Está
confirmado oficialmente: a presidente Dilma Rousseff conseguiu levar o Brasil a
uma recessão, com dois trimestres consecutivos de produção em queda. Depois de
encolher 0,2% no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu
mais 0,6% no período de abril a junho. Mas o governo, além de trapalhão, foi
criativo na incompetência. Enfiou a economia brasileira no atoleiro enquanto os
países desenvolvidos, com Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido à frente,
começavam a vencer a crise. Mas quem, na cúpula federal, se dispõe a reconhecer
o desastre e sua causa, o rosário de erros agravados a partir de 2011? A
presidente Dilma Rousseff e seus ministros continuam culpando o mundo pelo
desempenho brasileiro abaixo de pífio. Esse mundo malvado só existe como
desculpa chinfrim para um fiasco indisfarçável. O comércio internacional voltou
a crescer, a China continua comprando um volume enorme de matérias-primas e até
os países mais afetados pela crise global, como Espanha, Portugal e Grécia,
saíram da UTI e estão em movimento. Mesmo em desaceleração, outros emergentes
estão mais saudáveis que o Brasil.
No segundo
trimestre, o PIB dos Estados Unidos cresceu em ritmo equivalente a 4,2% ao ano.
A rápida melhora da maior e mais desenvolvida economia é boa notícia para todo
o mundo, mas desmente a lengalenga da presidente Rousseff e de sua equipe. O
crescimento americano foi puxado, principalmente, pelo investimento produtivo,
base para novos avanços.
No Brasil
ocorreu o contrário. O investimento em máquinas, equipamentos, instalações e
infraestrutura foi 5,3% menor que no primeiro trimestre do ano e 11,2% inferior
ao de um ano antes. No segundo trimestre de 2013, o total investido
correspondeu a 18,1% do PIB. Outros emergentes têm exibido taxas frequentemente
acima de 24%. Mas o governo ainda conseguiu piorar esse indicador, derrubando a
formação bruta de capital fixo para 16,5% do PIB. Foi uma taxa igual à do
segundo trimestre de 2009, quando o Brasil estava em recessão, arrastado -
naquele momento, sim - pela crise global.
O governo é
obviamente culpado pela indigência na formação de capital fixo. Os seus erros
prejudicam as ações oficiais - o fiasco do Programa de Aceleração do
Crescimento é uma prova disso - e ainda criam insegurança entre os empresários.
Empresário assustado com as intervenções do governo e muito inseguro quanto à
evolução da economia só investe em máquinas, equipamentos e instalações se for
irresponsável.
O
investimento baixo e ainda em queda compromete o potencial de crescimento
econômico. A recessão no primeiro semestre é parte de um desastre incompleto e
ainda em curso. A produção industrial diminuiu 1,5% no trimestre e ficou 3,4%
abaixo da de um ano antes. No Brasil, a indústria é a principal fonte de
empregos decentes e o mais poderoso motor para o conjunto da economia. Há anos
o governo tem cuidado muito mais do consumo que do investimento e, de modo
especial, do fortalecimento da indústria. O resultado é inconfundível.
A
criatividade na incompetência é evidenciada também pela combinação de baixo
crescimento com inflação elevada e contas públicas em deterioração. Em julho, o
setor público teve déficit primário de R$ 4,7 bilhões. Pelo terceiro mês
consecutivo esse indicador ficou no vermelho. Isso é uma enorme anomalia.
Incapaz de equilibrar suas contas, o governo tem-se comprometido, há muito
tempo, a separar pelo menos o dinheiro suficiente para pagar juros e
estabilizar ou reduzir sua dívida. Esse dinheiro posto de lado é o superávit
primário.
A equipe
econômica prometeu um resultado primário de R$ 99 bilhões para todo o setor
público. O governo central - Tesouro, Previdência e Banco Central - deveria
contribuir com R$ 80,7 bilhões. Até julho, o governo central acumulou apenas R$
13,47 bilhões. O setor público total, R$ 24,68 bilhões. Alcançar a meta, só com
muita criatividade e muitos truques. O desastre fiscal combina os efeitos de
dois fracassos - da política econômica em geral e, de modo especial, dos
incentivos tributários concedidos a setores selecionados. Não
funcionaram.
O ESTADO DE
S.PAULO -30 Agosto 2014
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