No
desgoverno de Dilma Rousseff, nada para em pé. Se hoje já se fala abertamente
no período pós-Dilma, como se ela já não estivesse mais na cadeira
presidencial, é porque ela deixou de existir como ser político,
transformando-se apenas num nome que vaga nos corredores do Planalto. Ademais,
como está evidente, é todo o esquema lulopetista de poder que faz água, pois
nem mesmo o mago Lula, o criador de Dilma e de outras tantas imposturas, é
capaz de dar um rumo, coerência e substância à sua desastrosa utopia.
Tome-se
como exemplo a manifestação do último dia 20, que, pela convocação feita pelo
PT, deveria servir para defender o governo Dilma contra os “golpistas”. O que
se viu nas ruas - além de uma afluência muito menor do que a verificada nos
protestos contra a presidente - foi uma evidente insatisfação dos supostos
simpatizantes da petista com os rumos de seu mandato. A militância
profissional, com seus carregadores de cartazes e bandeiras arregimentados à
base de lanche de mortadela e tubaína, tratou de criticar principalmente a
condução da política econômica. Para essa turma, Dilma deveria manter e até
ampliar a gastança desenfreada que, em nome de uma certa “justiça social”, em
vez de promover o crescimento sustentado, desorganizou as contas nacionais, aumentou
o desemprego, acelerou a inflação e dizimou a confiança do setor produtivo.
Assim, os
movimentos sindicais e sociais que foram às ruas na quinta-feira não queriam,
de fato, demonstrar apoio a Dilma. Sua única intenção era fazer a defesa da
estatocracia prometida pelo lulopetismo - além, é claro, das sinecuras e
prebendas a que julgam fazer jus, tão habituados estão ao farto financiamento
estatal.
Se esses
são os “a favor”, não há nem necessidade dos “do contra”. O esquema lulopetista
está esfrangalhado justamente porque os que deveriam apoiar a presidente são
aqueles que trabalham com afinco pela debilitação do governo. No Congresso,
aquilo a que outrora se dava o nome de “base aliada” se converteu no grande
pesadelo de Dilma - a começar pelo PT, partido habituado a boicotar as medidas
da presidente formalmente a ele filiada. Assim, não surpreende que o PMDB,
principal sócio do PT no condomínio do poder, já esteja preparando seu
desembarque de um governo que nem mesmo os petistas, lá com seus botões, ousam
defender.
Assim é que
chegamos ao arremedo de ajuste fiscal aprovado nesse Congresso onde prevalece o
salve-se quem puder. Depois de uma penosa tramitação de oito meses, o pacote do
ministro Joaquim Levy foi desfigurado por parte das próprias forças
governistas, que não estão nem um pouco interessadas no saneamento da economia.
Desse modo, a única medida do governo Dilma que poderia conferir um pouco de
racionalidade ao segundo mandato, tentando consertar as bobagens cometidas no
primeiro, foi sabotada e transformou-se praticamente em epitáfio de uma
administração que nunca se pautou pelo bom senso.
Isso ficou
ainda mais claro quando, a despeito da necessidade urgente de mudança de rumos,
Dilma mandou ressuscitar o que deveria estar enterrado a sete palmos: a
desastrosa política econômica “anticíclica” do ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega. Ao conceder novamente crédito a setores selecionados da economia,
Dilma sinaliza que nem mesmo ela acredita no ajuste que precisa fazer.
Essa falta
de sintonia com a realidade se revela tanto nas grandes questões como nos
assuntos aparentemente menores. A escassez de dinheiro fez a Fazenda mandar
segurar a primeira parcela do 13.º salário dos aposentados do INSS, que desde
2006, graças ao populismo do então presidente Lula, vinha sendo paga de forma
antecipada em agosto. Enquanto isso, soube-se que Dilma e seus ministros já
estavam usufruindo da primeira parcela de seu 13.º salário, depositada em
julho. Diante dos protestos da plebe ignara, a presidente voltou atrás e mandou
pagar já o benefício aos aposentados, desautorizando mais uma vez sua equipe
econômica.
Diante de
exemplos como esses, não é preciso procurar muito para encontrar os verdadeiros
sabotadores do governo - uns estão de camisa vermelha nas ruas, outros estão na
bancada governista no Congresso, mas o principal mesmo é a própria Dilma.
Editorial - O Estado de São Paulo - 23/08/2015
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