Em artigo,
o ex-colunista da Veja Diogo Mainardi se diz animado com a candidatura de
Marina Silva. Segundo ele, há uma real
perspectiva de derrotar o PT, mas diz não esperar nada do governo Marina um dia
depois de sua posse.
Leia:
Sou Marina
(até a posse)
Não espero
rigorosamente nada de seu governo e passarei a torcer contra ela um dia depois
da posse. Sou um homem simples.
Sou um
homem simples: acredito que, a cada quatro anos, é necessário trocar o bandido
que nos governa. Tira-se um, bota-se outro qualquer em seu lugar. Nunca votei
para presidente e, por isso mesmo, nunca me arrependi por ter votado num
determinado candidato.
O voto nulo
é sempre o melhor --o menos vexaminoso, o menos degradante. Isso não quer dizer
que não me interesse pelas eleições.
Ao
contrário: acompanho fanaticamente todas as campanhas e, no tempo ocioso, que
corresponde a mais ou menos quatro quintos de meu dia, pondero sobre a
fanfarronice daquela gente pitoresca que pede nosso voto. Além de ponderar
sobre a fanfarronice daquela gente pitoresca que pede nosso voto, sou um
especialista em torcer contra.
Torci
contra Fernando Henrique Cardoso em 1998. Torci contra Lula em 2002. Torci
contra Lula --e torci muito-- em 2006. Torci contra Dilma em 2010. Agora estou
torcendo novamente contra ela. Como se nota, além de ser um especialista em
torcer contra, sou também um especialista em derrotas eleitorais. E quem se
importa? Com tanto tempo ocioso, aprendi a esperar.
A
candidatura de Marina Silva, para quem só sabe torcer contra, como eu, é muito
animadora. Depois de 12 anos, há uma perspectiva real de derrotar o PT. E há
uma perspectiva real de derrotar o PSDB, sem o qual o PT tende a desaparecer,
pois perde seu adversário amestrado.
O conceito
segundo o qual é necessário trocar, a cada quatro anos, o bandido que nos
governa (Montesquieu, "O Espírito das Leis", volume 2), finalmente
pode ser aplicado. Tira-se um, põe-se outro qualquer em seu lugar. O outro
qualquer é Marina Silva? Eu topo.
A
possibilidade de derrotar o PT --toc, toc, toc-- é o aspecto mais atraente da
candidatura de Marina Silva. Com um tantinho de empenho, porém, posso apontar
outros. Muitos palpiteiros se alarmaram porque seu primeiro passo foi rachar ao
meio o PSB; eu, vendo aquela gente pitoresca do PSB, comemorei. De fato, espero
que ela rache ao meio os outros partidos de sua base.
Passei 12
anos denunciando os apaniguados de um partido que se empossava criminosamente
de todos os cargos estatais. O que eu quero, agora, é que os partidos se
esfarinhem. Em primeiro lugar, o PT. Em seguida, o resto.
Outro
aspecto animador de Marina Silva é que ela sabe que o eventual apoio de um
petista ou de um tucano só pode tirar-lhe votos, prejudicando suas chances de
ser eleita. Isso deve persuadi-la a repelir, neste momento, qualquer tentativa
exasperada de adesismo.
Se ela
ganhar, porém, tudo mudará: voluntários de todos os partidos irão oferecer seus
préstimos, e ela, agradecida, aceitará, claro.
Assim como
aceitará a serventia e a cumplicidade daqueles que, até hoje, sempre lucraram
com Dilma e o PT: no empresariado, no sindicato, na cultura, na imprensa. Mas
esse é outro motivo pelo qual me animo com a candidatura de Marina Silva: não
espero rigorosamente nada de seu governo, e passarei a torcer contra ela um dia
depois da posse. Sou um homem simples.
Nenhum comentário:
Postar um comentário