O que é um
factoide? Um pseudofato criado para chamar atenção para alguma coisa ou alguém
ou para amenizar o efeito de outros atos.
Nessa
definição se enquadra a entrevista convocada pela presidente Dilma Rousseff,
neste domingo, em que qualificou como "factoides políticos" as
denúncias envolvendo negócios, diretores e ex-dirigentes da Petrobrás.
O
pseudo fato foi a entrevista da presidente, que nada tinha de importante a
dizer. Emitiu juízo de valor sobre o que o Tribunal de Contas da União pode ou
não pode fazer. Segundo Dilma, "não pode" submeter uma pessoa
"íntegra, correta" como a presidente da Petrobrás, Graça Foster,
"a esse tipo de julgamento".
Referia-se
à decisão a ser tomada nesta semana sobre a inclusão ou não da executiva na
lista dos diretores da estatal que tiveram os bens bloqueados devido ao
prejuízo de quase US$ 800 milhões à Petrobrás, detectado pelo TCU no exame dos
documentos sobre a compra da refinaria de Pasadena.
A
declaração foi antes de qualquer coisa inadequada e irrelevante. Não cabe à
presidente da República determinar o que deve ou o que não deve fazer o TCU,
órgão ligado ao Poder Legislativo. Além disso, ficou parecendo que os outros 11
diretores que tiveram seus bens bloqueados não são íntegros nem corretos no
entender da presidente.
Dilma
Rousseff mostrou-se também convenientemente esquecida de que foi ela quem repôs
a Petrobrás sob o foco da política. Não falemos sobre o aparelhamento nem sobre
o manejo dos preços dos combustíveis.
Fiquemos no
simples fato de que foi ela quem acusou a diretoria de induzi-la ao erro, a fim
de ser excluída do rol dos atuais acusados pelos prejuízos. Um remendo levou à
necessidade de outros cada vez maiores.
No domingo,
o intuito dos conselheiros da presidente talvez tenha sido o de ocupar o
noticiário de segunda-feira, para reduzir o espaço dedicado à repercussão da
entrevista da ex-contadora do doleiro Alberto Youssef à revista Veja.
Esta, sim,
mais consistente no que se refere a fatos. A moça, Meire Bonfim da Silva Poza,
resolveu contar o que sabe à Polícia Federal. Não são boatos, portanto. Relatou
operações feitas por ela durante três anos envolvendo malas de dinheiro
repassadas a empreiteiras donas de contratos com a Petrobrás, intermediados
pelo ex-diretor administrativo Paulo Roberto Costa, cuja destinação final
desemboca em políticos de três partidos, PT, PMDB e PP.
Podem ser
invencionices? Podem. Mas bastante verossímeis, pois guardam relação com o que
até agora vem sendo apurado pela Polícia Federal. Não parecem fabulações de
caráter eleitoral como quer fazer crer a presidente, até mesmo desqualificando
um órgão sob sua jurisdição.
Não
estivesse o instituto da CPI tão absolutamente desmoralizado, seria o caso de
se instalar um inquérito parlamentar para investigar a participação dos
congressistas nesse esquema. Mas, hoje, as comissões ganharam dos petistas um
atestado de tradição de farsa "desde Pedro Álvares Cabral".
Falam disso
com a ligeireza de quem está no poder, abstendo-se da prudência de pensar que
um dia podem voltar à oposição.
Dora Kramer - O Estado de São Paulo - 11/8/2014
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