
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